Com a
sede em obras, houve interrupção do teatro em Tavarede. Mas o grupo cénico não
parou. Depois de outras deslocações, foram a Vila Real e a Amarante. Mais do que a falia
de tempo de que actualmente podemos dispor, o nosso estado de saúde, cano de
costume, sobrepondo-se aos nossos desejos, não nos permitiu
acompanhar o grupo dramático da Sociedade de InstruçãoTavaredense, nos
dias 10, 11 e 12 do corrente, nas suas jornadas de bem-fazer, desta vez a
Amarante e Vila Real, facto
que, nos penalizou sobremaneira por não podermos viver, pessoalmente, as carinhosas e entusiásticas manifestações
de simpatia e apreço de que foram alvo os nossos conterrâneos, naqueles
importantes localidades nortenhas.
Mas nem por isso deixámos de acompanhar em espírito os
briosos rapazes e simpáticas senhoras, que tão longe levaram o nome da nossa aldeia em missão
cultural e beneficente,
de sentir em nosso coração de tavaredenses o festivo ambiente que a todos rodeou.
E,
assim, para que pudéssemos registar em nossos "apontamentos",
informando os estimados leitores, da triunfal excursão
tavaredense, pedimos a um nosso amigo, que a acompanhou, nos dissesse algo das
suas impressões, pondo-se inteiramente à nossa disposição, gentileza
que, alem dos nos cativar, reconhecidamente agradecemos.
Chegados
a Amarante, à entrada da vila esperavam os visitantes a corporação dos
Bombeiros, Filarmónica local, representantes das colectividades com seus
estandartes, a Comissão promotora do espectáculo, que era a favor do Hospital
da Misericórdia e muito povo. Formou-se um cortejo que percorreu várias ruas, e
das janelas, donde pendiam colgaduras, foram
lançadas flores.
No
edifício da Câmara Municipal deu as boas vindas o Vereador do pelouro da
Cultura e Presidente da Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão, tendo
agradecido a carinhosa recepção dispensada o director do grupo cénico.
À noite, no teatro, com a grande sala repleta dum
público que aplaudiu calorosamente, fez a apresentação do grupo de Tavarede, num
brilhantíssimo discurso, o ilustre advogado sr. dr. Balbino de Carvalho, que é
um grande amigo e admirador da Figueira.
A impressão deixada com a representação
de "Os Velhos" foi excelente.
Num
dos intervalos foram oferecidos por simpáticas crianças, a José da Silva
Ribeiro e às distintas amadoras, D. Violinda
Mediria e Silva, menina Maria Isabel de Oliveira Reis, lindos ramos de flores,
gentileza que muito os sensibilizou.
No
dia seguinte, os distintos figueirenses sr. Engenheiro António Gravato e sua
esposa ofereceram aos visitantes, no belo parque florestal onde têm a sua
residência, um almoço que foi motivo para que todos trouxessem de Amarante lembrança inesquecível.
Findo o almoço seguiram os nossos
conterrâneos para Vila Real.
Nesta cidade o espectáculo realizado foi também com
"Os Velhos", a favor da instituição local "A Nossa Casa", obra benemérita do Padre Henrique Maria
dos Santos, que protege da fome para cima de 3 centenas de crianças.
A chegada houve na sede de "A Nossa Casa" uma
breve sessão de boas-vindas. Ali se encontravam o sr. Presidente da
Câmara de Vila Real, o sr. Heitor Correia de Matos, director do jornal "O
Vilarealense"; Aquiles de Almeida, entusiasta promotor desta visita dos tavaredenses a Vila Real; as
senhoras da Conferência de S. Vicente de Paulo e muitas crianças, que cobriram de flores os visitantes à sua entrada; e outras
pessoas de representação. O discurso de boas-vindas foi proferido pelo
sr. Padre Henrique, cujas palavras, cheias de beleza e bondade, deixaram em
todos funda impressão, tendo José Ribeiro,
num vibrante discurso, agradecido as amáveis referencias que o bondoso
sacerdote acabara de dirigir ao grupo dramático que superiormente
orienta.
No teatro, a apresentação do grupo foi feita pelo sr. dr.
Otílio de Carvalho Figueiredo. Nessa ocasião, uma das crianças da obra do Padre Henrique Maria
dos Santos ofereceu à SIT um jarrão que é uma artística obra de faiança. Como em Amarante, o público de Vila Real que enchia a
enorme plateia do teatro aplaudiu com extraordinário entusiasmo a representação
de "Os Velhos".
As já numerosas crianças protegidas pelo Redv° Padre
Henrique obsequiaram os visitantes, como lembrança da sua inesquecível digressão artística e
beneficente, com miniaturas de louça regional.
No dia seguinte realizou-se um almoço de despedida, no
qual falaram o sr. Padre Henrique Maria dos Santos e o Director do
"Vilarealense", sr. Heitor de Matos.
Ao agradecer, José Ribeiro, proferiu um brilhante
improviso, cheio de ternura, em que a sua alma de eleição, dedicada aos
pobres, deu largas aos seus sentimentos filantrópicos.
