sábado, 28 de setembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 42

         Igualmente referimos o sexto aniversário do Grupo Musical Carritense. Pela forma como vem servindo a causa que abraçou – educação do povo -, merece que lhe rendamos as nossas homenagens, fazendo votos sinceros para que a tão útil instituição nunca faltem forças para seguir no caminho do progresso, isto é, no engrandecimento de Tavarede.

         Encontrámos o registo da programação de mais duas saídas. Uma do Grupo Musical, que estava a organizar uma excursão a Leiria, com as operetas Noite de Santo António e Entre duas Avé-Marias. Outra, a Sociedade, que em Março de 1930 chegou a ter combinada uma ida a Vizeu com as fantasias O sonho do cavador e A cigarra e a formiga.
Pensamos que nenhuma destas deslocações se concretizou. Da última verificou-se a indisponibilidade da sala na data prevista e quanto à primeira não se encontrou mais qualquer informação na imprensa nem nos registos da associação.

         Este ano de 1930 foi dificil, mesmo dramática para o Grupo, como já referimos. Mas, para finalizar este caderno, iremos agora registar a primeira saída do grupo cénico da Sociedade de Instrução para fora do concelho. Teve lugar em Julho daquele ano, com as fantasias A cigarra e a formiga e O sonho do cavador.


