O
Jogo do amor e do acaso, Monserrate
e Cântico de Aldeia, esta última uma
nova fantasia de Mestre José Ribeiro, foram as peças que se seguiram no palco
tavaredense. No próximo domingo volta à
cena, pela 16ª vez, a opereta “Cântico da Aldeia”.
Cena de Cântico de
aldeia
Registamos o facto que demonstra bem o carinho
com que o público acolheu a peça musicada. O espectáculo terá lugar na SIT,
pelas 16,30 horas. Entretanto, no passado sábado foi a “récita do autor”.
Assinalando a 15ª representação, os componentes do grupo, em cena aberta,
ofereceram várias lembranças e ramos de flores ao autor da peça e ensaiador do
grupo, sr. José da Silva Ribeiro.
Não podemos deixar de referir que, em
reunião camarária, foi deliberado condecorar José Ribeiro. Oportunamente teceremos mais vastas e justas considerações a propósito
da figueira da José Ribeiro, um lutador e um homem de teatro, personalidade que
à causa da arte de Talma dedicou os melhores anos da sua vida.
Hoje, limitar-nos-emos a revelar que a
Câmara Municipal da Figueira da Foz acaba de fazer justiça ao homem da “Voz da
Justiça”, ao jornalista, ao revolucionário, ao homem que deu uma nova vida à
risonha aldeia de Tavarede, com os seus sessenta e tal anos de dedicação à
Sociedade de Instrução Tavaredense, transformando a colectividade, a sua terra
e a cidade da Figueira num centro de teatro amador credor dos mais rasgados
elogios.
Foram longos anos ao serviço da
Figueira da Foz, onde Mestre José Ribeiro continua a ser o mesmo, pois que os
anos não lhe pesam, e prossegue com a mesma juventude de sempre, a dirigir, a
criar, a impulsionar o meio, a fazer artistas, a impregnar de cultura o povo
que o conhece, que o admira, que não se cansa de lhe tecer as suas homenagens.
A Edilidade figueirense acaba de
cometer uma acção que a nobilita, atribuindo a José da Silva Ribeiro o galardão
máximo da cidade, a sua medalha de ouro.
O teatro em Tavarede é efectivamente
uma tradição. Tradição que José Ribeiro criou. Tradição que José Ribeiro tem
sabido manter ao longo dos tempos. Falar de Tavarede, é falar de teatro. A
Terra do Limonete, como é conhecida a linda povoação de Tavarede, projectou-se
por esse País, levando a sua arte aos mais longínquos pontos de Portugal.
De norte a sul, apreciou-se, admirou-se
a arte de representar dos actores de Tavarede. Profissionais no aspecto, na
declamação, no pisar do palco. Amadores pela dedicação, pelo dar-se
integralmente a uma distracção que os galvaniza, os entusiasma.
Bem haja José Ribeiro pela cultura que
ofereceu a Tavarede e ao seu concelho.
Bem
haja a Câmara pela atribuição da medalha de ouro que premeia um homem que
incontestavelmente a ela fez jus. Por tudo. Mas a entrega seria feita em
acto público. Não concordou o condecorado, pelo que a entrega ficou adiada.
Foi em 1977 que, por iniciativa do Lions
Clube da Figueira da Foz, se realizaram as I Jornadas de Teatro Amador da
Figueira. A Sociedade Tavaredense não participou naquele ano. Mas, convidado a
falar sobre estas Jornadas, em jantar oferecido por aquele clube de serviços,
Mestre José Ribeiro falou longamente sobre as mesmas. Como complemento da reportagem que fizemos em reunião do Lions Clube da
Figueira da Foz, num jantar que reuniu praticamente tgodos os associados da
colectividade onde convergem individualidades de destacada posição social,
serão em que foram convidados de honra uma distinta médica (drª Maria Raquel
Pessoa Lopes), e um homem de teatro (José da Silva Ribeiro), vamos hoje
referir-nos áquele que António Pedro considerou o primeiro ensaiador de teatro
amador português. António Pedro que por sua vez considerara também Bernardo
Santareno como o melhor autor de todos os tempos.
