Foi com este fidalgo que, nos primeiros
anos do século dezoito, se iniciou o aforamento de muitas parcelas da
Morraceira, para o fabrico do sal. Com o aumento da população também foi
necessário alterar os fornos da poia, O facto
de os moradores estarem obrigados a cozer nos fornos da Casa, por este sistema
de exploração directa, obrigava a que esta suportasse os encargos da exploração
e manutenção que, no fundo, eram a justificação dos emolumentos recebidos (A Casa de
Tavarede). Na Figueira, em 1717, existiam dois fornos que rendiam anualmente,
para a Casa de Tavarede, 60 000 reis. Eram insuficientes e o fidalgo de
Tavarede estabeleceu outro, perto da Igreja de S. Julião,
A
necessidade de terrenos para novas construções, levou a Casa de Tavarede a um
rápido desmembramento dos terrenos que possuía na zona da foz do Mondego. Todos estes processos – o da exploração de sal na Morraceira
e o da divisão dos cerrados da Figueira – mostram que a Casa de Tavarede não
ficou de olhos fechados perante o crescimento e progresso daquelas zonas,
aproveitando o fenómeno para conseguir maior e mais certo rendimento. Mas,
talvez porque se tratou de um processo conduzido por factores económicos
gerais, e muito rápido, parece quase certo que os administradores da Casa não
se adaptaram a esse aumento de rendimento, presumindo-o constante, o que de
alguma forma explicará o descalabro financeiro da administração do morgado
seguinte. Diga-se, porém, que a ruína ou riqueza deste tipo de Casas não se
pode explicar somente através de comportamentos individuais. Ainda está por
analisar, creio eu, a influência da sazonal falta de dinheiro que as pessoas
sentiam nessas épocas, fruto quase sempre do calendário agrícola. Considere-se
simplesmente que nesses tempos não existiam bancos, recorrendo constantemente
as pessoas de todas as classes a empréstimos particulares mais ou menos
onerosos, para diversos fins, actos de que são testemunhas ainda silenciosas as
escrituras de empréstimos que enxameiam os livros dos tabeliões desses tempos, escreve o Dr.
Pedro Quadros Saldanha no seu trabalho ‘A Casa de Tavarede’.
Prossigamos a
nossa história. Com o pai deste fidalgo de Tavarede, a sua Casa havia começado
a perder influência. O enorme progresso da Figueira da foz do Mondego, devido à
sua excelente localização, teve grande influência na Casa de Tavarede. Por um
lado, o sal e os cereais produzidos na Morraceira, e a posse da maior parte dos
terrenos circundantes da Figueira, que emprazados em parcelas, proporcionaram
aos senhores de Tavarede elevados rendimentos, por outro lado perderam a
iniciativa dos seus antepassados, desinteressando-se de criarem riqueza e
preocupando-se apenas a gozar os rendimentos que, devido a despesas de
ostentação e outras do mesmo tempo, deram início ao processo que, anos depois,
levaria a Casa praticamente à ruína.
Adiante
veremos os resultados…
Fernão
Gomes de Quadros e Sousa
7º. Senhor de Tavarede - Morgado
Eu, Fernão Gomes de Quadros, oitavo
senhor de Tavarede…
Pois
é, conforme referi no princípio deste caderno, julgo que Mestre José Ribeiro
foi buscar este oitavo à mesma fonte
onde eu fui quando descrevi a genealogia dos morgados tavaredenses: aos
cadernos do Dr. Mesquita de Figueiredo. Outros autores também terão cometido o
mesmo erro…
Na
verdade, e como já atrás está referido, houve um dos considerados senhores de Tavarede que não foi
empossado com este título, devido a ter falecido em vida de seu pai. Exactamente
a mesma situação que encarei quando da instituição do morgadio. Considero que o
primeiro morgado de Tavarede terá
sido o segundo senhor de Tavarede. É
que, quando o rei D. João III validou o pedido da constituição do morgadio
feito por António Fernandes de Quadros, já este havia falecido, razão que
considero mais que válida para não o considerar como o primeiro morgado. Simples pormenores de um curioso.
Este
Fernão Gomes de Quadros e Sousa, que nascera no período entre 1705/1710, era
filho de Pedro Lopes de Quadros e Sousa e de D. Madalena de Mendonça, os quais
faleceram, respectivamente, em 29 de Agosto de 1751 e em 18 de Janeiro de 1749.
Presume-se, todavia, que tomou a administração da Casa de Tavarede,
conjuntamente com seu pai, quando casou por volta de 1730.
Foi
sua esposa D. Beatriz Josefa da Silva e Castro, nascida em Santarém, filha de
António Leite Pacheco, tenente de cavalaria e, mais tarde, capitão
de-mar-e-guerra, na Índia, para onde tinha ido degredado, e de D. Joana
Madalena da Silva. Não deixa de ser curioso este facto: a junção de sangues, um
do carácter violento e despótico do fidalgo tavaredense, e a violência
assassina de seu sogro. Esta junção terá originado o carácter bestial e
sanguinário do primogénito do casal.
E
vou socorrer-me, uma vez mais, do Dr. Pedro Quadros Saldanha e do seu trabalho
‘A Casa de Tavarede’. … se com seu pai começou a reconversão
de parte do património da Casa de Tavarede, exigida pelo crescimento
populacional da Figueira, durante a administração de Fernão o ritmo da
concessão de terrenos foi acelerado. Mas, se com Pedro Lopes de Quadros este
processo não trouxe grandes implicações, para além do aumento do rendimento,
com o seu filho as consequências foram enormes. Para além da alteração de parte
das características económicas da Casa, houve uma radical mudança de atitude na
sua administração. Esta forma fácil de obter rendimento, aliada ao crescimento
da riqueza nas redondezas, levaram Fernão de Quadros a iniciar um período de
dissipação e de gastos excessivos, sem dúvida facilitado pelo seu carácter.
Como veremos, este período deixou marcas que se saldaram, para sempre, numa
perda de influência…
O
casal teve quatro filhos:
-
Pedro Joaquim Lopes de Quadros e Sousa, que nasceu a 5 de Novembro de 1731;
-
António Leite de Quadros e Sousa, nascido em 16 de Janeiro de 1738;
-
D. Joana Madalena da Silva e Castro, que nasceu em 29 de Julho de 1740; e
-
Joaquim Leite de Quadros, nascido no dia 14 de Agosto de 1742.
No
capítulo seguinte desenvolverei a história dos três filhos primeiros, uma vez
que o último morreu ainda criança.
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