CARTA A FOLHAS 87 – SUBSCRITO: ILMO.SR. JOÃO
GREGÓRIO DE MELO, ETC…. DO SEU AMIGO THYPALOS - Meu Joaquinzinho e Francisquinho:
Não
tenho querido mandar aí mais cedo, para saber com exactidão tudo quanto se
passou, por temer que a casa tenha estado vigiada. Escrevi ao (?), porém ele
não me satisfez circunstanciadamente quanto desejava saber; fui porém instruído
de quanto foi bastante para me magoar e afligir, sabendo ter sido presa a
Fidalga e teu bom pai e os dois manos do dr.Quanto (?), a mim cada vez que
considero a casual maneira porque escapei à tormenta, dão-me suores frios, pois
na verdade o caso parece ser mais milagroso que natural!!
A
portadora desta é uma senhora capaz e digna de toda a confiança, por ela peço
me digam tudo quanto tem havido relativamente aos presos, e em que figura estão
as coisas; se eu não temesse alguém do bairro, tinha-me metido em uma sege e
tinha já lá ido; digam-me se os da diligência perceberam a minha evasão pelos
trastes que ficaram no quarto, enfim, instruam-me de tudo, pois estou
impaciente por saber tudo. Sobretudo o que mais me admira é a prisão do padre e
dos dois manos! Façam à mãe as minhas recomendações mostrando-lhe os aflitos
sentimentos do meu coração, e o mesmo, havendo ocasião, aos presos todos.
A
caixa de prata que deixei em cima da mesa já sei que não apareceu; paciência,
vão-se os anéis e fiquem os dedos. Estavam lá 3 lençois e umas pretas, dirão se
apareceram. Adeus, escrevam e digam tudo. Do coração, amigo e obrigado.
Thypalos.
OUTROS
TESTEMUNHOS - Joaquim
Pessoa de Amorim, 28 anos, natural de Castelo Branco, caixeiro do negociante
francês, Monsieur Levit, solteiro, morador em casa de D. Antónia, ao Grilo.
Padre
José Viitorino de Sousa – capelão de D. Antónia, filho do dr. Luiz Manuel de
Sousa, já falecido, e Mariana Inácio Domitília (?), natural de Formoselha,
freguesia de Santo Varão, termo de Montemor-o-Velho. Baptizado e criado em
Montemor-o-Velho. 63 anos. João de Melo, administrador da casa. Ele Padre
acusado do crime de tumulto na relação do Porto, pela abadessa e mais
religiosas do Convento de Santa Clara, de Coimbra.
TESTEMUNHAS
CONTRA D. ANTÓNIA - Manuel
Duarte, com loja de bebidas, na Rua Direita de Xabregas nº 15, comissário de
polícia na mesma rua. 54 anos. Que foram presas mais pessoas das províncias que
em casa de D. Antónia estavam refugiados, por consentimento da Senhora da casa,
seu mordomo e capelão: Joaquim Pessoa da Silva Amorim (?) à procuradora da casa
e nessa qualidade lhe tinha pedido 7.200, que depois lhe negara passados dois
meses e ainda o ameaçou quando lhe pedira… “que passado um mês ele lhos
pagaria…”
1)
Francisco Joaquim da Silva, com armazém de
vinhos, na Rua Direita dos Anjos.
2)
Tomé da Maia, mestre alfaiate, morador no Pátio
da Tavarede, na Rua Direita de Xabregas.
3)
Joaquim António Brandão, fazendeiro, com venda
de vinho na Estrada de Chelas.
4)
Bartolomeu de Abreu Vieira, soldado do 3º
batalhão de voluntários realistas de Lisboa, morador no Beato.
5)
Pedro Abdon José da Costa, soldado do 3º
batalhão de voluntários realistas de Lisboa, morador no palácio do Exmo.
Marquês, Monteiro mor, na Rua Direita de Xabregas.
6)
João Maria (?), idem soldado, etc.
7)
Henrique José Barreiros, guarda-roupa do Exmo.
Marquês, Monteiro-mor.
8)
José Roque, guarda-roupa do Exmo. Marquês de
Olhão.
9)
Isabel Joaquim, casada com Joaquim Meireles,
com casa de Povo, na Rua Direita de Xabregas.
10)
José Martins, com casa de mercearia no cunhal
das Rolas, na Rua das Partilhas, e com armazém de vinhos no Pátio da Tavarede,
ao Grilo.