Pois José Ribeiro, pessoa que se
encontra desde há longos anos ligado à Sociedade de Instrução Tavaredense (que
lamentavelmente esteve ausente das 1ªs Jornadas de Teatro Amador da Figueira da
Foz), deslocou-se até ao Lions Clube onde conversou sobre a Arte de Talma,
tecendo diversas considerações, muito oportunas e muito interessantes,
relacionadas com a realização que há pouco tempo teve o seu epílogo, ou seja,
as tais 1ªs Jornadas de Teatro levadas a efeito pela aludida associação.
E foi, como é evidente, feliz o Lions
Clube em convidar este homem de teatro, uma verdadeira dedicação e um estudioso
das coisas de cultura, porque os presentes tiveram oportunidade também de
escutar uma lição bastante agradável sobre a arte de representar.
“O Festival foi um êxito porque? –
comentava José Ribeiro – pelo brilho de todas as representações? Pela madureza
que o Festival apresentou no que diz respeito à arte de representar mesmo por
amadores? No que diz respeito ao valor das peças que foram trazidas à Figueira?
Não. Foi um êxito, e por esse êxito eu dirijo as minhas saudações muito
calorosas ao Lions Clube, que promoveu esse Festival. Foi um êxito porque,
trazendo à Figueira todos os grupos que aqui vieram, mostrou, e esses grupos
mostraram, por isso daqui os saúdo a todos, todos sem excepção de nenhum,
mostrou que havia vontade de fazer teatro, e tanta vontade que alguns desses
grupos ensaiaram propositadamente peças para trazerem ao Festival.
Alguns ainda nem tinham representado,
outros prestaram-se até a vir representar tapando uma falha motivada pela
doença da intérprete duma peça de Bernardo Santareno, prestaram-se a vir aqui
em circunstâncias particularmente difíceis, sabendo que vinham defrontar-se, -
eu digo defrontar-se sem querer pronunciar esta palavra como uma trombeta de
guerra – não vinham, pois, defrontar-se, mas vinham trabalhar onde trabalhavam
outros grupos mais preparados do que eles”.
E José Ribeiro, sempre com a sua
habitual fluência, prendendo com facilidade a atenção do público – por vezes
parece-nos estar a presenciar uma representação tal a sua identificação com o
teatro – prosseguiu, falando do carinho que o público dispensou às Jornadas,
acorrendo em número representativo:
“Vejamos que com este Festival se levou
até ao Teatro do Peninsular muito público da Figueira que não poria os pés numa
récita de amadores, quanto mais em 8 ou 9 récitas! A organização teve o mérito
e o condão de trazer ao teatro toda essa gente que eu lá vi. Mas mais ainda.
Teve o condão de dar expansão a esse movimento, de tal maneira que de todas as
freguesias vieram acompanhantes entusiastas, calorosos, aplaudindo, batendo
palmas até em situações que me parecem um pouco deslocadas, mas que actuaram
com um entusiasmo, com um calor, com que num jogo de futebol os partidários da
Naval aplaudem o que é bom e o que é mau da Naval e não aplaudem o que é bom
dos outros grupos…”.
Todos estranharam, como é evidente e
natural, a ausência da Sociedade de Instrução Tavaredense, com todo o prestígio
que caracteriza a simpática e prestimosa colectividade da terra do limonete,
nestas Jornadas de Teatro Amador. Razões em ordem técnica invocadas teriam
estado na razão de tal facto, e certamente que no próximo ano, quando da
efectivação das II Jornadas, Tavarede não deixará de marcar a sua presença, não
deixando, por seu turno, os créditos por mãos alheias.
Mas José Ribeiro, não deixou perder a
ocasião para falar do teatro de Tavarede, dos seus êxitos, dos amadores que no
decorrer dos anos mais contribuíram para o prestígio da Sociedade.
