Para integrar o programa comemorativo
do aniversário, em Janeiro de 1973, nova peça de Shakespeare foi levada à cena.
Assistimos no passado sábado à récita de
aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, que sempre tem primado por
apresentar bom teatro, e mais uma vez demos por bem empregue a nossa deslocação
à vizinha Tavarede.
Mestre José Ribeiro não proferiu a
habitual palestra que antecede as estreias, mas leu o prefácio que escreveu
sobre a peça “Conto de Inverno”, de William Shakespeare, que pela primeira vez
era representada em Portugal, em língua portuguesa, já que em 1939 fora
apresentada em Lisboa por um grupo de ingleses e estudantes da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, em récita particular.
Com “Conto de Inverno”, Shakespeare
esteve presente pela terceira vez em Tavarede. A primeira em 1964, por ocasião do seu
4º. centenário com a “mui excelente e
lamentável tragédia Romeu e Julieta”, sem dúvida a sua mais popular
obra, adaptada ao teatro e ao cinema em variadíssimas versões. Quatro anos
depois o dramaturgo inglês voltou ao palco de Tavarede com o Dente por Dente,
com adaptação de Luís Francisco Rebelo, e agora com Conto de Inverno,
traduzida e adaptada por João José, pseudónimo artístico de José Ribeiro.
“Conto de Inverno”, uma quase tragédia
em 5 actos e 10 quadros, foi representada na corte de Jaime I, em 5 de Novembro
de 1610, seis anos antes da morte do seu autor, Alma do século, Monumento
sem túmulo, Doce cisne do Avon, como Shakespeare foi classificado
por Bem Johnson.
José Ribeiro disse que “Conto de
Inverno” tinha qualidades para agradar a crianças e a adultos, e, de facto,
assim é.
Concebida longe dos moldes de “Hamlet”,
“Romeu e Julieta”, “O mercador de Veneza”, e outras, a peça ora apresentada em
Tavarede conta-nos a história do ciumento Leontes, rei da Sicilia, que
pretendeu matar o seu pretenso rival Polixenes, rei da Boémia, mandou abandonar
sua filha recém-nascida num monte deste país e fez julgar Hermione, sua mulher,
por crime de adultério, de que estava inocente conforme depois foi confirmado
pelo Oráculo de Delfos.
A peça tem um final imprevisto e acaba
bem, reconhecidos que foram os infundados ciúmes de Leontes.
Nada menos de 37 são as personagens que
intervêm em “Conto de Inverno”, que conta com a participação dos “veteranos”
João Cascão, Violinda Medina e Silva, Fernando Reis, João de Oliveira Junior e
José Luiz do Nascimento.
Boas presenças de José Medina, João
Medina, José Santos, Manuel Cerveira, Luiz Medina, Ana Cristina de Oliveira,
Rosa Maria da Silva, etc.
A cenografia é do prof. Manuel de
Oliveira e de José Maria Marques, com um excelente guarda-roupa de Alberto
Anahory que, como sempre, primou por apresentar luxuosas indumentárias da
época.
A encenação é do nosso já consagrado e
competente José Ribeiro que, como as que tem apresentado no palco da SIT, lhe
deu todos os condimentos necessários para fazer de “Conto de Inverno” mais um
assinalado êxito para os amadores de Tavarede.
E registamos que a Câmara Municipal da
Figueira da Foz deliberou condecorar a colectividade. Por proposta do então vereador do pelouro da cultura, sr. dr. Marcos
Lima Viana, a edilidade cessante, com plena concordância do sr. Presidente da
Câmara Municipal, aprovou por unanimidade a concessão da MEDALHA DE OURO DE
SERVIÇOS DISTINTOS às prestigiosas colectividades da nossa terra – SOCIEDADE
FILARMÓNICA FIGUEIRENSE e SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE – galardão a que
ambas fizeram mais do que inteiro jus, através duma notável, vasta e prolongada
acção cultural, artística e beneficente sobejamente conhecida de todos os
figueirenses para que seja necessário referi-la em detalhe, comentá-la e
exaltá-la. O que constituiria uma redundância e também de certa forma de
injustiça aos sentimentos de gratidão dos nossos conterrâneos, que pelas duas
agremiações homenageadas nutrem bem sinceras, palpáveis e comprovadas,
simpatia, estima e consideração, a que o bairrismo junta o sal de um grande
orgulho por as ter no seu seio e pela maneira exemplar como têm servido e
honrado a Figueira, orgulho sob todos os aspectos tão compreensível como
legítimo.
