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e estão situados no território de Montemor para o lado da praia ocidental...
Este Couto de Tavarede fica na
província da Beira, bispado de Coimbra, termo de Montemor-o-Velho no crime. É
donatário o ilustríssimo Cabido da Sé de Coimbra e é o que apresenta o seu
pároco. Tem 138 fogos vizinhos e 442 pessoas. Está situado num vale e se não
descobre coisa notável.
A paróquia está contígua à terra e nada
mais.
Seu orago é S. Martinho, tem seis
altares, que são do do orago, o do Santíssimo Sacramento, o de Nossa Senhora do
Rosário, o de Jesus, o de Mártir S. Sebastião e do Senhor das Almas, não tem
naves, só tem uma irmandade do Santíssimo Sacramento.
O pároco é cura apresentado pelo
ilustríssimo Cabido, com renda de 16$000 reis. Tem um convento de recolhidas de Nossa Senhora da
Esperança com 22 recolhidas e 2 capelães. Tem três ermidas, do Senhor da Chã,
fora da paróquia, do Senhor dos Milagres ou Areeiro, contígua à mesma terra, e
de Santo Aleixo, dentro da terra.
Os frutos da terra em abundância são
vinho, milho e algum feijão.
Tem juiz ordinário das sisas em quatro
freguesias pertencentes a este Couto. È Couto e cabeça do concelho da Figueira
da Foz.
Serve-se do correio de Coimbra, donde
dista sete léguas. Não tem porto de mar.
Não padeceu ruína no terramoto de 1755.
O cura: Anacleto da Cruz.
(Livro
manuscrito do dr. Mesquita de Figueiredo nº.
16 – páginas 160 e 161)
O
abade D. João de Montemor
A
lenda dos degolados
“
D. João foi abade no Mosteiro do Lorvão e viveu, supostamente, na década de 850,
sendo posteriormente alcaide de Montemor-o-Velho, aquando de um ataque dos
muçulmanos ao castelo. Liderou uma defesa heróica da vila que levou a criação
da canção de gesta do Abade João à lenda de Montemor-o-Velho e edificação da
capela de Seiça. O Mosteiro do Lorvão guarda uma parte do crânio do abade como
relíquia e peça de exibição” (Wikipédia).
Segundo
alguns estudiosos autores afirmam, o Abade D. João era filho natural de D.
Fruela e meio irmão do rei Bermudo, o Diácono, e de D. Afonso, o Católico.
Resolveu um dia abandonar a corte dos reis de Leão e os exercícios guerreiros
e, esperando a sua salvação, retirou-se para o Mosteiro do Lorvão, onde vestiu
o hábito de monge e seguido as regras em vigor.
Quando o Abade do Mosteiro morreu, os
monges, tendo em consideração o seu virtuoso exemplo, escolheram-no a ele para
o lugar. Um dia, sendo visitado pelo seu sobrinho, o rei Ramiro primeiro, este
reconhecendo a grande pobreza em que viviam os monges daquele mosteiro,
fez-lhes doação de muitos bens, entre os quais estava a vila de
Montemor-o-Velho, com todos os seus bens e pertences, impondo a condição de ali
estabelecerem um aquartelamento para soldados que defendessem a vila de futuros
ataques dos muçulmanos.
Foi o Abade João, acompanhado por
diversos monges, para aquela vila, tratando imediatamente do prover o castelo
de soldados, armamento e provisões, cumprindo desta forma a imposição de seu
sobrinho e rei. Nomeou para o cargo de capitão das tropas um outro seu
sobrinho, de nome Bermudo, e mandou edificar um convento em cuja igreja colocou
uma imagem de Nossa Senhora, que considerava milagrosa e à qual tinha grande
devoção.
Tempos mais tarde foi vítima de uma
traição. Um rapaz, de nome Garcia, que o Abade havia criado, pois fora
abandonado pelos pais, fugiu da vila indo oferecer-se ao rei mouro Abdarraman
de Córdova, para seu serviço, convertendo-se à religião muçulmana, ao mesmo
tempo que dava ao rei mouro as informações necessárias para tomar a vila de
Montemor-oVelho.
Abderraman concordou e de imediato
reuniu um poderoso exército, cujo comando confiou ao traidor, mandando-o sitiar
o castelo, tendo feito pelo caminho imensas crueldades e hostilidades. O Abade
João, juntamente com seus monges, homens de armas e populares, resistiu
valorosamente ao assédio, conseguindo repelir todos os ataques dos mouros.
Não sendo possível receber ajuda,
especialmente de Teodomiro, o então abade do Mosteiro do Lorvão e
encontrando-se no limite da resistência, por falta de provisões, foi resolvido
pelos sitiados sairem e lutar contra os muçulmanos. Mas como não tinham
qualquer esperança de os vencer e porque não queriam deixar cair em poder do
inimigo nenhum refém, também resolveram sacrificar todos os não combatentes, velhos,
mulheres e crianças, degolando-os.
