‘Em busca da Lúcia-Lima’ – 2º. acto
O primeiro
espectáculo musicado, apresentado pelo grupo cénico da Sociedade de Instrução
Tavaredense, teve lugar no dia 5 de Fevereiro de 1905. Intitulava-se “O
casamento da Grã-Duquesa” e fazia parte do programa comemorativo do primeiro
aniversário da fundação.
Recorde-se,
no entanto, que os espectáculos musicados já eram representados, em Tavarede,
antes da Sociedade de Instrução Tavaredense e, até, antes de, nesta mesma casa,
ter sido fundado o Grupo de Instrução Tavaredense, antecessor da nossa
colectividade. Citamos, por exemplo, “O Rei Ló-Ló”, uma opereta aqui
representada e que havia sido ensaiada por João José da Costa, fundador da
anterior sala de espectáculos nesta casa que era sua propriedade.
Mas,
para nós, só iremos recordar peças levadas à cena pela SIT, referindo, desde
já, que estes serões evocativos serão especialmente para lembrar aquelas
operetas ou fantasias que, escritas e musicadas propositadamente, se destinaram
ao povo da nossa terra, dando especial relevo àquelas que falavam de Tavarede,
da sua história, dos seus usos e costumes, bem como alguns tipos e figuras
características.
Como
dissemos, a primeira peça musicada foi “O casamento da Grã-Duquesa”. Julgamos
que seria um original de António Pereira Correia, o mesmo autor da farsa “O
casamento da Vasca”, também aqui representada anos mais tarde.
A música, que um apontamento crítico refere como “lindíssima
e muito adequada”, havia sido composta pelo tavaredense João Nunes da Silva
Prôa. Este nosso conterrâneo, que já havia assumido a direcção musical da
anterior associação, foi o primeiro regente da orquestra da SIT, sendo,
igualmente, professor de música na aula aqui criada, paralelamente à escola
nocturna. Nesta nossa viagem ao passado é de justiça recordá-lo
E como
não conseguimos encontrar a partitura daquela opereta, prestamos singela
homenagem à memória de João Prôa, escutando um pouco da sua música. Iniciámos
esta conversa ouvindo, em fundo, uma melodia que, estamos certos, ainda é
conhecida por alguns dos presentes, embora desconheçam o seu autor. Chama-se
“Cantigas ao Vento”. Aquele nosso conterrâneo escreveu esta música para o
Rancho das Rosas, da Figueira. Fez parte do seu reportório até ao final da sua
existência, bem como outras da sua autoria. Recordemos, somente e por breves momentos,
uma outra, também muito conhecida: “Rosas de Carne”. (Toca-se
um pouco da gravação desta cantiga, após o que continuará a servir de fundo
musical durante um pouco mais)
Esta
última canção tem uma outra particularidade interessante para nós, tavaredenses.
O poema é da autoria de João Gaspar de Lemos Amorim, um figueirense que se
radicou na nossa aldeia, após o seu regresso de África, e que viveu, até à sua
morte, na Quinta da Mentana, ali junto à Igreja, hoje urbanização do Vale do
Pereiro, aonde havia mandado construir a vivenda que todos nós conhecemos. Como
adiante veremos, Gaspar de Lemos teve um importante papel na actividade do
nosso grupo cénico, como autor e como poeta de fina sensibilidade.
João Gaspar de Lemos Amorim
Quando,
anos depois, João Prôa abandonou a direcção musical da Sociedade de Instrução
Tavaredense, tomou o seu lugar um outro conterrâneo nosso, Gentil da Silva
Ribeiro, pai daquele que foi a maior figura da nossa colectividade, José da
Silva Ribeiro. Também Gentil Ribeiro foi um músico de elevada craveira e
bastante inspiração. (durante a narração, vão-se
apontando algumas das fotografias expostas no salão)
Nos anos de
1912 e 1913, foram levadas à cena, pelo nosso grupo dramático, as primeiras
revistas escritas e musicadas propositadamente para a nossa colectividade.
Foram elas “Na Terra do Limonete” e “Dona Várzea”. Eram pequenas peças, de
assunto simples e acessível ao nosso povo, nas quais o seu autor, João dos
Santos, procurou demonstrar as vantagens da instrução e educação que se
adquiriam na escola e na colectividade, em detrimento dos perigos terríveis que
os trabalhadores enfrentavam nas tabernas, onde abundavam os nefastos
malifícios do alcool e do jogo.
De
Gentil Ribeiro, e igualmente honrando a sua memória, recordaremos, unicamente,
que é da sua autoria o nosso hino. Será, pois, para sempre recordado ao serem
escutadas as notas do bonito hino que compôs. (ouvir um pouco da gravação do
hino)
Várias
foram as operetas que, ano após ano, aqui se apresentaram e aqui alcançaram
êxitos retumbantes. O povo gostava. Estes espectáculos tinham animação e
alegria; tinham colorido, mostravam costumes e tipos das nossas aldeias, e
tinham muita música que, facilmente, ficava no ouvido. Podemos citar, como
exemplo, “Os Amores de Mariana”, “Entre duas Avé-Marias”, “Noite de S. João”,
etc.
Mas as
nossas evocações, como referimos, serão aquelas que nos falam da nossa terra.
Avancemos, pois, na história.
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