sábado, 20 de outubro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 50


1993.04.02     -     DIA MUNDIAL DO TEATRO (O FIGUEIRENSE)

                E Tavarede não esqueceu que 27 de Março é o Dia Mundial do Teatro, efeméride que no nosso concelho, e ao que até neste momento sabemos, apenas foi assinalada, com uma representação, na catedral do Teatro Amador, vulgo Sociedade de Instrução Tavaredense.
                Mas a primeira nota agradável desta noite de Teatro talvez se possa situar na feliz circunstância da sala da SIT haver esgotado a sua capacidade de acolhimento, com alguns dos espectadores, de pé, nos corredores laterais da plateia, numa demonstração de que o Teatro tavaredense continua bem vivo, de que José Ribeiro também foi mestre na arte de cultivar continuadores, como confirmado ficou pela qualidade de encenação e representação da peça apresentada.
                Mas antes que o pano subisse, a presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense, drª Ilda Manuela Simões, surgiu em palco para explicar a razão daquela noite de Teatro, dedicada acima de tudo aos amadores dos diversos grupos cénicos do concelho, que haviam aceite o convite para estarem presentes.
                A drª Ilda Manuela relembrou também João José da Costa, um presidente da Câmara (1862/1863 e 1864/65) que havia procedido à remodelação da Casa do Terreiro (local onde nos encontramos, disse), fazendo dela uma sala pra Teatro.
                Mas hoje a SIT, embora lutando com dificuldades naturalmente económicas (e daí o seu apelo à Câmara e à Secretaria de Estado da Cultura) continua a representar, pois tem gente, quer “não visível”, que para além da cena tudo executa para que aconteça Teatro, quer gente que no palco “dá a cara”, para posteriormente chamar Jorge Monteiro de Sousa, um homem que faz mexer os cenários desde há longos anos, e João Medina, um amador que há 45 anos serve o Teatro.
                Ambos foram homenageados, tanto pela SIT, como pela assistência que lhes rendeu fortes aplausos. Eles simbolizam bem o espírito do Teatro Amador Tavaredense.
                Contudo os momentos altos deste serão cultural na Sociedade de Instrução Tavaredense não se quedaram por aqui, antes que “Támar” pisasse as tábuas.
                A drª Ana Maria, responsável pelas actividades cénicas da SIT, leu a mensagem, momentos antes recebida via fax (?!), referente ao Dia Mundial do Teatro.
                E ao proscénio seri ainda chamado o dr. António Gomes Marques, da Secretaria de Estado da Cultura, um homem a Tavarede ligado por elos afectivos e familiares, e de Teatro desde há muito amador.
                Com arte no gesto e com dom no lançar da palavra, o orador ofereceu à atenta plateia uma ponderada e pedagógica motivação para que sobre o próprio Teatro se reflectisse, advogando com alma e com razão um movimento que leve a que o Teatro seja uma realidade na Escola.
                E se, como transcreveu, “para fazer Teatro basta a matéria humana”, à Sociedade de Instrução Tavaredense nada falta para continuar a pontuar como santuário concelhio (só concelhio?) do Teatro, dado que “a matéria humana”, muita dela novata nestas andanças, se definiu, na peça de Alfredo Cortez, como de primeira água, digna continuadora da escola de José Ribeiro-
                “Tamar” é a representação que a SIT vai levar às Jornadas de Teatro Amador; “Támar” é a peça que o público concelhio amador do Teatro não pode deixar de aplaudir, caso não queira cometer um pecado cultural.

1994.01.14     -     SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE (O FIGUEIRENSE)

