Ainda
sobre o mesmo assunto, não queremos deixar de recordar uma nota, bastante
interessante, publicada pelos ‘Engenheiros de obras feitas’, da Figueira. Na nossa qualidade de figueirenses estamos
sempre prontos a louvar com o justo realce tudo quanto prestigie a nossa terra,
tanto no campo material como no campo cultural, numa coerência de princípios
que os “engemheiros de obras feitas” cumprem muito gostosamente.
Recentemente, o Secretariado Nacional
de Informação promoveu um Concurso de Arte Dramática para o qual seleccionou as
colectividades do país que julgou dignas de concorrerem às diversas modalidades
de teatro, opondo-as fora do seu ambiente e sob as vistas de um júri de
mestres.
A finalidade deste Concurso e os
resultados que dele resultarão, pensamos nós, serão mínimos e quase estéreis.
O teatro de amadores precisa de
impulsos de outra ordem, mais palpáveis e substanciais, e para a elevada função
que ele representa na instrução do povo, são necessárias outra directrizes mais
profundas e eficazes, de forma a salvar da decadência a magnífica arte de
representar que, no conjunto de amadores e profissionais, sofre uma crise de
estímulo provocada por asfixiante regulamentação, como todos sabemos.
Mas isto é assunto para uma vasta
apreciação e não é esse o nosso propósito neste momento.
Todos os figueirenses conhecem de
sobejo o valor da “nossa” Sociedade de Instrução Tavaredense, que foi uma das
colectividades admitidas ao referido concurso.
A sua obra e o seu valor estão
documentados pela representação do que melhor existe no teatro nacional e
estrangeiro. As peças de autores portugueses mais consagrados têm passado pelo
pequenino teatro de Tavarede, representadas, sempre, por um grupo de grandes
amadores, que têm enchido de prestígio não só a sua associação como a própria
Figueira da Foz, através de quase todo o país.
É enorme a sua acção no campo cultural
e beneficente, e neste último aspecto, ela tem dado tudo em prol dos outros,
nunca pensando em si, e hoje, que quer reconstruir o seu teatrinho não o pode
fazer porque não amealhou meios para isso.
Maior isenção, maior sacrifício pelo
bem comum, não é possível encontrar nos dias de hoje.
A Sociedade de Instrução Tavaredense
foi ao Concurso do SNI por méritos próprios, não se organizou ou ensaiou à
pressa para se apresentar em
Lisboa. O concurso encontrou-a preparada e apetrechada e não
teve de recorrer a qualquer recurso para representar a sua peça, porque o bom
teatro e as boas peças são norma corrente do seu trabalho.
Por isso, foi altamente honroso para a
Figueira o resultado alcançado pelo grupo de Tavarede, e que se deve atribuir,
exclusivamente, ao valor dos seus amadores, que souberam vencer, num confronto
das maiores responsabilidades.
Atesta-o a classificação que obteve no
referido Concurso, na Categoria B – Comédia. Com quatro prémios.
= 2º. Lugar – Prémio “Francisco
Taborda”, pela representação da comédia “Os Velhos”.
= Prémio “Carlos Santos”, ao seu
ensaiador.
= Melhor interpretação feminina –
Prémio “Maria Matos”, à amadora Violinda Medina e Silva, no papel de “Emília”
na comédia “Os Velhos”.
= Melhor interpretação masculina –
Prémio “Chabi Pinheiro”, ao amador António Jorge da Silva, no papel de “Bento”
na mesma comédia.
= Foi, como se vê, o único grupo que
alcançou quatro prémios, pois os restantes oito prémios foram assim
distribuidos: - “Grupo Miguel Leitão” de Leiria, 2 prémios; Sociedade
Recreativa e Dramática Eborense, 2 prémios; Círculo Cultural do Algarve, 2
prémios; Clube Popular de Faro, 1 prémio; Centro de Desporto, Cultura e Recreio
do Pessoal dos CTT de Lisboa, 1 prémio.
Diploma atribuido à SIT
Verifica-se, assim, que o grupo de
Tavarede alcançou um terço da totalidade dos prémios, devendo acrescentar-se
duas menções honrosas: interpretação do amador João Cascão, no papel de
“Patacas” de “Os Velhos” e encenação do “Frei Luís de Sousa”.
Quer dizer, os primeiros Artistas –
Amadores do teatro português de comédia, são tavaredenses.
Ao distinções que definem bem o valor
de uma colectividade com uma vida dedicada ao teatro, e que traduzem, ainda,
uma enorme honra para a Figueira da Foz.
E é aqui que queríamos chegar:
Como se manifestou a Figueira no seu
regosijo e no merecido agradecimento à Sociedade de Instrução Tavaredense?
Em nada, absolutamente nada.
Que contraste, que tristíssimo
contraste com o acolhimento que a nossa vizinha Leiria dispensou ao seu grupo
“Miguel Leitão”, que alcançou 2 prémios com a representação do drama “Tá Mar”.
O grupo leiriense foi recebido nos
Paços do Concelho da sua terra por toda a vereação municipal, numa sessão
solene em que participou toda a população.
A Câmara Municipal, atribuindo-lhe a
medalha de ouro da cidade deliberou, ainda, aumentar de 6 para 10 contos o
subsídio que lhe dá anualmente.
A Câmara de Leiria rematou o seu
agradecimento, oferecendo um banquete aos componentes do grupo, e ao qual
assistiram os srs. Governador Civil, Presidentes da Câmara e do Turismo e
outras individualidades.
E por último realizou-se novo banquete,
oferecido pelos amigos do grupo, presidido pelo sr. Presidente da Câmara e no
qual tomaram parte dezenas e dezenas de pessoas de todas as camadas sociais.
Leiria e as suas entidades oficiais
souberam, assim, agradecer ao grupo “Miguel Leitão” a honra de levar para sua
terra 2 prémios do Concurso de Arte Dramática realizado em Lisboa.
E as entidades oficiais da Figueira
como é que manifestaram o ser reconhecimento à Sociedade de Instrução
Tavaredense pelos QUATRO prémios que ela alcançou para a nossa terra?
Nem uma simples referência, nem um
modesto voto de louvor se tornou público (e tem havido tantos neste últimos
tempos!) a galardoar tanto esforço, tanto trabalho pela instrução e pela
beneficência do nosso concelho!
E se nos anais da nossa Câmara há
registos que honram e enobrecem, a obra da Sociedade de Instrução Tavaredense
devia ficar ali vinculada em letras de ouro, em preito do muito que ela tem
prestigiado a nossa Figueira da Foz.
Seria o verdadeiro prémio a que ela tem
incontestável direito, e uma prova de gratidão muito e muito merecida.
Sem comentários:
Enviar um comentário