O velho burgo de
Tavarede não podia estar muito tempo sem teatro. Era uma tradição mais que
centenária. Certamente que foi esse o motivo que levou os responsáveis pelas
obras de remodelação do edifício da Sociedade de Instrução Tavaredense a
acabarem, em primeiro lugar, a nova sala de espectáculos. E antes de
continuarmos, seja-nos permitido recordar que, quando se iniciou o
desmantelamento do velho palco, se verificou um apelo. ‘Por favor, guardem umas
tábuas do proscénio, para irem comigo no meu caixão’. Sobre aquelas tábuas carunchosas, onde tantas e tantas horas de alegria
e aborrecimentos imperecíveis eles passaram, assistiram ao arranque da primeira
tábua, operação esta que foi executada pela categorizada e premiada amadora,
srª D. Violinda Medina e Silva, e receber as entusiásticas saudações da
numerosa assistência, que bem traduziam o seu reconhecimento pelos momentos de
prazer que lhes haviam proporcionado.
Reconhecida
por todos a conveniência de o grupo cénico retomar, tão depressa quanto
possível, a sua actividade, interrompida há um longo ano, resolveu-se pedir as
vistorias à casa e à instalação eléctrica, que foram aprovadas. Assim, o teatro
foi posto a funcionar, tendo-se dado o primeiro espectáculo no dia 16 de
Dezembro de 1961, com a peça em 2 actos e 24 quadros Terra do Limonete. A inauguração da nova sala de espectáculos foi
brilhante. Com a inauguração do novo teatro da Sociedade de
Instrução Tavaredense, verificada no último sábado, a data de 16 de Dezembro de 1961, ficará assinalada nos anais da
história da nossa querida terra, como marco imorredoiro.
Em cerimónia simples, imposta pelas circunstâncias,
retomou a sua actividade o grupo dramático da prestante associação.
Lotação esgotada, contando-se entre a numerosa
assistência figuras de relevo da distinta sociedade figueirense e muitos amigos de
Tavarede, vindos das mais diversas localidades do País.
De
linhas sóbrias, mas elegantes, a ampla sala de espectáculos oferecia com a sua
iluminação feérica deslumbrante efeito.
Em
lugares de honra, sentavam-se os srs. Engenheiro José Coelho Jordão, ilustre
presidente da Câmara Municipal do
nosso concelho; Severo da Silva Biscaia, activo e inteligente presidente da
Comissão Municipal de Turismo; Professor António
Vitor Guerra, prestigioso director do Museu Municipal Dr. Santos Rocha e da
Biblioteca Pública Municipal Pedro Fernandes
Tomás; António Duarte da Paz, Chefe da Polícia de Segurança Pública dessa
cidade, em representação do Comandante; Arquitecto Isaias Cardoso, autor
do projecto, e Vicente Braz, presidente da Junta desta Freguesia.
Terra do Limonete
"O Figueirense" estava representado
pelo seu director e "A Voz da Figueira" pelo seu chefe da redacção. O
jornal "O
Dever" estava representado pelo Revd° Padre Fernando Ribeiro, coadjutor da
Igreja Matriz dessa cidade.
Antes de o espectáculo ter início e com o velho pano de
boca descido, cuja pintura representava o
antigo solar da Quinta dos Condados, o presidente da Assembleia
Geral da SIT, sr. Professor Rui Fernandes Martins, veio ao proscénio para
saudar o sr. presidente do Município e outras entidades, evocando sentidamente
a memória de João José da Costa, proprietário daquela importante propriedade, e a quem a
Figueira da Foz e seu termo, quando presidente da Câmara, Provedor da Santa Casa da Misericórdia e
de outras instituições ficou devendo assinalados serviços e Tavarede o antigo Teatro; recordou a figura nobilíssima de Calouste Gulbenkian, de cuja Fundação a SIT
recebeu subsídio generoso, que veio impulsionar decisivamente as ambicionadas
obras, que constituíram, durante algumas dezenas de anos, anseio dos sócios e amigos da benemérita colectividade.
Não
esqueceu José da Silva Ribeiro e os seus humildes colaboradores de muitos anos, aquele o tavaredense
a cujo talento e amor à nobre arte de Talma ficaram os seus conterrâneos
devendo a magnífica realização, pois que sem a sua extraordinária actividade de
todos os dias não seria possível o grupo cénico que dirige, atingir o alto
nível cultural que merecidamente alcançou, e, consequentemente, a SIT
obter os fundos necessários para levar por diante o arrojo do empreendimento, se considerarmos a modéstia de
recursos do meio local.
A
fantasia "Terra do Lirnonete", que escreveu para a inauguração do
Teatro, que o distinto amigo e grande amigo da
colectividade sr. Alberto Anahory vestiu primorosamente, enriquecida com
cenários executados por distintos artistas,
agradou
unanimemente, como o demonstraram os vibrantes e entusiásticos aplausos do
público e as felicitações que recebeu das entidades e de categorizados espectadores.
Em chamadas especiais, José Ribeiro e Anselmo Cardoso,
director da orquestra e autor da partitura, foram ovacionados
calorosamente.
Seríamos injustos se não tivéssemos uma palavra de louvor
para José Nunes Medina, músico distinto, que, com o seu esforço e boa vontade ensaiou a
parte coral, contribuindo poderosamente para o êxito da representação.
Enfim, foi uma
grande e inolvidável noite de arte, a de sábado, que ficará memorável na alma
dos tavarederises.
Todos os amadores, sem excepção, entre os quais figuram estreantes, cumpriram
plenamente, pelo que a assistência lhes tributou os seus quentes aplausos.
Oxalá que a conclusão das obras de transformação da sede
da SIT não se faça demorar para os tavaredenses poderem dar largas ao seu justificado entusiasmo bairrista
No final do espectáculo, a Direcção da SIT obsequiou com
um beberete as entidades e outros convidados, tendo usado da palavra os srs. professor Rui Martins e José Ribeiro e
por último os srs. presidentes da Câmara e da Comissão de Turismo.
Terra do Limonete – A moura
encantada
Embora a interrupção, motivada pelas
obras, tivesse sido relativamente pequena, o público estava ávido por ver, além
das novas instalações, a inaugural fantasia de Mestre José Ribeiro. E foi com
as lotações esgotadas, que os espectáculos se sucederam.
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