A primeira deslocação a Tomar

         A direcção da simpática Sociedade de Instrução Tavaredense tem fortes razões para sentir-se inteiramente satisfeita com o brilho invulgar, com o êxito verdadeiramente notável da sua última iniciativa: a visita a Tomar.
         Promovendo esta visita, a Sociedade de Instrução não proporcionou somente um passeio magnífico, tanto sob o ponto de vista de beleza como educativo, aos 80 elementos da sua secção teatro: realizou um acto digno de ser considerado pelo que êle representa de valioso no estreitamento de relações entre Figueira e Tomar, na propaganda recíproca das duas cidades.
         Tomar conhece mais a Figueira do que a Figueira conhece Tomar. Ali o número de pessoas que vêm à nossa praia passar o verão é relativamente elevado, constituindo uma colónia em que predominam a admiração e a simpatia pela nossa terra. Com a visita de agora, se esta simpatia naturalmente alastra e se avigora, também é verdade que Tomar conquistou lugar no espírito dos figueirenses, que para a Figueira vieram verdadeiramente encantados. E tanto e de tal maneira, que muitos se dispõem a repetir o passeio e fazem, aliás com verdade, a mais convincente propaganda de Tomar.
         E compreende-se que assim seja!
         Tomar é uma terra privilegiada de beleza. A cidade não é grande. Quem subiu lá acima ao castelo – que panorama de deslumbramento! – vê-a muito aconchegada, as casas encostadas umas às outras, comprimindo-se, afastando-se dum e outro lado das ruas perpendiculares que vão dar ao sopé do monte, partindo da praça em frente da Câmara, até que a vista encontra, lá ao fundo, a corrente verde-azulada do rio, ensombrado de esguios choupos e langorosos chorões. Mas as suas belezas naturais e o valor artístico dos seus monumentos dão-lhe grande e justo renome como verdadeira cidade de turismo que é.
         A paisagem é deslumbradora. Em redor, perdendo-se nos longes, alastra na planície e trepa às encostas a mancha acizentada dos olivedos, sôbre os quais o oiro do sol parece transformar-se em prata.
         Mais perto de nós, nos jardins e nos quintais que ficam dentro da cidade, a vegetação é exuberante, o verde é o fundo sôbre que se projecta e brinca e se transforma a luz.
         Há frescura saudável – Tomar bebe-a constantemente no seu rio pródigo e lindo, fonte de riqueza e de poesia: são as águas nabantinas que alimentam as noras pitorescas que regam hortas e jardins, e cantam nos açudes a canção da energia que movimenta os maquinismos das fábricas, e dão a graça e a ternura ao arvoredo e às sebes das margens acolhedoras que chamam pelo Amor...
         O convento de Cristo é uma jóia que por si só justifica uma visita a Tomar. O espírito sente-se preso no rendilhado daquelas pedras que falam da nossa história – e as horas passam sem que sintamos aproximar o desejo de nos apartarmos de tanta maravilha.
         E o povo de Tomar? A sua franqueza, a sua comunicativa sinceridade, o carinho que não esconde aos seus visitantes, o espírito acolhedor que faz a sua tradição de povo hospitaleiro como nenhum outro o é mais!
         Tomar vivia há cêrca de um mês no pensamento dos promotores dêste passeio. Até que o dia próprio chegou.
         A excursão partiu da Figueira no combóio das 9,50 de domingo, seguindo nela, além dos elementos do grupo teatral da Sociedade de Instrução Tavaredense, muitas outras pessoas da Figueira. Eram cêrca de duas centenas os excursionistas. E muitas mais teriam sido se a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses tivesse concedido facilidades para o transporte. Além das que seguiram pelo combóio muitas pessoas foram da Figueira em automóveis.
         Após uma longa demora na Lamarosa, chega o combóio que conduz a excursão pelo ramal de Tomar.
         Os figueirenses sabiam, contavam que seriam recebidos com simpatia. Mas não podiam esperar a grandiosidade das manifestações que lhes reservavam os tomarenses.
         Finalmente o combóio parou, e uma grande girândola de foguetes estraleja no espaço. Cá dentro, na gare, trocam-se os primeiros cumprimentos estão a comissão de recepção, representantes da Câmara Municipal, das diversas agremiações locais, imprensa, etc.; está também a comissão de gentis senhoras, a quem o presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense oferece, em nome dos excursionistas, um lindíssimo ramo de cravos.
         Lá fora, uma multidão enorme aguardava os visitantes. A manifestação é calorosa, ouvindo-se palmas e vivas incessantemente. O estandarte da Sociedade de Instrução cruza com os das associações que ali esperavam. A Tuna Comercial e Industrial de Tomar, a Banda Republicana Marcial Nabantina e a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais executam os seus hinos. E, em meio de grande entusiasmo, forma-se um cortejo imponente em que estão representados, além da comissão de recepção, a Câmara Municipal, Associação Comercial e Industrial, Centro Democrático Tomarense, Clube Tomarense, Grémio Artístico Tomarense, Tuna Comercial e Industrial de Tomar, Banda Republicana Marcial Nabantina, Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, Sporting Clube de Tomar, União Foot-ball Comércio e Indústria, Associação de Classe dos Caixeiros de Tomar, Orfeão Tomarense, jornal “De Tomar”, jornal “Acção”, Liga dos Combatentes da Grande Guerra, os excursionistas e muito povo.
         O cortejo atravessou as ruas da cidade por entre aclamações e vivas. Das janelas pendiam ricas e lindas colchas e as senhoras atiravam flores. Os da Figueira, entusiasmados e reconhecidos, gritavam: - “Viva Tomar! Vivam as senhoras de Tomar! Viva o povo tomarense!” – e logo a multidão correspondia e as muitas centenas de vozes diziam: “Viva a Figueira! Viva a Sociedade de Instrução Tavaredense!”.
         O cortejo, enorme, imponente, as bandas de música e a tuna tocando alternadamente, sobe a Rua de Serpa Pinto, cujo aspecto era deslumbrante. As aclamações sucedem-se e as flores não deixam de caír das janelas engalanadas. Ao desembocar na praça, em frente ao edifício da Câmara Municipal, uma grande girândola de foguetes sobe e estraleja no ar.
         Os excursionistas são recebidos na escada pela comissão administrativa e sobem ao andar nobre. A sala das sessões enche-se rapidamente, ficando a multidão pela escadaria e no largo fronteiro.
         O sr. tenente José da Rocha Mendes, vogal da comissão administrativa que estava servindo de presidente, apresenta saudações de boas-vindas aos visitantes.
         No seu discurso fala das belezas de Tomar, dos seus atractivos como cidade de turismo, dos seus monumentos gloriosos. Afirma a sua simpatia pelos visitantes e faz um elogio rasgado e caloroso da acção educativa da Sociedade de Instrução Tavaredense, promotora desta excursão, lamentando que associações como estas não estejam espalhadas por todo o país. Ao terminar, afirmando o seu desejo de que os visitantes levem de Tomar as mesmas agradáveis impressões que de si hão de deixar, ouviu-se uma entusiástica e prolongada ovação.
         Respondeu José Ribeiro em nome dos excursionistas. Num discurso breve agradeceu as saudações e afirmou o seu reconhecimento perdurável pelo acolhimento mais do que amável, mais do que gentil, porque era sinceramente carinhoso, que lhes dispensava o povo de Tomar e que ali, na Câmara Municipal, tão eloquentemente se ratificava. E, tendo palavras de admiração pela cidade de Tomar, e pelas qualidades afectivas e virtudes cívicas do seu povo, terminou erguendo um viva a Tomar, que foi secundado e aplaudido delirantemente.
         Terminada a sessão de boas-vindas, que foi entusiástica e amistosíssima, o cortejo dispersou.
         Depois de a Direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense ter apresentado cumprimentos no Quartel General, foi recebida, com mais figueirenses que a acompanhavam, no Grémio Artístico, onde lhe foi oferecido um “Pôrto de Honra” pela comissão de recepção, constituída pelos senhores..........
         Trocaram-se entusiásticos brindes por Tomar, pela Figueira, por Tavarede, pelas agremiações de Tomar e pela Sociedade promotora da excursão.
         Esta gentileza da comissão de recepção – que não seria a última! – deixou os visitantes reconhecidíssimos.
         Muitos excursionistas aproveitaram o resto da tarde para visitar os lugares pitorescos da cidade.
         À noite realizava-se no teatro a récita anunciada, na qual o grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense representava a fantasia A Cigarra e a Formiga.