E acerca dum célebre concurso nacional
de teatro amador em que a SIT participou, bem contra a vontade de José Ribeiro,
que era e é, como disse, alérgico a participações competitivas, pois que, como
salientou “não fazemos teatro para juris, mas fazemos teatro para o povo da
nossa terra”, concurso em que foi marcada presença muito dignificante, disse o
conhecido autor do “Cântico da Aldeia”:
“Tavarede obteve, além das menções
honrosas, além dos prémios, incluindo o prémio do encenador, prémio que aliás
não recebi e não recebi porque não quis, porque não fui lá, teve, além disso, a
honra de obter o primeiro prémio da interpretação masculina e o primeiro prémio
da interpretação feminina. O primeiro, para um amador realmente excelente,
infelizmente afastado já do teatro, por razões de saúde principalmente, que era
o António Jorge da Silva, e o segundo (1º prémio de interpretação feminina), a
uma mulher genial, a uma amadora excepcional, uma rapariga que da ponta dos
dedos dos pés até à ponta dos cabelos respirava teatro. Mas teatro com garra,
com alma, e sobretudo com inteligência, e acima da inteligência, com muito
amor. Teatro de paixão. Chamava-se, e chama-se, ainda é viva, Violinda Medina e
Silva”.
José Ribeiro comentou seguidamente as
várias peças representadas, lembrou muito especialmente Bernardo Santareno,
aquele que é o autor português, vivo, mais representado, e a este propósito
evocou a figura do grande homem de teatro que foi António Pedro, director
experimental do Porto. Falou de encenação e do seu grande impacto perante o
público. A respeito desse importante pormenor da arte de representar, referiu
ainda:
“Na Universidade do México há uma
cadeira de teatro. Exerce lá o professorado Fernando Vagner, que nós conhecemos
através do seu manual de encenação, da sua táctica teatral. E é ele quem nos
diz: “Preparar a peça para a representação é muito importante. Mas é muito
importante também o critério da escolha. Primeiramente tem de se ver para quem
se destina a peça, e com que elementos se conta para pôr a peça em cena, qual é
o público a que se destina. Porque isto de fazer teatro sem querer ter público,
não pode ser porque o teatro não vive sem público. O público é indispensável ao
teatro”.
José da Silva Ribeiro teceu ainda
várias considerações a respeito de vários intérpretes dos diversos agrupamentos
participantes nas Jornadas, e a respeito de alguns veio a proferir este
comentário: “Quem mos dera em Tavarede”.
Foi, efectivamente, um bom serão,
restando-nos acrescentar a propósito da hipótese de vir a deslocar-se até à
Figueira um homem de teatro para ministrar ensinamentos aos vários agrupamentos
concelhios, como consequência destas 1ªs Jornadas, o crítico da sessão, dr.
José Dias Costa, comentou, e com certa oportunidade, que não haveria
necessidade de recorrer a gente estranha quando aqui mesmo, ao pé da porta,
havia alguém – e referia-se a José Ribeiro – quem tinha conhecimentos
suficientes para fazer algo em favor do teatro, ao serviço, já não só da
Sociedade de Instrução Tavaredense, mas em favor de tantos outros militantes da
maravilhosa arte de representar, de bom representar, acrescente-se.
Prestes a atingir as suas Bodas de
Diamante, a Sociedade comemorou o 74º aniversário, tendo levado à cena uma nova
peça de Shakespeare, Tudo está bem quando
acaba bem. E foi com esta peça que a colectividade participou nas II
Jornadas do Teatro Amador da Figueira. Com
a apresentação da peça “Tudo está bem quando acaba bem”, de Shakespeare,
encerraram as II Jornadas de Teatro Amador da Figueira da Foz, uma iniciativa
do Lions Clube desta cidade, com o patrocínio e colaboração de diversas
entidades, nomeadamente o Grande Casino Peninsular, que cedeu as suas instalações
para que a realização fosse um facto.
