Em 1918 ainda se
festejou, na nossa escola, o habitual uso e costume. “Como de costume, as
crianças da escola mista desta freguesia apareceram na segunda-feira com os
seus cestinhos enfeitados e dentro levando a respectiva merenda. Passaram a
tarde na melhor alegria, entre os risos encantadores que saiam dos seus lábios.
Também, pelos pinhais, aqui vimos bastante gente com merendas a solenizar o dia”.
A transferência desta professora acabou com a realização
desta animada festa. Como referimos ao princípio, tal costume ainda se manteve
por mais alguns anos, com algumas famílias a irem merendar aos pinhais. Mas, o
cortejo nunca mais se realizou em Tavarede.
Pic-nics e jogos tradicionais
“As panelas fumegam, e refervem, e os pitéus,
feitos ali, num alegre convívio e à sombra amiga dos pinheiros amigos, parece
que têm melhor sabor, o sabor da liberdade com que são comidos. Depois há
baile. Alegre baile, em que se bate, com mestria, o vira e o estalado. E é
vê-los, os pares, novos e velhos numa porfia, rodopiando a lançando ao ar
embalsamado pela seiva dos pinheiros, as cantigas que dizem da alegria dos seus
corações sempre moços. São, assim, alegres, os pic-nics da minha terra”.
Bailarico
de piquenique
O escrito acima, tirámo-lo da reportagem que
António Broeiro, sobrinho, publicou no Jornal de Sintra, tempos depois de para
ali ter migrado e que nunca se esqueceu da sua terra natal.
A nossa aldeia era fértil em agradáveis locais,
que convidavam ao descanso e a saborear fartas merendas preparadas
cuidadosamente em casa e que eram levadas num enorme cesto de verga. As bebidas
iam à parte. Os mais frequentados seriam o pinhal da Borlateira, ao poente da
quinta, hoje junto ao parque de campismo, e a saudosa mata, da Quinta do Paço,
no caminho da Várzea.
Mas,
quando a folga era domingueira, costumavam ir um pouco mais longe. Nestes
casos, a mata dos cedros, pertinho da capela do Santo Amaro, na Serra
da Boa Viagem, ou a mata junto às lagoas de Quiaios, eram usualmente os lugares
preferidos.
As nossas colectividades organizavam,
habitualmente, um passeio anual. Era a maneira de compensar os seus amadores
teatrais ou musicais, pelo seu esforço e dedicação durante todo o ano. Foi o
que sucedeu, por exemplo, no verão de 1928. Aqui deixamos a nota encontrada.
“Excedeu tôda a espectativa o passeio que no
domingo último se realizou à Serra da Boa Viagem, promovido pela Sociedade de
Instrução Tavaredense e dedicado ao seu grupo dramático e aos elementos que lhe
têm prestado colaboração.
Foi uma festa encantadora, que decorreu
no meio da mais franca alegria e animação e que não teve a empanar-lhe o brilho
qualquer nota discordante, por insignificante que fôsse.
Além das pessoas especialmente
convidadas pela direcção da Sociedade, entre as quais tôdas as raparigas e
rapazes do grupo dramático, tomaram parte no passeio muitas famílias de sócios.
O transporte fez-se em camionettes e
camião adaptados a êsse fim, os quais partiram de Tavarede pelas 14 horas.
Na Serra formaram-se vários grupos que
percorreram alguns dos mais lindos sítios; e às 16 horas e meia todos se
reuniram no aprazível local do Covão das
figueiras, onde, em vez de figueiras, há cedros que dão ao vale uma sombra
e frescura convidativas. A todos os convidados, cêrca de 100, foi servida uma
esplêndida merenda, em seguida à qual, na melhor das disposições, a gente moça
dançou emquanto no gramofone giravam discos apropriados. Foram horas de
inesquecível e fraternal alegria as que ali passaram.
Às 19 horas fez-se o regresso, entrando
todos os veículos em Tavarede ao fim da tarde, formando ruidoso cortejo de
businas e cantigas e despertando as atenções e o entusiasmo da população, que
acudiu à passagem do alegre cortejo.
Felicitamos
a direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense pela encantadora festa de
confraternização que dedicou às amadoras e amadores do seu grupo dramático –
que bem a mereceram, deve dizer-se – a qual, repetimos, não teve a
prejudicar-lhe o brilho a mais ligeira nota discordante que prejudicasse a
alegria sã e a perfeita ordem que de princípio a fim se notaram. Nem outra
coisa era de esperar dos briosos elementos da Sociedade de Instrução, que
inteiramente são merecedores da simpatia e do conceito público de que se vêm
rodeados. Tiraram-se na Serra algumas fotografias e uma fita cinematográfica
que reproduz interessantíssimos aspectos e episódios do passeio. Há um vivo interêsse pela sua passagem,
que se fará no écran da Sociedade,
num dos próximos dias, juntamente com a nova projecção, a pedido, das cento e
tantas fotografias da peça O Sonho do
Cavador”.
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