Estes ‘Serões’ foram escritos por ocasião das comemorações do centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense. Tinham uma finalidade: recordar o percurso do teatro nusicado feito na nossa terra pelo grupo dramático desta colectividade.
Na
verdade, quem se recordava daquelas operetas representadas há tantos anos e
que, segundo comentários e críticas publicados em jornais figueirenses, e não
só, eram espectáculos verdadeiramente maravilhosos, que encantavam o povo que,
após o seu laborioso trabalho, procurava assistir a estas representações de que
tanto gostavam?
O
teatro musicado tinha uma tradição na nossa terra. Tanto assim que, além das
mais diversas operetas escritas, musicadas e representadas em imensos palcos
por esse país fora, muitas houve que foram escritas e musicadas
propositadamente para o nosso grupo cénico, a maior parte delas, senão mesmo
todas, com a acção a decorrer na terra do limonete, e com as quais davam a
conhecer aos seus conterrâneos, os usos e os costumes, as tradições de
Tavarede.
Mais
tarde, tivémos a imensa fortuna de aprender a história da nossa terra, primorosamente
contada nas operetas-fantasias escritas pelo saudoso tavaredense e mestre de
teatro José da Silva Ribeiro, com lindíssimas músicas dos nossos inspirados
compositores musicais, que se chamaram António Maria de Oliveira Simões e
Anselmo Cardoso Júnior.
Naturalmemte
que procurámos ir um pouco mais longe, recordando outros autores e compositores
tavaredenses, como João dos Santos, nos textos, e João Nunes da Silva Proa e
Gentil da Silva Ribeiro, nas músicas.
Mas os nossos arquivos, especialmente os musicais, não nos guardaram tudo
quanto queríamos e, desta forma, ficaram limitadas um pouco as nossas
possibilidades de recordar tudo quanto pretendíamos.
Conheciamos
algumas cantigas mais antigas que haviam sido recordadas nas peças de Mestre
José Ribeiro. Eram poucas. Recordou-nos que, na década de 1940-1950, se cantava
constantemente em Tavarede. Era no rio, enquanto lavavam as roupas. Era nas
terras, erguendo as enxadas e tratando das sementeiras e colheitas, cantando ao
mesmo tempo, como se assim o trabalho se tornasse menos duro. Era nas casas e
quintais enquanto tratavam da vida caseira, cozinhando ou limpando a casa e,
nalguns casos, que bem nos lembram, enquanto costuravam com as velhas máquinas,
acionadas pelo pedal.
Era a
nossa pretensa colaboração nas festas do centenário de tão prestimosa
colectividade. E pensámos fazer em quatro serões, os quais teriam a seguinte
ordem:
1º. – de 1925 a 1927 – ‘LIMONETE OU LÚCIA LIMA?’ – O
teatro de João José (João Gaspar de Lemos Amorim e José da Silva
Ribeiro).
2º. – de 1928 a 1929 – ‘O CAVADOR, A CIGARRA E A
FORMIGA’ – O teatro de Ele e Eu (José da Silva Ribeiro e Alberto Correia de
Lacerda).
3º. – de 1931 a 1935 – ‘DO POVO E PARA O POVO’ – o
teatro de Júlio Diniz.
4º. – de 1950 a 1983 – ‘UMA CHÁVENA DE CHÁ… DE
LIMONETE’ – O teatro de Mestre José Ribeiro.
Tínhamos
previsto a realização destes serões no salão nobre da colectividade. A nossa
convicção era de que a principal utilidade dos mesmos era voltar a reunir todos
os antigos amadores ainda vivos e convivermos com eles, procurando recordar não
só as antigas operetas mas, especialmente, as muitas cantigas que as recheavam
e que a crítica tanto elogiara.
Na
verdade, todos conhecemos e lembramos as peças aqui representadas e escritas
por Mestre José Ribeiro, como, por exemplo, ‘O Sonho do Cavador’. Mas o que
seria desconhecido da maioria, era que a versão agora apresentada, embora
respeitando o tema de fundo da mesma, havia sofrido grandes alterações feitas à
versão original. Por outro lado, alguém se recordaria daquelas outras operetas,
de que ainda às vezes se falava, como ‘Em busca da Lúcia-Lima’, o ‘Grão-Ducado
de Tavarede’, ou, até, ‘A Cigarra e a Formiga’?
Pareceu-nos
que seria uma óptima oportunidade para recordar aquele teatro tão antigo. Foram
peças que alcançaram enormes êxitos, com críticas tão favoráveis e, com toda a
certeza, pelo menos os actuais amadores gostariam de as conhecer. Metemos mão à
obra e o resultado foram os quatro serões acima referidos.
Claro
que tudo isto só foi possível graças à disponibilidade do nosso amigo e
conterrâneo, o maestro João da Silva Cascão, que prontamente aceitou o desafio
que lhe fizemos. E começou, de imediato, a gravação das músicas que havíamos
escolhido para o primeiro serão.
A
nossa intenção, e foi isso que se fez quanto ao primeiro serão, era juntar as
pessoas, as intervenções serem feitas lendo o escrito, e cantando as cantigas,
com as gravações passadas numa aparelhagem sonora. Também é de referir que os
serões foram projectados para serem pouco maçadores. Cerca de hora e meia, contando
um pequeno intervalo. Certamente todos ficariamos a ganhar alguma coisa. Saber
o que os nossos antepassados aqui representaram, nas velhinhas tábuas do
‘velhinho’ palco já desaparecido, ao mesmo tempo que seria uma bela
oportunidade de prestarmos a nossa homenagem à memória de todos aqueles que,
tão dedicadamente, serviram a Sociedade de Instrução Tavaredense e o teatro da
nossa terra natal.
Mas,
como se recordarão, o programa das comemorações do centenário, apesar de
decorrer ao longo de um ano, foi muito sobrecarregado e os serões foram sendo
adiados. Somente no dia de S. Martinho, o padroeiro da nossa terra, foi
resolvido fazer um ‘magusto’ oferecido aos sócios, aproveitando para dar início
às nossas intenções.
Mudámos
o local. Foi no nosso pavilhão desportivo. E, como se verificará por algumas
fotos, tudo correu bem e todos gostaram. Mas, e ainda bem, foi espectáculo
único. As canções, muitas delas desconhecidas de todos, eram tão bonitas que
nos levou a mudar o nosso objectivo inicial. Porque não criar um grupo coral
para recordar estas e outras cantigas do nosso teatro?
A
ideia agradou, houve alguns incentivos e poucos apoios, mas a intenção vingou e
foi para frente. Não apresentámos mais nenhum dos programados serões, mas, a anteceder
a sessão solene comemorativa do aniversário de 2006, o grupo coral fez a sua
primeira apresentação ao público, tendo, a partir de então, continuado uma
actividade muito importante, sob a direcção do maestro João Cascão.
Restará
dizer, no entanto, que a nossa intenção quanto aos serões, foi positiva. Aqcabou
por gerar um agrupamento coral que é orgulho de Tavarede. E para não se perder
o trabalho realizado, resolvemos fazer este caderno. Alguém que o leia, mais
tarde, ficará a conhecer algo sobre o teatro musicado apresentado na terra do
limonete.
Aspecto do sertão ‘Limonete ou Lúcia-Lima?’
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