O Abade João deu o exemplo, degolando
ele próprio sua irmã D. Urraca e seus sobrinhos crianças. “Fez-se este espantoso sacrifício em uma
madrugada. Depois de se confessarem e
comungarem, como o fizeram todas as mais pessoas e em que cada um tirava
a vida à coisa que mais amava, derramando o sangue, que via correr da garganta
da esposa, da irmã, ou dos filhos, porque os pais e os maridos eram os mais
violentos verdugos desta lastimosa execução, que é o caso mais celebrado e mais
sentido que se lê nas histórias de Espanha, obrado pela conservação da fé e da
castidade”.
Foi na igreja onde se venerava a imagem de
Nossa Senhora com o Menino nos braços, que recolheram os corpos. Depois deste
piedoso e cruel acto, abriram as portas do castelo e acometeram o campo
inimigo, que não esperavam tal corajoso ataque, pois sabiam do estado
lamentável dos sitiados.
O primeiro ataque foi dos soldados
comandados pelo seu capitão. Seguiram-nos o povo comandado pelo Abade João,
ainda vigoroso e cheio de forças, apesar de já idoso, que vendo o traidor Garcia, entretanto chamado Culema, o atacou tão
cheio de ânimo que logo conseguiu derrotá-lo, cortando-lhe a cabeça de um só
golpe. De tal forma os mouros ficaram desorientados com a morte do seu chefe,
que logo trataram de se salvar fugindo desordenadamente.
As tropas montemorenses foram em
perseguição do inimigo até Seiça, que se situa a cerca de quatro léguas de
Montemor, onde deram batalha aos muçulmanos fugitivos, os quais derrotaram
totalmente. Calcula-se que durante a refrega terão morrido cerca de setenta mil
mouros.
“Ao
som dos tambores e mais instrumentos bélicos, que tocavam a recolher, e das
vozes dos capitães que mandavam cessar no alcance dos inimigos, se recolheram
os soldados às suas bandeiras, e achando vivo o Abade João e quasi toda a sua
gente, deram infinitas graças a Deus, e passaram o resto da noite em diversos
pensamentos, uns nascidos da glória de tão grande vitória e tão inesperada,
outros de lástima com a lembrança das mortes que haviam executado em suas
mulheres, e filhos e irmãs, em companhia dos quais lhes pudera ser este sucesso
mais glorioso e alegre, como ali é triste e aguada a sua falta”.
Quando amanheceu o dia seguinte, e
depois de recolherem os mais ricos despojos dos vencidos, preparavam-se os
soldados para regressarem à sua vila quando, inesperadamente, receberam a
notícia, trazida por alguns populares, de que estavam vivos todos aqueles que
haviam deixado mortos em Montemor-o-Velho.
O Abade João, vendo no caso as grandes
mercês de Deus, na grande vitória obtida e na maravilhosa ressurreição dos seus
mortos, resolveu consigo entregar-se à sua fé, ficando no lugar da batalha,
vestido de monge, “tão humilde e
pobre aos olhos do mundo, quanto bravo e invencível parecera no dia antecedente
aos do inimigo”.
Regressando à vila Bermudo com os seus
soldados e restante povo, encontraram todos os seus familiares que haviam
degolado, nos quais “se via um fio
como de seda encarnada, e sinal vermelho na garganta, donde se lhes dera o
golpe”.
Regressou Bermudo depois, ao local onde se dera a batalha, levando consigo os
filhos que havia degolado em busca de seu tio, com o qual se encontraram no
local onde se travara a batalha.
“... E para melhor conseguir o efeito do seu santo
propósito, renuncia da sua abadia, erigiu no próprio lugar ermida à Virgem
Santíssima. Esta imagem e do Menino que tem no colo, por cuja intercessão (é de
crer) se obrou esta maravilha, conservam ainda hoje nas gargantas os mesmos
sinais dos ressuscitados. Da qual e daquele deserto nunca apertadas instâncias
dos seus monges puderam diverti-lo. Ali o resto da vida (esquecido das coisas
da terra) perseverou em grande santidade, acompanhado de contínuos desejos de
pátria celestial. Chegada a hora de seu feliz trânsito, vieram assistir-lhe os
monges de Lorvão, em cujos braços (confortado com os últimos sacramentos)
carregado de anos e santas obras exalou aquele generoso espírito. Querendo os monges
levar seu corpo para lhe daram honorífica sepultura, entre os abades daquela
casa, mostrou o Senhor com manifesto
milagre, que lhe não agradava esta mudança, fazendo o corpo do seu servo tão
pesado e imóvel, que obrigou os religiosos sepultá-lo na própria ermida, onde
permanecem seus ossos debaixo do altar da Senhora, e sua preciosa cabeça entre
as relíquias do Lorvão, obrando por ela a mão divina (em pessoas mordidas por
cães danados) contínuos milagres”.
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