sexta-feira, 11 de abril de 2014

Operetas em Tavarede - 12

         O segundo acto começa noutro palácio, este o da Grã-Duquesa de Tavarede. O governo encontra-se reunido de urgência.

Presidente do Ministério 
Deveras atrapalhado
Eu não sei como isto conte.
Foi uma calamidade
Fugir o Manuel da Fonte.

Coro
Pode até causar revolta
Esta fuga singular.
Pois não se vê cá na aldeia
Quem fique no seu lugar.

Ministro da Guerra
C’os meus tesos batalhões
Acachapo os refilões.

Coro 
Fala bem, colega amigo,
Mas esta gente da enxada
Fica logo endiabrada
Quando falta a pinga e o trigo.
Se fosse no mês do figo
Era cada barrigada
Que desandava em tachada
Conforme o costume antigo.
Por isso, colega amigo,
Para evitar qualquer p’rigo
Tenha pronta a força armada.

Ministro da Guerra
Não haja medo!
Tenho um segredo
Que val’milhões.
Os meus soldados
São reforçados
Com bons canhões
Que esguicham vinho
Aos borbotões
Sobre os focinhos
Dos malandrões.

         A crise estava instalada em Tavarede. A partida do Manuel da Fonte era a ruína da freguesia. Havia que se tomar medidas imediatas, de contrário, e especialmente com a falta de vinho, seria certo e sabido que a irmandade do S. Martinho, cada vez mais numerosa, levaria o povo à revolta.

         Saltadouro, Várzea e Quintal do Ferreira pedem audiência. Exigem que o governo faça voltar Manuel da Fonte. Todos se queixam do mesmo. A enxada do cavador é indispensável, de contrário, couves, feijão, batatas, novidades, tudo vai acabar. Só ele, com a sua enxada poderosa, os pode salvar. E fica decidido. A Grã-Duquesa manda fazer uma última tentativa diplomática, junto da Figueira, para que Manuel da Fonte seja obrigado a voltar a Tavarede sem mais demora. Se não resultar, a Figueira sofrerá as consequências. Corta-se-lhes a água; manda-se arrasar a central eléctrica; e não deixarão os figueirenses fazer enterramentos no cemitério novo. Se não se conseguir fazer as coisas com jeito, far-se-ão à força! Tinham que prender Manuel da Fonte e obrigá-lo a regressar à aldeia.

         Ignorando o que se estava a passar, Manuel da Fonte procura a casa da famosa bruxa figueirense, a Rita Galinha, a quem pretende pedir conselho. Quer saber se ela lhe diz para seguir a caminho do Brasil... África... América... Ela haveria de o aconselhar.

         Mas, enquanto procura, encontra ele um figurão da cidade, o Papo-Seco. Ao saber das pretensões do cavador facilmente o convence a ficar. Era aqui, na Figueira, que ele encontraria o que procurava. No jogo, a riqueza, e com a riqueza, os divertimentos.

   Na antiguidade eram faladas
   As bravas amazonas
   E nas furiosas galopadas
   Sempre foram pimponas.

   Denodadas
   Valentonas
   Nunca monas
   Nem cansadas;
   Com destreza
   Em concurso
   Não fazemos
   Papel d’urso.
   Que os nossos ginetes
   Nunca dão falsetes.

   Famosos no mundo
   Nada os ultrapassa.
   Que os nossos cavalos
   São de pura raça;
   Os altos valados,
   As largas trincheiras
   Num pulo atravessam.

   Por isso somos
   Valentonas
   Denodadas
  Amazonas!
   
                                                               A Batota

         Entusiasmado, deixa-se conduzir ao jogo onde “arriscando um tostão pode ganhar um milhão”.

  Ninguém aos meus encantos
  Consegue resistir.
  Os mais virtuosos santos
  Não podem de mim fugir.

  Com sorte, num momento,
  Quem puxa à sota o rabo
  Torna-se opulento
  Como um nababo.
  Se joga na roleta,
  Na vermelha ou na preta
  Um tostão
  Sem ter vento d’azar,
  Com vagar
  Até pode
  Alcançar
  Um milhão;
  E com tamanha massa
  Fazer figurão.


         Tudo perde. Os dez contos de reis, que era toda a sua fortuna, perdeu-os ao jogo. Ficou mais pobre, sem nada. E agora? Chegou a pensar em ir atirar-se ao rio. Pois como é que agora havia de ir para o Brasil, sem dinheiro para a passagem? Como ir buscar a riqueza? Como encontrar a felicidade?

Sem comentários:

Enviar um comentário