Estamos a chegar à parte final da nossa viagem. Acabou por
ser uma longa caminhada. Recordámos, aqui, quase todas as peças escritas para o
nosso palco, para o nosso povo. Alguns dos costumes mais característicos dos
nossos avós. E, sobretudo, procurámos lembrar velhas cantigas… Velhas que,
afinal, são sempre novas! Quantas e quantas vezes aqui as temos ouvido cantar?
Tentámos escolher umas tantas das menos conhecidas, embora não menos bonitas.
E, agora, chegámos ao quarto e último serão sobre este tema: “Tavarede no
Teatro”.
Uma das últimas
fotografias de
José da Silva
Ribeiro
Diga-se, desde já, que não vai ser fácil para nós. E não por
falta de assunto!... O teatro de Mestre José Ribeiro foi extraordináriomente
rico e variado. Foi, não, é, porque o teatro que ele nos deixou, continua e
continuará sempre actual.
Aliás, só um Homem com o saber e a inteligência de Mestre
José Ribeiro, era capaz de escrever e aqui fazer representar, desde 1951 até
quase à sua morte, em 1986, nada menos de nove peças teatrais, contando, aos
seus conterrâneos, a história da sua terra, os usos e os costumes dos nossos
antepassados, as tradições que no correr dos anos foram caíndo no esquecimento.
Sem ele, sem o seu teatro, quantos de nós saberíamos, por
exemplo, que a terra do limonete, depois da reconquista aos mouros, havia sido
reconstruída e governada por Cídel Pais? E, já que falámos em limonete, que tal
começarmos esta nossa conversa, tomando uma saborosa chávena de chá... de
limonete?
Coro -
O
chá que vamos beber
-
Um produto nacional
Sem
rival! -
É
uma bebida famosa,
De
todas a mais gostosa,
Saborosa,
Que
na terra pode haver.
Melhor
que o chá de parreira
Do
orago S. Martinho
-
Puro vinho -
Que
ao povo torna alegrete,
Um
chàzinho de primeira,
Que
bem cheira,
É
o chá de limonete.
Chá -
O
chá de limonete não faz mal,
Ainda
que a alguém possa amargar...
Açúcar -
Mas
aqui está açúcar de cristal
P’ra
cada qual melhor o adoçar.
Chá -
Faz
sempre bem tomado a qualquer hora
Este
chàzinho verde e perfumado...
Açúcar -
Os
amargos de boca vão-se embora
Com
este nosso chá bem temperado.
Chá e Açúcar -
O
chá de limão,
De
flor de carqueja,
De
pé de cereja
Ou
o de agrião,
O
chá de cidreira,
O
chá de pepino
-
Que é chá muito fino -
E
o de laranjeira,
Não
valem uma gota deste chá
-
Do chá de limonete que aqui está.
Coro -
O
chá que vamos beber,
etc.etc.etc.
Foram os vastos conhecimentos de Mestre José Ribeiro, as
suas trabalhosas pesquisas e o seu inigualável talento teatral que, de uma
maneira agradável, enquadrando situações reais com quadros em que a fantasia
dava largas à sua imaginação tão fecunda, nos foram contando o passado de
Tavarede, desde a doação à Sé de Coimbra, pelo nosso Rei D. Sancho I, com a
única condição de “rezarem uma missa” por ocasião do aniversário da sua morte!
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