Também
aqui queremos transcrever a notícia que recolhemos e referente a mais um
espectáculo em Coimbra, desta feita em benefício da Caixa de Socorros dos
Bombeiros Voluntários daquela cidade. Não
foi iludida a nossa espectativa quanto ao êxito, que augurávamos para a
apresentação em cena, no Teatro Avenida, da peça Recompensa. Di-lo,
seguramente, sem qualquer dúvida, a forma como se desempenharam dos seus papeis
os simpáticos elementos do grupo cénico da “Sociedade de Instrução e Recreio
Tavaredense”.
Di-lo, igualmente, a maneira carinhosa,
afectuosa, como foi recebido esse grupo pelo público conimbricense, que não
sabe regatear os seus vibrantes aplausos áqueles que os merecem. E bem os
mereceu aquele conjunto de artistas, incluídos num sonho de arte, que se
apresentaram à nossa admiração na noite de 26 do corrente.
Feliz foi, pois, a iniciativa da nossa
“Sociedade de Defesa e Propaganda” em trabalhar, e para isso trabalhou
incansavelmente, para que até nós viesse esse grupo, que sempre tem colhido os
melhores aplausos, os mais frenéticos aplausos.
No intervalo do 1º para o 2º acto da
peça, e estando presentes no palco os corpos directivos da Sociedade promotora
e da Associação dos Bombeiros Voluntários, o sr. Dr. Armando de Lacerda,
presidente da S.D.P.C. e distinto professor universitário, saudou o grupo em
frases que revelam a sua grande cultura, o seu elegante espírito e a
compreensão da finalidade que orienta aquele importante grupo cénico.
Na impossibilidade de dar na íntegra o
texto das palavras do ilustre professor, limitamo-nos a transcrever algumas
delas, por onde se avaliará o valor da sua magnifica e erudita oração:
“A acção dum bom grupo cénico, é muito
mais importante do que à primeira vista se pode supor. Não resulta, apenas, do
que valem as obras teatrais representadas, duma interpretação mais ou menos
feliz. O próprio grupo é que adquire um valor como conjunto de indivíduos cada
vez mais aptos a constituírem elementos de aperfeiçoamento da sociedade humana.
O que leva os componentes dum grupo
cénico como o que hoje aplaudimos, não é a paixão do espectaculoso, nem o amor
pela beneficência uma razão mais aparente do que real. Se assim sucede, por
vezes, observamos que há grupos dramáticos de muitas espécies e categorias.
Tudo depende do nível em que se trabalha e do nível que se pretende atingir.
Tratando-se dum grupo de escol, é
evidente que uma das grandes forças animadoras, provém dum conjunto de motivos
em que domina uma ambição de aperfeiçoamento espiritual, uma vontade aberta a
vivências dum mundo mais vasto e mais profundo do que aquele em que normalmente
labutam pela existência.
Surgem possibilidades de acção que
doutro modo não se ofereceriam. Aproveitadas essas possibilidades,
desenvolvem-se capacidades de realização. Despertam sentidos artísticos até aí
adormecidos.
Interpretando, vivendo anceios,
paixões, dúvidas, receios, espaventos, misérias, devoções, ternuras,
entusiasmos, resignações, desesperos, discórdias, ironias, felicidades,
desgraças, espectativas, surprezas, inquietação, ímpetos, exaltações,
branduras, serenidades, - inúmeras cambiantes dessa gama riquíssima de atitudes
mentais – vai-se enriquecendo a personalidade, intelectual e afectivamente.
Não ignoramos que a teoria insinuada é
discutível por falta de conhecimentos sobre o efeito resultante das sobreposições
de personalidade, como sucede na interpretação dramática. Mas ainda que sejam
numerosos os casos em que a teoria falha, não faltarão exemplos a recomendar a
doutrina.
Se o grupo é bem orientado, se a
interpretação for conduzida de forma a evitar-se, tanto quanto possível, o
declamado, o postiço, o caricatural, as probabilidades de êxito devem ser
grandes. Os componentes dum grupo dramático bem organizado e conduzido,
ascendem, rapidamente, na escala da valorização social. A acção que desenvolvem,
ainda que abstraiamos da sua influência sobre o público, atinge os próprios
actuantes, operando-se uma transformação mais ou menos profunda.
