1993.04.02 -
DIA MUNDIAL DO TEATRO (O
FIGUEIRENSE)
E
Tavarede não esqueceu que 27 de Março é o Dia Mundial do Teatro, efeméride que
no nosso concelho, e ao que até neste momento sabemos, apenas foi assinalada,
com uma representação, na catedral do
Teatro Amador, vulgo Sociedade de Instrução Tavaredense.
Mas
a primeira nota agradável desta noite de Teatro talvez se possa situar na feliz
circunstância da sala da SIT haver esgotado a sua capacidade de acolhimento,
com alguns dos espectadores, de pé, nos corredores laterais da plateia, numa
demonstração de que o Teatro tavaredense continua bem vivo, de que José Ribeiro
também foi mestre na arte de cultivar continuadores, como confirmado ficou pela
qualidade de encenação e representação da peça apresentada.
Mas
antes que o pano subisse, a presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense,
drª Ilda Manuela Simões, surgiu em palco para explicar a razão daquela noite de
Teatro, dedicada acima de tudo aos amadores dos diversos grupos cénicos do
concelho, que haviam aceite o convite para estarem presentes.
A
drª Ilda Manuela relembrou também João José da Costa, um presidente da Câmara
(1862/1863 e 1864/65) que havia procedido à remodelação da Casa do Terreiro
(local onde nos encontramos, disse), fazendo dela uma sala pra Teatro.
Mas
hoje a SIT, embora lutando com dificuldades naturalmente
económicas (e daí o seu apelo à Câmara e à Secretaria de Estado da Cultura)
continua a representar, pois tem gente, quer “não visível”, que para além da cena tudo executa para que aconteça
Teatro, quer gente que no palco “dá a
cara”, para posteriormente chamar Jorge Monteiro de Sousa, um homem que faz
mexer os cenários desde há longos anos, e João Medina, um amador que há 45 anos
serve o Teatro.
Ambos
foram homenageados, tanto pela SIT, como pela assistência que lhes rendeu
fortes aplausos. Eles simbolizam bem o espírito do Teatro Amador Tavaredense.
Contudo
os momentos altos deste serão cultural na Sociedade de Instrução Tavaredense
não se quedaram por aqui, antes que “Támar” pisasse as tábuas.
A
drª Ana Maria, responsável pelas actividades cénicas da SIT, leu a mensagem,
momentos antes recebida via fax (?!), referente ao Dia Mundial do Teatro.
E
ao proscénio seri ainda chamado o dr. António Gomes Marques, da Secretaria de
Estado da Cultura, um homem a Tavarede ligado por elos afectivos e familiares,
e de Teatro desde há muito amador.
Com
arte no gesto e com dom no lançar da palavra, o orador ofereceu à atenta
plateia uma ponderada e pedagógica motivação para que sobre o próprio Teatro se
reflectisse, advogando com alma e com razão um movimento que leve a que o
Teatro seja uma realidade na Escola.
E
se, como transcreveu, “para fazer Teatro
basta a matéria humana”, à Sociedade de Instrução Tavaredense nada falta
para continuar a pontuar como santuário concelhio (só concelhio?) do Teatro,
dado que “a matéria humana”, muita dela novata nestas andanças, se definiu, na
peça de Alfredo Cortez, como de primeira água, digna continuadora da escola de
José Ribeiro-
“Tamar”
é a representação que a SIT vai levar às Jornadas de Teatro Amador; “Támar” é a
peça que o público concelhio amador do Teatro não pode deixar de aplaudir, caso
não queira cometer um pecado cultural.
1994.01.14 -
SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE (O
FIGUEIRENSE)
Considerada
por muitos como a catedral do teatro
amador do nosso concelho, a Sociedade de Instrução Tavaredense está a
comemorar noventa anos de existência brilhante, sendo unanimemente realçada a
sua acção dentro do movimento associativo, a influência pedagógica que, ao
longo dos anos, tem positivamente exercido dentro da sua comunidade e, a sua
faceta culturalmente mais válida, o trabalho que desde sempre desenvolveu em
prol do Teatro.
E
hoje a SIT, neste seu ciclo “post José Ribeiro”, soube continuar a lição do
Mestre, para nos voltar a surgir com uma pujança e validade que certos “velhos
do Restelo” talvez ousassem arquivar na descrença.
Bastaria
atentar no programa comemorativo deste aniversário para se ter a certeza de que
o concelho da Figueira pode continuar a orgulhar-se deste colectividade, que,
numa renovada leitura e interpretação dos desejos dos tavaredenses, não busca
apenas no Teatro corresponder às solicitações dos seus associados.