11)
Francisco António Paredes, criado de farda do
Exmo. Marquês de Olhão.
12)
Jácome Borrati, amanuense da secretaria de
Estado dos Negócios de Guerra, morador no Beato.
13)
José Luiz Ferreira, com loja de bebidas no
Largo do Beato.
14)
José Pais, criado do Exmo. General Vicente
António.
15)
Manuel António Rosa, boticário, morador no
Grilo.
16)
Manuel Pina Barbosa, guarda-roupa do Exmo.
General Vicente António.
17)
Maria Perpétua, solteira, moradora em casa do
Exmo. Marquês, Monteiro-mor.
18)
Ana do Nascimento, casada com Francisco Parodi,
criado do Exmo. Marquês, Monteiro-mor.
19)
Joaquina Rosa Tibúrcia, solteira, moradora no
Beato, Largo do Forno.
O QUE DIZ A 6º. TESTEMUNHA (AS OUTRAS MUTATIS MUTANDIS) - A 14 de Dezembro de 1832 intimida a ré D. Antónia, no
Convento de Santa Joana em como ficava à disposição da Comissão-Crime, criada
pelo real decreto de 15 de Agosto de 1828.
Em
Fevereiro de 1833, D. Antónia requereu para livrar-se (?) em apartado com as
seguintes pessoas de sua família a saber: João de Melo Barreto d’Eça e seus
filhos, José Anastácio, José Miguel e João – deferido em 16 de Fevereiro de
1833. Até 13 de Março de 1833, embora deferida a pretensão, não trataram de
semelhante objecto e para conhecer os autos e nada mais consta do processo a
respeito de D. Antónia Madalema.
Disse
a 6ª. Testemunha: “- que sabe, por ser público, que foi presa D. Antónia
Madalena de Quadros, porque em sua casa existiam diferentes réus de
lesa-majestade refugiados, tais como Joaquim Pessoa da Silva Amorim, António
Manuel da Silva Vieira Broa, José Maria Rodrigues e um doutor Paula, dos quais
os três primeiros ali foram presos, e que tanto ela, como o seu mordomo e
filhos, e um padre José Vitorino, que se diz seu capelão, não gozam de boa
opinião, nem são afectos ao governo monárquico, antes pelo contrário, inimigos
decididos da Augusta Pessoa de El-Rei Nosso Senhor. E mais se declarou que ele,
Mordomo, e seus colegas e sócios no fim do ano de 1829 e princípio de 1830
tocaram frequentes vezes o hino revolucionário francês, e só deixaram de o
fazer depois que para isso foram advertidos, e que mais sabe, por ouvir dizer a
uma criada do Exmo. Senhor Marquês, Monteiro-mor, Maria Perpétua, que os
mencionados individuos se banquetearam frequentemente e que no meio destes
banquetes davam vivas a D. Pedro IV, e que também sabe pelo presenciar que na
ocasião em que entrou a esquadra francesa mostraram um grande prazer e
regozijo. (cad.
25 – pag. 9)
D. Antónia Madalena, a 10ª. Senhora de
Tavarede, foi condenada ao pagamento de 300 000 reis, sendo duas
partes para a Casa Pia e uma para os oficiais e soldados da diligência, por
conservar de cama e mesa na sua casa os réus de Lesa Majestade. Esta sentença foi, porém,
revogada.
Presume-se
que a Morgada de Tavarede ainda se encontraria no Convento de Santa Joana no
dia 24 de Julho de 1833, quando Lisboa foi tomada pelos liberais. Com a
abertura da prisão aos presos políticos, certamente que D. Antónia Madalena
terá regressado ao Palácio do Grilo, onde, a 26 de Fevereiro de 1835, faleceu,
sendo sepultada no cemitério do Alto de S. João.
Numa
das notas que encontrei e que referi no 1º. volume de ‘Tavarede – A Terra de
Meus Avós’, diz-se que segundo a tradição, D. António Madalena
foi enterrada ainda viva no convento de Santo António, mais referindo
que se desconhece a origem desta tradição. A verdade, no
entanto, é que o registo do óbito de D. Antónia Madalena de Quadros e Sousa se
encontra nos registos paroquiais da freguesia do Beato, Lisboa, referentes ao
período de 1821 a 1852.
Terá,
na verdade, a fidalga tavaredense sido trasladada para o convento de Santo
António? Parece que esta hipótese será pouco crível, pelo que os restos mortais
da 10ª. Senhora de Tavarede repousarão para sempre em Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário