No segundo acto as figuras
simbólicas transformam-se em figuras da vida real. Luísa, filha do António
Moleiro, namora com José Cigarra, com o consentimento e agrado do pai. O
Cigarra é bom rapaz, cavador, honesto, embora tenha mais gosto em andar nas
festanças do que em trabalhar. Mas é pobre e, um belo dia, o António Moleiro
sabendo que o João Viúvo, um ricaço boçal da aldeia, procurava mulher para
casar novamente, logo pensou na sua filha.
Ao João Viúvo não lhe interessava casar por amor. O que
pretendia, avarento como uma formiga, era arranjar uma mulher que lhe fizesse a
lida da casa, tratasse dos animais e dos amanhos das terras. Pretendia fazer
boa escolha, pois a mulher que ele levasse ao altar, teria que valer, pelo
menos, por duas criadas. Queria o trabalho feito e sem ter que pagar...
António Moleiro foi tocado pelo espírito da ganância e pela
ambição da riqueza. Não se importou em sacrificar sua filha. O Viúvo era rico,
enquanto que o outro, o Cigarra, nem tinha onde cair morto... Luísa, filha
obediente e submissa, embora contrariada porque o seu desejo era casar com José
Cigarra, aceitou a decisão do pai.
Luísa
Ai
minha mãe, minha mãe!
Vivesses
tu, tinha eu pai!
Assim,
se o pranto me cai,
Não
tenho pai nem ninguém!
Na
minha pobreza fico;
Só
quero amor e alegria.
E
quem fôr muito mais rico
Coma
seis vezes ao dia.
Minha
agulha de coser,
Meu
amor e minha fé,
São os
bens que quero ter
Para
dar ao meu José.
Minha
agulha de coser,
Meu
amor e minha fé,
São
os bens que quero ter
Para
dar ao meu José.
Meu
José.
José
Viva
a minha
Luísinha,
Minha
flor,
Anjo
terno,
Meu
eterno
E
lindo amor.
Luísa
Eu
no meio
Do
enleio
Deste
encanto,
Já
nem sei
Que
direi...
Quero-te
tanto!
José
Minhas
penas
Têm
apenas
Como
alento
Este
sonho
De
risonho
Casamento!
Luísa
Encantos
meus!
Quanta
alegria!
Prouvera
a Deus
Fôsse
hoje o dia!
Luísa
Encantos
meus
José
Encantos
meus
Luísa
Quanta
alegria
José
Quanta
alegria
Luísa
Prouvera
a Deus
José
Prouvera
a Deus
Luísa
Fôsse
hoje o dia
José
Fôsse
hoje o dia
Luísa
Marido
e mulher
Juntos
assim
Até
à morte!
José
Que
bom há-de ser
Gozar
enfim
Tão
linda sorte!
Ambos
E
depois
Para
os dois
Há-de haver
Uma
vida
Só
tecida
De
prazer.
Mal
te vi
Concebi
Meu
profundo,
Grande
amor,
O
maior
Deste
mundo!
O amor foi sacrificado. José Cigarra, vendo que a sua Luísa
o trocava por outro, por um velho, resolve, despeitado, divertir-se na festa de
S. João, para mostrar que, com ele, estava tudo bem e continuava alegre e
feliz.
Aquelas festas, como de costume, eram muito do agrado do
povo, que nelas procurava divertir-se, esquecendo, ainda que por momentos, as
dificuldades e agruras da vida diária.
Raparigas
Vamos
raparigas,
Não
falte ninguém
A soltar cantigas
E
a bailar também.
Vamos
à função.
Cachopas,
ligeiras:
Saltar
as fogueiras,
Honrar
S. João.
Rapazes
Ai
meu S. João,
Santo
milagreiro,
Ponde
num braseiro
O meu coração.
Alcachofra
ardida
Reflorece
às vezes,
E
após os revezes
É
mais linda a vida.
Raparigas
Da
chama ao calor,
Em
volta do lume,
Rapazes
Da
chama ao calor
Raparigas
Do
próprio ciúme
Refloresce
o amor
Rapazes
Do
próprio ciúme
Raparigas
Morre
o azedume
Do
velho rancor
Rapazes
Morre
o azedume
Raparigas
Refloresce
o amor
Do
próprio ciúme.
Rapazes
Refloresce
o amor.
Sem comentários:
Enviar um comentário