         Os visitantes, ao entrarem no teatro, não puderam esconder a sua surprêsa. A sala estava ricamente ornamentada. Mas não era apenas a riqueza da ornamentação que deslumbrava: eram, sobretudo, o seu bom-gôsto e a sua requintada feição artística. No proscénio, suspensas no alto, uma enorme cigarra e uma formiga de igual tamanho eram como que o título da peça que ia representar-se ali no palco. Magistralmente construídas, são um trabalho que honra quem o fez, o sr. Augusto Alves Henriques. E tôda a restante ornamentação, que recebeu a influência e foi dirigida pelo sentimento artístico do sr. Francisco António Ainado, era alusiva à peça. Na ribalta, sôbre a verdura das ervas, viam-se dois carreiros de formigas – curiosíssima estilização – carregando caixas e sacos; a um e outro lado do palco, duas grandes cigarras tocando guitarra, com efeitos de luz eléctrica. No primeiro balcão, em tôda a volta, em quadros encimados por uma cigarra, descrevia-se a fábula de La Fontaine; aqui e ali, sôbre as colchas riquíssimas artisticamente dispostas, mais cigarras; e ainda em tôda a volta – um friso de formigas; e muitas flores artificiais, feitas por mãos delicadas de senhoras, agrupavam-se em lindos desenhos. Tudo isto formava um conjunto raro de beleza, produzindo um efeito deslumbrante.
         Quando subiu o pano, estavam no palco a comissão de gentis senhoras de Tomar – srªs DD.........., alguns elementos da comissão de recepção e os representantes da Sociedade de Instrução Tavaredense, com o estandarte. A orquestra executou o hino desta colectividade, que a assistência saúda com uma carinhosa salva de palmas.
         O sr. dr. Amilcar Tavares Casquilho faz, num discurso brilhante, a apresentação do grupo de amadores tavaredenses e do sr. dr. José Gomes Cruz, que com perfeito conhecimento poderá falar à assistência da acção dêste simpático núcleo. Regosija-se com esta visita, salientando as vantagens que podem resultar dum maior estreitamento de relações entre a Figueira e Tomar, e termina com um viva à Sociedade de Instrução Tavaredense. A assistência aplaudiu demoradamente o sr. dr. Casquilho.
         Respondeu-lhe o sr. dr. José Cruz, que agradeceu as referências feitas e explicou a constituição dêste grupo de amadores da sua terra, falando também sôbre a obra educativa da Sociedade de Instrução. Terminou exprimindo a gratidão que ia no espírito de todos os que vieram a Tomar e aqui tiveram o penhorante e inesquecível acolhimento que lhes foi dispensado. Uma salva de palmas, entusiásticas, demorada se ouviu sôbre as últimas palavras do ilustre tavaredense, palmas que de novo se reacendem quando da comissão de senhoras se destaca a figura gentilíssima da sua presidente e coloca na bandeira da Sociedade de Instrução Tavaredense uma fita comemorativa desta visita. É uma riquíssima fita de sêda preta e vermelha – as côres da cidade de Tomar – primoroso trabalho de pintura do sr. Joaquim Tamagnini Barbosa, figura de prestígio moral pelas suas qualidades e virtudes cívicas e que desta forma se associou às homenagens prestadas pelos tomarenses.
         Seguiu-se a representação da fantasia A Cigarra e a Formiga, cujo agrado foi enorme. Logo no 1º acto, quando terminou o número de apresentação de José Cigarra, a assistência irrompeu na ovação mais calorosa que pode imaginar-se. Os bravos e as palmas demoraram-se com um entusiasmo indescritivel. Muitos números foram bisados e nos finais de acto as ovações atingiram o rubro.
         A assistência, tendo sabido que estava num camarote o distinto artista e poeta Alberto de Lacerda, obrigou-o a vir ao palco. António Simões teve várias chamadas especiais, sendo aplaudidíssimo com admiração e simpatia.
         O teatro estava cheio e os espectadores retiraram com uma impressão de agrado que a ninguém escondiam.
         Tomar tem a sua Misericórdia. É uma instituição benemérita, cujo estabelecimento hospitalar é digno de ver-se. Faz honra à cidade. Não será fácil encontrar melhor, nem sequer igual, em terras como Tomar. Quem o visita traz de lá uma impressão que não esquece. A amplidão dos seus corredores, o asseio irrepreensível, o confôrto que se prodigaliza aos doentes, o bem-estar possível, as enfermarias bem arejadas e cheias de luz, a esplêndida e moderna sala de cirurgia – como a da Misericórdia da Figueira -, tôdas as dependências e instalações bem situadas, conforme o plano geral previamente estudado por arquitecto competente, tudo isto e o mais impressiona bem. E êste notabilíssimo desenvolvimento do hospital de Tomar é obra de relativamente poucos anos. Fez-se com um auxílio dum donativo de 240 contos do benemérito sr. João de Oliveira Casquilho, honrado e bemquisto cidadão felizmente ainda vivo, com mais de 90 anos, e cuja actividade e espírito empreendedor estão bem patentes na sua fábrica de papel da Matrena. Mas esta obra benemérita do hospital deve-se também à sua Mesa administrativa, que tem como provedor o respeitado tomarense sr. João Tôrres Pereira, figura de prestígio cujos cabelos brancos falam dos seus muitos anos dedicação à sua terra; e principalmente, ao distinto médico sr. dr. Cândido Madureira, alma talhada para o bem, dedicando-se inteiramente ao sofrimento alheio. Trabalha no hospital há quási trinta anos, com uma devoção, uma pertinácia e, sobretudo, uma inteligência notáveis. Quando se encontram exemplos como êste do dr. Madureira – que a população tomarense justamente admira com simpatia – não se pode deixar de acreditar na solidariedade e na bondade da alma.
         Pois a Sociedade de Instrução Tavaredense ofereceu à Misericórdia a récita de segunda-feira.
         O teatro encheu-se de novo. O mesmo entusiasmo. A mesma vibração. O mesmo sentimento de carinho a manifestar-se em tudo e em todos. Se na véspera intérpretes, autores e maestro foram aplaudidos e chamados, não o foram com menos entusiasmo no Sonho do Cavador. A excelente orquestra contribuiu poderosamente para o brilho do espectáculo. Justamente foi de novo chamado ao palco António Simões, a quem os espectadores significaram o seu muito agrado pela formosa partitura. E a récita terminou – tendo José Ribeiro proferido algumas palavras de despedida e agradecimento – em meio dum entusiasmo delirante.
         O provedor da Misericórdia e o médico sr. dr. Madureira foram ao palco cunprimentar o grupo.
         O regresso fêz-se na têrça-feira, no combóio que sai de Tomar às 12,35.
         À estação do caminho e ferro foram apresentar despedidas representantes da comissão de recepção e de várias organizações locais. Também ali estiveram os srs. Tôrres Pereira e dr. Cândido Madureira, representando a Misericórdia. À partida do combóio ergueram-se vivas e trocaram-se despedidas que exprimiam a alegria e a saudade, tanto nos que partiam como nos que ficavam.
         Uma outra demonstração de simpatia estava ainda reservada aos excursionistas: um grupo de tomarenses veio de automóvel a Chão de Maçãs, ao encontro do combóio em que a excursão regressava à Figueira, fazendo entrega dum ramo de flores.
         = Os excursionistas, dividindo-se em grupos, visitaram os pontos mais agradáveis da cidade, monumentos, fábricas, etc. Demoraram-se no aprazível parque do Monchão, gozando a sua amenidade; subiram ao castelo dos templários, percorreram o famoso e formoso Convento de Cristo; viram funcionar as fábricas de tecidos de algodão, assistiram ao fabrico de papel no Prado e na Matrena, etc. etc. De tôda a parte trouxeram as impressões mais gratas pelas facilidades que lhes dispensaram.
         = Assistiu aos dois espectáculos o sr. brigadeiro Lacerda Machado, comandante da região, a quem a comissão de recepção apresentou a direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense.
         = Muitas foram as amabilidades recebidas. A firma Joaquim José Soeiro, ofereceu às amadoras do grupo dramático uma caixa de finíssimos rebuçados da sua fábrica “A Preferida”.
         = A direcção do Grémio Artístico foi duma cativante gentileza para com os visitantes, pondo as suas salas inteiramente à sua disposição. No fim dos espectáculos foram ali oferecidos bailes aos componentes do grupo dramático e pessoas que o acompanhavam, dançando-se animadamente, nas duas noites, até cêrca das 5 horas da madrugada.
         = Os excursionistas, que se distribuiram pelo Hotel União Comercial, Pensão Moderna e Hotel Nabão, fazem as melhores referências à maneira como foram tratados.
         = A Sociedade promotora desta visita está reconhecidíssima à comissão de recepção, que foi incansável. A gratidão da Sociedade de Instrução Tavaredense é profunda, e não pode exprimir-se em palavras.
         Merece também os maiores elogios o Sporting Clube de Tomar, que propositadamente não deu espectáculo no domingo.
         Foi ainda importantíssima a colaboração dos briosos rapazes do União Foot-ball Comércio e Indústria, na ornamentação do teatro. Durante noites consecutivas trabalhou-se activamente nas salas dêste clube.
         = O jornal “De Tomar” publicou um número especial que foi distribuído pelos visitantes. A primeira página era-lhes dedicada e trazia uma gravura da praia da Figueira.
         = Regosijamo-nos com o êxito brilhantíssimo desta iniciativa da Sociedade de Instrução Tavaredense. Felicitamo-la.
         E, saudando a hospitaleira cidade de Tomar, formulamos sinceros votos pelo seu progresso.

