Até que aconteceu o imprevisto. Foi no ano de 1927. O bispo de
Coimbra entendeu proibir a junção das festas religiosas com as pagãs. Nada de
cavalhadas e nada de danças. Os festeiros, contudo, resolveram não acatar a
ordem. Já contei a história, pelo que me não vou repetir. Levaram a efeito
cavalhadas e danças. E, para cúmulo, até contrataram uma filarmónica que havia
sido excomungada! E foi a última vez que o S. João teve a sua festa na nossa terra.
Um costume de mais de cem anos passou à história... Mas não deixo de
transcrever a notícia destas últimas festas ao S. João de Tavarede.
“Tiveram grande luzimento os festejos populares
de S. João, que se realizaram nos dias 30 e 31 do mês findo, com os números
tradicionais. Não houve desta vez função religiosa, porque, tendo o sr. Bispo
de Coimbra imposto a supressão da tradicional cavalhada, que é, de há longos
anos, a característica das festas de S. João em Tavarede, os organizadores dos
festejos resolveram, e muito bem, fazer as cavalhadas e dispensar pura e
simplesmente a parte religiosa. Para compensar esta falta, veio a excelente
banda do Troviscal, que foi apreciadíssima, tanto no concêrto que realizou na
noite de sábado para domingo, com programa de responsabilidade que teve
primorosa execução e foi muito aplaudido, como no de domingo.
Das 2 horas até à madrugada de domingo houve danças
populares, que se repetiram no domingo à noite, e na segunda-feira realizou-se
a rosquilhada.
As cavalhadas foram muito concorridas,
e visitaram a Figueira, onde os esperava a banda do Troviscal, e Buarcos.
A Tavarede veio muita gente dessa cidade e dos lugares
vizinhos.
A banda do Troviscal foi aqui alvo de manifestações de
simpatia. Cumprimentou as duas associações locais, onde se trocaram saudações
calorosas e foi servido aos visitantes um copo-de-água. O regente da banda sr.
Oliveira, afirmou-nos que ia penhoradíssimo com as amabilidades que êle e os
executantes da sua banda foram alvo.
A igreja esteve fechada em todo o dia, e os católicos
ficaram privados da missa.
A-pesar-das prédicas do pároco da freguesia para que ninguém
se aproximasse da banda excomungada, não faltou uma enorme multidão a ouvi-la e
a aplaudi-la.
E tudo correu na melhor ordem”.
(a seguir)
Do Natal até aos Reis...
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