No domingo 26
de Fevereiro de 1962, atingida a 16ª representação, a Direcção da colectividade
aproveitou para homenagear os autores da peça e da música. Em cena aberta, no intervalo do 1o
para o 2o acto, teve lugar a cerimónia, simples, como as
circunstâncias impõem, mas bastante
expressiva. Quando Helena de
Figueiredo Medina e Violinda Medina e Silva, amadoras mais antigas do grupo
dramático, entregaram a José Ribeiro e Anselmo Cardoso bonitos ramos de cravos
e a veneranda senhora D. Maria Augusta Águas Cruz levou ao nosso ilustre
conterrâneo um perfumado ramo de violetas, ao mesmo tempo que lhes eram
lançadas flores, muitas flores,
foi um momento de indescritível entusiasmo, de verdadeira apoteose
aos autores da fantasia, que, há mais de dois meses, vem deliciando a
plateia tavaredense, pela qual já passaram mais de quatro mil espectadores.
O entusiasmo que Terra do Limonete despertou entre o público e a satisfação pelo
melhoramento já conseguido, levaram os amadores a reunirem-se em alegre
convívio. O grupo cénico da Sociedade de Instrução
Tavaredense reuniu, no passado domingo, em festa de confraternização todos os
elementos, em número superior a uma centena, que prestaram a sua colaboração
nas representações da peça "Terra do Limonete", que, como dissemos,
deixou a cena em pleno triunfo, depois de ininterruptas récitas, durante o
considerável período de quatro meses.
Foi uma festa simples, mas a todos os títulos bastante
significativa, pois que serviu de pretexto para ser exaltada, a par dos sacrifícios de alguns pelos
inúmeros afazeres da sua vida particular, a inflexível vontade de outros em
continuar sem o menor desalento, a bela e
generosa iniciativa nos fundadores da SIT.
Confeccionado por distintas amadores, auxiliadas por
dedicadas e incansáveis senhoras, foi servido, no palco, um esplêndido almoço a todos os convidados,
que decorreu num ambiente de intensa alegria.
No
final do repasto proferiram discursos sobre a magnífica obra da SIT, a
dedicação admirável dos seus amadores e o
êxito incontestável da peça do insigne tavaredense sr. José da Silva Ribeiro, o
Presidente da Direcção e o autor
da musica de “Terra do Limonete”, sr. Anselmo de Oliveira Cardoso, que
há uns bons trinta anos vem dando a sua melhor cooperação àquela colectividade.
José
Ribeiro proferiu um discurso magistral pela riqueza dos conceitos expressos,
que constituíram verdadeira lição de humildade cristã.
Após o almoço improvisou-se um baile,
tendo-se dançado animadamente.
De Lisboa vieram
assistir à festa, os distintos artistas srs. Alberto Anahory e
Alberto Lacerda, que também prestaram
a sua valiosíssima colaboração a "Terra do Limonete".
Estão
de parabéns os rapazes da SIT pela sua feliz iniciativa que, se outro mérito
não tivesse para lhe rendermos os nossos louvores, bastaria a afirmação da
extraordinária vitalidade do grupo dramático que, sob a égide de José Ribeiro,
tão alto tem elevado o nome da prestigiosa associação e,
consequentemente, o nome da nossa amada terra do limonete.
Por
seu lado, o Grupo Musical não estava inactivo. Aproximando-se o primeiro de
Maio, procederam-se aos ensaios da marcha dos potes floridos. O Grupo Musical Tavaredense traz em ensaios, para
apresentar na manhã do 1º. de Maio, na nossa terra e na Figueira, um rancho
composto de 40 figuras, à frente do qual se apresentarão os sobreviventes da
velha e gloriosa tuna de Tavarede que constituíu durante tantos anos, legítimo
orgulho daquela velha colectividade tavaredense.
Como é sabido, não é a primeira vez que
o Grupo Tavaredense apresenta o seu magnífico rancho. Nos últimos anos a sua
exibição conquistou-lhe gerais e calorosos aplausos, já porque a apresentação
do mesmo se impõe, já porque se mantém assim uma tradição em que Tavarede caminhou
sempre na vanguarda.
Apraz-nos registar e louvar, pois, a
iniciativa dos directores da simpática colectividade tavaredense merece os
melhores aplausos. Em
Sintra, o nosso conterrâneo Medina Júnior, um dos fundadores da colectividade,
não ficou indiferente à notícia. Li recentemente neste jornal, numa local de Tavarede,
a agradabilíssima notícia - que tanto bem me proporcionou à alma, eternamente apaixonada e bairrista - de que a
corajosa gente moça da minha aldeia linda alimentava o firme propósito de apresentar em público, no memorável e festivo Dia !° de Maio - de tão gratas e
saudosas recordações... - o célebre rancho das cantarinhas, ornamentadas, a capricho, de flores viçosas, das mais
variadas espécies e matizes, a que não poderia faltar, como é óbvio, a clássica lúcia-lima, cuja rescendêncía
inconfundível, volatizando no espaço, logo denuncia a respectiva origem e "fala", ufanosa, das tradições mais belas da
"pátria do limonete"...
