Com o título ‘Postal de Parabéns’, um
jornal figueirense referiu-se ao aniversário da colectividade e a Mestre José
Ribeiro. A velha, prestimosa e consagrada
Sociedade de Instrução Tavaredense, fundada em 15 de Janeiro de 1904, ali à
ilharga da nossa terra, comemorou o seu 80º aniversário.
Como sempre de forma tão adequada como
simpática.
Mas neste caso de maneira
excepcionalmente brilhante, por o número em que figurou a costumada
apresentação de uma escolhida peça teatral ser este ano constituído pela
exibição da peça inédita em 1 prólogo e 4 partes, intitulada “Na Feira de Gil
Vicente”, adaptação de mestre José da Silva Ribeiro e de homenagem e evocação
da obra genial do fundador do Teatro Português.
Foi, pode dizer-se, o brilhante
corolário de uma inigualável actividade cultural, através do teatro, da
colectividade aniversariante e também de uma acção ímpar, sob diversos
aspectos, dessa grande figura de tavaredense, teatrólogo e democrata que é José
da Silva Ribeiro.
Só o que este nosso ilustre conterrâneo
tem dado a conhecer ao povo do concelho sobre figuras e episódios da história
nacional e de maneira particular e a merecer menção de relevo e justíssimo
louvor a respeito de Tavarede e da Figueira e sua evolução através dos tempos,
desde os mais remotos até à actualidade, não pode de maneira alguma ser
resumido nas colunas de qualquer periódico. Mas isso de forma nenhuma deve
impedir-nos de aqui deixar registado um superficial esboço do que tem sido há
dezasseis lustros a vida da colectividade aniversariante e há mais de 65 anos a
extraordinária, persistente, benemérita e incomparável actuação dentro dela da
personalidade de José da Silva Ribeiro, servindo-a com a mais inexcedível
abnegação e verdadeiro espírito de sacrifício sob todos os aspectos que é
possível, desde os cargos directivos aos de autor teatral e “alma mater” da sua
famosa secção dramática. Cuja fama largamente ultrapassou os limites do
distrito, espalhando-se por importantes cidades e terras do país que visitou
por várias vezes e sempre deixando significativamente assinalados a sua
intervenção e invulgar brilho e mérito desta.
Para comprovar o que bastará, com
certeza, registar certos factos que julgamos bastante elucidativos.
A começar pelo de, após a brilhante
carreira, com as suas múltiplas representações, nos vários palcos em que foram
exibidas, das famosas peças “O Sonho do Cavador” e a “Cigarra e a Formiga”, das
quais José da Silva Ribeiro foi o grande impulsionador e a que deu a mais
operosa, destacada, importante e útil colaboração literária e teatral e depois
de todo o grande esforço da sua montagem e encenação, ele jamais ter abandonado
essa fase criadora de brilhante autor dramático. E, em virtude disso, ter
escrito e feito representar esse belo rosário de inesquecíveis produções
teatrais que começam em 1950 com “Chá de Limonete” (3 actos e 24 quadros) e
continuam com “Terra do Limonete”, em 1961, “Camões e os Lusíadas” (1972),
“Mesa Redonda” (1975), “Ontem, Hoje e Amanhã” (1979), “Ecos da Terra do
Limonete” (1981), “Viagem na Nossa Terra (“Da folha de uma figueira à folha de
uma videira”) (1982) e este ano “Na Feira de Gil Vicente”.
Uma destacada obra cultural a que não
podem deixar ainda de associar-se, porém, coisas tão significativas como: uma
famosa “Campanha Vicentina”, que levou a obra genial ao povo das nossas aldeias
concelhias; as notáveis “Comemorações do Centenário de Garrett”, representando
“Frei Luis de Sousa”, para além do nosso concelho, em Coimbra, Leiria, Tomar,
Pombal, Alcobaça, Sintra, Soure, Marinha Grande e Condeixa; as comemorações do
“Centenário de Marcelino Mesquita”, com a representação de “Peraltas e Sécias”;
do “Centenário da Morte de D. João da Câmara”, levando à cena a sua famosa peça
“Os Velhos” e do “V Centenário da Morte do Infante D. Henrique”, com a
representação de “O Beijo do Infante”, do mesmo autor da peça anterior.
Para não deixar de fazer ainda
referência à preciosa intervenção de José da Silva Ribeiro e da Sociedade de
Instrução Tavaredense, no “IV Centenário de Shakespeare”, no “V Centenário do
Nascimento de Gil Vicente” e “IV Centenário da Publicação dos Lusíadas”, no
qual foi levado à cena o “Auto de El-Rei Seleuco” e uma evocação escrita
propositadamente para o efeito.
O que tudo torna sumamente merecedora
deste postal de efusivos parabéns a colectividade aniversariante e José da
Silva Ribeiro, digno de todos os louvores que seja possível endereçar-lhe nesta
ocasião festiva e bem merece pelos seus mais de 65 anos consecutivos de
serviços ao teatro e à cultura, com a isenção, talento, amor e inteligência que
os tornam excepcionais, como ainda pelas qualidades morais e cívicas que lhes
emprestam adequada moldura e dão ainda maior relevo e projecção.
