A época teatral de 1963/64 foi iniciada
no dia 28 de Setembro. A época teatral de
1963/64 foi inaugurada em Tavarede no dia 28 com a estreia de O Fim do Caminho,
pelo grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Sem
dúvida nenhuma, o grupo de amadores de Tavarede conta com mais um grande êxito!
Assim o proclamaram, iniludivelmente, os vibrantes e prolongados aplausos com
que o público se manifestou no final dos 3 actos.
O Fim do Caminho, a célebre peça do
inglês Allan Langdon Martin, que o nosso patrício, ilustre jornalista e crítico
de teatro Redondo Júnior traduziu, reune um conjunto de elementos que
justificam o extraordinário agrado que alcançou em todos os teatros da Europa e
da América. Êxito excepcional no teatro, seduziu também os cineastas, que dele
fizeram nada menos de três adaptações ao cinema.
Com a representação que ofereceu agora
aos seus associados, a Sociedade de Instrução Tavaredense alcançou mais um
triunfo. O Fim do Caminho tem um entrecho aliciante, em que se conjugam a graça
dum realismo poético, violência romântica tocada de suave lirismo e, também,
certos pormenores de sentido simbolista que criam um ambiente de agradável
mistério. A peça é-nos apresentada em Tavarede numa adequada moldura
cenográfica – linda maquette do Prof. Alberto de Lacerda, executada pelo
distinto cenógrafo da capital José Maria Marques – e com guarda-roupa primoroso
de Alberto Anahory.
A Sociedade, em Outubro de 1963,
deslocou o seu teatro a Aveiro, para colaborar num espectáculo de homenagem ao
actor Eduardo de Matos, prestigioso ensaiador do Teatro Desmontável Rafael de
Oliveira, e que havia sido atingido por doença. A cidade de Aveiro recebeu carinhosamente a iniciativa dum grupo de
amigos de Eduardo de Matos, e o teatro encheu-se dum público generoso e bom. De
salientar o desinteresse monetário de todos os colaboradores da récita, a
começar pela empresa do Teatro, que nada cobrou de aluguer, e a terminar na
Sociedade de Escritores de Companhias Teatrais Portuguesas, que apenas levou
1$00 dos respectivos direitos de autor! E como estes actos de isenção e
benemerência são hoje raros, mercê da onda de egoísmo que avassala o Mundo, mais
é de admirar e realçar a bondade das gentes de Aveiro, cidade linda e
progressiva, se dissermos que o homenageado não é dali natural, e apenas
cativou o coração dos aveirenses através da arte teatral, quando ali
representou inúmeras peças em que interpretava “papéis” com grande mérito
artístico.
A representação da histórica peça “A
Conspiradora” foi agradável e homogénea, constituindo na verdade um grande
triunfo para o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense. E se todas
as “personagens” da peça foram interpretadas com naturalidade e convicção,
justíssimo é destacar o excelente trabalho artístico de Violinda Medina e
Silva, que arrancou uma espontânea e estrondosa salva de palmas, no decorrer
duma cena do 3º. acto. Muito bem!
Os cenários do prof. Manuel de
Oliveira, constituídos por duas salas ricas, que foram caprichosamente
mobiladas e decoradas no estilo da época em que decorre a acção da peça (1833)
e o guarda-roupa luxuoso de Alberto Anahory deram também grande relevo ao
espectáculo.
Estão todos os tavaredenses de parabéns
pela excelente récita que foram levar a Aveiro, pois fizeram bom teatro, foram
praticar um acto de benemerência e fizeram propaganda da sua terra numa das
mais belas cidades portuguesas, desinteressadamente, mas obtendo como prémio do
seu esforço prolongadas salvas de palmas em todos os finais de acto.
O seu ensaiador e mestre de teatro, sr.
José da Silva Ribeiro, no final da representação recebeu lindos ramos de
flores, após ter dirigido palavras de carinho a Eduardo de Matos, e de louvor
ao povo de Aveiro, pela maneira afável como recebeu o seu grupo de amadores. Em
seguida, o prof. Sr. José Duarte Simão, em nome da comissão promotora da
récita, agradeceu a caritativa colaboração da Sociedade de Instrução
Tavaredense, enaltecendo o seu trabalho artístico, e patenteou ao público a
melhor admiração pelo apoio que deu à homenagem ao actor Eduardo de Matos.
Em Maio seguinte, e integrado nas
comemorações do quarto centenário de William Shakespeare, foi levada à cena a
sua peça Romeu e Julieta. Embora saibamos que as nossas palavras
nenhuma influência possam ter no êxito desta nova jornada artística do
categorizado elenco teatral de Tavarede, que se não quis dispensar de marcar
presença nas manifestações comemorativas do IV Centenário de William
Shakespeare, consideramos de nosso dever deixar expressas em breves linhas – breves por crónica tirania
da falta de espaço – as nossas impressões acerca da representação da famosa e
popularíssima peça “Romeu e Julieta”.
Qualquer pessoa habituada a ver teatro,
depressa chega à conclusão de que esta peça é de difícil e dispendiosa
montagem.
Só um homem com o querer e a
proficiência de José Ribeiro se arrojaria a fazê-la representar num palco da
província e tirar dela o partido que ele conseguiu.
Não
é porque no palco de Tavarede se não tenha movimentado número mais elevado de
figuras do que aquele que “Romeu e Julieta” apresenta perante os espectadores,
mas pelas dificuldades naturais da peça.
Todas essas dificuldades foram ladeadas
e se “Romeu e Julieta” não fizer – porque não faz – carreira compensadora das
canseiras e das despesas que a sua apresentação em cena ocasionou, isso deve-se
única e exclusivamente ao violento clima passional em que decorre, clima que contende com os
desejos de evasão dominantes no geral da massa frequentadora dos espectáculos
teatrais. O público de hoje procura o teatro alegre, ainda que roce pela
obscenidade.
A representação de “Romeu e Julieta”
patenteia equilíbrio, homogeneidade. Na generalidade, é evidente. Também mostra
algumas dissonâncias que nos dispensamos de concretizar. O ensaiador
conhece-as, esforçou-se por extirpá-las, e ninguém mais do que ele as lamenta.
Mas o nível geral é de tal ordem elevado que as deficiências se diluem sem dar
muito nas vistas.
A jovem Maria Madalena Machado continua
a afirmar aquelas extraordinárias qualidades de presença e sensibilidade que
desde a sua auspiciosa estreia vem evidenciando.
Ela, João Medina, João Cascão, José
Medina, João de Oliveira Júnior, João Pedro de Lemos, Fernando Reis, José Luís
do Nascimento e Violinda Medina, nos papéis principais, imprimem carácter à
representação.
Todos dão o melhor das suas
possibilidades.
Por isso todos merecem louvores, que em
primeiro lugar são devidos a José Ribeiro, por mais esta afirmação de garra que
nos ofereceu com “Romeu e Julieta”.
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