         Iremos continuar estas recordações num segundo caderno. Ainda nos debruçaremos aos finais da década de 1920 – 1930. Não sabemos se conseguiremos narrar o que de mais marcante se passou na terra do limonete relativamente ao Associativismo. As desavenças foram muitas. E, como sabemos, se a Sociedade de Instrução soube ultrapassar as adversidades, o Grupo Musical foi a grande vítima, vendo-se na necessidade de vender a sua sede e ali continuar como inquilino. Pouco tempo, digamos desde já!


Uma cena de Mãe Maria - Grupo

sábado, 21 de setembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 41

         E o Grupo Musical levou a efeito mais uma garraiada. O tempo esteve agradável e a garraiada foi brilhante. Todos os rapazes desempenharam o melhor que puderam os papéis de que estavam encarregados, e salientamos os cavaleiros que se portaram galhardamente. Mas, como já sabemos, os resultados financeiros foram insuficientes. Também já referimos que o cinema foi outra tentativa de angariar fundos. Registemos, para a história, o programa da primeira sessão que teve lugar na sua sede. O VI Portugal – Espanha em futebol, Rin-Tin-Tin e os lobos e Charlot na Rua da Paz. E acrescente-se que, logo na primeira sessão, a máquina avariou, pelo que o programa teve que ser repetido no domingo seguinte.

         Chegados à data habitual, realizaram-se as habituais comemorações dos aniversários. Vamos recordar essas festas. Primeiro foi o Grupo Musical. Como noticiámos, o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, colectividade da visinha povoação de Tavarede, comemorou no passado sábado e domingo, o 18º aniversario da sua fundação.
         Sem dúvida, revestiram-se de brilho as suas festas, chamando ali uma concorrencia extraordinaria, o que mais imponentemente fez realçar os numeros que constituiram o programa, que foram cumpridos na integra.
         Bem mereceu o simpático Grupo Tavaredense, esta distinção, dado o valor em que exerce a sua acção, de tão úteis e beneficentes resultados para o povo daquela risonha terra.
         E renovando os nossos agradecimentos pelo seu amavel convite, que gentilmente enviaram ao nosso jornal, passamos a descrever resumidamente, o que foram as festas da simpatica colectividade.
         Sábado, 21 – ao 21 horas, hora marcada para o Espectaculo de Gala. O salão teatro oferecia um aspecto empolgante. Uma massa apinhada de povo, enchia por completo o elegante teatrinho, como alguem lhe chamou, vendo-se ainda de pé, muitas dezenas de pessoas que não tiveram logar. À volta, colgaduras damascadas num recorte de fino gosto, ornamentavam as paredes. Dum lado, pendiam os retratos do Grupo Scenico, de João Chagas e da srª D. Maria Aguas Ferreira. Do outro, o do saudoso maestro David de Sousa, maestro distincto, que no auge da sua brilhante carreira, tombou no leito da morte; de Antonio Medina, fundador e dedicado amigo desta colectividade, e em ultimo logar, senão o primeiro, a figura simpatica e inexquecivel de José Medina, do excelente amador tavaredense. Ao fundo pendia um largo galhardete do Grupo Musical, contendo as suas iniciais, e atravessada, uma facha com a palavra Amigos. Era a oferta e homenagem do “Grupo dos Amigos”.
         E no palco pendia o estandarte, como que sorrindo de contentamento pela ofegante atmosfera que ali se respirava e parecia querer abençoar aqueles que há 18 anos lhe vêm dispensando o seu carinho e auxilio desinteressados.

