O
desentendimento terá tido lugar ainda antes de Maio de 1810, pois já no dia 23
desse mês, D. Antónia Madalena obtinha certidão da escritura do dote, sem
dúvida para fazer valer os seus direitos. Abandonando Tavarede, D. Antónia
Madalena entrou no Convento de Santos, a que a sua família estava há muito
ligada. A partir dessa altura a história da relação entre D. Antónia Madalena e
seus filhos, é um rol de ódios, de vinganças, de perseguições. Tudo indica que
aquela e seu filho João de Almada nunca mais se viram, apesar de D. Antónia
ainda ter vivido 25 anos
(A Casa de Tavarede).
Tudo
isto levou à requisição de administração judicial da Casa de Tavarede e ao seu
declínio. Foram muitas as questões judiciais levantadas tanto pela mãe como
pelo filho. Chegou ao ponto de, em Maio de 1821, D. Antónia se queixar que logo em Julho do mesmo ano me foi novamente arrebatada das
mãos a minha casa em virtude de requerimento de meu ingrato filho, que obteve
do Revolucionário Governo de 1820, a bárbara medida de ser posta em curadoria a
minha pessoa e bens, sem eu ser ouvida e nem, ao menos, de tal ter notícia,
conseguindo o mesmo meu filho, por meio desta destruidora providência,
confirmar a ruína de minha Casa e a opressão de minha pessoa. Julga-se, no
entanto, que a iniciativa não terá sido só do filho mas, sim, também de sua
filha Ana Felícia.
O
Barão de Tavarede, juntamente com seu sogro, aderiu à causa do rei D. Miguel.
Foram muitos os processos que levantou contra sua mãe, a quem acusava de
dissipadora e causadora da ruína da Casa, mas sempre viu as questões serem
decididas a seu desfavor.
Num
documento existente, refere-se que quando o Barão de Tavarede e sua família
decidiram mudar-se para Trancoso levaram consigo
o bom e melhor que D. Antónia deixara em casa, nomeadamente todos os móveis. E ainda refere
uma nota de D. Antónia. Que … estando eu em
Tavarede e tendo casa arrendada na Rua Formosa (Lisboa), onde tinha os títulos,
algumas pinturas e móveis, o Barão, vindo escondido a Lisboa, entrou na casa
num dia da Semana Santa e, arrombando portas e armários, levou os títulos e
tudo o que achou de precioso, com geral escândalo da vizinhança… (A Casa de
Tavarede)
Estes
pequenos retalhos que transcrevo, servem perfeitamente para revelar como terão
sido as relações entre mãe e filhos. De notar que D. Ana Felícia, talvez
influenciada por seu marido, aliou-se a seu irmão, contra sua mãe, de tal forma
que, em certos processos, ainda foi mais agressiva que o Barão de Tavarede. Mas
só faço esta referência como simples comentário, pois a história que pretendo
aqui deixar recordada é só a dos ‘Senhores de Tavarede’ e não seus familiares.
No entanto, aqui e ali, não deixa de ser necessário incluir algumas notas,
unicamente com o fim de procurar melhor esclarecer determinados casos ou
situações.
Com
a sua ida para Trancoso, tornou-se o Barão de Tavarede pessoa muito influente
naquela região, embora continuasse sob a influência de seu sogro. Foi
contrariado que, em Janeiro de 1827, assinou a Carta Constitucional. Foi eleito
procurador do concelho de Trancoso e em Junho de 1828 recebeu o comando da
primeira companhia do terceiro Batalhão do Corpo de Voluntários Realistas. Quando em Outubro seguinte, a Câmara de
Trancoso resolveu formar um Corpo de Voluntários, foi o Barão de Tavarede
nomeado seu comandante, com o posto de coronel. Combateu ao lado das forças
miguelistas, tento tomado parte do cerco do Porto. Com a queda de D. Miguel
abandonou a política.
Acabou
por jurar a Constituição em Outubro de 1836, tendo exercido o cargo de vereador
da Câmara trancosense e fez parte do Conselho Municipal, exercendo, durante
algum tempo, as funções de presidente da Câmara. Foi irmão da Santa Casa da
Misericórdia daquela localidade e da Confraria do Santíssimo Sacramento.
