A
primeira notícia encontrada referente às festas ao São João de Tavarede foi no
periódico O Figueirense, na edição de 10 de Julho de 1864. “Terminaram no domingo finalmente os festejos aqui pelas
proximidades da villa ao milagroso S. João. É a antiga villa de Tavarede quem todos os annos, permitta-se-nos a expressão,
cobre a rectaguarda neste famoso e nunca alterado systema de festejar o
santo com mascarada, cavalhada, corridas de prémios, etc.
Como succede todos os annos, pela volta do
meio dia appareceu a bandeira seguida de numerosos cavalleiros, uns mais bem, outros mais mal montados, mas todos fazendo-se
conduzir por um quadrupede de
qualquer especie, que é o que se pretende e
contra o que não há disputa.
Deram as competentes voltas em torno da egreja, desceram depois à praça do Commercio e em seguida à praça Nova, d’onde dadas também as competentes
voltas, se encaminhou a cavalgada para o porto da saida, que
subsequentemente se ia tornar o theatro de maior gloria.
Depois das 2 começou então
a Figueira a despovoar-se, encaminhando-se
toda a gente para o local da festa, aonde se
reuniram pelo meio da tarde extraordinário numero de pessoas de todas as
classes. É que nestas occasíões não há fidalgos nem plebeus: a mascara e os mascaras confundem tudo.
Alli o que principalmente se viam eram
numerosos ranchos de rapazes e raparigas da Figueira, Buarcos, e da própria
localidade, que todos, ou dentro das casas ou na rua, tocavam, cantavam, berravam
e dançavam á porfia, como quem queria para si maior gloria. De resto
também se encontrava um bom numero de mirones, que não faltam nunca nestas
occasiões, uns para se divertirem, vendo; outros, para darem fé do que se
passa.
Quando o sol já era menos e permitia ás
cabeças naturalmente esquentadas o exporem-se aos seus vivificantes raios,
começou então um simulacro de corridas de prémios, que se não era cousa para
admirar como bom, era contudo excellente cousa para fazer rir e fez rir
muito.
Acabada a corrida veio-se aproximando o frio da noite, que não deixara de chegar muito a propósito,
começando o povo a retirar; e nós, que
também éramos povo, viemos vindo com a multidão, protestando desde logo
escrever uma larga notícia sobre o S. João de
Tavarede, em virtude d'um cavaco que nos deu um nosso amigo, por fallarmos no
numero passado do Figueirense tão resumidamente do
S. João que ha de vir”.
Esta nota refere dados
interessantes. É certo que não tem qualquer alusão a actos religiosos, no
entanto, pelo menos era celebrada missa sanjoanina. Também se depreende da
notícia, e o segundo período da mesma é elucidativa, estas festas já se
realizariam haveria anos. Mas, desde quando?
Pois a verdade é que não
conseguimos encontrar quaisquer indicações do início de tais festejos, bem como
o motivo da nossa terra, e outras do concelho, festejarem tão exuberantemente
tais festejos.
Na Figueira, como se
sabe, ainda actualmente se realizam festas em honra do Santo, aliás, um dos
três patronos venerados na cidade: o S. Julião, padroeiro da terra, o Santo
António, e recordemos a figura de António Fernandes de Quadros, o fundador da
Casa de Tavarede, e a quem se deve a construção do convento, e o S. João, com o
tradicional ‘banho santo’, sempre atraíndo muito gente, velhos e novos, para se
banharem nas águas frias da nossa praia.
A Figueira sempre
festejou no dia próprio, a 24 de Junho. Na primeira semana de Julho cabia a
Buarcos realizar os festejos, que, na semana seguinte, acabavam em Tavarede.
Tinham muita fama as
festas ao S. João de Tavarede. Certamente que a sua realização não seria
anterior à mudança da câmara da nossa terra para a Figueira, o que aconteceu no
ano de 1771. Até então, ‘reinando’ despoticamente em Tavarede o morgado Fernando
Gomes de Quadros, que tão triste memória deixou, não é crível que o povo
tivesse qualquer vontade ou, até, autorização para tais festejos.
Também é verdade que não
interessa grandemente saber a data rigorosa do surgimento destas celebrações.
Admitimos, sem qualquer segurança, que tenham começado nos inícios do século
dezanove, talvez na segunda ou terceira décadas.
Se as danças atraíam
especialmente a gente nova, já os menos jovens teriam o ponto alto das festas
nos costumados jogos tradicionais, especialmente a rosquilhada, que
proporcionava momentos de boa disposição. Eram as cavalhadas, porém, que
constituiam o pico dos festejos. Naqueles tempos, sendo a agricultura a
principal actividade das gentes locais, a terra seria fértil em animais,
indispensáveis ao cortejo. Burros e cavalos, além de montadas para muitos
participantes, eram necessários para atrelar às carroças e trens, vistosamente
ornamentados a preceito.
As
cavalhadas na Figueira, no largo da Câmara
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