Continuemos, agora, com
outra personagem interessantíssima, “O Riso”.
Riso
Quando
alguém diz uma graça,
É regra de educação
Que
toda a assistência faça
A
risonha saudação.
Em
qualquer parte
O
rir com arte
É
uma prenda.
Meus
amigos, atenção:
Vou
dar-vos uma lição
E
é útil que ela se entenda.
(Nota parola)
Numa
saída inesperada
=
Piada só p’la piada,
Sem
se morder em ninguém =
O
riso é forte e a nota é fá
E
convém
A
vogal A
Ah!
Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Coro
O
riso é forte e a nota é fá
E
convém
Vogal A
Ah!
Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! (bis)
A
gargalhada é mais fraca
Quando
há corte de casaca
Dum
inimigo feroz.
Agora
a nota é um ré,
Menos
voz
E
vogal E
Eh!
Eh! Eh! Eh! Eh! Eh!
Coro
Agora
a nota é um ré
Menos
voz
A
vogal E
Eh!
Eh!
Eh! Eh! Eh! Eh! Eh! (bis)
Ferroada
num amigo
Dita
quase p’ra consigo,
Como
a afectar inocência:
Agora
a nota é um mi
E
de urgência
A
vogal I
Ih!
Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih!
Coro
Agora
a nota é um mi
E
de urgência
A
vogal I
Ih!
Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! (bis)
Na
piada – casca grossa,
Chalaça
pura ou de troça,
Anedota
apimentada,
Então
a nota é um dó
E
adequada
A
vogal O
Oh!
Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Coro
Então
a nota é um dó
E
adequada
A
vogal O
Oh!
Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! (bis)
Não, não. É mesmo assim. Não havia versos para a vogal U. Já
há muitos anos que não existe Ilda Stichini. Mas, felizmente, existem e
existirão para sempre, os belos recitativos que ela disse naquele espectáculo.
Depois de recordarmos o “Riso”, vamos ouvir o monólogo de “A Fantasia”.
O
homem mais terno, o ente mais boçal,
Em
cada ano tem, pelo menos, um dia
De
sonho e fantasia.
Se
ele é o beduíno e a vida é o areal,
Sem
esse oásis de oiro em que mana o Ideal
=
A vida o que seria?
Vêde
um acto qualquer duma vida modesta,
Ou
mesmo duma vida opulenta e sadia;
Tirai-lhe
a fantasia
E
dizei-me depois que beleza lhe resta.
Despido
do esplendor que a minha luz lhe empresta,
Esse
acto o que seria?
Nasce
um aborto vil, hediondo, anquilosado,
E
a dolorosa mãe o beija e acaricia!
E,
o que é a fantasia!
No
seu rebento vê, mas vê, um anjo alado!
Aquele
amor de mãe, o afecto mais sagrado,
Sem
mim... o que seria?
Um
dia de noivado... Um véu branco adejando,
A
flor da laranjeira... os cantos da alegria!...
Que
linda fantasia!
Sem
mim – sem esse véu tão delicado e brando –
Que
todas vós andais, cachopas, cobiçando,
=
Noivar... o que seria?
Depois,
ao acabar, no último momento,
Uma
crença no Além, na Luz, no Eterno-dia...
Que
santa fantasia!
Já
pensaste sequer no terrível tormento
De
ver a morte vir, sem esse pensamento?
Morrer?...
o que seria?
E já
que estamos com recitativos, aproveitemos. Ouçamos o que tem para nos dizer “A
Tenacidade”.
Não
sabes o que é ter tenacidade?
É
ser uma formiga na labuta,
É
ter maior poder que a força bruta,
Vencê-la
pela força da vontade.
Aquele
que a tiver na vida há-de
Dominar,
embora pela manha astuta,
Mas
dominar, enfim, vencer a luta,
Triunfar
da restante humanidade.
Gota
a gota, se forma a estalactite,
A
grão e grão, a duna sem limite
=
Modelos naturais do meu celeiro.
Por
ser tenaz, casmurro, persistente,
É
que pode grimpar, tornar-se gente
Qualquer
João-Ninguém, qualquer sendeiro.
E o primeiro acto termina com uma apoteose ao trabalho, que
a Formiga apresenta como suprema aspiração de todas as pessoas de bem.
Lá
vão!...
Lá
vão
Os
ranchos do labor
Fazer
Nascer,
Colher
O
grão.
Assim...
Assim
Mostrando
o seu valor,
Que
é
Ter
fé
Até
Ao
fim.
Lá
vão!...
Lá
vão
Tirar
da terra o pão.
Depois...
Depois
Alguns
vão supor
Montar
Lagar,
Comprar
Os
bois...
Lá
vão!...
Lá
vão
Tirar
da terra o pão.
Lá
vão!...
Lá
vão
Com
ar dominador
De
quem
Já
tem
Seu
bem
Na mão!
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