Por tudo o que fica dito e o mais que é
do conhecimento geral, de ânimo gratíssimo, por nossa parte nos associamos
jubilosamente a esta merecida consagração municipal dos méritos e serviços à
terra e à grei, tanto da Sociedade de Instrução Tavaredense como da Sociedade
Filarmónica Figueirense, a ambas, na emergência, apresentando os nossos
melhores cumprimentos e felicitações.
O IV Centenário da Publicação de Os
Lusíadas também teve a participação do grupo tavaredense. O presidente da
Comissão Nacional das Comemorações, Professor Dr. Hernâni Cidade, veio à nossa
terra assistir a um espectáculo. Conforme
já aqui tivemos ocasião de noticiar, o categorizado grupo cénico da benemérita
Sociedade de Instrução Tavaredense (quase 70 anos de permanente actividade,
posta, com a maior devoção e ternura, ao serviço da cultura popular), mais uma
vez voltou a dar amplas provas do seu reconhecido valor e da sua incontestada
capacidade artística.
E mais uma vez soube impor os seus
relevantes e incontestados méritos, numa aceitação total, plena de emoção e de
delirantes aplausos, perante um público categorizado e exigente, em que se
encontravam gradas personalidades de Lisboa, Figueira, Coimbra, Leiria, etc.,
etc., algumas das quais se habituaram, desde há muito, a ir ao encontro dos
amadores-artistas de Tavarede, nas suas representações teatrais – para as
apreciar e aplaudir, não por mera e generosa benevolência, mas por convicção e
inteira justiça.
Sábado, 4 de Novembro. Mais um
espectáculo, no elegante e confortável teatrinho de Tavarede (totalmente
remodelado e beneficiado, há poucos anos, graças à generosa ajuda material da
benemérita Fundação Gulbenkian), com a muito grata e honrosa presença do
eminente Prof. Dr. Hernâni Cidade, ilustre presidente da Comissão Nacional das
Comemorações de “Os Lusíadas”, que de Lisboa, acompanhado de outras também
ilustres personalidades, ali se deslocou.
O espectáculo comemorativo do 4º
Centenário da Publicação de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, constava da
representação do “Auto de El-Rei Seleuco”, da autoria do imortal Poeta; e de
uma “Evocação”, em duas partes e dez quadros (a 1ª parte – “O Trinca-Fortes”
(1551), com as cenas “Encontros no Mal-Cozinhado”, “A merenda da Infanta” e “Do
tronco para a Índia”; e a 2ª parte – “Os Lusíadas” (17 anos depois), com as
cenas “Regresso da Índia”, “… e ninguém mais falou nele!”, “Ante o censor dos
Lusíadas”, “O Velho do Restelo”, “O Adamastor”, “Concilio dos Deuses” e “Quem
compra os Lusiadas”, da autoria de mestre José Ribeiro, interpretada por mais
de 50 dos seus briosos e consagrados pupilos; caprichosamente montada, vestida
e encenada, sob o maior rigor, pelos apaixonados amigos da SIT, de Lisboa, srs.