Maria Águas Ferreira

         A assistencia, de pé e religioso silencio, ouve o hino que irrompe executado pela orquestra, sob a direcção de Antonio Cordeiro.
         Segue-se a representação da comédia, Os dois Nénés, que agradou, sendo ainda Violinda Medina, o alvo dos aplausos. Terminada que foi a exibição do film Billy, carinha n’agua, teve logar a representação da chistosa opereta em 1 acto Herança do 103, que terminou a recita de gala.
         Calculamos que toda a existencia saíu satisfeita e bem disposta.
         Passamos agora ao Domingo, 22.
         De manhã. houve alvorada, anunciada por uma fanfarra, acompanhada de foguetes, que deram a Tavarede um ar festivo.
         Ao meio dia, teve logar o bôdo aos pobres, sem duvida o número mais simpatico dos que constituiam o programa das festas.
         Esperava-se a Sessão Solene.
         Eram 5 horas, quando apareceu no palco o sr. Antonio d’Oliveira Cordeiro, que convidou a presidir àquela sessão, o sr. Pedro dos Santos Moreira, dignissimo professor oficial naquela terra.
         Sua Exª que é recebido com palmas, convidou para o secretariarem os srs. Augusto d’Oliveira Santos, representante da Troupe Recreativa Brenhense, e Pedro Collet Meygret representante da Sociedade Columbofila da Figueira.
         Seguidamente, procedeu-se à leitura do expediente, que era longo, e do qual desejamos salientar as ultimas duas cartas, vindas de Sintra. A primeira era da pequenita Almira, filha do nosso amigo Antonio Medina Junior, e a segunda, deste mesmo senhor, que era escrita num estilo proprio daqueles que, embora longe, não se esquecem daquilo que há 18 anos lhe tem absorvido uma parte do seu sentir.
         E foi dada a palavra ao sr. Manuel d’Oliveira Cordeiro, que leu um discurso de sua auctoria em que fez referencia especial à Mocidade desta colectividade. Seguidamente falaram os srs. Antonio d’Oliveira Lopes, presidente da Direcção cessante que tambem leu um bem urdido discurso, e José Maria de Carvalho, que recordou, com saudade, a alma de José Medina e agradeceu em nome dos socios do Grupo Musical ao sr. Moreira, o carinho desinteressado que vem prestando ao povo Tavaredense, mantendo-lhe e admnistrando-lhe as suas aulas de instrução.
         E em ultimo lugar, usou da palavra o sr. Rui Fernandes Martins, professor oficial em Brenha, que demonstrou quaes os beneficios que das colectividades de Instrução, advem, e a necessidade de se manterem, integralmente unidos, para bem da Patria e da Republica. Terminou por afirmar que, se por ventura, a vida e a saude lhe permitirem, tomará parte na festa do proximo ano.
         Seguidamente, o sr. Presidente fez uma alocução ao acto que se estava passando, e, encerrou a Sessão.
         Depois teve logar no gabinete da Direcção, um copo d’agua, oferecido aos novos corpos gerentes, oradores e representantes de colectividades, tendo ainda brindado os srs. Rui Martins e Antonio Maria Lopes Anadio.
         Representavam colectividades os srs.: Augusto Santos, a Troupe Recreativa Brenhense; Pedro Collet Meygret, a Sociedade Columbófila da Figueira; José Lopes Custódio, a Associação dos Caixeiros; Antonio Correia, União Foot-ball de Buarcos; e Antonio M. Lopes Anadio, a Boa União Alhadense.
         À noite teve logar o Baile de Gala, que esteve muitissimo concorrido tendo terminado já bastante tarde.
         Felicitamos a briosa colectividade Tavaredense, e oxalá que à medida que os anos se vão sucedendo, a sua acção beneficente aumente na mesma proporção para o povo daquela risonha terra aproveitar tal beneficio.

