Igualmente a Direcção da colectividade se associou ao êxito desta
peça, tendo registado no seu relatório anual um agradecimento a todos os seus
colaboradores. Esta peça exigiu dos seus
Autores um trabalho exaustivo, só muito palidamente avaliado por quem de mais
perto com eles tratava. Tanto os amadores antigos como os que agora entraram de
novo, tiveram nesta peça ensejo de demonstrar a sua boa vontade ensaiando sem
descanço, todas as noites, durante cerca de dois meses, para que a peça fosse
apresentada na data marcada, o que, por várias razões, era muito importante.
Foi um esforço fora do vulgar que a direcção muito sinceramente agradece e que
torna os componentes da nossa já famosa secção dramática cada vez mais dignos
do reconhecimento da assembleia geral.
Na impossibilidade de registar aqui os
nomes de todos os figurantes e demais os numerosos amigos que, de qualquer
forma, prestaram o seu concurso, contribuindo assim para o êxito que “Chá de
Limonete” obteve, seja-nos permitido citar o sr. José Nunes Medina que, tomando
a seu cargo a parte musicada, foi um bom auxiliar do sr. José Ribeiro. Quando
se pensou pôr em cena esta peça, foi posta de parte qualquer ideia de lucro;
antes pelo contrário: contava-se em que a receita nunca chegaria a cobrir a
elevada despesa que a mesma acarretaria. Porém, como se tratava duma peça
educativa, com fundo histórico, que mostrava aos tavaredenses (e aos estranhos)
muita coisa que desconheciam sobre a sua terra, resolveu-se ir para a frente,
isto é, pô-la em cena, embora o resultado financeiro fosse mais que duvidoso”.
Verificou-se, porém, que depois de 14
representações seguidas, uma das quais no Casino Peninsular, sempre com o maior agrado do público e as
mais elogiosas, e algumas delas, honrosas referências, tanto à peça como ao
desempenho, “Chá de Limonete” não só está pago mas ainda apresenta saldo.
A colectividade, considerando o enorme interesse dos
tavaredenses em conhecer a história da sua terra, mandou editar Chá de Limonete em livro. Tanto a
imprensa como diversas entidades, prestaram públicos elogios ao trabalho.
Transcrevemos, somente, uma das notas publicadas da imprensa diária.
Mais
e mais temos de nos convencer de que Portugal não é só Lisboa: está ante nós
uma xícara do delicioso “Chá de Limonete”, que é uma lição muito para meditar…
Em uma pequenina aldeia, lá para as
bandas da Figueira da Foz, existe uma agremiação notável: deve ser pobre, pelo
modesto centro onde actua e pela exiguidade das quotas dos seus sócios mas é
rica de boa vontade e dedicação; é rica pelo fim que tem em vista e cumpre
denodadamente – é a Sociedade de Instrução Tavaredense. A forma de cultura que
adotou é a instrução pelo teatro. E assim instrui, educa e distrai.
Mantem o seu grupo cénico mas, para bem
cumprir o seu mandato, cada peça a representar é o pretexto para uma alegre e
proveitosa lição, desde a explicação dos vocábulos pouco acessíveis aos menos
cultos, até ao estudo da divergência de géneros e estilos, ao esclarecimento de
épocas, usos e costumes.
E há 30 anos que dura esta acção
cultural!
Pois foi ao serviço da simpática e
prestimosa Sociedade Cultural de Tavarede que José da Silva Ribeiro colocou o
seu mérito de escritor dando ao grupo cénico a fantasia “Chá de Limonete”. E
aqui, com esse trabalho, surge outra lição – lição de aprumo, lição de moral. O
“Chá de Limonete” prova aos nossos revisteiros, que tão frequentemente recorrem
à obscenidade, que se pode fazer trabalho meritório, teatro movimentado,
atraente, sem abandonar a linha de decoro, sem esquecer que a principal e mais
alta missão da cena é educar e moralizar, que para criar a beleza não é
necessário estadear no palco montes de carne nua.
Às qualidades apontadas, o
reconfortante “chá” junta ainda a alegria e a arte.
Esta peça tem uma curiosa novidade: é
uma proveitosa lição de história. Levezinha, que o público a quem se destinou
não está ainda em condições de profundar muito. Poderíamos chamar-lhe revista histórica
ou monografia teatralizada.
Os sucessos, interessando o local,
desde a sua antiquíssima origem, vão sendo referidos pelo “Velho Tavarede”, o
respeitável ancião que tudo presenciou… E os quadros vão-se sucedendo, na
mutação de revista e o público vai tomando conhecimento, a sorrir, do que foi a
sua terra.
Original e muito interessante.
Mas o “Velho Tavarede” é tão velho, tão
velho, que embora sabedor e de memória prodigiosa, já vai tendo lapsos,
percalços de senilidade… E, por isso, e só por isso, se lhe teria varrido da
ideia aquele convento das freirinhas da Esperança e o outro, o convento
quinhentista e ainda, esquecimento de maior monta, o nome do nobre, douto e
piedoso Dom Francisco de Mendanha, talvez o mais notável filho de Tavarede, que,
depois de ter cursado letras em Paris, como ao regressar à pátria já tivesse
falecido seu avô, renunciou ao Mundo procurando a paz do claustro. Mas aí, o
douto cruzio, teve de exercer cargos de alta importância na sua Ordem.
Facto interessante: foi D. Francisco de
Mendanha quem assistiu como Cancelario da Universidade de Coimbra ao acto de
“Mestre em Artes” do infeliz Rei D. António, Prior do Crato.
Mas a mão já trémula do simpático Velho
Tavarede deixaria cair de entre os outros o pergaminho onde em letras de oiro
estava escrito o nome do culto e piedoso D. Francisco de Mendanha.
Bastaria a cena do acto de “Mestre em
Artes” de D. António, com a assistência do Cancelario D. Francisco de Mendanha,
para dar um final grandioso a qualquer dos actos da sua fantasia.
E poderia talvez influir com esse
trabalho para se dar a uma rua de Tavarede o nome do nobilíssimo e notável
padre cruzio D. Francisco de Mendanha.
“Chá
de Limonete”… Limonete, Lúcia-lima, erva-luísa, bela-luísa, doce-lima… Chá
perfumado que o nosso paladar muito aprecia e que recomendamos como remédio já
muito antigo contra as dores de estômago, especialmente as desses estômagos
delicados que não conseguem digerir as revistas que por aí pululam…
Muito digno de leitura por elucidativo
e bem escrito, o prefácio.
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