O
segundo acto começa noutro palácio, este o da Grã-Duquesa de Tavarede. O
governo encontra-se reunido de urgência.
Presidente
do Ministério
Deveras
atrapalhado
Eu
não sei como isto conte.
Foi
uma calamidade
Fugir
o Manuel da Fonte.
Coro
Pode
até causar revolta
Esta
fuga singular.
Pois
não se vê cá na aldeia
Quem
fique no seu lugar.
Ministro
da Guerra
C’os
meus tesos batalhões
Acachapo
os refilões.
Coro
Fala
bem, colega amigo,
Mas
esta gente da enxada
Fica
logo endiabrada
Quando
falta a pinga e o trigo.
Se
fosse no mês do figo
Era
cada barrigada
Que
desandava em tachada
Conforme
o costume antigo.
Por
isso, colega amigo,
Para
evitar qualquer p’rigo
Tenha
pronta a força armada.
Ministro
da Guerra
Não
haja medo!
Tenho
um segredo
Que
val’milhões.
Os
meus soldados
São
reforçados
Com
bons canhões
Que
esguicham vinho
Aos
borbotões
Sobre
os focinhos
Dos
malandrões.
A
crise estava instalada em Tavarede. A partida do Manuel da Fonte era a ruína da
freguesia. Havia que se tomar medidas imediatas, de contrário, e especialmente
com a falta de vinho, seria certo e sabido que a irmandade do S. Martinho, cada
vez mais numerosa, levaria o povo à revolta.
Saltadouro,
Várzea e Quintal do Ferreira pedem audiência. Exigem que o governo faça voltar
Manuel da Fonte. Todos se queixam do mesmo. A enxada do cavador é
indispensável, de contrário, couves, feijão, batatas, novidades, tudo vai
acabar. Só ele, com a sua enxada poderosa, os pode salvar. E fica decidido. A
Grã-Duquesa manda fazer uma última tentativa diplomática, junto da Figueira,
para que Manuel da Fonte seja obrigado a voltar a Tavarede sem mais demora. Se
não resultar, a Figueira sofrerá as consequências. Corta-se-lhes a água;
manda-se arrasar a central eléctrica; e não deixarão os figueirenses fazer
enterramentos no cemitério novo. Se não se conseguir fazer as coisas com jeito,
far-se-ão à força! Tinham que prender Manuel da Fonte e obrigá-lo a regressar à
aldeia.
Ignorando
o que se estava a passar, Manuel da Fonte procura a casa da famosa bruxa
figueirense, a Rita Galinha, a quem pretende pedir conselho. Quer saber se ela
lhe diz para seguir a caminho do Brasil... África... América... Ela haveria de
o aconselhar.
Mas,
enquanto procura, encontra ele um figurão da cidade, o Papo-Seco. Ao saber das
pretensões do cavador facilmente o convence a ficar. Era aqui, na Figueira, que
ele encontraria o que procurava. No jogo, a riqueza, e com a riqueza, os
divertimentos.
Na
antiguidade eram faladas
As
bravas amazonas
E
nas furiosas galopadas
Sempre
foram pimponas.
Denodadas
Valentonas
Nunca
monas
Nem
cansadas;
Com
destreza
Em
concurso
Não
fazemos
Papel
d’urso.
Que
os nossos ginetes
Nunca
dão falsetes.
Famosos
no mundo
Nada
os ultrapassa.
Que
os nossos cavalos
São
de pura raça;
Os
altos valados,
As
largas trincheiras
Num
pulo atravessam.
Por
isso somos
Valentonas
Denodadas
Amazonas!
A Batota
Entusiasmado,
deixa-se conduzir ao jogo onde “arriscando um tostão pode ganhar um milhão”.
Ninguém
aos meus encantos
Consegue
resistir.
Os
mais virtuosos santos
Não
podem de mim fugir.
Com
sorte, num momento,
Quem
puxa à sota o rabo
Torna-se
opulento
Como
um nababo.
Se
joga na roleta,
Na
vermelha ou na preta
Um
tostão
Sem
ter vento d’azar,
Com
vagar
Até
pode
Alcançar
Um
milhão;
E
com tamanha massa
Fazer
figurão.
Tudo
perde. Os dez contos de reis, que era toda a sua fortuna, perdeu-os ao jogo.
Ficou mais pobre, sem nada. E agora? Chegou a pensar em ir atirar-se ao rio.
Pois como é que agora havia de ir para o Brasil, sem dinheiro para a passagem?
Como ir buscar a riqueza? Como encontrar a felicidade?
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