Entretanto terminara a refeição. A custo, os oficiais
preparam-se para partir. À despedida, as criadas da estalagem que vêm assistir
à sua partida, pedem-lhes uma cantiga. Logo um deles lhes faz a vontade.
Ouvia
gabar os beijos
Dizer
deles tanto bem
Que
me nasceram desejos
De
provar alguns também.
Um
colhi eu duma bela
Que
era Rosa sem ser flor.
Se
tinha espinhos como ela
Dela
também tinha a cor.
Vi-a
a dormir e furtei-lhe
Um
beijo que a acordou.
Eu
gostei, porém causei-lhe
Tal
susto que a desmaiou.
Outra
vez duma morena,
Olhos
azuis, cor do céu,
Corpo
esbelto, mão pequena,
Um
beijo me apeteceu.
Pedi-lho
– e então por bons modos,
Pedi-lho
do coração;
Zombou
dos meus rogos todos
E
respondeu-me que não.
Zombei,
como ela zombava
E
um beijo à força lhe dei.
Mas...
bem dado ainda não estava
E c’um bofetão apanhei.
Foi muito aplaudido. Mas, as raparigas, querem mais
cantigas. Pois então, não haja dúvidas. Um outro oficial corresponde ao pedido.
No
centro de círculos
E
núvens de fumo
Um
deus me presumo,
Um deus sobre o altar!
Nem
doutros turíbulos
Me
apraz o incenso,
Como
o deste imenso
Cachimbo
sem par.
Meu
canto é da América,
País
do tabaco,
Melhor
do que Baco,
Que
o ópio melhor.
Que
a Europa, Ásia e África
E
a terra hoje toda
Já
fuma por moda
O
heróico vapor.
Até
na Lapónia
Da
gente pequena,
Se
fuma, e no Sena,
No
Tibre e no Pó,
No
Volga e Danúbio,
No
Tejo e no Douro...
Que
grande tesouro
Se
deve a Nicot!
E
os ávidos lábios
Mais
fumo inda aspirem.
Que
os néscios suspirem
Por
beijos febris.
Não
quero outros ósculos,
Não
quero outra amante.
Qual
mais dardejante
Que
os fumos subtis?
Tornadas Vesúvios
As
bocas fumegam,
De
núvens que cegam
Vomitam
legiões.
Fumar!
Oh! delícias!
Prazer
de nababo!
E
leve o diabo
Do
mundo as paixões.
Finalmente resolvem-se a partir. E já se aprestavam a ir
buscar as montadas quando uma velhota se acerca deles. Tinha ouvido dizer que
Sua Majestade, a Rainha, breve passava por aquela estrada a caminho de Braga. E
ela tinha necessidade de lhe falar. A que horas passaria ali? Os oficiais,
admirados, disseram-lhe que a Rainha, certamente, não falaria com ela. Não a
convenceram. Haveria de lhe falar. Ela sabia que a Rainha era boa. Havia de
parar e falar-lhe. Mais, havia de a atender e de fazer justiça. Sim, porque era
para pedir justiça à Rainha que lhe queria falar.
O Alferes Rialva diz-lhe, então, que dentro de duas a três
horas ali passariam duas carruagens da corte. Na primeira, uma senhora de meia
idade, vestida de verde, com xaile e chapéu branco, era a Rainha. Podia ser que
ela a atendesse... Os companheiros ficaram admirados e logo que Roberta se
afastou, perguntam a Rialva porque disse aquilo, sabendo que a senhora em
questão era sua própria mãe, que a Rainha mandava à frente para preparar o seu
alojamento em Braga. “E não pediu a velhota justiça? Minha mãe, com toda a
certeza, a escutará e atenderá o seu pedido”. Seguem, finalmente, o seu
caminho.
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