sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 87

         A época teatral de 1963/64 foi iniciada no dia 28 de Setembro. A época teatral de 1963/64 foi inaugurada em Tavarede no dia 28 com a estreia de O Fim do Caminho, pelo grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense.

Sem dúvida nenhuma, o grupo de amadores de Tavarede conta com mais um grande êxito! Assim o proclamaram, iniludivelmente, os vibrantes e prolongados aplausos com que o público se manifestou no final dos 3 actos.
         O Fim do Caminho, a célebre peça do inglês Allan Langdon Martin, que o nosso patrício, ilustre jornalista e crítico de teatro Redondo Júnior traduziu, reune um conjunto de elementos que justificam o extraordinário agrado que alcançou em todos os teatros da Europa e da América. Êxito excepcional no teatro, seduziu também os cineastas, que dele fizeram nada menos de três adaptações ao cinema.
         Com a representação que ofereceu agora aos seus associados, a Sociedade de Instrução Tavaredense alcançou mais um triunfo. O Fim do Caminho tem um entrecho aliciante, em que se conjugam a graça dum realismo poético, violência romântica tocada de suave lirismo e, também, certos pormenores de sentido simbolista que criam um ambiente de agradável mistério. A peça é-nos apresentada em Tavarede numa adequada moldura cenográfica – linda maquette do Prof. Alberto de Lacerda, executada pelo distinto cenógrafo da capital José Maria Marques – e com guarda-roupa primoroso de Alberto Anahory.

         A Sociedade, em Outubro de 1963, deslocou o seu teatro a Aveiro, para colaborar num espectáculo de homenagem ao actor Eduardo de Matos, prestigioso ensaiador do Teatro Desmontável Rafael de Oliveira, e que havia sido atingido por doença. A cidade de Aveiro recebeu carinhosamente a iniciativa dum grupo de amigos de Eduardo de Matos, e o teatro encheu-se dum público generoso e bom. De salientar o desinteresse monetário de todos os colaboradores da récita, a começar pela empresa do Teatro, que nada cobrou de aluguer, e a terminar na Sociedade de Escritores de Companhias Teatrais Portuguesas, que apenas levou 1$00 dos respectivos direitos de autor! E como estes actos de isenção e benemerência são hoje raros, mercê da onda de egoísmo que avassala o Mundo, mais é de admirar e realçar a bondade das gentes de Aveiro, cidade linda e progressiva, se dissermos que o homenageado não é dali natural, e apenas cativou o coração dos aveirenses através da arte teatral, quando ali representou inúmeras peças em que interpretava “papéis” com grande mérito artístico.
         A representação da histórica peça “A Conspiradora” foi agradável e homogénea, constituindo na verdade um grande triunfo para o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense. E se todas as “personagens” da peça foram interpretadas com naturalidade e convicção, justíssimo é destacar o excelente trabalho artístico de Violinda Medina e Silva, que arrancou uma espontânea e estrondosa salva de palmas, no decorrer duma cena do 3º. acto. Muito bem!
         Os cenários do prof. Manuel de Oliveira, constituídos por duas salas ricas, que foram caprichosamente mobiladas e decoradas no estilo da época em que decorre a acção da peça (1833) e o guarda-roupa luxuoso de Alberto Anahory deram também grande relevo ao espectáculo.
         Estão todos os tavaredenses de parabéns pela excelente récita que foram levar a Aveiro, pois fizeram bom teatro, foram praticar um acto de benemerência e fizeram propaganda da sua terra numa das mais belas cidades portuguesas, desinteressadamente, mas obtendo como prémio do seu esforço prolongadas salvas de palmas em todos os finais de acto.
         O seu ensaiador e mestre de teatro, sr. José da Silva Ribeiro, no final da representação recebeu lindos ramos de flores, após ter dirigido palavras de carinho a Eduardo de Matos, e de louvor ao povo de Aveiro, pela maneira afável como recebeu o seu grupo de amadores. Em seguida, o prof. Sr. José Duarte Simão, em nome da comissão promotora da récita, agradeceu a caritativa colaboração da Sociedade de Instrução Tavaredense, enaltecendo o seu trabalho artístico, e patenteou ao público a melhor admiração pelo apoio que deu à homenagem ao actor Eduardo de Matos.

         Em Maio seguinte, e integrado nas comemorações do quarto centenário de William Shakespeare, foi levada à cena a sua peça Romeu e Julieta. Embora saibamos que as nossas palavras nenhuma influência possam ter no êxito desta nova jornada artística do categorizado elenco teatral de Tavarede, que se não quis dispensar de marcar presença nas manifestações comemorativas do IV Centenário de William Shakespeare, consideramos de nosso dever deixar expressas  em breves linhas – breves por crónica tirania da falta de espaço – as nossas impressões acerca da representação da famosa e popularíssima peça “Romeu e Julieta”.
         Qualquer pessoa habituada a ver teatro, depressa chega à conclusão de que esta peça é de difícil e dispendiosa montagem.
         Só um homem com o querer e a proficiência de José Ribeiro se arrojaria a fazê-la representar num palco da província e tirar dela o partido que ele conseguiu.
        
Não é porque no palco de Tavarede se não tenha movimentado número mais elevado de figuras do que aquele que “Romeu e Julieta” apresenta perante os espectadores, mas pelas dificuldades naturais da peça.
         Todas essas dificuldades foram ladeadas e se “Romeu e Julieta” não fizer – porque não faz – carreira compensadora das canseiras e das despesas que a sua apresentação em cena ocasionou, isso deve-se única e exclusivamente ao violento clima passional  em que decorre, clima que contende com os desejos de evasão dominantes no geral da massa frequentadora dos espectáculos teatrais. O público de hoje procura o teatro alegre, ainda que roce pela obscenidade.
         A representação de “Romeu e Julieta” patenteia equilíbrio, homogeneidade. Na generalidade, é evidente. Também mostra algumas dissonâncias que nos dispensamos de concretizar. O ensaiador conhece-as, esforçou-se por extirpá-las, e ninguém mais do que ele as lamenta. Mas o nível geral é de tal ordem elevado que as deficiências se diluem sem dar muito nas vistas.
         A jovem Maria Madalena Machado continua a afirmar aquelas extraordinárias qualidades de presença e sensibilidade que desde a sua auspiciosa estreia vem evidenciando.
         Ela, João Medina, João Cascão, José Medina, João de Oliveira Júnior, João Pedro de Lemos, Fernando Reis, José Luís do Nascimento e Violinda Medina, nos papéis principais, imprimem carácter à representação.
         Todos dão o melhor das suas possibilidades.

         Por isso todos merecem louvores, que em primeiro lugar são devidos a José Ribeiro, por mais esta afirmação de garra que nos ofereceu com “Romeu e Julieta”.

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