E com a maior satisfação, referimos que
o Grupo, apesar das obras ainda não estarem concluidas, fez a pré-inauguração
da sua nova sede. Embora com as
instalações da nova sede social do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense
ainda inacabadas, pois que as mesmas exigem um enorme dispêndio de energias e
verbas, a que se não pode fazer face tão rapidamente quanto desejável,
entenderam a Direcção e os elementos que compõem desde a primeira hora a
Comissão de Apoio, denominada Comissão de Obras, dar um maior impulso no
acabamento do piso superior da referida sede, a fim de poder presentear os
associados com o Folar da Páscoa, proporcionando-lhes um ambiente há já largos
anos arredio dos mesmos, na medida em que no velho Palácio de Tavarede, onde se
situavam as suas instalações desde 1936, representando para os seus sócios
apenas um velho passado glorioso, sem qualquer ambiente que pudesse vir a ser
favorável aos seus descendentes, nomeadamente cultura e música, que foram
acabando com falta de instalações condignas, assim como meios humanos e
materiais, que logicamente se deterioraram com o ambiente pouco condigno que se
foi arrastando pelos tempos.
Pelo
que acima foi dito, foi determinado o dia 8/4/84 (domingo) para a
pré-inauguração, fazendo-se a mesma sem qualquer cerimonial protocolar, ficando
a verdadeira inauguração para data oportuna, prevendo-se que a mesma se venha a
verificar a curto prazo.
Na
referida inauguração viram-se alguns elementos de preponderância no arranque e
efectivação da obra em curso e prestes a dar-se por concluída, pese embora as
dificuldades financeiras com que terão de passar esta Direcção, assim como as
que possam vir a seguir, pois trata-se de uma obra que à altura do seu arranque
estava estimada em 6.000 contos.
Também
se notaram as presenças dos srs. pároco da freguesia, presidente e secretário
da Junta de Freguesia, Direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense,
fazendo-se acompanhar do estandarte daquela tão prestimosa colectividade, e
presidente da Direcção da Casa do Povo, que é simultaneamente presidente da
Assembleia Geral do GMIT.
Eram
15 horas quando o sr. Flaviano Pinto de Sousa, presidente da Assembleia Geral
do GMIT, fez entrega das chaves ao sócio nº 1, sr. Alberto Ferrão, para que
fosse este a abrir as instalações do Grupo, verificando-se de imediato a
entrada. Foi um momento feliz para aqueles que mais de perto têm sentido a
evolução dos acontecimentos e também para o que desejavam há já largas dezenas
de anos ver a sua sede própria, o que só agora se está a tornar realidade.
Entraram
lado a lado os estandartes da Sociedade de Instrução Tavaredense e do Grupo
Musical e de Instrução Tavaredense, empunhados pelos seus representantes, e de
seguida todos os presentes, ficando na sua maioria com óptima impressão do que
acabavam de ver: bar, sala de estar com televisão, etc., passando de imediato a
ter a sua acção estas secções, onde os grupistas, familiares e amigos podem a
partir de agora ter o seu convívio de amizade.
Quando da inauguração oficial, que se
deseja seja tão rápida quanto possível, dar-se-ão mais pormenores acerca
daquele importante melhoramento.
Na sessão solene comemorativa do 82º
aniversário da SIT ... e com a maior
comoção, a plateia ouviu a palavra ainda fluente de José Ribeiro, que falou da
sua terra e das suas gentes. Foi a última sessão que teve a sua presença.
Entretanto, e sob a orientação do amador João de Oliveira Júnior, que havia
assumido o dificil cargo de director cénico, foi reposta em cena a célebre
fantasia Chá de Limonete.
O Grupo, entretanto, festejou as suas
Bodas de Diamante. O programa elaborado
para comemorar os 75 anos de vida do Grupo Musical Tavaredense foi por este
jornal publicado em devido tempo.
Dele podemos destacar a sessão solene
(porventura o ponto mais alto das comemorações), levada a cabo pelas 17 horas
do dia 17, a
qual foi presidida por Carlos Alberto Pedro Coelho, na qualidade de presidente
da Junta de Freguesia da terra do limonete.
No acto, evocado com o descerramento de
uma lápida que assinala a efeméride, usou da palavra o presidente da
colectividade em festa Álvaro Jorge Marques, o presidente da Assembleia Geral,
Flaviano Pinto de Sousa, o padre Matos, pároco da freguesia e, por último, o
presidente da mesa da sessão.
Para complementar esta evocação,
realizou-se ainda um espectáculo artístico-cultural, no qual participaram a
Tuna do Grupo de Tavarede, o grupo coral e a banda ligeira da Sociedade Boa
União Alhadense.
Sem comentários:
Enviar um comentário