sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 84

  No domingo 26 de Fevereiro de 1962, atingida a 16ª representação, a Direcção da colectividade aproveitou para homenagear os autores da peça e da música. Em cena aberta, no intervalo do 1o para o 2o acto, teve lugar a cerimónia, simples, como as circunstâncias impõem, mas bastante expressiva. Quando Helena de Figueiredo Medina e Violinda Medina e Silva, amadoras mais antigas do grupo dramático, entregaram a José Ribeiro e Anselmo Cardoso bonitos ramos de cravos e a veneranda senhora D. Maria Augusta Águas Cruz levou ao nosso ilustre conterrâneo um perfumado ramo de violetas, ao mesmo tempo que lhes eram lançadas flores, muitas flores, foi um momento de indescritível entusiasmo, de verdadeira apoteose aos autores da fantasia, que, há mais de dois meses, vem deliciando a plateia tavaredense, pela qual já passaram mais de quatro mil espectadores.

  O entusiasmo que Terra do Limonete despertou entre o público e a satisfação pelo melhoramento já conseguido, levaram os amadores a reunirem-se em alegre convívio. O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense reuniu, no passado domingo, em festa de confraternização  todos os elementos, em número superior a uma centena, que prestaram a sua colaboração nas representações da peça "Terra do Limonete", que, como dissemos, deixou a cena em pleno triunfo, depois de ininterruptas récitas, durante o considerável período de quatro meses.
Foi uma festa simples, mas a todos os títulos bastante significativa, pois que serviu de pretexto para ser exaltada, a par dos sacrifícios de alguns pelos inúmeros afazeres da sua vida particular, a inflexível vontade de outros em continuar sem o menor desalento, a bela e generosa iniciativa nos fundadores da SIT.
Confeccionado por distintas amadores, auxiliadas por dedicadas e incansáveis senhoras, foi servido, no palco, um esplêndido almoço a todos os convidados, que decorreu num ambiente de intensa alegria.
No final do repasto proferiram discursos sobre a magnífica obra da SIT, a dedicação admirável dos seus amadores e o êxito incontestável da peça do insigne tavaredense sr. José da Silva Ribeiro, o Presidente da Direcção e o autor da musica de “Terra do Limonete”, sr. Anselmo de Oliveira Cardoso, que há uns bons trinta anos vem dando a sua melhor cooperação àquela colectividade.
José Ribeiro proferiu um discurso magistral pela riqueza dos conceitos expressos, que constituíram verdadeira lição de humildade cristã.
Após o almoço improvisou-se um baile, tendo-se dançado animadamente.
De Lisboa vieram assistir à festa, os distintos artistas srs. Alberto Anahory e Alberto Lacerda, que também prestaram a sua valiosíssima colaboração a "Terra do Limonete".
Estão de parabéns os rapazes da SIT pela sua feliz iniciativa que, se outro mérito não tivesse para lhe rendermos os nossos louvores, bastaria a afirmação da extraordinária vitalidade do grupo dramático que, sob a égide de José Ribeiro, tão alto tem elevado o nome da prestigiosa associação e, consequentemente, o nome da nossa amada terra do limonete.

