Foi
em Maio de 1944, com as peças O grande
industrial e A nossa casa, com a
receita a reverter em benefício da Casa dos Pobres de Tomar.
O grupo cénico da
SIT, em Tomar
O Grupo Musical realizava, com
frequência, animadas e concorridas festas dançantes, na sua sede, e o seu
‘Jazz’ privativo continuava com actuação em diversas localidades. Na Sociedade,
iniciou-se os ensaios de uma nova peça, Horizonte.
O seu autor, Manuel Frederico Pressler, veio assistir a uma representação,
tendo tido palavras de muito elogio para a colectividade tavaredense. A
propósito desta peça, a Direcção, no seu relatório anual, escreveu o seguinte
apontamento: Reconhecimento - ..... uma
especial referência ao exmo. sr. Manuel Frederico Pressler, cumprindo-nos o
grato dever de levar ao conhecimento de todos os consócios que, além de lhe
ficarmos a dever uma peça admirável como é o “Horizonte”, que mais veio
enriquecer o nosso repertório, devemos-lhe, também, a cedência, em proveito do
nosso fundo de obras, dos seus direitos de autor, que impôs como condição
teríamos de receber mesmo nos espectáculos dados por nós em prol de
instituições de assistência..... reconhecimento sincero que já uma vez tivemos
o prazer de lhe testemunhar, convidando-o para assistir a um jantar que lhe
dedicámos, na nossa sede, e a que nos deu a honra de assistir, tendo este
decorrido num ambiente de franca cordialidade, de maneira a deixar todos
satisfeitos”.
O
ilustre dramaturgo respondeu “... agradecer as palavras tão gentis exaradas no
vosso relatório e a grande honra que me fizeram nomeando-me Sócio Honorário
dessa prestimosa Colectividade. Mais uma vez quero afirmar o prazer que tive em
que “Horizonte” fosse representado pelo vosso Grupo Dramático que, em todas as
representações desta peça, actuou de maneira notável. Quanto à cedência dos
direitos, nada há a agradecer-me. Servindo a Sociedade de Instrução
Tavaredense, mesmo modestamente como fiz, prestei um serviço ao Teatro
português; e, se o Teatro é a vossa causa, é também a minha causa.
Setembro de 1945. O grupo da SIT tem
mais uma deslocação, desta vez a Sintra, para repreesentar, em Colares, duas
das peças do seu enorme reportório, Horizonte
e A nossa casa. Como temos feito
anteriormente, aqui vamos copiar uma das notícias relativas a esta visita,
embora esta seja um pouco mais longa. Foi publicada no Jornal de Sintra. É sempre missão ingrata fazer a crítica
desta ou daquela obra, desta ou daquela representação.
Ingrata,
não por se ir de encontro à justiça da crítica, mas porque ela não agrada,
muitas vezes, aos próprios artistas.
Quando
se trata, então, da crítica de artistas amadores – Deus dos céus! – a tarefa
não é só missão ingrata, como até perigosa… pois ela, se não agrada ao
presumido artista, revolta e faz delirar os papás, as mamãs, a noiva ou o
noivo, as titis, os primos, o companheiro de café e não sei mesmo se o angorá
nos olha também desconfiado… só podendo o crítico desejar-lhes que a
consciência os acalme. Outras vezes há – e agora é altura – em que o crítico se
sente embaraçado, não porque os vá ferir, com justiça, mas sim por não
encontrar palavras no seu vocabulário que sirvam para vincar bem quanto de boa
arte são possuidores, como por exemplo alguns Artistas de Tavarede.
No
passado sábado, dia 29, descemos ao vale de Colares e no risonho teatrinho da
Banda de Colares assistimos à representação da peça “Horizonte”, do dramaturgo
Pressler.
Assistimos,
sim, à Representação, com R muito grande, de uma boa peça, em que o valor dos
artistas a honra e não a desmerece.
Violinda
Medina, a Rita, é grande, é muito grande, mesmo, em qualquer palco do País.
A sua
arte de dizer e de representar chega, por vezes, a deixar-nos perplexos e na
hesitação de se tratar de uma artista amadora ou de uma Ângela, de uma Rosa
Damasceno, de uma Lucinda, de uma Adelina ou de uma Maria Matos.
A sua
genial vocação está muito além, para que a possamos admirar e apreciar apenas
como uma boa amadora.
Violinda
Medina é uma artista que vive, sente, sofre, chora e ri, conforme os papéis que
interpreta.
Pode,
afoitamente, afirmar-se que é uma grande artista na arte de representar.
O
outro personagem a quem nos queremos referir é João Cascão, o Manuel Firmino,
cem por cento artista de grande mérito. No 2º. acto da peça teve, com a Rita,
uma “tirada” que atingiu as culminâncias da Arte de representar, como ainda só
nos foi dado ver aos maiores actores portugueses.
O
extraordinário vigor e sábia interpretação, fá-lo considerar um explêndido
artista do teatro nacional.
Nos
outros personagens, Maria Tereza de Oliveira, Maria Aurélia Ribeiro, Fernando
Severino dos Reis, António Jorge da Silva, todos, numa palavra, estiveram à
altura dos papéis que representaram.
Na
encenação, estava tudo no seu lugar. Nada faltou, nem mesmo os pequeninos
pormenores, aliás desculpáveis, mas que valem muito quando não são esquecidos.
Para o
ensaiador – e os últimos são, como agora, os primeiros – vão todos os elogios
que merecidamente se lhe podem dar, sem sombra de favor, pois se não fosse o
que já dele conhecemos, José Ribeiro, neste espectáculo, identificava-se.
José Ribeiro é a alma, a vida, é o génio de todo o
Grupo Dramático de Tavarede. A ele se deve, como nos foi dado constatar, esta
feliz noite na arte de Molière.
Ainda pelo
explêndido grupo de Tavarede, assistimos à representação da filosófica e boa
peça de George Mitchel – A Nossa Casa, - cujo autor só a dedicaria a grandes
actores e por isso não poderia melhor ter sido entregue, do que à interpretação
feita por João da Silva Cascão, o Bonardon, e Violinda Medina, a Mariana,
discípulos brilhantes de José Ribeiro.
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