sexta-feira, 4 de abril de 2014

Usos e Costumes na Terra do Limonete - 14

         Em 1918 ainda se festejou, na nossa escola, o habitual uso e costume. “Como de costume, as crianças da escola mista desta freguesia apareceram na segunda-feira com os seus cestinhos enfeitados e dentro levando a respectiva merenda. Passaram a tarde na melhor alegria, entre os risos encantadores que saiam dos seus lábios. Também, pelos pinhais, aqui vimos bastante gente com merendas a solenizar o dia”.
         A transferência desta professora acabou com a realização desta animada festa. Como referimos ao princípio, tal costume ainda se manteve por mais alguns anos, com algumas famílias a irem merendar aos pinhais. Mas, o cortejo nunca mais se realizou em Tavarede.



Pic-nics e jogos tradicionais

“As panelas fumegam, e refervem, e os pitéus, feitos ali, num alegre convívio e à sombra amiga dos pinheiros amigos, parece que têm melhor sabor, o sabor da liberdade com que são comidos. Depois há baile. Alegre baile, em que se bate, com mestria, o vira e o estalado. E é vê-los, os pares, novos e velhos numa porfia, rodopiando a lançando ao ar embalsamado pela seiva dos pinheiros, as cantigas que dizem da alegria dos seus corações sempre moços. São, assim, alegres, os pic-nics da minha terra”.
  


                                                           Bailarico de piquenique

 O escrito acima, tirámo-lo da reportagem que António Broeiro, sobrinho, publicou no Jornal de Sintra, tempos depois de para ali ter migrado e que nunca se esqueceu da sua terra natal.
A nossa aldeia era fértil em agradáveis locais, que convidavam ao descanso e a saborear fartas merendas preparadas cuidadosamente em casa e que eram levadas num enorme cesto de verga. As bebidas iam à parte. Os mais frequentados seriam o pinhal da Borlateira, ao poente da quinta, hoje junto ao parque de campismo, e a saudosa mata, da Quinta do Paço, no caminho da Várzea.
         Mas, quando a folga era domingueira, costumavam ir um pouco mais longe. Nestes casos, a mata dos cedros, pertinho da capela do Santo Amaro, na Serra da Boa Viagem, ou a mata junto às lagoas de Quiaios, eram usualmente os lugares preferidos.
As nossas colectividades organizavam, habitualmente, um passeio anual. Era a maneira de compensar os seus amadores teatrais ou musicais, pelo seu esforço e dedicação durante todo o ano. Foi o que sucedeu, por exemplo, no verão de 1928. Aqui deixamos a nota encontrada.
Excedeu tôda a espectativa o passeio que no domingo último se realizou à Serra da Boa Viagem, promovido pela Sociedade de Instrução Tavaredense e dedicado ao seu grupo dramático e aos elementos que lhe têm prestado colaboração.
         Foi uma festa encantadora, que decorreu no meio da mais franca alegria e animação e que não teve a empanar-lhe o brilho qualquer nota discordante, por insignificante que fôsse.
         Além das pessoas especialmente convidadas pela direcção da Sociedade, entre as quais tôdas as raparigas e rapazes do grupo dramático, tomaram parte no passeio muitas famílias de sócios. O transporte fez-se em camionettes e camião adaptados a êsse fim, os quais partiram de Tavarede pelas 14 horas.
         Na Serra formaram-se vários grupos que percorreram alguns dos mais lindos sítios; e às 16 horas e meia todos se reuniram no aprazível local do Covão das figueiras, onde, em vez de figueiras, há cedros que dão ao vale uma sombra e frescura convidativas. A todos os convidados, cêrca de 100, foi servida uma esplêndida merenda, em seguida à qual, na melhor das disposições, a gente moça dançou emquanto no gramofone giravam discos apropriados. Foram horas de inesquecível e fraternal alegria as que ali passaram.
         Às 19 horas fez-se o regresso, entrando todos os veículos em Tavarede ao fim da tarde, formando ruidoso cortejo de businas e cantigas e despertando as atenções e o entusiasmo da população, que acudiu à passagem do alegre cortejo.

         Felicitamos a direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense pela encantadora festa de confraternização que dedicou às amadoras e amadores do seu grupo dramático – que bem a mereceram, deve dizer-se – a qual, repetimos, não teve a prejudicar-lhe o brilho a mais ligeira nota discordante que prejudicasse a alegria sã e a perfeita ordem que de princípio a fim se notaram. Nem outra coisa era de esperar dos briosos elementos da Sociedade de Instrução, que inteiramente são merecedores da simpatia e do conceito público de que se vêm rodeados. Tiraram-se na Serra algumas fotografias e uma fita cinematográfica que reproduz interessantíssimos aspectos e episódios do passeio.       Há um vivo interêsse pela sua passagem, que se fará no écran da Sociedade, num dos próximos dias, juntamente com a nova projecção, a pedido, das cento e tantas fotografias da peça O Sonho do Cavador”.

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