         Seguiu-se, pouco depois, a comemoração do 26º aniversário da Sociedade. A obra, verdadeiramente notável no capítulo da educação popular, que a Sociedade de Instrução Tavaredense realiza na vizinha povoação de Tavarede, é bem conhecida. Devemos filiar nesta circunstância a expressiva e calorosa simpatia que o público dedica a esta colectividade e que se não dispensa de lhe testemunhar por ocasião dos seus aniversários.
         Na verdade, a acção desenvolvida pela Sociedade de Instrução Tavaredense é admirável sob todos os pontos de vista. Mantém, há quási três dezenas de anos, uma escola nocturna onde se recebem alunos, menores e adultos, sócios ou não sócios, aos quais é fornecido gratuitamente todo o material escolar. Não se limita a isto a sua função. Vai mais longe: entra no capítulo da educação e da cultura artística, limitada, como se compreende, às condições do meio -, servindo-se para isso do livro, da palestra educativa e do teatro. A influência moral e educativa exercida por intermédio do teatro, tanto sôbre os que nêle representam como nos espectadores, é evidente. Para atingir êste objectivo, segue-se na escolha das peças – algumas das quais expressamente escritas para êste fim – o critério de que o teatro não deve servir apenas para proporcionar distracção, deve, principalmente, ser um veículo de educação moral e cívica e até, num meio como é o de aldeia, um instrumento de cultura.
         Foi-nos muito grato verificar, por isso mesmo, a demonstração vibrante de simpatia pela benemérita agremiação tavaredense, a que deu lugar a festa do seu 26º aniversário.
         O programa executou-se com brilho excepcional, havendo nêle alguns números de muito relêvo.
         No sábado, a récita de gala reuniu no teatro, artisticamente ornamentado e iluminado – colchas de damasco nas paredes, flores, enorme profusão de lâmpadas eléctricas e um formoso lustre, nas côres da Sociedade de Instrução -, uma assistência numerosíssima e distinta.
         Abriu a récita a alta-comédia em 1 acto O Caso de Consciência, de Octave Feuillet, em cujo desempenho Maria Tereza de Oliveira, António Broeiro e João Cascão souberam com justiça fazer-se aplaudir.
         Seguiu-se a peça em 1 acto Evocação, que deixou no público, mais pelo desempenho que propriamente pela peça, uma impressão agradabilíssima, diremos mesmo uma sensação de arte que bem se exteriorizou em aplausos calorosos. Emília Monteiro, Maria Tereza de Oliveira, António Broeiro e João Cascão representaram admiravelmente, mantendo uma perfeita harmonia de conjunto como não é fácil conseguir melhor em teatros de amadores duma pequena aldeia. Dignas de nota especial as primorosas caracterizações de António Esteves.
         E a récita fechou com chave de ouro – a opereta O 66, cuja dificílima e formosíssima partitura teve execução esplêndida pela orquestra dirigida pelo distinto amador sr. António Simões, que a assistência chamou ao palco para melhor o aplaudir, e foi muito bem cantada por Emília Monteiro, João Cascão e Francisco Carvalho. A representação teve o ritmo próprio, decorrendo com uma animação exuberante. Muito bem! Os aplausos foram entusiásticos e merecidos. A montagem era magnífica, figurando nela um fundo de belo efeito do distinto artista pintor sr. Henrique Tavares.
         No domingo, fez a alvorada um grupo musical, que percorreu as ruas de Tavarede executando o hino. Era constituído por sócios da Sociedade de Instrução, ensaiados pelo sr. José Medina, que é um hábil e competente amador de música.
         Pelas 11 horas foi servido a cêrca de 60 crianças da freguesia, o almôço oferecido pelo grupo dos “Fixes”. Foi um número simpático. O aspecto das mesas, muito bem dispostas no palco, era interessante.
         À tarde, a povoação apresentava o aspecto dos grandes dias de festa. Muita gente, centenas de pessoas da Figueira, Quiaios, Brenha, Alhadas, Buarcos, etc. A distinta banda “10 de Agôsto” entrou em Tavarede, pouco depois das 15 horas, executando o hino da Sociedade. E em seguida, no Largo do Terreiro, fez-se uma largada de dezenas de pombos correios. Êste número, gentilmente organizado pela Sociedade Columbófila, despertou curiosidade nas centenas de pessoas que assistiam.
         Tendo chegado a esplêndida tuna do Grupo Instrução e Recreio de Quiaios, deu-se comêço à sessão solene, que foi, sob todos os aspectos, brilhante. Teve carácter, teve imponência invulgar. A falta de espaço não nos permite fazer um relato mais desenvolvido.
         O sr. João Gaspar de Lemos, presidente da Assembleia Geral, convidou para secretariarem os srs. Raúl Dias Cachulo, pela “10 de Agôsto”, António Mariano, pelo Grupo Instrução e Recreio, Rui Martins, distinto professor em Brenha e Anselmo Cardoso Júnior, pelo Ateneu Alhadense. Abrindo a sessão o grupo musical da Sociedade de Instrução Tavaredense executou o seu hino, em seguida ao que a presidência foi entregue ao tavaredense ilustre sr. dr. José Cruz. Proferiram discursos os srs. dr. Manuel Cruz, António Anadio, que pediu a palavra em nome da União Alhadense, Rui Martins, dr. Manuel Lontro Mariano, dr. Júlio Gonçalves e José da Silva Ribeiro, discursos que a assistência, que enchia completamente a sala e transbordava para o átrio e corredores, aplaudiu calorosamente. O sr. dr. José Cruz proferiu algumas palavras de admiração pela obra da colectividade em festa, encerrando a sessão depois de transmitir um abraço aos seus representantes, agradecimentos ao Grupo Instrução e Recreio e Filarmónica “10 de Agôsto”, por entre aclamações e erguendo-se a assistência para escutar o hino da Sociedade de Instrução Tavaredense, executado pela Tuna de Quiaios e pela “10 de Agôsto”.
         À noite, de novo as salas voltaram a encher-se. O baile de gala foi brilhante e concorridíssimo, como ainda ali não houve melhor. As famílias dos sócios e convidados acorreram em grande número, enchendo completamente a sala de baile.
         E as festas comemorativas do 26º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense terminaram na madrugada de segunda-feira, deixando no espírito dos que a elas assistiram uma impressão que não esquecem.
         À benemerente colectividade tavaredense, que tão proficuamente tem sabido exercer a sua função, renovamos as nossas saudações.


sábado, 14 de setembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 40

       E no dia 30 de Junho, o Grupo Musical também foi à Figueira representar, no Parque Cine, a opereta Mãe Maria. Conforme o nosso jornal noticiou, tivemos no domingo passado, no teatro Parque-Cine, a representação da opereta em 3 actos A Mãe Maria, original de Raul Martins, com versos de Antonio Amargo e musica de Herculano Rocha.
         A acção é rasoavel, bem conduzida, e, para não fugir à tradição das peças do genero, é passada numa aldeia do verdejante Minho.
         O enrêdo não é de todo vasio de intuitos. Consegue conquistar desde o começo a atenção do publico, mantendo-se o diálogo animado, natural e sugestivo, especialmente quando entra a Mãe Maria e o Prior.
         Nota-se, contudo, uma sensivel falta de observação psicológica que embora não seja de gravidade, é deveras lamentavel.
         O prior não desempenha ali o papel que aos padres está confiado na terra.
         Anda na pandega, bebe rasoavelmente, e chega a sustentar conversas pouco correctas com uma caricata velhota, censurando-a ironicamente e troçando-a – o que não é, positivamente, o dever dum padre. E a mais rudimentar logica não permite aceitar como verosimil que o prior duma aldeia minhota ande a peitar este ou aquele para tirar um desforço violento do boticario e do sacristão, por estes terem tido o desplante de escreverem umas declarações d’amôr a uma sua irmã – como absurdo é alguns dos freguezes deste prior tratarem-no por tu, com uma familiaridade inadmissivel para quem conhece os usos e costumes das boas terras d’Entre-Douro-Minho.
         Em suma: O sr. Raul Martins creando d’est’arte o prior da sua peça, deu-nos claramente a perceber a falta total de informação religiosa que domina o seu, aliás, inteligente espirito.
         A missão do sacerdote não comporta, certamente, dentro dos fins da paz e amor que a orientam – o perfil moral do seu inverosimil prior que... apenas se sabe que o é por envergar em scena as vestes talares.
         Apesar disso é “A Mãe Maria” uma peça interessante, devendo, contudo, dizer que esperavamos melhor, mesmo muito melhor – dada a impressão que nos deixou a representação da opereta dos mesmos auctores “A noite de Santo António” que tem sobre esta evidente superioridade de urdidura e de tecnica.