Bem
hajam todos aqueles que se afoitaram a fazer reviver tão castiço e adorável movimento recreativo, cultural e folclórico da minha donairosa aldeia, largos anos
privada desse bizarro cortejo de mocidade radiante, pujante de seiva, corações ardendo em sonhos de amor e felicidade,
que pelas frescas madrugadas do 1o de Maio, soltando ao espaço limpo
os seus cantares cristalinos, inundavam de beleza, de cor e de alegria
sem par as fontes sussurrantes das Várzeas, as ruas, as praças e o Mercado da Figueira, onde turbilhões de gentes cumulavam de
aplausos, de sorrisos e de carinhos as lindas raparigas e os garbosos rapazes
do sempre desejado,
vistoso, apreciado e alegre "Rancho de Tavarede"...
... que punha a
um canto todos os demais grupos congéneres que adregavam a surgir em
público, dentro dos mesmos princípios e das mesmíssimas intenções
bairrísticas e folclóricas...
Pela
incompreensão, pela maldade, pela inveja
— ou pelo denegrido pejurativismo...
— de quem quer que fosse, o certo é
que a elevada ideia foi menosprezada e forçada a uma longa e dolorosa letargia,
que ia matando, desalmada e incompreensivelmente, tão encantadora
tradição, não só em Tavarede, como em Buarcos, Vila Verde, Fontela, Lares, Caceira, Gala, etc. etc..
Seja tudo isso em holocausto à bondosa alma
do popular e típico Luís Camelo - que era "mobília", e da mais "cara", da ribeirinha, castiça e colorida vila
piscatória de Buarcos, muito digna continuadora da tradição, através do seu
glorioso e brilhante "Rancho das
Cantarinhas", que em Portugal — e no estrangeiro — elevou o nosso País a
um lugar de conceito e de prestígio,
no ponto de vista do folclore nacional, muito difícil de ser ultrapassado, e
que presentemente - ao que me informam -, está "dormindo" à
sombra dos honrosos loiros conquistados...
... o que é pena e causa arrepios a
quem, como eu, "sente" e ama estes valores regionais!
Mas...
- voltando à louvável decisão dos meus estimados conterrâneos, que já no
passado ano, no mesmo dia, deram sinal de si -, eu quero-lhes significar apreço
e gratidão pela sua coragem e manifestar-lhes todo o meu orgulho pela decisão
pensada e posta em prática.
Tavarede
marca!... (com os devidos "direitos de
autor" ao compadre António Lopes...).
Os anos não perdoam, é certo, e os pés já se me vão
tomando pesadões... Só o coração continua remoçado e a alma — eternamente piegas
- não acusa cansaços... Talvez me valha destes preciosos factores, em que
reside toda a minha "mocidade",
sempre que se fala ou se trata da Figueira, para aí dar um pulo...
... na grata intenção de reviver horas largas de
felicidade já distantes e experimentar
o sabor dulcificante dos
sorrisos e
dos cantares da gente moça da minha amada Tavarede, soltados ao espaço, nas
horas matutinas e orvalhadas da próxima madrugada
do 1 ° de Maio, em que
também quero incorporar-me no naipe dos tocadores, pertencente ao Grupo Musical
e de Instrução Tavaredense (que ajudei
a fundar, ao lado dos meus queridos e saudosos pai e tio José Medina, em 1911), procurando arrancar às cordas da minha mais que
adormecida, roufenha e
inesusada rabeca a gloriosa marcha com que o meu ilustre conterrâneo e muito prezado amigo José Ribeiro
deliberou fechar (que admirável apoteose!...) mais uma extraordinária e recente
coroa de glória artística-teatral sua e dos seus apreciados pupilos: a
inclusão, na adorável “lição” que aí fui receber, da lindíssima e vibrante Marcha do 1º de Maio na gloriosa peça
Terra do Limonete.
Primeiro de Maio - Potes floridos, de Tavarede
Tenciono tomar parte nessa salutar romagem da tradição e
da saudade. E calcurriar, de violino em riste, todos os caminhos onde, pela minha banda, vão
passar "reminiscências do passado", em alegre e fraternal convívio
com a mocidade radiante e despreocupada do
presente...
Não sei a que pontos o meu virtuosismo chegará... Uma coisa garanto desde já aos
"rapazes" do meu tempo que porventura queiram recordar felicidades distantes que se foram
para sempre e se dignem comparecer, também, ao lado do sanguinho na guelra da nossa terra: é a certeza absoluta de que, se a
gloriosa Marcha do Rancho de Tavarede não
sair pelos dedos destreinados das mãos, ela será arrancada à
"sanfona" pelos dedos fortes da alma...
Dos
fracos não reza a história…
... e quem tiver
medo... - da Crítica... - que
compre um cão.
Até lá, pois, amigos e conterrâneos.
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