Não se
representa melhor do que eles representaram, principalmente João Cascão, que do
primeiro ao último acto, tem um trabalho de maior relevo e de pura
sensibilidade artística, pois ele não resiste em chorar – mas em a chorar a
sério – o que sente e faz transmitir a todos os espectadores.
O
mesmo acontece a Violinda Medina, que com um papel de grande intensidade
dramática, diz-nos muito, quási sem falar. O seu jogo fisionómico e cénico é
belo e tem arte.
Não
podemos deixar de destacar também Maria Tereza de Oliveira, a Mamette, que
muito bem representou o seu papel assim como António Jorge da Silva, o
Parjolier, Otília Medina, etc.
Os
restantes personagens, todos no seu lugar e à altura dos seus papéis.
Os
cenários, de Rogério Reynaud, são bonitos e de elevado cunho artístico.
A
encenação e ensaios de José Ribeiro confirmam em absoluto o conceito por nós
formado na peça “Horizonte”.
* * *
Devido
à iniciativa de António Medina Júnior, nosso muito querido director e
desinteressado propagandista da nossa terra, que já muito lhe deve, veio há
dias a Sintra o brilhante grupo dramático de Tavarede merecidamente considerado
o melhor elenco artístico de amadores do País.
Foi
uma iniciativa feliz e arriscada, mas que muito contribuiu para a propaganda
turística do concelho, pois foi esse – estamos certos – a principal
objectividade de Medina Júnior, embora tenha sido nado e criado em Tavarede,
risonha aldeia do concelho da Figueira da Foz, onde existe como um dom do povo,
excepcional predilecção pela cultura das letras, do teatro e da música.
Sim,
de facto foi uma iniciativa feliz e de grande alcance turístico e artístico, o
que não pode passar sem que “Jornal de Sintra” o registe.
O
grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense actuou no elegante e
confortável teatro da Banda de Colares, perante uma das mais selectas
assistências, deixando os artistas as melhores impressões sobre o seu
insofismável valor.
Antes
de se iniciar o espectáculo do dia 29, o nosso director subiu ao palco e fez um
improviso feliz e cheio de verdades de apresentação dos seus conterrâneos, pelo
que o público lhe tributou uma calorosa salva de palmas, que bem sintetizavam o
apreço com que eram tidas as suas palavras e a sua iniciativa.
Em
nome do grupo de Tavarede falou o sr. José Ribeiro, seu ilustre director, a
quem já nos ligam laços de amizade e princípios ideológicos, que começou por
agradecer o carinho com que todo o grupo fora recebido pelos habitantes da mais
linda terra de Portugal.
Historiou,
depois, duma maneira profunda, segura e eloquente, a vida do teatro, desde o
passado ao presente, pondo em significante relevo a sua influência na
preparação moral e intelectual dos povos.
José
Ribeiro, cujo discurso improvisado redundou numa autêntica e brilhante
conferência, em que revelou a sua superior cultura e requintados dotes de
oratória, foi no final delirante e prolongadamente ovacionado pela assistência.
Terminado
o primeiro espectáculo, a direcção da Banda de Colares, por intermédio de
Carlos da Luz, ofereceu uma interessante e valiosa placa artística, que marcará
a passagem do grupo dramático de Tavarede por Colares e Sintra.
Essa
linda oferta, em pau santo contendo o brazão da vila de Colares e uma grande
folha de parra em prata, com sincera dedicatória, consubstanciava a simpatia, a
amisade e a gratidão, para sempre, da Banda de Colares pela Sociedade de Instrução
Tavaredense.
No
segundo espectáculo, que registou uma concorrência sem precedentes em
quantidade e qualidade, Eduardo Fructuoso Gaio, sintrense por nascimento e
sentimento, no final de A Nossa Casa foi ao palco e em seu nome e de todo o
povo de Colares, agradeceu ao grupo de Tavarede a grande demonstração de pura
arte de representar que a todos foi dado ver e apreciar, garantindo que estava
na presença, não de amadores, mas sim de artistas da mais elevada categoria.
Pelo
povo da região de Colares, Eduardo Gaio abraçou efusivamente José Ribeiro.
Falaram,
ainda, os srs. Carlos da Luz e Miguel de Castro Reis, que, com Joaquim Borges,
representavam a direcção da Banda de Colares.
Por
último, falou José Ribeiro, que em seu nome e no de todo o elenco tavaredense,
agradeceu as boas palavras com que os distinguiram.
O
Grupo Jazz “A Rosa”, de Colares, abrilhantou o espectáculo, findo o qual se
realizou um animado baile de confraternização.
