Capelas em Tavarede
Apontamentos diversos
No jornal ‘A Voz da Figueira’, em
Setembro de 1975, julgamos da autoria do saudoso professor António Vítor
Guerra, estão publicados os principais elementos sobre as capelas que existiram
em Tavarede. Vamos, agora, copiar essas notas, que antecederão um apontamento
nosso mais pormenorizado sobre o recolhimento da quinta da Esperança.
CAPELA E
CONVENTO DA ESPERANÇA - Foi D. Caetana Migueis, casada, em 2ªs.
núpcias com o italiano Francisco António Rossani, sargento-mór de
Montemor-o-Velho, falecido em 1677, quem fundou este Recolhimento, chamando-o
de Nª. Sª. da Esperança, em memória da filha que, com este nome, lhe morreu do
1º. matrimónio, e ali instituiu Capela.
Foram muitas as eventualidades desta
pia instituição, como no-las referem Santos Rocha, op. Cit., p. 123 e José
Jardim, in “Alfândegas, Fidalgas Figueirenses de Outrora”, 1915, p. 175.
Situava-se o Convento da Esperança,
relata-nos aquele historiógrafo local, a um quilómetro, aproximadamente, para
N. de Santo António, no alto de S. João, pelo nascente da estrada que da
Figueira nos leva a Tavarede – Estrada Municipal nº. 596.
Do edifício conventual (em 1758 diz-nos
o cura de Tavarede, padre Anacleto da Cruz, nas “Memórias Paroquiais”, ainda lá
viviam 22 “recolhidas”) somente restam, hoje, inexpressivas ruínas: - os
sólidos muros da cerca construídos, em 1746, que no sentido N-S se desenvolvem,
perpendicularmente, à Azinhaga da Esperança, e onde, na face interna, junto à
porta de acesso do lado E, se vê uma pequena cruz de pedra, assente sobre um
azulejo: uma parede que, ainda, se ergue dos escombros, com nítidos vestígios
do azulejario que revestia a capela, do que, aliás, nos dá conta Santos Rocha,
in op.cit., p. 124, “sinais” de algumas antigas janelas; um pequeno nicho; a
fonte, marcadamente fradesca, e... pouco mais.
A “Quinta da Esperança”, ora assim
chamada, local deveras aprazível, pertence aos herdeiros do benquisto
tavaredense Dr. Manuel Gomes Cruz, falecido em 8 de Fevereiro de 1943.
CAPELA
DE S. JOÃO BAPTISTA - Integrada, na Quinta do mesmo nome,
ao Alto de S. João, hoje Quinta de Santa Maria, foi instituída por João de
Quadros, clérigo, mas dela nada resta.
Entre os vários proprietários da
referida Quinta, permitimo-nos destacar Duarte Backer, António Lemos, Paulo
Correia de Lacerda, funcionário superior da Alfândega do Porto e, ao presente,
Luís Viegas do Nascimento, mui competente arquitecto-naval dos Estaleiros
Navais do Mondego.
CAPELA
DO SENHOR DA ARIEIRA OU DO SENHOR DOS MILAGRES - Situava-se aos “quatro caminhos”,
na referida Estrada Municipal nº. 596. No Museu da cidade guarda-se um
fragmento de azulejo, com pintura (Séc. XVIII), proveniente desta Capela, e que
as “Informações Paroquiais” de 1721 aludem, apresentando-a como “Um Nicho com o
Senhor Crucificado, que tem obrado muitos milagres; “E vai obrando; suando a
sua sancta imagem, e a coluna em que está posto, como se tem visto certos dias”.
A Comissão Paroquial desta freguesia
ofereceu, à Câmara Municipal o terreno onde estava implantada a Capela, e
adjacentes, para um mercado semanal de suínos, o que foi aceite, como consta da
acta da respectiva sessão, de 12 de Março de 1913.
CAPELA
DE SANTO ANTÓNIO - Na Quinta do mesmo nome – residência de Monsenhor Cónego José Duarte
Dias de Andrade, falecido com 93 anos, em 6 de Maio de 1957, que, como
protonotário apostólico “ad instar”, tinha o privilégio de fruir altar
doméstico. Sacerdote dos mais cultos com quem tivemos a dita de privar, de
palavra fluente e erudita, foi também “astro de primeira grandeza”, no
magistério de Matemática, Literatura, Sociologia, Teologia e História da
Igreja, cujo perfil foi magistralmente feito in “A Voz da Figueira”, de 23 de
Maio de 1957, por outro saudoso amigo, Dr. Júlio Gonçalves.
Situa-se a Quinta de Santo António a
O. da Quinta da Burlateira (1) e a N. da Estrada Municipal nº. 597 – Tavarede a
Buarcos.
(1)
Em documento
coevo de D. Afonso Henriques (1181) surge-nos, in “illo loco”, o topónimo
“Val’Arteira”; numa escritura de troca – (1778) aparece-nos a expressão Fazenda
da “Burlateira”, e hoje, no “falar” do povo e nos livros da especialidade, v.g.
