Outro então fez-nos ir bater á porta por vezes varias, e um
dia sahe-se com esta:
= Olhem lá, meninos,
vocês tambem fazem festa d’egreja?
Depois de resposta affirmativa:
= E de que consta? Quem canta ao côro? De onde é o armador?
Quem... – e fez-nos uma série de perguntas que só a paciencia de Job
retorquiria. Mas como contavamos com verba taluda, gramámos bem uma bem puchada hora de massada... E sabem quanto
assignou? Foram 30 reis, por
signal em cobre, porque, dizia elle, agora não tinha mais trocado! Para a outra
vez daria mais qualquer coisinha...
É verdade! E foi-nos exigindo um foguete, que então já
custava creio que uns seis vintens, e que fossem no dia da festa com o gaiteiro
tocar-lhe á porta, como era habito no seu tempo!!
E por estes e outros motivos, eu tenho a firme, a certeza
plena de que os rapazes da Figueira perdiam o moral e desistiam por completo,
no caso que prosseguissem – como era do seu dever – no que se propuzeram.
Antes que te cases... – e é bem certo.
Soffrem-se muitas decepções, meus caros, acreditem. As
luzidas festas que vós todos os annos haveis apreciado custa muito aos que a
emprehendem. Sua-se muito e dão-se milhares e milhares de passadas.
Eu, com os meus 23 annos, já sei muito bem o que ellas
custam. No emtanto inda lá ia outra vez, inda estava no firme proposito de
trabalhar com a mesma boa vontade, com o mesmo amor proprio, conjunctamente com
rapazes da minha terra, para a realisação de tão sympathicos festejos, se
vocemecês, na qualidade de inexperientes no assumpto, me não alliviassem d’esse
pesado fardo.
E para quê? Para agora um dos commissionados – talvez com o criterio espicaçado pelo arrependimento
– me vir offerecer vinte mil reis para eu ficar por elle!
Pobre d’espirito!
E aqui teem explicado o motivo por que os rapazes de
Tavarede capricharam em não levar a effeito este anno os tradicionaes festejos
ao Santo Casamenteiro.
Oxalá semelhante facto se não repita, pois, que diabo, cá na
terra ainda há gente competente para fazer os festejos ao S. Joãosinho – os
festejos que dão honra á Tradição e sobretudo ao perfumado Canteiro de Limonete...
No emtanto, para aquelles dias este anno aqui não passarem
despercebidos, e instados pelas moçoilas, um grupo de rapazes, possuido da
melhor boa-vontade, realisará nos proximos sabbado, domingo e segunda-feira uma
modesta festa, uma festa de um cunho accentuadamente familiar, a qual constará
do seguinte:
= De sabbado
para domingo, no Largo do Forno, rancho de descantes populares, abrilhantando
parte da tuna do Grupo Musical Tavaredense;
= Domingo, á
tarde, continuação do mesmo rancho, destinando-se um premio para o par que se
apresentar em rigoroso ponto em branco;
= Na segunda-feira, de manhã, desafio
de malha entre oito dos melhores batedores do burgo, no pittoresco quintal
do estabelecimento commercial dos successores de F. Cordeiro, sendo disputado
um leitão, o qual será pago pelos vencidos e papado pela assistencia;
= No mesmo dia, á tarde, corridas varias e a indispensavel Rosquilhada
– um dos numeros que chama a Tavarede dezenas e dezenas de pessoas,
principalmente d’essa cidade.
= Á noite,
danças populares.
E d’esta fórma tenho a certeza que não
deixará de divertir-se toda a gente de Tavarede e a que cá affluir n’aquelles
dias”.
No ano de
1926 ainda se manteve o costume. “Como aqui noticiámos, realisaram-se nos dias
31 do passado mês de Julho, 1 e 2 do corrente, as festas ao S. João, que um
grupo de homens levaram a efeito e que decorreram sempre com grande pompa e
brilhantismo.
No sábado à noite houve concerto pela filarmónica “Figueirense”,
queimando-se ao mesmo tempo um lindo e vistoso fogo do ar e ranchos populares
até de manhã, abrilhantados pela tuna do Grupo Musical I. Tavaredense.
Domingo, às 12 horas, começaram novamente os festejos com
uma missa soléne, assistindo a esta, a parte coral da mesma tuna Tavaredense.
Seguiu-se-lhe as cavalhadas, que ao contrário dos anos
anteriores, percorreram primeiro essa cidade.
Estas despertaram grande entusiásmo, pois já há muitos anos
que assim se não realisavam cavalhadas tão concorridas, e por este motivo, nas
praças e ruas déssa cidade, onde elas passáram, estava uma enorme multidão de
povo que gosta sempre de apreciar estes divertimentos.
Depois caminharam para Buarcos, onde tambem aguardavam a
chegada dos tavaredenses, muitas dezenas de pessoas.
De novo voltaram para esta povoação onde terminaram já
tarde. Às 9 horas, pouco mais ou menos, a “Figueirense” de novo começou o seu
concerto, exibindo neste dia algumas das melhores peças do seu vasto
reportório, seguindo-se tambem ranchos populares, que terminaram perto das 2
horas da madrugada de segunda-feira.
Tudo retirou fatigado de tantos divertimentos realisados nos
dias anteriores.
Dia 2, segunda-feira – Às 4 horas da tarde já na nossa terra
se encontravam algumas dezenas de pessoas que vinham assistir ao melhor da
festa.
Às 6 horas, começaram as rosquilhadas, que correram
animadas. Este numero atrazou bastante os outros, que eram as corridas de
velocidade, de sácos, de 2 pérnas, de pótes, etc.; este número, um dos que mais
interesse despertava, não se realisou, por motivo de já ser muito tarde quando
se estava para efétuar, realisando-se os seguintes e que tivéram o resultado
que a seguir publicamos:
Corridas de velocidade,
calculadas em 350 metros: 1º prémio, António Cardoso, 2º, Manuel Nogueira e
Silva, 3º, Carlos Custódio.
Corridas de 100 metros , rapazes
até 12 anos: 1º, prémio, Joaquim Medina, 2º, Antonio Fadigas Cordeiro, 3º,
Gentil Ribeiro.
Corridas de Agulhas:
1º prémio, Joaquim Broeiro, 2º Armando Amorim, 3º, Izelino Prôa.
Corridas de 3 pérnas:
1º prémio, João e Jorge Medina, 2º, Polidoro Fernandes e Constantino Migueis
Fadigas, 3º, Rui Gaspar de Lemos e José Gomes.
Durante as corridas, que decorreram sempre no meio da maior
animação, fez ouvir brilhantemente,
um reportório escolhido, uma
filarmónica... composta de três pontos...
E terminou na segunda-feira, já tarde,
as festas realisadas nesta risonha povoação, em honra de S. João.
Cumpre-nos
dirigir, mais uma vez, aos componentes da Comissão Organisadora dos festejos,
os nossos parabens pelo bom êxito que alcançaram”.
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