Uma
nota curiosa surgiu-nos publicada num jornal figueirense em Outubro de 1942 e
que diz: O êxito continua... “O Sonho do
Cavador” – a peça das lotações esgotadas e que há quinze dias festejou
brilhantemente as suas bodas de ouro, volta à cena no próximo domingo, 25, em
52ª. representação e última desta época, no teatro da Associação Naval, dessa cidade.
O teatro da popular colectividade vai registar, disso estamos certos, outra
grande enchente. Esta festejadíssima fantasia também será representada no
próximo sábado, no teatrinho da SIT, em récita dedicada aos seus associados.
A Sociedade havia feito nova reposição
de O sonho do cavador. Não podemos
confirmar, no entanto, o número de espectáculos indicado. Pela listagem de
todas as representações dadas pelo grupo de Tavarede, cuidadosamente feita com
recurso aos livros e outros documentos da colectividade, programas e imprensa,
esta seria a 42ª representação da peça. Admitimos, contudo, a possibilidade de
haver falha, mas nunca além de mais dois ou três espectáculos.
Ainda com esta peça, e atendendo a uma
solicitação da Junta de Freguesia local, foi dada, na sede, uma representação
para angariar fundos, para um bodo
configno a distribuir pelos seus pobres no próximo Natal. O resultado
verificado foi de 1.334$10.
Um outro espectáculo, que teve lugar no
Casino da Figueira, em Novembro daquele ano e a favor do Natal do
Expedicionário, mereceu esta interessante nota. Pela segunda vez assisti a uma representação do Grupo de Tavarede:
“Entre Giestas”, de Carlos Selvagem, peça bem portuguesa, característica.
Como equilibrio é do melhor que
conheço.
Convencionado que a amadores não se
pode pedir a “presença” que se exigira a profissionais, são desculpáveis – e
justificáveis – certas deficiências, cuja supressão contribuiria para
valorizar, ainda mais, o simpático agrupamento.
Admirador fervoroso do trabalho, da
persistência e da dedicação – é um manancial inesgotável de dedicação o
“quadro” de Tavarede – citarei, ao acaso, o que se me afigura merecer
acolhimento atencioso...
Não se “põem” em cena, com facilidade,
dezenas de figuras. Quantas horas perdidas, paciência atormentada, sistema
nervoso alterado!...
Porém, porque nem sempre há a franqueza
para se apontar com lealdade – e vá, permita-se-nos... – com conhecimento de
causa, alguns pormenores que contribuem para anular o brilho da representação,
tem-se persistido em manter o que se deveria eliminar.
Comecemos pelo princípio.
É de louvar, e daqui aplaudimos a
iniciativa, digamo-lo assim, de iniciar o espectáculo a hora prefixa, com o
aviso prévio de a autoridade poder impedir o acesso de espectadores.
De acôrdo e mais aplausos, com os
desejos, sinceros, de que a medida faça escola.
Mas é de admitir aquela enormidade de
intervalos? A categoria do grupo carecia já de carpinteiros aperfeiçoados,
embora amadores, que demonstrassem, praticamente, a maior presteza.
Por
outro lado – estou a escrever de um modo geral – os intérpretes dão a nítida
impressão, o que se deveria evitar, do pêso das responsabilidades que lhes
assenta sôbre os ombros; “o grupo é de categoria, é imprescindivel continuar
prestigiante”, e febrilmente aguarda-se a “deixa” para se despachar,
velozmente, o diálogo.
Engeita-se a responsabilidade para se
salvar a honra, pessoal, do convento... E nasce assim o mastigar de frases, a
repetição de palavras, que nunca foi de bom efeito teatral.
Falemos agora, duas linhas, apenas, de
Violinda Medina, que possui, reconheço, admirável intuição. “Sente e sofre” em
cena. É admirável, por vezes, em algumas arrancadas. Já a vi “estarola” e em
“mulher de sentimentos”. Vibra, chora e ri com facilidade. Um pequeno-grande
senão: utilisa sempre a mesma tonalidade de voz, perdendo, assim, lindos
efeitos dramáticos.
Um pequeno esfôrço, treino,
facultar-lhe-á, em pouco tempo, dispôr de excelentes recursos que permitirá
afirmar-se, sem favor, que Violinda Medina é uma amadora que não haveria
desdouro se pisasse os melhores palcos nacionais.
Entre Giestas
Dos homens, o mastigar. Há
“características” interessantes, aos quais se solicita, sòmente, serenidade. A
tal presença de espírito... Das mulheres, há muitas que agradam.
É a minha admiração pelo simpático
agrupamento que motivou estas considerações. Não é de estranhar que se encontre o espírito de dizer mal. De boas intenções está o inferno cheio... Informaram-nos que o grupo já apresentou na mesma peça, melhor actuação. Talvez... Há horas felizes...
Entre Giestas
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