         Não esperavamos, evidentemente, uma obra-prima, mas não previamos que, sobretudo, os versos de “A Mãe Maria”, - fossem duma tão manifesta inferioridade em relação aos da “Noite de Santo António”. Quasi que não parecem do mesmo auctor, poeta brilhante e de destra cultura.



Foto de Mãe Maria

         Quanto ao desempenho, destacamos em primeiro logar, Violinda Medina, no papel de Mãe Maria que desempenhou com um á-vontade e uma perfeita correcção, que vieram confirmar os seus anteriores triunfos scenicos. A sua voz é como que um veio de agua cristalina, murmurando suavemente por entre fraguedos, modulando o canto com um raro e precioso sentimento que muitas artistas profissionais, certamente, invejariam. É, sem duvida, uma muito distincta amadora que honra, sobremaneira, Tavarede.
         Adriano Silva no Bento Boticário satisfez-nos plenamente, como amador seguro, dizendo com graça e naturalidade. Egualmente Manuel Nogueira no Antonio Sacristão foi um comico impagavel, conquistando a simpatia do publico pela vida invulgar que imprimiu ao papel.
         É sem a menor duvida um dos melhores elementos do seu grupo scenico.
         Raul Martins, pela forma como se houve no Morgado, bastaria para, com Violinda Medina, salvarem a peça, se ela não tivesse outros méritos.
         Foi o correcto galan de sempre, vincando com certeza e consciencia o seu logar.
         Manuel Cordeiro, bem. É um novo nas lides de Talma, mas com marcada propensão para a scena e dotes muito apreciaveis.
         De Jorge Medina, sómente diremos que “filho de peixe sabe nadar”... Recordámos com saudade seu pae, o malogrado José Medina, cuja boa tradição ele já sabe honrar, registando nós com aprazimento os seus constantes progressos.
         Clarisse Cordeiro apesar das suas reaes aptidões para o teatro não poude brilhar no papel de Berta como poderia, pois a sua voz não lhe permitiu dar o relevo preciso. Tem, porem, uma boa dicção e pisa o palco com natural despreocupação.
         Os restantes, João Nogueira no Ricardo; Antonio Medina no Mordomo e Helena Gomes na D. Ana, encarnaram bem os seus papeis, não desmanchando o conjuncto.
         Os córos geralmente bons; homogeneos e com forte sonoridade tendo, por vezes, deslises sensiveis mas facilmente remediaveis para o futuro.
         A musica, ligeira, viva e alegre, dispondo bem o publico. Os scenarios agradaram.
         O que, porventura, não agradará é esta nossa critica aos distinctos amadores de Tavarede... Notámos deficiencias, aliás bem naturaes – mas se acharem o nosso juizo parcial ou incompetente – o melhor é recorrerem a qualquer critico amigo que lhes teça o panegirico na Pagina Teatral de “O Século”. Já agora! Visto que entrou em moda....

         Um breve comentário nosso. A crítica acima foi publicada no mesmo jornal que publicou as críticas ‘venenosas’ contra a Sociedade. Por outro lado, esta opereta só foi representada uma única vez e na Figueira. Encontrámos algures a informação de que o palco da sede do Grupo não tinha condições para a montagem da mesma. Não deixa de causar estranheza o facto de se ensaiar uma opereta, cuja montagem não deveria ser barata, para dar uma única representação! Mas, assim aconteceu.

         A imprensa figueirense, e curiosamente não eram unicamente os correspondentes locais, tomou partido pelas duas associações locais. Na ‘Voz da Justiça’ a Sociedade de Instrução, sempre no seguimento da linha anteriormente tomada, era defendida, com unhas e dentes das bicadas que lhe davam, tanto O Figueirense como o Jornal da Figueira, os quais, além destes ataques, louvavam generosamente o Grupo Musical. Mas não o faziam desinteressadamente, como veremos.

         A tuna do Grupo, que tão apreciada e requisitada havia sido, desorganizou-se, certamente em consequência dos graves problemas existentes na sua colectividade. Mas, tendo sido requerida a sua participação para abrilhantar umas festas na Martingança, conseguiu-se a sua reorganização, sob a direcção e regência do tavaredense José Francisco da Silva, o qual teve de recorrer à participação de diversos músicos afectos à Sociedade. A deslocação teve lugar nos primeiros dias de Outubro de 1929, embora com o nome de Tuna de Tavarede. Foi motivo de uma pequena polémica, pois enquanto uns jornais anunciavam a deslocação do Grupo, outros assumiam posição contrária. Foi o referido regente que veio a público, para afirmar que, embora fossem utilizados os bonés, levado o estandarte e tocado o hino do Grupo, todos os componentes tinham concordado em formar uma tuna da terra, apartidária das associações. Recordamos que foi no regresso desta deslocação, que os excursionistas passaram pelo Mosteiro da Batalha, onde deixaram uma placa evocativa da sua passagem. Ainda há relativamente pouco tempo, esta placa estava colocada numa parede junto ao sepulcro do ‘soldado desconhecido’.


