FERNÃO
GOMES DE QUADROS E SOUSA
5º. Senhor de Tavarede - Morgado
Nasceu
em Tavarede, onde foi baptizado, na igreja de S. Martinho, no dia 3 de Janeiro
de 1655. Sucedeu ao seu avô no morgado de Tavarede, visto seu pai ter falecido
em vida de seu avô, como foi referido no capítulo anterior. Foi esta situação
que deu origem ao lapso cometido pelo Dr. Mesquita de Figueiredo e outros,
como, por exemplo, Mestre José Ribeiro, conforme foi lembrado ao princípio deste
caderno.
Como ainda era
menor, quando seu avô faleceu, foi sua mãe, D. Maria Teles de Meneses, nomeada como
tutora, e que ficou como admninistradora da sua casa e bens. Anos mais tarde,
entrou para o convento de Celas, em Coimbra, onde faleceu.
… Aproveitando o período mais calmo dos finais do século
dezassete, Fernão Gomes de Quadros e Sousa limitar-se-ia a administrar a Casa
para obter um rendimento seguro. Para além do investimento corrente pouco mais
terá feito. Assim se terá passado nas questões dos fornos da poia e da Ínsua da
Morraceira… (A Casa de Tavarede).
Casou
muito novo, pois tinha apenas quinze anos de idade, em 1670, quando contraíu
matrimónio com D. Brites Maria de Albuquerque, filha de António de Albuquerque
Coelho de Carvalho e de D. Inês Maria Coelho de Carvalho. Alguns autores
dão-lhe o nome de Beatriz.
Sucedeu
também a seu pai na comenda de S. Pedro, das Alhadas, sendo provido neste cargo
em 1689. Foi provedor da Misericórdia de Buarcos nos anos de 1691 e 1692.
Do
seu casamento teve numerosa descendência que, como era costume nesta e noutras
famílias fidalgas, seguiram as carreiras militar e religiosa, sendo esta uma
forma de preservar os bens de sua casa. Foram os seguintes os seus nove filhos:
- Pedro Lopes de
Quadros e Sousa, nascido no ano de 1672 e que foi seu herdeiro;
- D. Mariana
Coutinho de Meneses, baptizada em Tavarede no dia 11 ou 12 de Junho de 1673, (há
assento do baptismo nos dois dias) que ingressou no convento do Lorvão;
- D. António
Coutinho de Quadros, que também recebeu o baptismo em Tavarede no dia 23 de
Agosto de 1674. Foi cónego no mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, em 1699, depois
foi prior de Figueiró dos Vinhos, em 1707, e prior de São Martinho de Salréu, Estarreja,
sabendo-se que ali vivia em 1732;
- José de Melo
Pereira, igualmente baptizado em Tavarede no dia 13 de Outubro de 1677. Foi
frade Bernardo;
- Manuel de Melo
Pereira de Quadros, também baptizado em Tavarede, a 21 de Agosto de 1678.
Seguiu a carreira militar, tendo combatido na guerra da sucessão, em Espanha, e
foi morto na tomada de Cidade Rodrigo, em 1704, com o posto de capitão de
cavalaria;
- D. Inês
Francisca de Carvalho, baptizada em 17 de Janeiro de 1680, freira no convento
do Lorvão;
- D. Leonor
Coutinho, que foi baptizada em Tavarede em 12 de Dezembro de 1680, que foi
freira, como suas irmãs, no convento de Lorvão, embora também haja alguns
autores que dizem ter morrido em criança;
- e Francisco
Teles de Meneses, baptizado no dia 18 de Maio de 1682, que foi frade e monge da
Ordem de S. Bento de Aviz, em Palmela.
Além
dos filhos legítimos, teve ainda um filho bastardo, o qual foi baptizado em S.
Julião da Figueira, com o nome de António Fernandes de Quadros. Este filho
bastardo, que havia nascido sendo seu pai ainda solteiro (teria, então, 13 ou
14 anos), seguiu a carreira militar, tendo sido soldado em Lisboa.
Sua
esposa, D. Brites Maria de Albuquerque, faleceu em Tavarede no dia 29 de Junho
de 1684. Fernão Gomes de Quadros e Sousa foi grande devoto de S. Francisco,
sendo muito religioso. Depois de ter enviuvado, e considerando que seu filho
primogénito já tinha idade suficiente para lhe suceder como seu herdeiro,
ingressou como noviço no convento de S. Francisco, de Varatojo, tendo tomado
votos em Maio ou Junho de 1697, tomando o nome de Frei José de Jesus Maria.
… Foi bem casado, que as virtudes de sua
mulher eram forte grilhão para lhe prender o afecto, sendo como devem ser só
estas lisonjas para o gosto, pois o não pode ser maior, como ser virtuosa uma
mulher, mas como a felicidade no mundo vai e não dura, experimentou na sua
morte o mais duro golpe, ficando a braços com uma saudade, doença tão valente,
que sempre está ‘febristante’ e assim para convalescer, achou no desengano o
melhor remédio, conhecendo os embustes de que faz parte o mundo, pois este nas
rosas que oferece lisonja o olfato, é para encobrir os espinhos, inimigos
capitais do gosto, em que, saindo o teatro sombrio do mundo, a graça da luz do
desengano, foi tomar o hábito de leigo no convento do Varatojo, ficando
‘havido’ astro daquele céu donde desfeitos os vapores que da terra se levantam,
os sujeitos que nele entram, se ilustram. É este o retiro em que se avalia a
miséria, o que no mundo se estima para reencontrar a felicidade, que sempre
dura com abundância, que nunca se acaba. Aqui viveu tão cheio de virtudes, que
triunfando da culpa, caminha para a Glória, por ser a penitência a melhor
estrada, pois seguramente a ‘vadeia’ o que procede desta forma.
Mostrou
no desprezo ter tudo em pouco, pois casas e filhos lhe não serviram de
embaraço, obrando uma tal valentia o seu ânimo, que no ouro fez o maior
estrago, entendendo prudente que no generoso sangue tem a virtude seu natural
assento, por ser adúltera da nobreza, que se sujeita do vício; pois esta
escravidão é a que mais infama por ser contágio, que infeciona a alma e assim
com razão se honra que por tão fortes obstáculos corta, por ser o conhecimento
próprio e com que se adquire o melhor nome; pois só será mais nobre o que for
bem, que o ruím sempre fica posto que por filho de Júpiter se desvaneça, e
assim servir a Deus, conservar sua imagem é a nobreza mais segura, sendo estes
os exercícios em que se adquirem imortais louros, e se logram na eternidade de
ufanos assentos.
Alguns
autores referem que Fernão Gomes de Quadros e Sousa, terá saído de casa, de
noite e furtivamente, sem dar conhecimento das suas intenções, dirigindo-se a
pé ao referido convento, ocultando de todos a sua qualidade.
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