Amanhã,
vai assinalar-se a Grande Noite do Teatro, com a estreia da peça de Sigfredo
Gordon “Omara”, numa tradução de José Ribeiro.
Em
Omara, peça de premente realismo, o autor oferece-nos o drama de uma mãe que
ama o seu filho com tão excessivo e doentio ardor, que não se resigna ao
perdê-lo quando descobre que ele tem uma noiva.
O
Figueirense assistiu a um dos ensaios e atreve-se, pelo que constatou, a
recomendar uma ida até à SIT, onde “Omara” vos espera.
No
domingo, para além da clássica alvorada e visita aos sócios, a cargo da Tuna de
Tavarede, outro momento alto se regista: a sessão solene, às 16,00 horas, na
qual o Professor Oliveira Barata, um estudioso do Teatro, será o orador
oficial.
E
“Omara” voltará ao palco nos dias 22 e 29 deste mês, enquanto que na tarde do
dia 23, domingo, decorrerá um espectáculo a cargo do Grupo Típico do Sport
Clube de Lavos e da sua Escola de Música.
Ainda
a destacar, na tal renovada leitura solicitações dos tavaredenses, a inauguração,
pelas 15,30 horas do dia 30, do Pavilhão Gimnodesportivo, um espaço de que
Tavarede – em particular a sua juventude – necessitava.
Parabéns,
pois, Sociedade de Instrução Tavaredense, na pessoa da sua Presidente, já
reconduzida – e bem, para mais um mandato.
1994.01.2 -
O TEATRO EM TAVAREDE (O
FIGUEIRENSE)
Há
trinta anos vivia eu a cerca de seis léguas da Figueira, mas chegavam ali ecos
da actividade teatral em Tavarede...
Amado,
de nome, e amador de uns tantos ofícios em minha vida, houve uma altura em que
me deu, também, para ensaiar uns “teatros”. Preparação específica não tinha,
pelo que tive de estudar umas coisitas, aproximar-me de entendidos nestas áreas
e... avançar!
Sei
que um dos primeiros passos que foi na direcção da terra do limonete. E aí
vinha eu, com os homens do clube lá da terra (os quais pouco mais tinham em
seus horizontes que uns bailes de vez em quando...), até à capital do Teatro,
que era, na altura, muito justamente, e continua hoje a ser, a freguesia de
Tavarede.
Figura
emblemática de todas estas andanças era a pessoa de José da Silva Ribeiro com
quem tive o privilégio de contactar por diversas vezes; em algumas delas recebi
preciosos ensinamentos e prestimosa colaboração na cedência de adereços e
cenários diversos.
Os
anos iam passando, a minha situação sócio-profissional haveria de ser também
alterada, até que... não sei por que bula, vim a cair, de novo, por onde havia
começado a minha vida prática – a Figueira da Foz.
Uma
vez aqui, e desde há uma dezena de anos, mais e mais venho admirando Tavarede,
quero dizer, todo o interesse e carinho que as suas gentes vêm manifestando
pela arte de Talma. Faleceu, entretanto, o grande mestre, mas a escola por ele
criada continua, em ritmo apreciável e agora mais adulta, porque liberta,
também, de um certo trauma de orfandade por que, naturalmente, passou.
A
peça presentemente ali em cena não desmerece, em nada, quantas ali já tive
oportunidade de presenciar. Da autoria de um notável escritor mexicano, numa
tradução de José Ribeiro, o seu desempenho foi confiado a verdadeiros artistas
na arte de pisar o palco. Curioso que nela figuram elementos que entraram na
primeira representação, já lá vão 28 anos, ainda que, agora, vestindo outras
peles (caso de João Medina, ora o dr. Ayala, e, na altura, o jardineiro
Tobias).
Como
figura central, desta vez, a drª Ilda Manuela Simões, com a gana que se lhe
conhece, em substituição da imortal Violinda Medina. Arrogante e altiva no seu
orgulho solitário, sempre pronta a enfrentar as lutas, “Omara” foi muito bem
interpretada(?) por Ilda Manuela. Despeitada e roída de ciúmes, deixa-se, no
entanto, vencer, no final, ao “entregar-se” no caso que a atormentava devido ao
patológico e possessivo sentimento que nutria pelo filho, quando este pretendeu
amar uma mulher, à qual “Omara” apenas vaticinava pureza, candura,
virgindade...
Teatro
de primeira água, também desta vez, em Tavarede.
1994.11.25 -
PARABÉNS, JOSÉ RIBEIRO (O
FIGUEIRENSE)
E
Tavarede cantou os parabéns a José da
Silva Ribeiro no dia em que o Mestre atingiu, no coração e na memória dos seus
inúmeros amigos, os cem anos de vida.
