sexta-feira, 23 de maio de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 78

         Ainda sobre o mesmo assunto, não queremos deixar de recordar uma nota, bastante interessante, publicada pelos ‘Engenheiros de obras feitas’, da Figueira. Na nossa qualidade de figueirenses estamos sempre prontos a louvar com o justo realce tudo quanto prestigie a nossa terra, tanto no campo material como no campo cultural, numa coerência de princípios que os “engemheiros de obras feitas” cumprem muito gostosamente.
         Recentemente, o Secretariado Nacional de Informação promoveu um Concurso de Arte Dramática para o qual seleccionou as colectividades do país que julgou dignas de concorrerem às diversas modalidades de teatro, opondo-as fora do seu ambiente e sob as vistas de um júri de mestres.
         A finalidade deste Concurso e os resultados que dele resultarão, pensamos nós, serão mínimos e quase estéreis.
         O teatro de amadores precisa de impulsos de outra ordem, mais palpáveis e substanciais, e para a elevada função que ele representa na instrução do povo, são necessárias outra directrizes mais profundas e eficazes, de forma a salvar da decadência a magnífica arte de representar que, no conjunto de amadores e profissionais, sofre uma crise de estímulo provocada por asfixiante regulamentação, como todos sabemos.
         Mas isto é assunto para uma vasta apreciação e não é esse o nosso propósito neste momento.
         Todos os figueirenses conhecem de sobejo o valor da “nossa” Sociedade de Instrução Tavaredense, que foi uma das colectividades admitidas ao referido concurso.
         A sua obra e o seu valor estão documentados pela representação do que melhor existe no teatro nacional e estrangeiro. As peças de autores portugueses mais consagrados têm passado pelo pequenino teatro de Tavarede, representadas, sempre, por um grupo de grandes amadores, que têm enchido de prestígio não só a sua associação como a própria Figueira da Foz, através de quase todo o país.
         É enorme a sua acção no campo cultural e beneficente, e neste último aspecto, ela tem dado tudo em prol dos outros, nunca pensando em si, e hoje, que quer reconstruir o seu teatrinho não o pode fazer porque não amealhou meios para isso.
         Maior isenção, maior sacrifício pelo bem comum, não é possível encontrar nos dias de hoje.
         A Sociedade de Instrução Tavaredense foi ao Concurso do SNI por méritos próprios, não se organizou ou ensaiou à pressa para se apresentar em Lisboa. O concurso encontrou-a preparada e apetrechada e não teve de recorrer a qualquer recurso para representar a sua peça, porque o bom teatro e as boas peças são norma corrente do seu trabalho.
         Por isso, foi altamente honroso para a Figueira o resultado alcançado pelo grupo de Tavarede, e que se deve atribuir, exclusivamente, ao valor dos seus amadores, que souberam vencer, num confronto das maiores responsabilidades.
         Atesta-o a classificação que obteve no referido Concurso, na Categoria B – Comédia. Com quatro prémios.
         = 2º. Lugar – Prémio “Francisco Taborda”, pela representação da comédia “Os Velhos”.
         = Prémio “Carlos Santos”, ao seu ensaiador.
         = Melhor interpretação feminina – Prémio “Maria Matos”, à amadora Violinda Medina e Silva, no papel de “Emília” na comédia “Os Velhos”.
         = Melhor interpretação masculina – Prémio “Chabi Pinheiro”, ao amador António Jorge da Silva, no papel de “Bento” na mesma comédia.
         = Foi, como se vê, o único grupo que alcançou quatro prémios, pois os restantes oito prémios foram assim distribuidos: - “Grupo Miguel Leitão” de Leiria, 2 prémios; Sociedade Recreativa e Dramática Eborense, 2 prémios; Círculo Cultural do Algarve, 2 prémios; Clube Popular de Faro, 1 prémio; Centro de Desporto, Cultura e Recreio do Pessoal dos CTT de Lisboa, 1 prémio.



                                  Diploma atribuido à SIT

          Verifica-se, assim, que o grupo de Tavarede alcançou um terço da totalidade dos prémios, devendo acrescentar-se duas menções honrosas: interpretação do amador João Cascão, no papel de “Patacas” de “Os Velhos” e encenação do “Frei Luís de Sousa”.
         Quer dizer, os primeiros Artistas – Amadores do teatro português de comédia, são tavaredenses.
         Ao distinções que definem bem o valor de uma colectividade com uma vida dedicada ao teatro, e que traduzem, ainda, uma enorme honra para a Figueira da Foz.
         E é aqui que queríamos chegar:
         Como se manifestou a Figueira no seu regosijo e no merecido agradecimento à Sociedade de Instrução Tavaredense?
         Em nada, absolutamente nada.
         Que contraste, que tristíssimo contraste com o acolhimento que a nossa vizinha Leiria dispensou ao seu grupo “Miguel Leitão”, que alcançou 2 prémios com a representação do drama “Tá Mar”.
         O grupo leiriense foi recebido nos Paços do Concelho da sua terra por toda a vereação municipal, numa sessão solene em que participou toda a população.
         A Câmara Municipal, atribuindo-lhe a medalha de ouro da cidade deliberou, ainda, aumentar de 6 para 10 contos o subsídio que lhe dá anualmente.
         A Câmara de Leiria rematou o seu agradecimento, oferecendo um banquete aos componentes do grupo, e ao qual assistiram os srs. Governador Civil, Presidentes da Câmara e do Turismo e outras individualidades.
         E por último realizou-se novo banquete, oferecido pelos amigos do grupo, presidido pelo sr. Presidente da Câmara e no qual tomaram parte dezenas e dezenas de pessoas de todas as camadas sociais.
         Leiria e as suas entidades oficiais souberam, assim, agradecer ao grupo “Miguel Leitão” a honra de levar para sua terra 2 prémios do Concurso de Arte Dramática realizado em Lisboa.
         E as entidades oficiais da Figueira como é que manifestaram o ser reconhecimento à Sociedade de Instrução Tavaredense pelos QUATRO prémios que ela alcançou para a nossa terra?
         Nem uma simples referência, nem um modesto voto de louvor se tornou público (e tem havido tantos neste últimos tempos!) a galardoar tanto esforço, tanto trabalho pela instrução e pela beneficência do nosso concelho!
         E se nos anais da nossa Câmara há registos que honram e enobrecem, a obra da Sociedade de Instrução Tavaredense devia ficar ali vinculada em letras de ouro, em preito do muito que ela tem prestigiado a nossa Figueira da Foz.
         Seria o verdadeiro prémio a que ela tem incontestável direito, e uma prova de gratidão muito e muito merecida.

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