O mês de Setembro, na nossa terra, tinha grandes
festividades religiosas. A primeira nota encontrada foi em Setembro de 1881. “Realisou-se
como dissemos a festa ao S. Sacramento em Tavarede.
No sabbado à noite a Philarmonica Figueirense levando d’esta
villa um numeroso rancho de romeiros
foi alli tocar n’um pavilhão, para esse fim preparado, lindas peças do seu
variado reportório, regressando com a grande comitiva às 11 horas e meia da
noite. A egreja estava muito bem illuminada. Queimaram-se muitas dúzias de
foguetes.
No domingo a orchestra da mesma philarmónica, auxiliada por
alguns amadores, executou bem a missa de Santos Pinto, conhecida pelo nome de
Missa dos dois tenores. Entre os cantores distinguiram-se o nosso particular
amigo e collega dr. Santos Couceiro, que cantou com todo o primor o solo do Quoniam…, o revdº Francisco Pinto d’Almeida, que com a sua bella
voz de basso cantou a solo e duetto Domine Deus,
e dois cantores, um de Coimbra, outro de
Maiorca, cujos nomes não sabemos.
Ao evangelho subiu ao púlpito o reverendo prior de Pereira,
que fez uma brilhante oração, revellando-nos grande talento, felicidade de
imagens, muitos conhecimentos de sciencia theologica, e bastantes de
philosophia moderna. S. Exaª orou também de tarde fazendo a apologia da oração, como poucas temos lido e ouvido.
Não exageramos dizendo que occupa já um logar distincto da nossa oratória
sagrada, que infelizmente às vezes por ahi se vê muito arrastada.
O adorno da Egreja coube ao bem conhecido armador de
Coimbra, Manuel Pereira, que apresentou o templo decorado com toda a magestade
de ornamentação digna da festa e dos festeiros. Os mordomos, auxiliados pelo
nosso exmo amigo e correligionário João José da Costa e sua exma esposa,
houveram-se com toda a bizarria, podendo gabar-se de terem feito uma festa
brilhante.
De tarde houve Te-Deum
e procissão que percorreu as ruas de Tavarede, levando atraz um concurso de
mais de 800 pessoas. A Figueira despovoou-se: a maior parte dos banhistas
escolheram aquele local para passeio e dezenas de madamas foram levar também à
festa o esplendor da sua bellesa. Não houve a mais leve alteração da ordem, não
obstante a provocação que o regedor fez aos seus visinhos, reclamando uma
grande força de tropa, que apenas serviu para estar n’uma caserna. Nada mais”.
Avançando
nos nossos apontamentos, verificamos que, na maioria dos anos seguintes, as
notícias são muito pequenas, anunciam as festas, uma ou outra refere o programa
e pouco mais. Mas eram festas religiosas que atraíam à nossa terra muitos
visitantes. Vejamos, agora, a notícia referente a 1895.
“No sabbado e domingo passado realizou-se nesta freguezia a
festividade ao Santíssimo Sacramento, seguindo-se, pouco mais ou menos, o
programa descrito na nossa ultima correspondência e que reproduziremos pela
forma seguinte:
No sábado à noite houve iluminação com lanternas e balões
venezianos na fachada da igreja; num coreto também iluminado a balões e que foi
levantado no largo da mesma egreja, tocou algumas peças de música a
philarmonica das Alhadas. Foram queimados bastantes foguetes, alguns dos quais
de variadas cores.
No domingo, houve missa solene cantada pelo reverendo Manoel
José da Cunha, acolitado pelos reverendos Margato, de Brenha, Benido, das
Alhadas, dr. Carneira, de Buarcos, Nunes Forte, de Vila Verde, e Rodrigues de
Andrade, prior de Quiaios. Ao evangelho orou o reverendo vigário desta
freguezia, Joaquim da Costa e Silva, que pregou um excelente sermão, que a todos
agradou; em seguida procedeu-se à cerimónia da comunhão, antes da qual o mesmo
orador pronunciou uma pequena prática de exortação às crianças, sendo depois
guiadas por dois anjinhos à mesa da comunhão.
De tarde houve Te-Deum e sermão. Finda esta cerimónia saiu a
procissão, produzindo bonito efeito pela numerosa irmandade à qual se seguiam
as crianças da comunhão, Santíssimo, fechando o préstito a filarmónica e
bastante concurso de povo. A
umbela era conduzida pelo sr. dr. José Jardim.
Já passava das 6 horas quando a procissão recolheu,
terminando a festa da igreja, que foi imponente, concorrendo para tal fim a boa
orquestra e cantores do coro, composto por músicos distintos, de Coimbra e
Figueira; e finalmente a bela ornamentação da igreja, feita pelo afamado
armador de Maiorca, sr. José Horta, justificando assim que são bem merecidos
todos os elogios que lhe são dirigidos.
Nesta festividade serviram pela primeira vez vários objectos
que o reverendo pároco comprou com o importante donativo de 50$000 reis que em
tempo lhe foram oferecidos pela exma srª D. Emília Costa, dos Condados,
destinados à compra de alfaias para a igreja da freguesia. Igualmente foi
estreado um tapete novo, comprado por subscrição pública, cuja iniciativa se
deve ao reverendo vigário desta freguesia”.
A igreja era lindamente ornamentada e a missa solene
acompanhada por orquestra e coro. “... A orquestra do coro, composta por
músicos da Figueira e de Coimbra, todos muito distintos, era magnífica, sendo
sem dúvida o que muito concorreu para o brilho e imponência daquele acto
religioso”.
Havia sido constituida uma confraria que, para sua sede,
tinha solicitado a cedência da capela do Santo Aleixo. “A Irmandade do Santissimo d’esta freguezia pediu em tempo à Junta de
Parochia, tambem de Tavarede, a cedencia do local onde se conservam as ruinas
da capella de Santo Aleixo, afim de ali edificar uma capella para a sua
installação propria.
Convocados e reunidos os membros da
junta para darem o seu parecer sobre o deferimento ou indeferimento ao pedido
da meza da irmandade, resolveram, mediante certas condições preventivas para
eventualidades futuras, ceder o terreno em questão.
O que é certo é que já são passados
alguns mezes e ainda até hoje não vimos começar com as obras, ou, pelo menos,
tractar de reunir os elementos para ellas, quando de mais a mais havia muitos
irmãos da confraria e outras pessoas particulares que concorreriam com
materiaes para a construcção da referida capella, e que no cofre da irmandade
há tambem algumas importancias que tem sobrado das esmolas com que o povo de
Tavarede tem contribuido para a realisação das festas do SS que se teem
effectuado nos mezes de setembro dos ultimos tres annos.
Vem isto a proposito de na nossa carta
anterior termos pedido à Junta de Parochia para que mandasse demolir aquelas
ruinas, que podem mais dia menos dia causar serios desastres, não nos lembrando
já do pedido que lhe fôra feito há mezes pela Irmandade.
Arrazar-se aquelle local tambem não
pode admittir-se, pelo que agora nos dizem, em vista de n’elle se conservarem
algumas ossadas de cadaveres que recentemente ali foram sepultados. Portanto,
porque não tracta a confraria de proceder às obras que tinha vontade de ali
fazer e para cujo fim fez reunir uma corporação a quem se não devem transmittir
pedidos levianos...”.
Sem comentários:
Enviar um comentário