Alberto Anahory, que estudou e preparou todo o primoroso guarda-roupa,
histórico e de fantasia; António Tomás, que gravou, amavelmente, a “Voz de
Garrett” e a “Voz dos Lusíadas” e realizou toda a sonorização; José Maria
Marques, que se incumbiu da cenografia, a todos os títulos brilhante e
rigorosa, excepção feita a algumas cenas no “Mal Cozinhado” e do”Concilio dos
Deuses”, com as quais foram evocados os ilustres e saudosos amigos daquela
benemérita instituição cultural (que tanto tem sabido honrar a sua linda
aldeia, senão o Concelho da Figueira e o próprio distrito de Coimbra, onde não
é ignorado o real valor dos amadores teatrais tavaredenses), prof. Manuel de
Oliveira e Rogério Reynaud (este figueirense) e o actual padre da paróquia
local, dr. João Evangelista Amado, que orientou o cântico litúrgico.
E – já agora – expliquemos os
precedentes que motivaram tão louvável e patriótico movimento artístico e
conduziram o José Ribeiro à decisão – a todos os títulos louvável – de procurar
vincar, pelo teatro, na sua aldeia e pelos seus pupilos, esta histórica
efeméride.
Tendo sido previamente convidado –
muito digna e acertadamente - pela Câmara Municipal (pelouro da cultura) para
estudar a maneira de pôr em prática a representação, na Figueira da Foz, por
intermédio do laureado núcleo dos seus amadores, uma peça alusiva à Comemoração
do 4º Centenário da Publicação de “Os Lusíadas”, aquele nosso ilustre
conterrâneo e muito prezado e velho amigo – coração de oiro e alma sempre
aberta às mais elevadas e dignificantes iniciativas culturais e filantrópicas
-, prontamente correspondeu a tão delicada incumbência…
… escrevendo, ensaiando e
preocupando-se, ainda, apaixonadamente – como é próprio dos seus brios e das
suas reconhecidas exigência – com a montagem das peças a que acima aludimos…
… e cujas representações (cremos que já
em número de seis ou sete), quer na oficial – chamemos-lhe assim – realizada no
Grande Casino Peninsular, que redundou, ao que nos foi informado, numa
consoladora e delirante apoteose, tendo nessa altura sido conferida à veneranda
Sociedade de Instrução, num relevante acto de consciência e de justiça, a
Medalha de Mérito (Ouro) da Câmara Municipal, quer em Tavarede, redundou num
assinalado e consolador êxito…
… e numa grande satisfação e alegria
para José Ribeiro e para os seus simpáticos e garbosos discípulos.
E pressentimos este “fenómeno”, porquê?
Precisamente porque – e tão
sentimentais e dignificantes decisões não nos consta que houvessem sido tomadas
por mais ninguém, no País, com mais possibilidades e obrigações morais para o
fazer – mas não fez -, isso proporcionaria mais uma admirável oportunidade para
provar que à humilde gente de uma linda aldeia portuguesa, toda devoção e
paixão pelo teatro, não havia escapado mais uma data histórica e, como tal,
sentiria orgulho em comemorá-la!...
Assim, e a exemplo de que acontecera
nas respectivas datas, em que na SIT, em Tavarede, foram comemorados, com a
maior relevância e dignidade, o 5º Centenário de Shakespeare; o Centenário de
Almeida Garrett; o Centenário do Infante D. Henrique; o Cinquentenário da Morte
de D. João da Câmara e o Centenário de Marcelino Mesquita; se aos reconhecidos
méritos dos amadores-artistas da linda terra do limonete tinha isso sido
possível, essa grande honra, graças à batuta-mágica de mestre José Ribeiro, na
sua qualidade de autor e ensaiador competentíssimo, porque não havia ele,
acedendo, de ânimo jubiloso, ao que, em tal sentido, lhe fora solicitado
oficialmente, de aproveitar a oportunidade para marcar, mais uma vez, uma
relevante posição do seu admirável querer e das suas ricas possibilidades
intelectuais e artísticas, escrevendo, ensaiado e pondo em cena a referida
peça, comemorativa da patriótica efeméride do 4º Centenário da Publicação de
“Os Lusíadas”, de Luís de Camões?
Ora foi precisamente isso que se deu…
E com que prestigiante elevação!...
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