Comentava-se: nós, aqui na Serra, orgulhamo-nos de
possuir águias, mas lá para as
bandas da Figueira da Foz, nos choupos e salgueiros do ribeiro da pitoresca
aldeia de Tavarede, também se criam extraordinários
rouxinóis, que, pelas suas melodias e cantares, nos transportam, por momentos, às regiões do
sonho.
À
saída de Vila Real foram os
nossos conterrâneos acompanhados até ao limite do concelho pelo Revdº Padre
Henrique Maria dos Santos e outras distintas pessoas, que lhes prodigalizaram
as maiores gentilezas.
As
nossas felicitações ao grupo dramático
da SIT por mais esta sua excursão que, sendo de arte e caridade serviu, também,
de pretexto para a melhor propaganda da sua e nossa ridente aldeia.
Bem haja, pois.
E vamos
transcrever, agora, uma nota sobre o que foram as obras na Sociedade. Apesar da dureza
dos tempos dos últimos meses, as obras de transformação do teatro da Sociedade
de Instrução Tavaredense, têm prosseguido com certa regularidade.
E natural que, se não
fôra essa imprevista circunstância, os trabalhos estivessem mais adiantados.
Entretanto,
não podemos deixar de louvar a boa vontade do empreiteiro, o nosso particular
amigo, sr. Constantino Ferreira Sopas, dessa
cidade, que tem dedicado a tão valiosa obra uma assistência técnica digna dos
maiores encómios, inclusivamente escolhendo para encarregados dos
diversos serviços, operários de reconhecida competência, alguns deles sócios da
colectividade, tudo fazendo, enfim, para que a SIT fique, na verdade, com um
óptimo e bem construído imóvel.
Na semana passada, operários especializados concluíram a
cobertura do edifício com chapas de fibrocimento, fornecidas pela considerada empresa nortenha "Novinco",
de que é representante a importante firma Alberto Gaspar & Cª. da
Figueira da Foz.
De tal modo, já mais
seguramente se poderá caminhar para o
termo das obras.
Pelo que já nos é dado observar, a SIT vai ficar com uma
esplêndida sede, em que não faltam os
requisitos exigidos pelas novas técnicas, outra coisa não sendo de esperar.
Assim, no rez do chão, ficarão situados, alem da plateia,
que foi ampliada, com vista a comportar uma
maior lotação,
bar, "hall", camarins, lavabos para homens e senhoras e casa de
banho.
No primeiro andar, teremos um amplo salão para recepções,
gabinete da Direcção, biblioteca, camarins e lavabos para senhoras.
Ainda outros salões e
compartimentos destinados a arrumos, localizar-se-ão no segundo andar.
O
antigo campo de jogos, deverá ficar em condições de servir a parque de
estacionamento de veículos, em dias de espectáculos
e festas da SIT.
Quanto ao palco, bastará dizer, que está a ser erigido
sob a orientação técnica do ensaiador e Mestre de teatro, que é José da Silva
Ribeiro, o mesmo será
dizer que o palco ficará de modo a permitir a representação de peças de
qualquer género, aliás, como as que foram ali levadas à cena em
tão precárias condições, devido ao
reduzidíssimo espaço de que dispunham
os amadores para se movimentar, e que só a sua grande vontade, o seu amor à
causa do teatro, superava.
Obra de relevo, de concepção admirável do distinto
arquitecto e grande admirador da actividade daquela colectividade, sr.
Izaias Cardoso, que soube aproveitar todo o espaço livre destinado ao fim em
vista - obra que viveu, durante
algumas dezenas de anos, nos corações dos sócios e dos inúmeros simpatizantes
da prestigiosa colectividade e que só o poderoso auxílio da benemérita Fundação Gulbenkian foi
possível tornar em promissora realidade.
Nos tempos difíceis que vivemos e em que às
colectividades recreativas se lhes deparam os maiores obstáculos para levar por diante
sua nobre e generosa missão artística e educativa, a bem do Povo, não bastava somente a vontade de trabalhar dos
homens da SIT, era preciso mais alguma coisa e, essa alguma coisa, teria que
ser convertida em bom material sonante...
Por isso que, não só os sócios como também todo o povo da
freguesia de Tavarede, deverá estar presente no dia da inauguração da sede
profundamente remodelada da SIT, para testemunhar aos ilustres membros do
Conselho de Administração da Fundação
Gulbenkian, o seu imperecível reconhecimento.
É um dever de todo o tavaredense, pois o que é, deve-o,
na sua grande maioria - e as carunchosas tábuas do palco que o digam quantos tavaredenses as pisaram
para sua cultura e recreio - à SIT.
Bem
sabemos que toda a obra do frágil barro humano tem seus contraditores. Porém, volvido quase meio século de actividade em benefício do seu semelhante,
facilmente chegamos à conclusão de que valeu bem a pena trabalhar, porque foi precisamente o seu desinteresse, o sentido de
contribuir para a elevação do nível cultural e artístico do Povo, através do teatro,
que proporcionou à SIT o generoso auxílio financeiro, que lhe foi atribuído
pelo exmo. Conselho de Administração da
Fundação Gulbenkian.
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