Num
balanço muito superficial diremos que, efectivamente, o nível da organização,
no que concerne aos grupos presentes, melhorou consideravelmente, notando-se, à
priori, que houve evidentemente uma muito aceitável e legitima preocupação em
trazer ao Peninsular boas obras, com correspondentes boas actuações.
Analisando – como o devemos fazer – a
realização e as presenças, no âmbito dum teatro amador tradicional das aldeias
do nosso concelho, temos de convir que, felizmente, os aspectos culturais ainda
são preocupação das nossas gentes, pois que não alienadas completamente a
solicitações mais fáceis e, também, naturalmente prejudiciais.
E, para já, fazemos votos para que em
1979, com a realização das III Jornadas, o nível de 78 seja superado, já que os
amadores terão consigo o lenitivo e o estímulo do público figueirense, que
nunca faltou a dar-lhes o seu apoio e consequentemente, a manifestar-lhes o seu
agrado com os seus fartos aplausos.
Encenadores perpassaram pelas Jornadas,
amadores se distinguiram, já que possuíam qualidades magnificas para o
desempenho dos papéis que lhes foram distribuídos, numa certeza de que no
concelho da Figueira existem valores muito consideráveis na arte de
representar, alguns mesmo a causar inveja a profissionais.
Causou natural expectativa a
apresentação do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, aguardada
com certo interesse, dada a tradicional qualidade dos seus espectáculos,
superiormente escolhidos por um homem de teatro, José Ribeiro, que à Arte de
Talma se dedica há mais de 60 anos.
E uma
coisa é certa: a mão do encenador esteve presente em todos os momentos nesta
peça de William Shakespeare.
Tudo está bem quando acaba bem
A
movimentação dos amadores, a sua presença, dizem, logo à partida e no decorrer
da representação, que estão bem dirigidos.
O que, efectivamente, José Ribeiro não
pode fazer é milagres, e daí que, naturalmente, não haja hipótese de haver uma
coesão que se exigiria em profissionais, entre todos os participantes.
O pretenciosismo, o empolamento
patenteado por certos amadores, traiu-os um tanto e não os deixou brilhar ao
nível, por exemplo, de Ana Paula Fadigas, a melhor figura feminina (Helena), de
José Luís Nascimento, quanto a nós a grande presença masculina, interpretando
muito bem o papel de “Bobo”, e Fernando Reis, que teve momentos muito altos no
“seu” Lafeu.
Nestes, a naturalidade teatral,
granjeou-lhes o primeiro plano, dando à peça, que se arrasta um tanto, mercê de
inúmeras transicções de cena, uma certa vivacidade que doutra forma a mesma não
teria. O desejo de fazer bem prejudicou o papel importante de José Medina, que
se excedeu no seu ênfase, ultrapassou as barreiras do teatro, faltou-lhe
naturalidade. A caracterização também o não ajudou, e o “seu” Conde de
Rossilhão, que era dos principais papéis, ficou muito aquém do que seria de
exigir.
A cenografia, a cargo do Prof. Manuel
de Oliveira e José Maria Marques, valorizou imenso o espectáculo, que, ao fim e
ao cabo, esteve em plano idêntico a algumas boas representações que vimos no
decorrer das Jornadas.
E já agora o nosso aplauso para a
Sociedade de Instrução Tavaredense, por mais uma vez se preocupar, até à
minúcia, na construção dum espectáculo em que cenários, guarda-roupa, e
classicismo da obra escolhida, marcaram uma determinada posição.
Jorge Galamba Marques, em nome do Lions
Clube, veio ao proscénio, no início da representação, anunciou a realização das
III Jornadas para 1979, e agradeceu a colaboração de todos quantos contribuíram
para que a organização atingisse os seus propósitos, não esquecendo os órgãos
de comunicação social, focando muito especialmente o “Diário de Coimbra”, o que
sensibilizados agradecemos.
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