Igualmente temos de referir que, em
diversas ocasiões, o director cénico, Mestre José Ribeiro, fez algumas
conferências, nas quais, como que conversando, contava as origens e a evolução
do teatro. Para inauguração da época
1945-1946, realizou-se no pretérito sábado, 27 de Outubro, a segunda palestra
sobre Origens e Evolução do Teatro.
Os
amadores de Tavarede sentem-se orgulhosos por terem um ensaiador que conhece
profundamente de teatro. Técnico distinto, ensaia duma forma admirável;
conhecendo os segredos da Arte, ele consegue que os seus colaboradores façam
milagres.
Para
conseguir o seu fim educativo não se limita só aos ensaios, quere que os
amadores tenham um mínimo de cultura. E então resolveu ensinar, através das
suas palestras, um pouco do muito que ele conhece sobre a arte de Talma.
A
segunda sessão não foi inferior à primeira. Apesar de não ter sido acompanhada
de projecções – por não se conseguir lanterna para projectar gravuras – ela não
deixou de ser brilhante. José Ribeiro consegue dar-nos através do seu grande
poder descritivo imagens cheias de vida.
Formidável
diseur, leu-nos o célebre Monólogo do Vaqueiro, uma passagem de A Castro e os
finais do 2º. e 3º. actos de Frei Luiz de Sousa, que impressionaram a
assistência pela maneira como foram ditos.
Damos
a seguir o sumário da palestra: Teatro Português – Do “Monólogo do Vaqueiro”
aos nossos dias – Autos, farsas e tragicomédias de Gil Vicente – A Censura na
obra vicentina – A tragédia clássica em Portugal – Os anátemas da Igreja – A
tragicomédia dos Jesuítas – O Judeu – Almeida Garrett e o renascimento do
Teatro – Os dramaturgos do século findo – Os contemporâneos – Teatro de hoje.
Que a
sua modéstia nos perdoe estas ligeiras e despretenciosas considerações.
Falta
a terceira e última palestra da série. Oportunamente se dirá alguma coisa.
A Sociedade, embora com muito menos
frequência que o Grupo, também realizava festas dançantes, como, por exemplo,
uma a que deu o nome de ‘Trajos Portugueses’.
Duas noites de enchente e de constante alegria, as de sábado e domingo passado,
na Sociedade de Instrução Tavaredense que, com dois bailes de “Trajos
Portugueses” iniciou as festas que oferece aos seus sócios e famílias, para
inauguração da época de 1946-47.
Toda a
casa estava decorada com motivos portugueses, dando aspecto de arraial festivo.
Duas
orquestras animaram as festas das duas noites da SIT – “Os Tivolis” e “Os
Pardais”, e a numerosa assistência, muitos rapazes e muitas raparigas novas,
sangue novo, a escaldar, também animaram os componentes das duas orquestras,
para que tocassem até lhes faltar o fôlego. Assim aconteceu! Dançou-se
alegremente até altas horas, nas duas noites de Tavarede!
A
garridice dos “Trajos Portugueses”, o que dava título à festa, apresentou-se
bem, em quantidade e em qualidade, quer por parte dos rapazes como por parte
das raparigas. Vistosos trajos vestiam as mais lindas cachopas da alegre terra
do limonete e das cercanias. O juri viu-se em palpos de aranha, quando quis
classificar os “três trajos mais expressivos que se apresentaram na festa”,
pois o salão regorgitava de pares dansantes, vestindo trajos ou de fantasia ou
característicos de regiões portuguesas. Finalmente, visto que os prémios eram
apenas três, foram classificadas as seguintes: 1º. “Saloia”, Celeste Dias; 2º.
“Padeirinha de Bolos”, Albertina de Almeida; 3º. “Tricana de Coimbra”, Maria da
Piedade Lontro.
O
Concurso de quadras, em que era obrigatória a referência a trajos portugueses,
também constituiu um triunfo. A lírica, em Tavarede tem muitos cultores, tanto
no elemento feminino como no outro! Eram muitas as quadras que, sócios da SIT
ou pessoas de família, apresentaram ao Concurso. Pois adivinhavam-se muitos
versos de autor feminino. Foram lidas muitas das quadras mas só poderiam ser
três as premiadas! Alcançaram os louros da vitória 1º. “António da Figueira”,
pseudónimo de António Martins de Sousa Gomes; 2º. “ Maria do Limonete”,
Albertina Ferreira de Almeida; 3º. “Olhos Gaiatos”, Maria Luísa Medina e Silva.
“Carroussel”
musical e outras surpresas, todas bastante agradáveis, entretiveram a gente
mais nova e a menos nova, nas duas noites de festa.
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