Com
a instalação do regime liberal, a Casa de Tavarede perdeu muito dos seus
privilégios, nomeadamento o dos fornos da poia, que passaram a ser livres,
assim como as comendas de que era titular. Também já D. João de Almada não
sucedeu no padroado da Capela mor do Convento de Santo António, na Figueira,
que foi extinto.
Teve
diversas desinteligências com sua irmã, sobre as questões da herança, muito em
especial as marinhas da Morraceira, que pertenciam ao vínculo do morgado.
Julga-se que só terá vindo a Tavarede uma única vez, depois da morte de sua
mãe. Entretanto, por decreto de 18 de Março de 1848, recebeu o título de Conde
de Tavarede.
Atendendo aos merecimentos do Barão
de Tavarede, João de Almada Quadros Sousa e Lencastre, à sua qualidade, e a ser
filho primogénito e sucessor de Francisco de Almada e Mendonça, do Conselho de
El-Rei Meu Senhor e Avô, e seu Desembargador do Paço, Comendador da Ordem de
Cristo, Alcaide Mor de Marialva e donatário da vila da Barca, segundogénito da
mui nobre e antiga Casa titular de Vila Nova de Souto de El-Rei, da mesma
origem que a dos Condes Mestres salas da Real Casa de Meus Augustos Avós, e de
Dona Antónia Madalena de Quadros, representante de outra família muito
qualificada por antiguidade de linhagem e gloriosos feitos militares, obrados
em Ceuta na menoridade de El-Rei D. Afonso V, e na praça de Azamor em dias de
El-Rei D. João III; tendo em particular consideração os distintos e relevantes
serviços que, durante a sua longa carreira de Magistratura, foram prestados
pelo pai do mencionado Barão, no exercício dos lugares que ocupou e no desempenho
de muitas e diversas comissões de que fôra encarregado; assinalando-se
especialmente assim pela edificação de muitos edifícios monumentais e de outras
obras gloriosas e de manifesta utilidade pública, feitas na cidade do Porto, em
Vila do Conde e Foz do Douro, como pelos gastos em hospedar, na sua casa em
Setubal e Salvaterra a Meus Augustos Avós, havendo-se em tudo com grande
inteligência, zelo e desinteresse, e correspondendo sempre às obrigações do seu
nascimento, e à íntima confiança que dele faziam os Soberanos; e querendo Eu
perpectuar a memória de tão valiosos serviços na pessoa do filho e sucessor de
tão benemérito servidor do Estado, e completar a remuneração deles com uma
mercê igual à sua importância: Hei por bem elevar o Barão de Tavarede João de
Almada Quadros Sousa e Lencastre à Grandeza destes Reinos, com o título de
Conde de Tavarede em sua vida…
Como
se vê, foram necessários decorrerem quarenta e tal anos após a sua morte, para
ser reconhecida a obra e o talento de D. Francisco de Almada e Mendonça, marido
da 10ª. Senhora de Tavarede, D. Antónia Madalena Quadros e Sousa.
Faleceu
o primeiro Conde de Tavarede a 13 de Fevereiro de 1861, sendo sepultado do lado norte da
igreja de Nossa Senhora da Fresta, em Trancoso.
De
‘A Casa de Tavarede’, permito-me transcrever a certidão de óbito deste nosso
titular. Aos treze dias do mês de Fevereiro do
ano de mil oitocentos e sessenta e um, pelas oito horas da manhã, no sítio da
Rua Nova desta vila e freguesia, concelho e distrito eclesiástico de Trancoso,
diocese de Pinhel, faleceu D. João de Almada Quadros Sousa de Lencastre, décimo
terceiro Senhor de Tavarede, primeiro Conde e primeiro Barão de Tavarede,
alcaide mor de Marialva, Senhor da vila da Barca, comendador de S. Martinho do
Bispo, proprietário, de idade de sessenta e seis anos, casado com D. Maria
Emília da Fonseca Pinto de Albuquerque e Meneses, Condessa do mesmo título,
filho legítimo de D. Francisco de Almada Sousa de Lencastre e de D. Antónia
Madalena de Quadros, Senhora de Tavarede; neto paterno de D. João de Almada e
de D. Ana de Lencastre; e materno do Doutor José Juzarte e de D. Joana de
Quadros. Não fez testamento, não deixou filhos mas sim dois netos. Não recebeu
sacramento algum porque morreu quase de repente. E para constar lavrei este
assento, em duplicado, que assinei. Era ut supra. O presbítero, Brunulfo
Teixeira de Azevedo.
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