“Corografia Moderna do Reino de Portugal” por João Maria Baptista, 1875, vol.
III, e no “Dicionário Corográfico de Portugal Continental”, de Américo Costa,
1932, vol. III, regista-se a “Quinta da Burlateira”, evolução gráfica
foneticamente explicável.
CAPELA
E PAÇO DE TAVAREDE - A história deste Solar e dos seus
“Senhores feudais”, “seus usos e costumes”, está feita (ver “Gazeta da
Figueira” 1887, ano I, nº. 17, e Rocha Madahil, op. Cit.)
O Palácio quinhentista dos Quadros
com “história de pasmar” lá está ainda, mas miseravelmente degradado, com
vergonhosas mutilações e reparações imbecis, servindo-nos das expressões do
saudoso Cardoso Marta, palácio de que o Mestre de Teatro e bom Amigo, José
Ribeiro, nos dá um auto-retrato no seu saboroso “Chá de Limonete”:
“Quatro séc’los me pesam sobre os
ombros!
E nesses longos anos vi grandezas,
Vi ruir opulências em escombros,
Vaidades, alegrias e tristezas...
...........
Que resta do que fui?... Ai! Triste
sina
A do Solar que é hoje um mutilado.
Mendigo, esfarrapado, uma ruína,
Horroroso fantasma do passado!...”
Quanto à Capela, propriamente dita,
sabemos que erecta por Bulla de Roma, esclarecem-nos as “Informações
Paroquiais” de 1721, além das referências que encontrámos a alguns dos seus
capelães, dos quais o Padre Manuel Gonçalves, de sombria memória...
CAPELA
DE JOÃO ANSELMO - Integrada na Quinta de João Anselmo da Silva Soares, sita no caminho da
Várzea, a seguir à Fonte de Tavarede. Esta propriedade, em 1937, encontrava-se,
assim, descrita, na Matriz rústica da freguesia, sob o artº. 1461: “terra de
semeadura, eira e casa de habitação, confrontando do N. O. com caminho, do S.
com herdeiros de José António Loureiro e do E. com Vala da Azenha”.
Desmoronada
esta Capela, a alvenaria foi aplicada na capela mortuária erecta, no Cemitério
Ocidental da nossa cidade (a primeira, à esquerda de quem entra pelo portão
principal), por Ludovina Augusta Ferreira da Silva Soares “à saudosa e grata
memória do seu idolatrado esposo, João Anselmo da Silva Soares, falecido em 1
de Setembro de 1868, aos 59 anos de idade”, sem filhos nem os necessários
herdeiros, como se lê no seu testamento de 24 de Novembro de 1856, constante do
Livro de Registo de Testamentos nº. 12, fls. 15, referente ao ano de 1868. Era
este João Anselmo, figueirense, como seu pai, João da Silva Soares de Menezes,
clínico de nomeada, ao tempo, falecido em 9 de Abril de 1844, na sua
residência, na Rua Formosa, hoje de Fernandes Coelho, onde, também, veio a
falecer o referido João Anselmo, segundo nos relata José Jardim, in “As
Alfândegas” atrás citada.
Foi o Dr. José Pedro Dias Junior,
advogado e notário, em Leiria, o herdeiro, por parte da viúva do João Anselmo,
das propriedades referidas, tendo oferecido ao Museu local algumas das
cariátides da Capela de que nos ocupamos.
Antes desta, porém, outra existira
na dita “Quinta da Fonte” (1754) “como huma morada de casas de sobrado,
pertencente a António José de Saldanha de Aveyro”, a qual, lhe demoliu,
“tirânica” e “despoticamente”, Fernando Gomes de Quadros, 8º. Senhor de
Tavarede.
CAPELA
DE SANTO ALEIXO - Dentro do povoado, a caminho dos
Canos, hoje transformada em
Salão Paroquial. “Hé muto antigua, que se lhe não sabe
principio. E tem hum hospital para agasalhar os peregrinos e pobres, que he do
Povo” diz-nos as “Informações Paroquiais” de 1721.
O patrono, bela escultura
renascentista em pedra, encontra-se depositada no Museu Municipal.
CAPELA DO SENHOR DA CHÃ - No ângulo NE dos quatro caminhos, na Estrada de Mira – estrada Nacional
nº. 109 – à Chã. Chama-lhe as “Informações Paroquiais” de 1721, a Capela do Senhor
Crucificado, esclarecendo que foi feita por Frz Arnaut e sua mulher Catherina
Frz. Não teria mais de 4x2 m. e já se encontrava quase destroçada em 1864,
segundo notícia inserta in “Gazeta da Figueira”, de 18 de Abril de 1896.(está
1986).