         Por seu lado, o Grupo Musical não estava inactivo. Aproximando-se o primeiro de Maio, procederam-se aos ensaios da marcha dos potes floridos. O Grupo Musical Tavaredense traz em ensaios, para apresentar na manhã do 1º. de Maio, na nossa terra e na Figueira, um rancho composto de 40 figuras, à frente do qual se apresentarão os sobreviventes da velha e gloriosa tuna de Tavarede que constituíu durante tantos anos, legítimo orgulho daquela velha colectividade tavaredense.
         Como é sabido, não é a primeira vez que o Grupo Tavaredense apresenta o seu magnífico rancho. Nos últimos anos a sua exibição conquistou-lhe gerais e calorosos aplausos, já porque a apresentação do mesmo se impõe, já porque se mantém assim uma tradição em que Tavarede caminhou sempre na vanguarda.
  Apraz-nos registar e louvar, pois, a iniciativa dos directores da simpática colectividade tavaredense merece os melhores aplausos. Em Sintra, o nosso conterrâneo Medina Júnior, um dos fundadores da colectividade, não ficou indiferente à notícia. Li recentemente neste jornal, numa local de Tavarede, a agradabilíssima notícia - que tanto bem me proporcionou à alma, eternamente apaixonada e bairrista - de que a corajosa gente moça da minha aldeia linda alimentava o firme propósito de apresentar em público, no memorável e festivo Dia !° de Maio - de tão gratas e saudosas recordações... - o célebre rancho das cantarinhas, ornamentadas, a capricho, de flores viçosas, das mais variadas espécies e matizes, a que não poderia faltar, como é óbvio, a clássica lúcia-lima, cuja rescendêncía inconfundível, volatizando no espaço, logo denuncia a respectiva origem e "fala", ufanosa, das tradições mais belas da "pátria do limonete"...
Bem hajam todos aqueles que se afoitaram a fazer reviver tão castiço e adorável movimento recreativo, cultural e folclórico da minha donairosa aldeia, largos anos privada desse bizarro cortejo de mocidade radiante, pujante de seiva, corações ardendo em sonhos de amor e felicidade, que pelas frescas madrugadas do 1o de Maio, soltando ao espaço limpo os seus cantares cristalinos, inundavam de beleza, de cor e de alegria sem par as fontes sussurrantes das Várzeas, as ruas, as praças e o Mercado da Figueira, onde turbilhões de gentes cumulavam de aplausos, de sorrisos e de carinhos as lindas raparigas e os garbosos rapazes do sempre desejado, vistoso, apreciado e alegre "Rancho de Tavarede"...
... que punha a um canto todos os demais grupos congéneres que adregavam a surgir em público, dentro dos mesmos princípios e das mesmíssimas intenções bairrísticas e folclóricas...
Pela incompreensão, pela maldade, pela inveja — ou pelo denegrido pejurativismo... — de quem quer que fosse, o certo é que a elevada ideia foi menosprezada e forçada a uma longa e dolorosa letargia, que ia matando, desalmada e incompreensivelmente, tão encantadora tradição, não só em Tavarede, como em Buarcos, Vila Verde, Fontela, Lares, Caceira, Gala, etc. etc..
Seja tudo isso em holocausto à bondosa alma do popular e típico Luís Camelo - que era "mobília", e da mais "cara", da ribeirinha, castiça e colorida vila piscatória de Buarcos, muito digna continuadora da tradição, através do seu glorioso e brilhante "Rancho das Cantarinhas", que em Portugal — e no estrangeiro — elevou o nosso País a um lugar de conceito e de prestígio, no ponto de vista do folclore nacional, muito difícil de ser ultrapassado, e que presentemente - ao que me informam -, está "dormindo" à sombra dos honrosos loiros conquistados...
... o que é pena e causa arrepios a quem, como eu, "sente" e ama estes valores regionais!
Mas... - voltando à louvável decisão dos meus estimados conterrâneos, que já no passado ano, no mesmo dia, deram sinal de si -, eu quero-lhes significar apreço e gratidão pela sua coragem e manifestar-lhes todo o meu orgulho pela decisão pensada e posta em prática.
Tavarede marca!... (com os devidos "direitos de autor" ao compadre António Lopes...).
Os anos não perdoam, é certo, e os pés já se me vão tomando pesadões... Só o coração continua remoçado e a alma — eternamente piegas - não acusa cansaços... Talvez me valha destes preciosos factores, em que reside toda a minha "mocidade", sempre que se fala ou se trata da Figueira, para aí dar um pulo...
... na grata intenção de reviver horas largas de felicidade já distantes e experimentar o sabor dulcificante dos sorrisos e dos cantares da gente moça da minha amada Tavarede, soltados ao espaço, nas horas matutinas e orvalhadas da próxima madrugada do 1 ° de Maio, em que também quero incorporar-me no naipe dos tocadores, pertencente ao Grupo Musical e de Instrução Tavaredense (que ajudei a fundar, ao lado dos meus queridos e saudosos pai e tio José Medina, em 1911), procurando arrancar às cordas da minha mais que adormecida, roufenha e inesusada rabeca a gloriosa marcha com que o meu ilustre conterrâneo e muito prezado amigo José Ribeiro deliberou fechar (que admirável apoteose!...) mais uma extraordinária e recente coroa de glória artística-teatral sua e dos seus apreciados pupilos: a inclusão, na adorável “lição” que aí fui receber, da lindíssima e vibrante Marcha do 1º de Maio na gloriosa peça Terra do Limonete.


                  Primeiro de Maio - Potes floridos, de Tavarede

 Tenciono tomar parte nessa salutar romagem da tradição e da saudade. E calcurriar, de violino em riste, todos os caminhos onde, pela minha banda, vão passar "reminiscências do passado", em alegre e fraternal convívio com a mocidade radiante e despreocupada do presente...
Não sei a que pontos o meu virtuosismo chegará... Uma coisa garanto desde já aos "rapazes" do meu tempo que porventura queiram recordar felicidades distantes que se foram para sempre e se dignem comparecer, também, ao lado do sanguinho na guelra da nossa terra: é a certeza absoluta de que, se a gloriosa Marcha do Rancho de Tavarede não sair pelos dedos destreinados das mãos, ela será arrancada à "sanfona" pelos dedos fortes da alma...
Dos fracos não reza a história…       
... e quem tiver medo... - da Crítica... - que compre um cão.

Até lá, pois, amigos e conterrâneos.

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