sábado, 6 de outubro de 2012

Quadros - Os Senhores de Tavarede - 24


João de Almada Quadros de Sousa de Lencastre

1º. Barão e 1º. Conde de Tavarede


            João de Almada e Quadros de Sousa Lencastre, filho de D. Francisco de Almada e Mendonça e de D. Antónia Madalena de Quadros e Sousa, nasceu na cidade do Porto no dia 28 de Fevereiro de 1794. Foi baptizado na Igreja de Santo Ildefonso, naquela cidade, tendo como padrinhos o Principe D. João (futuro rei D. João VI) e sua mulher D. Carlota Joaquina.

            Aos 10 anos de idade, por decreto de 7 de Setembro de 1804, foi-lhe concedido o título de Barão de Tavarede, em reconhecimento dos serviços prestados por seu pai, poucos dias depois do falecimento deste. Anos mais tarde, como veremos, recebeu o título de Conde.

            Foi o 11º. Senhor de Tavarede, tendo, igualmente, os seguintes títulos: Senhor dos Prazos da Morraceira e de Valverde, Senhor dos morgadios dos Leites de Santarém, 2º. Senhor da vila de Ponte da Barca, alcaide mor de Marialva, comendador de S. Martinho do Bispo na Ordem de Cristo. Foi, também, moço fidalgo da Casa Real, Conselheiro do Estado, cavaleiro das Ordens da Torre e Espada e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Serviu, ainda criança, no Regimento Real, com o qual participou nas guerras peninsulares.

            Casou muito jovem, em 1810, com D. Maria Emília da Fonseca Pinto de Albuquerque Araújo e Meneses, de 22 anos de idade, nascida em Pinhel mas residente em Trancoso, filha de Caetano Alexandre da Fonseca Pinto de Albuquerque, fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo, e de D. Maria José Cardoso de Meneses, senhora de diversos morgadios.  Só tiveram um filho, Francisco de Almada e Quadros de Sousa Lencastre, nascido em 6 de Março de 1818.

            Tratou-se assim de um casamento estudado e planeado por parentes dos noivos… Da parte dos de Trancoso o casamento seria certamente bem visto: os de Tavarede eram sem dúvida de uma nobreza mais destacada e, apesar das dificuldades financeiras por que passavam, possuidores de bens de maior valia do que os seus… (A Casa de Tavarede).

            Não foi fácil o relacionamento familiar. Os noivos vieram residir com D. Antónia Madalena em Tavarede. Mas igualmente vieram para cá os pais da noiva. Admito que a morgada de Tavarede se incompatibilizasse, desde logo, com o seu compadre, Caetano Alexandre. É que este terá pretendido tornar-se o ‘dono’ da casa, passando ele a gerir e administrar a casa. A causa principal dessas desavenças parece ter sido o facto de retirar a mesada a que D. Antónia tinha direito, de acordo com o contrato feito por ocasião do casamento do filho.

            O desentendimento terá tido lugar ainda antes de Maio de 1810, pois já no dia 23 desse mês, D. Antónia Madalena obtinha certidão da escritura do dote, sem dúvida para fazer valer os seus direitos. Abandonando Tavarede, D. Antónia Madalena entrou no Convento de Santos, a que a sua família estava há muito ligada. A partir dessa altura a história da relação entre D. Antónia Madalena e seus filhos, é um rol de ódios, de vinganças, de perseguições. Tudo indica que aquela e seu filho João de Almada nunca mais se viram, apesar de D. Antónia ainda ter vivido 25 anos (A Casa de Tavarede).

            Tudo isto levou à requisição de administração judicial da Casa de Tavarede e ao seu declínio. Foram muitas as questões judiciais levantadas tanto pela mãe como pelo filho. Chegou ao ponto de, em Maio de 1821, D. Antónia se queixar que logo em Julho do mesmo ano me foi novamente arrebatada das mãos a minha casa em virtude de requerimento de meu ingrato filho, que obteve do Revolucionário Governo de 1820, a bárbara medida de ser posta em curadoria a minha pessoa e bens, sem eu ser ouvida e nem, ao menos, de tal ter notícia, conseguindo o mesmo meu filho, por meio desta destruidora providência, confirmar a ruína de minha Casa e a opressão de minha pessoa. Julga-se, no entanto, que a iniciativa não terá sido só do filho mas, sim, também de sua filha Ana Felícia.

            O Barão de Tavarede, juntamente com seu sogro, aderiu à causa do rei D. Miguel. Foram muitos os processos que levantou contra sua mãe, a quem acusava de dissipadora e causadora da ruína da Casa, mas sempre viu as questões serem decididas a seu desfavor.

            Num documento existente, refere-se que quando o Barão de Tavarede e sua família decidiram mudar-se para Trancoso levaram consigo o bom e melhor que D. Antónia deixara em casa, nomeadamente todos os móveis. E ainda refere uma nota de D. Antónia. Que … estando eu em Tavarede e tendo casa arrendada na Rua Formosa (Lisboa), onde tinha os títulos, algumas pinturas e móveis, o Barão, vindo escondido a Lisboa, entrou na casa num dia da Semana Santa e, arrombando portas e armários, levou os títulos e tudo o que achou de precioso, com geral escândalo da vizinhança… (A Casa de Tavarede)

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