De igual modo era a ocasião das mascaradas, que algumas vezes chegaram
a ter intervenção das autoridades citadinas. As cavalhadas, com o seu sempre
enorme acompanhamento, ia primeiro dar as habituais volta à Igreja, com a
filarmónica contratada a tocar animadamente, enquanto os sinos repenicavam na
torre, descia depois até à praça da Reboleira, actualmente 8 de Maio, seguindo
até Buarcos, regressando a Tavarede após um descanso para recuperar forças. Era
longo o percurso.
Depois só encontramos uma
pequena nota, no ano de 1876, referindo que “houve numerosa concorrência,
principalmente de pessoas desta vila”. Mas, no ano seguinte, as festas já
tiveram maior brilho. “Tavarede offerecia então um espectaculo curioso. Pela comprida rua
da terra, illuminada por vistosos balões venezianos suspensos de arcadas
vestidas de buxo, acotovelava-se a multidão; nos largos a gente dos campos, a
boa gente alegre e de consciencia tranquilla, entregava-se ao prazer da dança,
atroando os ares com as canções poeticas do santo popular.
No adro da egreja queimou-se o fogo de
artificio. Era de bonito effeito e bastante variado. A philarmonica figueirense
executou bastantes peças do seu reportorio. Da Figueira foi a Tavarede
n’aquella noite quasi toda a gente.
No dia seguinte a bandeira veiu em
peregrinação á Figueira e a Buarcos. Era digna de ver-se aquella pittoresca
caravana, que apresentava os mais extravagantes contrastes. Vinha alli de tudo.
A sobrecasaca urbana e o chapeu fino dos padrinhos, os trajos domingueiros das
frescas moçoilas de Tavarede, os vestidos de phantasia dos mascarados, e a
sordidez plebêa dos aldeãos. E na frente de tudo aquillo a gaita de folles e o
classico zabumbas.
De tarde a Figueira despovoou-se, e
encheu de novo a grande rua de Tavarede com
o seu hig-life e com o seu exercito de raparigas novas e alegres.
Passou-se por lá uma tarde magnifica. Nem o sol nem a poeira prejudicaram a
festa. O primeiro escondeu-se entre as nuvens; á segunda veiu cortar-lhe os
voos incommodos uma chuva fresca e pouco massadora”.
Recordemos, um pouco, as cavalhadas,
também chamado cortejo da bandeira. Esta era um enorme pendão que seguia na
frente, transportada por um cavaleiro, o qual tinha dois cordões que eram
segurados por cavaleiros, um da cada lado.
A
bandeira grande
Havia, normalmente, duas bandeiras: a
grande, que abria o cortejo, e a pequena, que seguia mais ou menos ao meio. As
bandeiras de Tavarede, segundo se lê numa acta da Junta da Paróquia, tinham
sido oferecidas por Tomás José Duarte, o edificador do palacete dos Condados e
pai de Emília Duarte, que casou com João José da Costa, grande benemérito da
nossa terra.
As duas bandeiras, e ainda segundo a mesma
acta paroquial, deveriam ficar à guarda da Junta, mas, todavia, ficavam
confiadas à Igreja, onde os festeiros as iam buscar para integração no cortejo.
Mas, num ano... em 1889, sendo então pároco em Tavarede
o reverendo Nobreza, natural de Quiaios, que resolveu recusar as bandeiras em
depósito. Houve muitos protestos, mas o pior é que as cavalhadas não se podiam
realizar sem as bandeiras, que estavam devidamente benzidas. Os festeiros,
imaginativos, resolveram o assunto de uma forma bastante curiosa: arranjaram
outras bandeiras e como elas tinham de ser benzidas, levaram-nas escondidas à
missa dominical. Chegado o momento da benção sacerdotal, levantaram as
bandeiras que, desta forma ardilosa, foram benzidas, podendo ser utilizadas no
cortejo.
Ensaio para o cortejo (Ontem, hoje e amanhã - SIT 1979
Havia sempre uma filarmónica contratada para
abrilhantar as festas. Depois de acompanhar, em parte do percurso, o cortejo
das bandeiras, realizava um concerto, com as músicas mais populares, no Largo
da Igreja, onde se apinhava o povo, aproveitando muitos pares para uns momentos
de dança. Mais tarde, as danças passaram a ter lugar nos Largos do Forno e do
Paço, onde eram armados vistosos pavilhões.
Algumas vezes houve problemas, como, por
exemplo, no ano de 1891, em que o cortejo, ao passar em Buarcos, um dos burros
atirou ao chão uma velhota que assistia ao desfile e que ficou gravemente
ferida ao bater com a cabeça no chão. Outras vezes eram as desordens, pois as
merendas eram “regadas copiosamente com goladas co licor divino”...
E, ano após ano, as
festas sanjoaninas continuaram a realizar-se na nossa terra. A Figueira
despovoava-se nestes dias, aproveitando os passeantes para um descanso e uma
merenda saborosa, nos pinhais vizinhos da aldeia. Ainda mais uma notícia
recolhida, esta do ano de 1892. “Na noite de sabbado, a rua principal da terra (quasi
que diriamos unica) achava-se lindamente illuminada a balões venezianos, desde
o Paço até á egreja, o que produzia magnifico effeito, realçado pela belleza e
serenidade do ceu. Fogo do ar, excellente. A cada passo formavam-se danças
populares e no coreto, á entrada da aldeia, tocou durante algumas horas a nossa
magnifica phylarmonica Dez de Agosto.
Como era d’esperar, affluencia compacta.
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