Chega Daniel. E depois dos abraços e dos cumprimentos, Pedro
entende ser chegada a ocasião de lhe apresentar a sua noiva, a Clara, uma das
pupilas do senhor Reitor. Ela não estava em casa e, como de costume, Pedro
chama-a.
Pedro
Vem
livrar-me com teus olhos
Que
eu por eles me perdi
Dá-me
a vida com teus beijos
Já
que por beijos morri.
Clara
Ó
rio das águas claras
Que
vais correndo p’ró mar
Os
tormentos que eu padeço
A
ninguém vás declarar.
Pedro
Não
declara quem não pode
E
não tem que declarar,
Pois
quem é assim tão bela
Não
pode ter que penar.
Clara
O
que eu peno ninguém sabe
Ninguém
o pode saber
Porque
peno e não me queixo
Em
segredo sei sofrer.
Pedro
Pois
padecer em silêncio
É
bem dobrado sofrer
Melhor
é contarmos tudo
A
quem nos possa entender.
Clara
Vem
livrar-me com teus olhos
Que
eu por eles me perdi
Dá-me
a vida com teus beijos
Já
que por beijos morri.
O segundo acto é passado na
eira de José das Dornas. Como era habitual naqueles tempos, as “esfolhadas” são
feitas à noite, à luz do luar, em alegres reuniões em que se cantava
animadamente enquanto iam trabalhando.
Matilde
A
cantar o mal se espanta
Pois
é bom sempre cantar
Coro
Roda,
roda, vira, vira,
Torna-te
a virar
Matilde
Eu
assim canso a garganta (bis)
Para
as mágoas espantar
Coro
Vira,
vira, vira, gira,
Roda,
troca o par
Matilde
Mas
a minha pena é tanta
Que
a não posso afugentar
Coro
Roda,
roda, vira, vira, etc.
Matilde
Mas
a minha pena é tanta (bis)
Que
a não posso afugentar
Coro
Vira,
vira, vira, gira, etc.
Joaquim
Não
se espanta assim a pena
Que
entristece o coração
Coro
Roda,
roda, vira, vira, etc.
Joaquim
Com
a simples cantilena (bis)
Que
se canta a um papão
Coro
Vira,
vira, vira, gira, etc.
Joaquim
Porque
a pena só condena
Quem
não tenha um’afeição
Coro
Roda,
roda, vira, vira, etc.
Joaquim
Porque
a pena só condena (bis)
Quem
não tenha um’afeição
Coro
Vira,
vira, vira, gira, etc.
Roda,
roda, vira, vira,
Torna-te
a virar
Vira,
vira, vira, gira,
Roda,
troca o par
As espigas iam-se juntando no meio da eira, enquanto a palha
era amontoada em redor da eira. De vez em quando, ouviam-se o grito alegre de
“milho-rei”, “milho-rei”. E logo no meio do entusiasmo geral, o feliz achador
lá dava a volta à roda, abraçando ou beijando companheiros ou companheiras. Nem
todos, porém, tinham essa sorte... Entretanto, alguém pede uma cantiga. Clara,
uma das mais bonitas vozes da aldeia, não se faz rogada. E canta, canta uma
linda canção, certamente bem conhecida de todos.
Coro
Andava
a pobre cabreira
O
seu rebanho a guardar
Desde
que rompia o dia
Até
a noite fechar.
Clara
Sentada
no alto da serra
Pôs-se
a cabreira a chorar
Porque
chorava a cabreira
Ninguém
o soube contar.
Coro
Essa
história da pastora (bis – Clara)
Devo
agora explicar (bis – Clara)
Apar’ceu-lhe
um pagem loiro (bis – Clara)
Que
a não soube requestar (bis – Clara)
Clara
Nunca
a tinha visto antes
O
seu rebanho a pastar,
E
foi correndo p’ra serra (bis)
Jurando
afecto sem par (bis)
Coro
O
rebanho vai fugindo
Pelos
vales sem parar
E
a pastorinha atrás dele
Sem
o poder alcançar
Clara
E
andaram assim três dias
E
três noites sempre a andar
Até
que à porta dum paço
Afinal
foram parar.
Coro
O
rei perdera uma filha (bis – Clara)
Que
jamais poude encontrar (bis – Clara)
E
na formosa cabreira (bis – Clara)
Quiz
seu rosto idealizar (bis – Clara)
Clara
E
vêm damas p’ra vesti-la
E
vêm damas p’rá calçar
E
a mais formosa de todas (bis)
Para
as tranças lhe enfeitar (bis)
Coro
Mais
tarde a linda cabreira
Ninguém
a poude encontrar
Mas
um anjo de asas brancas
Viram
dos céus a voar.
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