Inutilizam-se grandes somas de energias
por falta de compreensão, interessando desenvolver mentalidades, minorar a
ignorância. Há muitas criaturas que não cultivam o seu espírito e é rara a
pessoa que tem prazer em pensar a não ser instigado pela necessidade do animal
rudimentar.
É a falta de nível mental que explica
frequentemente a inércia observada perante planos de trabalho que mereciam
auxilio imediato. É a falta de nível mental que explica, frequentemente, o
receio à remodelação, à novidade. A preguiça é muitas vezes motivada pela
ignorância”.
Agradeceu, em palavras vibrantes,
entusiásticas, o organizador do grupo, e sua verdadeira “alma”, sr. José
Ribeiro, que mostrou, uma vez mais, a acção beneficente – que outra, além da
artística o grupo não possui, - daquele conjunto de operários, que a sua
energia, a sua tenacidade, tem feito apresentar em vários teatros do país e
que, sempre, e em toda a parte, tem sido recebido com a maior simpatia e
enternecimento.
A Associação dos Bombeiros Voluntários,
terminadas as suas palavras, coroadas com aplausos, como as do sr. Dr. Armando
de Lacerda, ofereceu-lhe o diploma de “sócio honorário” da sua corporação,
homenagem devida a quem, num impulso humanitário, veio concorrer para que se
torne em efectivação uma das suas aspirações, a “Caixa de Socorro ao Bombeiro
Voluntário”.
Que dizer da forma como se
desempenharam os componentes do Grupo que se não saiba?
Que todos, todos, se desempenharam dos
seus papeis como se fossem artistas, que todo o seu tempo dedicassem à cultura
teatral.
E mais diremos: alguns artistas
profissionais talvez se não houvessem com mais mestria, com mais á-vontade nos
papéis que lhes foram distribuídos.
Será preciso salientar alguns deles?
Colocaremos em plano de evidencia, e
bem o merece, D. Violinda Medina e Silva, que se houve muito bem, no papel de
“Maria da Graça”, Manuel Nogueira no papel de “José”, António Broeiro, no papel
de “Guilherme”, o que não quer, de forma nenhuma, dizer que não dessem grande
harmonia ao conjunto todos, todos, os artistas – que o são, sem favor, -
quantos tomaram parte no explendido espectáculo que ficará, sem dúvida, a
marcar mais uma etapa gloriosa na carreira brilhante que vem trilhando o grupo
cénico da prestimosa Sociedade de
Instrução e Recreio Tavaredense.
A S.D.P. de C., e para a sede do grupo,
ofereceu-lhe um artístico lampeão, trabalho do considerado artista
conimbricense, sr. Albertino Marques.
Está, pois, de parabéns – e bem os
merece e deles é credora, - a Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra, por,
numa hora de feliz inspiração, nos ter proporcionado a visita deste importante
grupo cénico, que pela 13ª vez se faz aplaudir em Coimbra.
E o nosso desejo, e por certo o desejo
de quantos prezam a verdadeira arte, é que, mais e mais vezes, este apreciável
conjunto de artistas nos visite, porque a sua visita, sempre aguardada com
ansiedade, nos pode dar mais e mais noites de arte, o que nem sempre sucede com
aquelas que nos têm dado, por vezes, algumas companhias de Lisboa, que, apesar
de virem muito elogiadas e reclamizadas, nem sempre merecem quanto delas se diz
e se apregoa.
Não sucede o mesmo com este grupo: na
sua modéstia dá-nos teatro, teatro que sentem, em que vibram as suas almas
simples, amoráveis, sempre acalentadas por um sonho de beleza e de arte.
Parabéns a José Ribeiro, parabéns ao
seu grupo e… que as suas visitas se repitam.
Votos são estes que muito sinceramente
formulamos e de todo o coração.
Igualmente não queremos deixar de
assinalar que a Sociedade e o Grupo mantiveram, durante vários anos, a
iniciativa de fazerem um passeio em conjunto, escolhendo, para o efeito, alguns
dos lugares mais aprazíveis das redondezas. Tinham sempre a participação de
muitas famílias e, depois de saborearem os seus farneis, havia danças, animadas
por músicos locais, jogos tradicionais e sesta prolongada para alguns. Vai ser um dia de grande ferróbódó, a
avaliar pelo enorme entusiasmo que reina entre a família associativa das duas
populares colectividades.
Durante um dos
passeios anuais
A começar na próxima segunda-feira: Usos e costumes da Terra do Limonete
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