E as tremendas lutas que os ilustres fidalgos tavaredenses,
a célebre e poderosa família Quadros”, mantiveram com o Cabido de Coimbra, pelo
domínio da nossa terra, durante mais de dois séculos?
Quadro: ‘O Forno
da Poia’ - - Chá de
Limonete
Sabíamos nós, porventura, que os nossos antepassados, se
queriam comer um pedaço de broa, a tinham de ir cozer nos fornos dos Senhores
de Tavarede, chamados “Os Fornos da Poia”?
Forneiro -
Já
quase o forno está quente
E
esta gente
Não
há meio de apar’cer...
É
tratar de meter lenha
Até
que venha
A
broínha p’ra cozer.
Depois
do forno aquecido
E
varrido,
Que
alegria é enfornar!
Vamos
a tender o pão!
Ora
então
Põe-se
a pá a trabalhar...
Porém
se o forno
Teve
mais lume
Do
que o costume,
Ai
que transtorno|
Vai-se a fornada,
Foi-se
a farinha,
Porque
a broínha
Ficou
queimada.
Anda
o forneiro contente,
Sempre
quente
Durante
todo o inverno.
O
forno é consolação...
Mas
no v’rão
É
um calor do inferno...
O
forneiro tem fartura
-
Que ventura!
Não
lhe falta de comer...
Mas
também põe lenha ao lume
-
Que azedume!
Para
outro se aquecer!
Nem as tristes das peras, “rijas que nem o porco as queria”,
tinham licença de assar em suas casas...
Foi, assim, que ficámos a saber coisas interessantes, coisas
que pouco nos dizem agora, é verdade, mas que o pobre povo daqueles recuados
tempos sofria e pagava, muitas das vezes, senão mesmo todas, com muito pouca
resignação.
Pregoeiro - Ao povo do Couto de Tavarede, o Cabido da Sé de Coimbra faz saber
que o seu Deão visitará hoje este lugar, e manda que se cumpra o foral de 9 de
Maio de 1516 que reza assim: (Lê um pergaminho) D. Manuel por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e
dalém mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da
Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. A quantos esta nossa carta de foral dado ao
termo e lugar de Tavarede virem, etc.
Jantar ou colheita: O Deão da Sé de
Coimbra, visitando uma vez no ano o dito lugar, receberá dos moradores de
Tavarede para o seu jantar, 180 reais de 6 ceitis o real, e das heranças da Chã
e de Cabanas, 2 carneiros, 2 cabritos, 6 almudes de vinho, 10 galinhas, um
quarteiro de cevada pela medida de Coimbra, 100 pães, 5 soldos em dinheiro para
temperos, meio alqueire de manteiga fresca, e lenha e vinagre que abonde para
se poder cozinhar as ditas cousas na cozinha do Deão. - Cumpra-se.
Vereador -
Senhor
Deão, eu vos venho saudar,
Pois
que da Câmara sou vereador.
Coro do Povo
E
os bons vassalos aqui estão, senhor.
P’rò
jantar anual vos entregar.
Um Homem -
Eis
os carneiros...
Coro -
Carneiros
são dois...
Outro Homem -
De
vinho seis almudes...
Coro -
se
não mais...
Outro Homem -
E
dois cabritos...
Coro -
grandes
como bois!
Outro homem - (mostrando um pequeno saco)
Dinheiro cento e oitenta
reais.
Coro -
Manteiga
fresca e um cento de pão,
Mais
dez galinhas de raça apurada...
Um Homem -
E
p’ra que o jantar seja um jantarão
Vem
um quarteiro farto de cevada. (bis o coro)
Deão -
Abençoo,
comovido,
Este
bom povo que timbra (bis os dois cónegos)
No
respeito que é devido
Ao
Cabido de Coimbra.
Eu
vos recebo o jantar,
Que
é apenas um farnel... (bis os dois cónegos)
Conforme
manda o foral
do
Senhor Rei D. Manuel.
Coro -
A
nossa foralenga obrigação
Aí
fica cumprida com respeito.
Que
o jantarinho faça ao bom Deão
E
a todo o Cabido - bom proveito!
Bom
proveito!
Bom
proveito!
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