Pouco
a pouco, no findar da tarde do passado dia 18, a sede da Sociedade de Instrução
Tavaredense foi-se tornando pequena para acolher as pessoas que, vindas de
tantos sítios, juntaram sentimentos, de saudade, é verdade, mas também de um
certo orgulho por puderem testemunhar ao Amigo, apenas fisicamente ausente,
algo do muito que dele haviam recebido, e que agora tinham sentida ocasião em
retribuir.
E
a todos não passou ao lado a significativa presença da Tuna de Tavarede, também
ela uma página patrimonial da vila, que com os seus acordes de outrora, nos
conduziu ao salão de Teatro, local privilegiado para se viver José Ribeiro.
Em
palco, em sessão solene presidida pelo engº Aguiar de Carvalho, tomaram lugar
um sem número de entidades, e também mais uma dezena de estandartes oriundos de
colectividades do concelho.
Caberiam
à drª Ilda Manuela as palavras iniciais, e desde logo o lamento por as comemorações
ficarem aquém do desejado, mas, como disse “a
Cultura custa dinheiro e a SIT não o possui”, acrescentando, como exemplo,
que a aluguer do guarda-roupa da representação teatral dessa noite custara
duzentos contos!
Mesmo
assim, presidente da SIT agradeceu as
várias boas vontades os apoios recebidos, dos quais destacou o da Secretaria de
Estado da Cultura.
Lidas
as cartas recebidas relacionadas com esta comemoração, escutou-se uma
composição poética de Isaura Morais, para de imediato a drª Ana Maria, hoje
responsável pela continuidade do Teatro em Tavarede, dissertar, emocionada,
sobre a sua vivência com José Ribeiro, que
acompanhou “do Jardim Escola à Universidade”.
Depoimento
quase sempre transmitido de lágrimas nos olhos, e no qual agradeceria ao
homenageado tudo o que por ela havia feito.
De
realçar a mensagem recebida e lida, que o Grande Oriente Lusitano remeteu,
enaltecendo o “irmão republicano”, o seu empenhamento na Maçonaria, a luta
pelos valores em que acreditava, o ilustre maçon continuador dos ideais de
Manuel Fernandes Tomás, João de Barros, Joaquim de Carvalho e Manuel Gaspar de
Lemos, também eles membros da Maçonaria Figueirense.
António
Simões Baltazar trouxe a mensagem da Junta de Freguesia de Tavarede, a
expressão do reconhecimento “oficial” de Tavarede a Mestre José Ribeiro,
realçando ainda o trabalho dos Lions e dos Rotários na exaltação do
homenageado.
E
justo é assinalar a publicação que o Lions Clube da Figueira da Foz executou
biografando José Ribeiro, num texto de Jorge Traqueia Bracourt, sendo a mesma
distribuida durante a sessão solene.
Ainda,
como oradores, registamos a exposição do dr. Deolindo Pessoa, dele destacando a
sugestão, como melhor forma de homenagear José Ribeiro, da criação de um
Instituto de Teatro com o seu nome.
Da
Secretaria de Estado da Cultura, pela voz do Dr. Pedro Abreu, chegou a pública homenagem “a esse grande vulto da cultura figueirense” e igualmente “à agremiação que durante sete décadas teve o
privilégio de o contar como o seu maior”.
A
sessão terminaria com a intervenção do presidente da Câmara, no preito do
concelho ao grande tavaredense.
Após
a sessão solene, fechada com o hino da colectividade executado pela Tuna, foi
descerrada, por D. Guilhermina Ribeiro, irmã de José Ribeiro, uma placa
assinaladora da efeméride.
Ainda
na SIT procedeu-se à inauguração de uma valiosa exposição de cenários de
teatro, algo de importante a merecer uma visita.
Com
uma lotação esgotada, a SIT assistiu, na noite do dia 18, ao regresso, às
tábuas do seu palco, de Mestre José Ribeiro, sempre presente mercê de uma feliz
encenação, que transportou para o palco objectos do Mestre, como a sua
secretária, a sua cadeira, o seu candeeiro... o seu lugar de trabalho. Depois,
bastaria um pouco de imaginação.
E
essa não faltou aos que conceberam esta represeentação, estas “Palavras de Uma
Vida”, baseada em textos retirados do diário do homenageado, de passagens de
algumas cartas, de peças que o Mestre levou à cema.
Depois
de tudo o que vivemos no dia 18,... Tavarede
cantou os parabéns a José da Silva Ribeiro.
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