                Considerada por muitos como a catedral do teatro amador do nosso concelho, a Sociedade de Instrução Tavaredense está a comemorar noventa anos de existência brilhante, sendo unanimemente realçada a sua acção dentro do movimento associativo, a influência pedagógica que, ao longo dos anos, tem positivamente exercido dentro da sua comunidade e, a sua faceta culturalmente mais válida, o trabalho que desde sempre desenvolveu em prol do Teatro.
                E hoje a SIT, neste seu ciclo “post José Ribeiro”, soube continuar a lição do Mestre, para nos voltar a surgir com uma pujança e validade que certos “velhos do Restelo” talvez ousassem arquivar na descrença.
                Bastaria atentar no programa comemorativo deste aniversário para se ter a certeza de que o concelho da Figueira pode continuar a orgulhar-se deste colectividade, que, numa renovada leitura e interpretação dos desejos dos tavaredenses, não busca apenas no Teatro corresponder às solicitações dos seus associados.
                Amanhã, vai assinalar-se a Grande Noite do Teatro, com a estreia da peça de Sigfredo Gordon “Omara”, numa tradução de José Ribeiro.
                Em Omara, peça de premente realismo, o autor oferece-nos o drama de uma mãe que ama o seu filho com tão excessivo e doentio ardor, que não se resigna ao perdê-lo quando descobre que ele tem uma noiva.
                O Figueirense assistiu a um dos ensaios e atreve-se, pelo que constatou, a recomendar uma ida até à SIT, onde “Omara” vos espera.
                No domingo, para além da clássica alvorada e visita aos sócios, a cargo da Tuna de Tavarede, outro momento alto se regista: a sessão solene, às 16,00 horas, na qual o Professor Oliveira Barata, um estudioso do Teatro, será o orador oficial.
                E “Omara” voltará ao palco nos dias 22 e 29 deste mês, enquanto que na tarde do dia 23, domingo, decorrerá um espectáculo a cargo do Grupo Típico do Sport Clube de Lavos e da sua Escola de Música.
                Ainda a destacar, na tal renovada leitura solicitações dos tavaredenses, a inauguração, pelas 15,30 horas do dia 30, do Pavilhão Gimnodesportivo, um espaço de que Tavarede – em particular a sua juventude – necessitava.
                Parabéns, pois, Sociedade de Instrução Tavaredense, na pessoa da sua Presidente, já reconduzida – e bem, para mais um mandato.

1994.01.2     -      O TEATRO EM TAVAREDE (O FIGUEIRENSE)

                Há trinta anos vivia eu a cerca de seis léguas da Figueira, mas chegavam ali ecos da actividade teatral em Tavarede...
                Amado, de nome, e amador de uns tantos ofícios em minha vida, houve uma altura em que me deu, também, para ensaiar uns “teatros”. Preparação específica não tinha, pelo que tive de estudar umas coisitas, aproximar-me de entendidos nestas áreas e... avançar!
                Sei que um dos primeiros passos que foi na direcção da terra do limonete. E aí vinha eu, com os homens do clube lá da terra (os quais pouco mais tinham em seus horizontes que uns bailes de vez em quando...), até à capital do Teatro, que era, na altura, muito justamente, e continua hoje a ser, a freguesia de Tavarede.
                Figura emblemática de todas estas andanças era a pessoa de José da Silva Ribeiro com quem tive o privilégio de contactar por diversas vezes; em algumas delas recebi preciosos ensinamentos e prestimosa colaboração na cedência de adereços e cenários diversos.
                Os anos iam passando, a minha situação sócio-profissional haveria de ser também alterada, até que... não sei por que bula, vim a cair, de novo, por onde havia começado a minha vida prática – a Figueira da Foz.
                Uma vez aqui, e desde há uma dezena de anos, mais e mais venho admirando Tavarede, quero dizer, todo o interesse e carinho que as suas gentes vêm manifestando pela arte de Talma. Faleceu, entretanto, o grande mestre, mas a escola por ele criada continua, em ritmo apreciável e agora mais adulta, porque liberta, também, de um certo trauma de orfandade por que, naturalmente, passou.
                A peça presentemente ali em cena não desmerece, em nada, quantas ali já tive oportunidade de presenciar. Da autoria de um notável escritor mexicano, numa tradução de José Ribeiro, o seu desempenho foi confiado a verdadeiros artistas na arte de pisar o palco. Curioso que nela figuram elementos que entraram na primeira representação, já lá vão 28 anos, ainda que, agora, vestindo outras peles (caso de João Medina, ora o dr. Ayala, e, na altura, o jardineiro Tobias).
                Como figura central, desta vez, a drª Ilda Manuela Simões, com a gana que se lhe conhece, em substituição da imortal Violinda Medina. Arrogante e altiva no seu orgulho solitário, sempre pronta a enfrentar as lutas, “Omara” foi muito bem interpretada(?) por Ilda Manuela. Despeitada e roída de ciúmes, deixa-se, no entanto, vencer, no final, ao “entregar-se” no caso que a atormentava devido ao patológico e possessivo sentimento que nutria pelo filho, quando este pretendeu amar uma mulher, à qual “Omara” apenas vaticinava pureza, candura, virgindade...
                Teatro de primeira água, também desta vez, em Tavarede.

