sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Quadros - Os Senhores de Tavarede - 15


FERNÃO GOMES DE QUADROS E SOUSA

5º. Senhor de Tavarede - Morgado
  
            Nasceu em Tavarede, onde foi baptizado, na igreja de S. Martinho, no dia 3 de Janeiro de 1655. Sucedeu ao seu avô no morgado de Tavarede, visto seu pai ter falecido em vida de seu avô, como foi referido no capítulo anterior. Foi esta situação que deu origem ao lapso cometido pelo Dr. Mesquita de Figueiredo e outros, como, por exemplo, Mestre José Ribeiro, conforme foi lembrado ao princípio deste caderno.

Como ainda era menor, quando seu avô faleceu, foi sua mãe, D. Maria Teles de Meneses, nomeada como tutora, e que ficou como admninistradora da sua casa e bens. Anos mais tarde, entrou para o convento de Celas, em Coimbra, onde faleceu.

… Aproveitando o período mais calmo dos finais do século dezassete, Fernão Gomes de Quadros e Sousa limitar-se-ia a administrar a Casa para obter um rendimento seguro. Para além do investimento corrente pouco mais terá feito. Assim se terá passado nas questões dos fornos da poia e da Ínsua da Morraceira… (A Casa de Tavarede).

            Casou muito novo, pois tinha apenas quinze anos de idade, em 1670, quando contraíu matrimónio com D. Brites Maria de Albuquerque, filha de António de Albuquerque Coelho de Carvalho e de D. Inês Maria Coelho de Carvalho. Alguns autores dão-lhe o nome de Beatriz.

            Sucedeu também a seu pai na comenda de S. Pedro, das Alhadas, sendo provido neste cargo em 1689. Foi provedor da Misericórdia de Buarcos nos anos de 1691 e 1692.

            Do seu casamento teve numerosa descendência que, como era costume nesta e noutras famílias fidalgas, seguiram as carreiras militar e religiosa, sendo esta uma forma de preservar os bens de sua casa. Foram os seguintes os seus nove filhos:

- Pedro Lopes de Quadros e Sousa, nascido no ano de 1672 e que foi seu herdeiro;
- D. Mariana Coutinho de Meneses, baptizada em Tavarede no dia 11 ou 12 de Junho de 1673, (há assento do baptismo nos dois dias) que ingressou no convento do Lorvão;
- D. António Coutinho de Quadros, que também recebeu o baptismo em Tavarede no dia 23 de Agosto de 1674. Foi cónego no mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, em 1699, depois foi prior de Figueiró dos Vinhos, em 1707, e prior de São Martinho de Salréu, Estarreja, sabendo-se que ali vivia em 1732;
- José de Melo Pereira, igualmente baptizado em Tavarede no dia 13 de Outubro de 1677. Foi frade Bernardo;
- Manuel de Melo Pereira de Quadros, também baptizado em Tavarede, a 21 de Agosto de 1678. Seguiu a carreira militar, tendo combatido na guerra da sucessão, em Espanha, e foi morto na tomada de Cidade Rodrigo, em 1704, com o posto de capitão de cavalaria;
- D. Inês Francisca de Carvalho, baptizada em 17 de Janeiro de 1680, freira no convento do Lorvão;
- D. Leonor Coutinho, que foi baptizada em Tavarede em 12 de Dezembro de 1680, que foi freira, como suas irmãs, no convento de Lorvão, embora também haja alguns autores que dizem ter morrido em criança;
- e Francisco Teles de Meneses, baptizado no dia 18 de Maio de 1682, que foi frade e monge da Ordem de S. Bento de Aviz, em Palmela.

            Além dos filhos legítimos, teve ainda um filho bastardo, o qual foi baptizado em S. Julião da Figueira, com o nome de António Fernandes de Quadros. Este filho bastardo, que havia nascido sendo seu pai ainda solteiro (teria, então, 13 ou 14 anos), seguiu a carreira militar, tendo sido soldado em Lisboa.

            Sua esposa, D. Brites Maria de Albuquerque, faleceu em Tavarede no dia 29 de Junho de 1684. Fernão Gomes de Quadros e Sousa foi grande devoto de S. Francisco, sendo muito religioso. Depois de ter enviuvado, e considerando que seu filho primogénito já tinha idade suficiente para lhe suceder como seu herdeiro, ingressou como noviço no convento de S. Francisco, de Varatojo, tendo tomado votos em Maio ou Junho de 1697, tomando o nome de Frei José de Jesus Maria.

                   Foi bem casado, que as virtudes de sua mulher eram forte grilhão para lhe prender o afecto, sendo como devem ser só estas lisonjas para o gosto, pois o não pode ser maior, como ser virtuosa uma mulher, mas como a felicidade no mundo vai e não dura, experimentou na sua morte o mais duro golpe, ficando a braços com uma saudade, doença tão valente, que sempre está ‘febristante’ e assim para convalescer, achou no desengano o melhor remédio, conhecendo os embustes de que faz parte o mundo, pois este nas rosas que oferece lisonja o olfato, é para encobrir os espinhos, inimigos capitais do gosto, em que, saindo o teatro sombrio do mundo, a graça da luz do desengano, foi tomar o hábito de leigo no convento do Varatojo, ficando ‘havido’ astro daquele céu donde desfeitos os vapores que da terra se levantam, os sujeitos que nele entram, se ilustram. É este o retiro em que se avalia a miséria, o que no mundo se estima para reencontrar a felicidade, que sempre dura com abundância, que nunca se acaba. Aqui viveu tão cheio de virtudes, que triunfando da culpa, caminha para a Glória, por ser a penitência a melhor estrada, pois seguramente a ‘vadeia’ o que procede desta forma.
            Mostrou no desprezo ter tudo em pouco, pois casas e filhos lhe não serviram de embaraço, obrando uma tal valentia o seu ânimo, que no ouro fez o maior estrago, entendendo prudente que no generoso sangue tem a virtude seu natural assento, por ser adúltera da nobreza, que se sujeita do vício; pois esta escravidão é a que mais infama por ser contágio, que infeciona a alma e assim com razão se honra que por tão fortes obstáculos corta, por ser o conhecimento próprio e com que se adquire o melhor nome; pois só será mais nobre o que for bem, que o ruím sempre fica posto que por filho de Júpiter se desvaneça, e assim servir a Deus, conservar sua imagem é a nobreza mais segura, sendo estes os exercícios em que se adquirem imortais louros, e se logram na eternidade de ufanos assentos.

            Alguns autores referem que Fernão Gomes de Quadros e Sousa, terá saído de casa, de noite e furtivamente, sem dar conhecimento das suas intenções, dirigindo-se a pé ao referido convento, ocultando de todos a sua qualidade. 

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