Quintal do Ferreira -
Quintal
do Ferreira!
Muito
velho, já minha idade esqueci...
Mas
os anos que vivi
Não
os sinto, e inda novo pareço!
Milagre
de feiticeira?
Não!
Por obra da minha enxada
Eu
não morro e reverdeço...
O
ano inteiro, seja inverno ou v’rão,
A
enxada aqui trabalha sem parança
Num
sonho renovado de esperança,
Plantando
a couve ou semeando o grão...
A
leira já cavada,
Infatigavelmente
A
enxada
Vai
preparando alfobres e canteiros
Onde
virão os pássaros, matreiros,
Roubar
a semente,
Sem
medo do espantalho inocente
Onde,
por troça, os pardais vão poisar
E
borrar
O
velho casaco e o esburacado chapéu
Fugindo
a rir em alegre escarcéu...
(abre a cortina
com a introdução da orquestra)
Quintal do Ferreira - (canta)
Deste
Quintal do Ferreira
Vai
fartura p’rá cidade:
A
hortaliça mais fina
Sempre
a melhor novidade...
A
couve-flor e de corte,
Ervilhas,
feijão tenrinho,
Favas,
alface e pimentos
E
o tomate encarnadinho.
Enxada -
E
vão também p’rá Figueira
Com
todos estes primores
Os
perfumes e os encantos
Das
mais variadas flores!...
São
rosas e goivos,
O
cravo mimoso,
E
é limonete
Verdinho
e cheiroso.
(declama)
Bendita
a enxada na terra a cavar!
Bendita
a terra que há-de dar fartura!
E
a água das valas que lhe dá frescura!
Bendita
a semente que há-de germinar.
Hortaliças - (entram no seu bailado e
cantam)
As hortas
Da
gente da nossa aldeia.
Seja
p’ra sempre louvado
Todo
aquele que as semeia!
Terras
baixas bem cavadas,
Cobertas
de verde e oiro,
Dão
o caldo ao rico e ao pobre
Mais
o pão de milho loiro.
Temos
a batata e o feijão,
Temos
o nabo e a nabiça,
A
boa couve, o repolho,
Uma
b’leza de hortaliça!...
Quintal do Ferreira - (terminado o bailado das
Hortaliças, declama)
Oh! Enxada ao alto erguida
Nos
braços do cavador!
O
sol vem doirar-te o ferro
E
beijar-te com amor.
Coro das Enxadas - (entram cantando)
Alegres
enxadas
Ao
sol rebrilhando
Nunca
estão cansadas,
Vão
sempre cavando...
E
o cavador,
Sem
sentir canseira,
Com
arte e amor
Faz
a sementeira...
Zás!
Zás! Zás!... (bis)
A
terra, a sorrir,
Recebe
a semente...
Já
pode a enxada
Descansar,
contente...
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