Como?
Dando-lhe o pão de cada dia e fazendo dele um trabalhador honrado. Mas riqueza,
como ele queria, isso não. Por isso queria ir embora. Bem lhe pediram que não
partisse. Primeiro foram os milhos.
Milho Branco -
Feito
em farinha,
Branca,
mimosa,
Sou,
bem cozido,
Broa
gostosa
Milho Amarelo -
Na
nossa aldeia
Sou
muito usado.
Muitos
me chamam
Pão
de soldado
Milho Encarnado -
Nas
desfolhadas,
Eu,
nas espigas,
Sou
o regalo
Das
raparigas.
Os Três -
Branco
e amarelo,
Mesmo
encarnado,
Vamos
à mesa
Do
mais pintado.
Milho Branco -
Pareço
espuma
Vindo
da azenha
Sai
obra fina
Cozido
em Brenha.
Milho Amarelo -
Sou
redondinho,
Vistoso
e loiro.
Milho encarnado -
Posto
no lume
É
cada estoiro!
Os Três -
Branco
e amarelo,
Etc.
etc. etc.
Não os
escuta. Há-de ser rico. Também a vinha, que só ele sabia tratar como ela
queria, com todo o seu saber e carinho. Na empa e na poda não tinha igual. E a
farturinha de cachos, que eram sempre um regalo para os olhos, iria acabar se
ele for embora.
Não
tem o nome na história
Quem
primeiro nos provou.
O
que é certo é que o farçola
Colheu,
comeu e gostou.
Com
a bela descoberta
Do
patriarca Noé,
Nasceu
o licor divino
Que
às vezes causa banzé.
Bendito
seja
O
pai Noé
Que
de nós tirou o vinho
E
água-pé.
O
vinho alegra
Mais
que o café.
Se
é bom impele à folgança
Sem
banzé.
Tratadas
com mil desvelos
Nas
Beiras, no Douro e Minho,
Tanto
espremem que nos tiram
O
mais variado vinho.
Há
quem coma nas vindimas
Uma
cestada de cachos.
Nalguns
vem dor de barriga
Mas
nunca ficam borrachos.
Bendito
seja, etc. etc.
Nada.
Não quer ouvir mais nada. Chega de tanto trabalhar para os outros. Até a couve,
o feijão e o repolho lhe rogam que fique.
Manuel
da Fonte – “A couve é macia, mas enquanto os outros comem as folhas eu
tenho de contentar-me com os talos; o feijão é lindo e graúdo, mas para mim fica
o miúdo e o que está furado; e o repolho sai fechado das minhas mãos para
outros abrirem. Não, quero mudar de vida, estou cansado de ser pobre e
escarnecido.
Moinhos
Lá no alto da serra as velas do moinho
Rodam,
rodam sem cessar
Coro
Sim, as velas do moinho
Moinhos
Coração
bate mansinho
Não
te queiras apressar (bis, o coro)
Lá
no alto da serra as rodas do moinho
Moem,
moem sem cessar.
Coro
Sim,
as rodas do moinho
Moinhos
Teu
segredo nem baixinho
Lho
podemos confiar (bis, o coro)
Coro
Trigo
loiro, trigo bendito
Cresce,
cresce, cresce sem cessar.
No
teu mistério, mistério infinito
Para
a vida hás-de tornar (bis)
Seus
ouvidos estão fechados. Não ouve nada. A sua decisão é inabalável. Nem quando o
Ti João da Quinta, o pai de Rosa, o tenta chamar à razão, não acede. “Não há
felicidade com a pobreza”. Aquela voz que lhe oferece oiro aos punhados há-de
encontrá-la. E quando fôr rico, muito rico, havia de voltar. Não esquecia a
Rosa, não senhor. Mas, primeiro, havia de achar a fortuna. Iria em sua busca e
depois voltaria.
Vendeu,
por dez contos de reis, a terra que seu pai lhe deixara, vestiu o seu fato
domingueiro e, trouxa na mão com os seus poucos haveres, aí vai ele, deixando a
aldeia.
Parto
e não levo saudades
Terra
de miséria e dor.
Tu
fôste sempre madrasta
Deste
infeliz cavador.
Vou
em busca da ventura
E
de riqueza também.
Pode
ser que em terra estranha
Ache
os carinhos de mãe.
Nasci
pobre e sempre pobre
Numa
vida amargurada,
Do
sol nado até à noite
Vergado
ao peso da enxada.
Sem
pai nem mãe nem amigos
Sem
grata recordação
Parto
e não levo tristeza
Levo livre o coração.
No
palácio da Rainha das Flores, a corte está reunida. (com fundo musical
próprio, declama-se o poema da história do Pagem)
Tendes
a alvura do lírio
E
a forma esbelta da rosa
Sois
a Rainha das Flores
Porque
sois a mais formosa
Mais
formosa.
Uma
andorinha
Vinda
do sul
Quando
voava
Em
pleno azul,
Ouviu
o canto
Dum
rouxinol
Que
da alvorada
Ao
pôr do sol,
Soltava
meiga
Canção d’amor,
Aos
tristes ecos
Do
pinheiral.
Pobre
andorinha!
Ouvindo
tal,
Ficou
rendida
Duma
paixão
E
se escondeu
Na
solidão.
Em
poucas horas
Ali
morreu (bis)
Dessa
paixão.
Abelhas,
flores
E
borboletas,
São
sempre encanto
Para
os poetas.
Somos
da natureza
Brilho,
aroma e beleza.
O
segundo acto começa noutro palácio, este o da Grã-Duquesa de Tavarede. O
governo encontra-se reunido de urgência.
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