1994.11.25     -     PARABÉNS, JOSÉ RIBEIRO (O FIGUEIRENSE)

                E Tavarede cantou os parabéns a José da Silva Ribeiro no dia em que o Mestre atingiu, no coração e na memória dos seus inúmeros amigos, os cem anos de vida.
                Pouco a pouco, no findar da tarde do passado dia 18, a sede da Sociedade de Instrução Tavaredense foi-se tornando pequena para acolher as pessoas que, vindas de tantos sítios, juntaram sentimentos, de saudade, é verdade, mas também de um certo orgulho por puderem testemunhar ao Amigo, apenas fisicamente ausente, algo do muito que dele haviam recebido, e que agora tinham sentida ocasião em retribuir.
                E a todos não passou ao lado a significativa presença da Tuna de Tavarede, também ela uma página patrimonial da vila, que com os seus acordes de outrora, nos conduziu ao salão de Teatro, local privilegiado para se viver José Ribeiro.
                Em palco, em sessão solene presidida pelo engº Aguiar de Carvalho, tomaram lugar um sem número de entidades, e também mais uma dezena de estandartes oriundos de colectividades do concelho.
                Caberiam à drª Ilda Manuela as palavras iniciais, e desde logo o lamento por as comemorações ficarem aquém do desejado, mas, como disse “a Cultura custa dinheiro e a SIT não o possui”, acrescentando, como exemplo, que a aluguer do guarda-roupa da representação teatral dessa noite custara duzentos contos!
                Mesmo assim,  presidente da SIT agradeceu as várias boas vontades os apoios recebidos, dos quais destacou o da Secretaria de Estado da Cultura.
                Lidas as cartas recebidas relacionadas com esta comemoração, escutou-se uma composição poética de Isaura Morais, para de imediato a drª Ana Maria, hoje responsável pela continuidade do Teatro em Tavarede, dissertar, emocionada, sobre a sua vivência com José Ribeiro, que  acompanhou “do Jardim Escola à Universidade”.
                Depoimento quase sempre transmitido de lágrimas nos olhos, e no qual agradeceria ao homenageado tudo o que por ela havia feito.
                De realçar a mensagem recebida e lida, que o Grande Oriente Lusitano remeteu, enaltecendo o “irmão republicano”, o seu empenhamento na Maçonaria, a luta pelos valores em que acreditava, o ilustre maçon continuador dos ideais de Manuel Fernandes Tomás, João de Barros, Joaquim de Carvalho e Manuel Gaspar de Lemos, também eles membros da Maçonaria Figueirense.
                António Simões Baltazar trouxe a mensagem da Junta de Freguesia de Tavarede, a expressão do reconhecimento “oficial” de Tavarede a Mestre José Ribeiro, realçando ainda o trabalho dos Lions e dos Rotários na exaltação do homenageado.
                E justo é assinalar a publicação que o Lions Clube da Figueira da Foz executou biografando José Ribeiro, num texto de Jorge Traqueia Bracourt, sendo a mesma distribuida durante a sessão solene.
                Ainda, como oradores, registamos a exposição do dr. Deolindo Pessoa, dele destacando a sugestão, como melhor forma de homenagear José Ribeiro, da criação de um Instituto de Teatro com o seu nome.
                Da Secretaria de Estado da Cultura, pela voz do Dr. Pedro Abreu, chegou a pública homenagem “a esse grande vulto da cultura figueirense” e igualmente “à agremiação que durante sete décadas teve o privilégio de o contar como o seu maior”.
                A sessão terminaria com a intervenção do presidente da Câmara, no preito do concelho ao grande tavaredense.
                Após a sessão solene, fechada com o hino da colectividade executado pela Tuna, foi descerrada, por D. Guilhermina Ribeiro, irmã de José Ribeiro, uma placa assinaladora da efeméride.
                Ainda na SIT procedeu-se à inauguração de uma valiosa exposição de cenários de teatro, algo de importante a merecer uma visita.
                Com uma lotação esgotada, a SIT assistiu, na noite do dia 18, ao regresso, às tábuas do seu palco, de Mestre José Ribeiro, sempre presente mercê de uma feliz encenação, que transportou para o palco objectos do Mestre, como a sua secretária, a sua cadeira, o seu candeeiro... o seu lugar de trabalho. Depois, bastaria um pouco de imaginação.
                E essa não faltou aos que conceberam esta represeentação, estas “Palavras de Uma Vida”, baseada em textos retirados do diário do homenageado, de passagens de algumas cartas, de peças que o Mestre levou à cema.
                Depois de tudo o que vivemos no dia 18,... Tavarede cantou os parabéns a José da Silva Ribeiro.

Sem comentários:

Enviar um comentário