A imagem, de grande veneração, foi
transferida, procissionalmente, aquando da eminente derrocada da capela, para a
Matriz de Tavarede, onde se encontra. (A Voz da Figueira)
CAPELA
DA CASA DA MÃE - No Pavilhão Sul do antigo Colégio
Liceu Figueirense, frente à Estrada Municipal nº. 596, limite N. da freguesia
de S. Julião, o qual, depois, serviu de Hospital Militar, e hoje é a Casa da
Mãe, foi erecta uma capela em 1947 pelo presidente da Junta Distrital de
Coimbra, Prof. Doutor Bissaia Barreto, falecido em Setembro de 1974,
responsável por aquela Maternidade. É de salientar o lindo retábulo de talha
dourada (Séc. XVII) de expressiva simbologia mariana, para ali transferida duma
outra capela particular, de algures, da Beira Alta.
CAPELA
DO COLÉGIO-LICEU FIGUEIRENSE - Propriedade e iniciativa do Doutor
José Luís Mendes Pinheiro, onde está instalado, desde 1936, o Seminário da
Imaculada Conceição. Primitivamente, tratava-se de um pequeno oratório, erecto
no Pavilhão do lado N. Mons. José Duarte Dias de Andrade, ao tempo director do
Colégio, reconhecendo ser esse oratório de reduzida área, para os exercícios
cultuais, transformou em capela uma das salas, que inaugurou, com a presença do
Prelado da Diocese, D. Manuel Luís Coelho da Silva, em 1933, no Pavilhão, à
direita de quem entra pelo portão mais próximo da Azinhaga da Esperança.
Mais tarde, o culto sacerdote, Mons.
Tomás Francisco Póvoas, Reitor do Seminário, desde o seu início, fixou-a no
Pavilhão Central (em 1936-37,
a frequência era de 70 seminaristas) onde ainda se
encontra.
O risco e a execução do altar é do
sacerdote – santo e artista – que foi o cónego Manuel Fernandes Nogueira, sendo
a despesa custeada por D. Maria Guilhermina Meireles Sarafana (Tinalhas).
Importa, neste passo, dar a conhecer
a existência, ali, da capela particular de S. E. Rev. o Bispo de Coimbra, anexa
aos seus aposentos, no Pavilhão E, cujo altar foi oferecido pelos herdeiros do
Dr. João Macedo Santos, da última capela erecta na Casa do Paço da Figueira, de
que foram os penúltimos proprietários. O imóvel pertence, hoje, ao sr. Reinaldo
Marques Pedrosa que, na sua conservação e consolidação, tem investido largos
capitais, sem embargo do auxílio do Estado, dado tratar-se dum imóvel de
interesse público.. (A Voz da Figueira)
CAPELA
DOS CARRITOS . Sob a invocação de Santo António,
ali se encontra erecta, à beira da estrada Nacional nº. 111. Foi o padre José
Martins da Cruz Diniz, vigário de Tavarede, de Dezembro de 1928 a Setembro de 1935,
quem deu início, por subscrição pública, à construção da capela, concluída
muito mais tarde e inaugurada, solenemente, em 19 de Junho de 1964. A tal propósito,
extractamos do “Lume Novo”, Tavarede, nº. 6, de 29.8.934: “Foi já oficialmente
tratada, em Coimbra, com o Ex.mo Prelado da Diocese, a construção da Capela dos
Carritos. A planta, generosa e gentilmente oferecida pelo sr. António Piedade,
vai começar a ser executada dentro em breve”.
CAPELA
DE SÃO PAIO - Está integrada na Quinta do Praso –
Vale de São Paio – ao Saltadouro. Cerca de 2 quilómetros a
montante de Tavarede, e a 1 do lado nascente da povoação da Serra da Boa
Viagem, encontrava-se, em 1932, assim descrita, na matriz urbana da freguesia
de Tavarede, sob o artº. 405, em nome de Maria do Sacramento Monteiro: “uma
capela particular, construída de pedra e cal, coberta de telha portuguesa;
confronta do N.S.O.E. com pinhais da própria; tem de superfície coberta 14 m2 e de rendimento
líquido, 18$00!”.
Fora a quinta adquirida, há largos
anos, por Caetano Gaspar Pestana, casado com Maria da Conceição da Silva
Pestana, avós paternos das Senhoras Pestanas. Encontrou este a capelinha em
ruínas, e mutilada a imagem do patrono, e logo procedeu ao seu restauro,
trabalho de que se encarregou, com mestria, o hábil artista-estucador, natural
de Afife, Domingos Rodrigues Ennes Ramos, aqui radicado.
Tempo depois, Caetano Pestana, que
viria a falecer em 25 de Agosto de 1883, com 63 anos, incompletos, vendia a
“Quinta do Praso” à família de Monteiro de Sousa, que ainda a detém, e com ela
a capelinha.
É neste Vale de São Paio que existe
a famosa nascente “Olho de Perdiz”, donde, durante anos e até ao verão de 1927, a nossa cidade foi
abastecida de água potável, exploração feita até 1924 pela “The
Anglo-Portuguese Gas and Water Cº. Ltd.”, com sede em Londres, de que era
gerente, entre nós, o engº. Walter R. Jones, que ainda conhecemos.
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