         O teatro continuava activo. A Sociedade, após uma série de espectáculos com A cigarra e a formiga, fez a reposição de O sonho do cavador. Mas já foi diferente da primeira versão. A censura começara a sua nefasta acção e grande parte dos números originais foram censurados. A peça, com os quadros riscados com o célebre lápis azul, encontra-se no antigo escritório de Mestre José Ribeiro. Embora mantendo o enredo inicial, novos números foram escritos e musicados para substituição dos eliminados. O êxito da peça, porém, manteve-se.

sábado, 7 de setembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete . 39

          Recordamos que, depois de ter ocorrido o acidente que vitimou o pároco Manuel Vicente, foi nomeado para esta paróquia o reverendo José Martins da Cruz Dinis, o qual acabou por ter enorme influência no nosso associativismo como veremos. Continuando na angariação de fundos tão precisos, o Grupo fez nova deslocação à Marinha Grande. Encontrámos a seguinte notícia: É com a maior satisfação que hoje noticiamos a ida da Secção Dramática do benemérito Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, acompanhado de muitos sócios, à laboriosa e hospitaleira Vila da Marinha Grande, assim como bem hão-de dizer todos aqueles que, mais de perto, sentiram, arfar-lhe no peito, uma jubilosa alegria, que só se sente quando estreitamos nos braços um povo amigo e bom como são os marinhenses.
         Já esperávamos o resultado obtido, pois que nem outra coisa era de esperar, dado as qualidades de que são dotados todos os filhos da Marinha Grande, e ás simpatias de que ali gosam os nossos conterrâneos. Ora, como motivos vários e imprevistos nos impediram que os acompanhássemos, e para melhor e mais minuciosamente ilucidarmos os nossos leitores, era-nos necessário, indispensável mesmo, que entre um nucleo tão compacto, como foi aquele que até à Marinha debandou no último sábado, escolhessemos uma pessoa que nos informasse do que mais notavel ali se tivesse passado.
         Escolhemos o nosso particular amigo sr. Raul Martins.
         - Chegados á estação - disse-nos - uma enorme multidão enchia completamente a gare, á nossa chegada, vendo-se entre ela o estandarte do Operario Club Marinhense e representantes dos Bombeiros Voluntários e Atlético Club Marinhense, d’aquela terra, que á chegada dos tavaredenses levantaram vivas ao Grupo Musical e Tavarede, que foram correspondidos por este.
         Trocados os cumprimentos, formou-se um cortejo imponente, que se dirigiu, visto o adeantado da hora, para o Teatro Stephens, propriedade dos Bombeiros Voluntários, e onde se realisaram os espectaculos.
         Momentos depois, a casa principiou a encher-se, notando-se, no entanto, algumas falhas na plateia, e representou-se a opereta Entre Duas Avé-Marias, que foi calorosamente aplaudida nas passagens mais notaveis, tendo sido feitas chamadas especiaes ao ensaiador, Violinda Medina, Manuel Nogueira e Herculano Rocha.
         - Passamos ao dia seguinte, domingo, 3.
         - Depois de percorridos varios pontos de paisagem verdadeiramente exuberantes e visitados alguns logares mais notaveis da Vila, fomos assistir a um match de foot-ball, que devia ter lugar entre um forte onze do Atletico Club Marinhense e um composto por elementos da Secção Dramatica.
         - Depois de uma renhida luta, sairam vencedores os nossos adversários pelo elevado score de 5-1; tendo, no entanto, merecido aplausos os jogadores nossos, Manuel Cordeiro, Manuel Nogueira e João Medina, que, sem exagero, foram os melhores homens da tarde.
         - Depois fomos assistir a uma festa que, por volta das 4 horas teve lugar na Associação Humanitaria dos Bombeiros Voluntarios d’aquela vila, onde foram trocados calorosos brindes.
         - E depois de satisfazer-mos as exigencias do estomago fomos novamente para o Teatro.
         - Qual o nosso espanto quando ouvimos dizer que jà não havia bilhetes para o espectaculo, que a seguir ia ter lugar.
         - Efectivamente, muito antes da hora marcada, a casa estava completamente á cunha. E representou-se a opereta Noite de Santo Antonio, tendo a completar um Acto Arrevistado, que foi muito aplaudida,  tendo sido feitas, novamente, chamadas especiaes aos amadores, ensaiador e maestro.
         - No final do espectaculo, foi, por um grupo de habitantes da Marinha, pedido para que fôsse executada novamente a marcha Figueira da Foz, que no final foi calorosamente aplaudida, tendo todos retirado com explendidas impressões.
         E depois de nos dizer o que aí fica, ia a retirar-se, quando o prendemos ainda com algumas palavras sobre o dia de segunda-feira, ao que nos respondeu:
         - Olhe, meu amigo. Já andavamos um pouco massados pelas noites perdidas, mas no entanto, ainda percorremos algumas fabricas de vidros e cristaes, que, com grande deferência ali fômos recebidos, e... mais nada.
         - Agora, para fechar, termino com estas palavras que, com a maior sinceridade as pronuncio: - A Secção Dramatica do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, póde orgulhar-se do êxito obtido nesta louvavel iniciativa, onde soube engrandecer, mais uma vez, o nome da colectividade e da terra que lhe dão o nome, colhendo loiros tão belos, grinaldas tão floridas, que se ostentam hoje, e sempre, triunfal e orgulhosamente na flâmula querida daquele estandarte... - e apontou-nos o estandarte do Grupo Musical.
         É pois, daqui, desta modesta tribuna, onde combatemos pelo desenvolvimento do Grupo Musical, como um valioso baluarte da Instrução, que póde orgulhar-se de ser, e sobretudo o nome de Tavarede, saudamos, franca e abertamente, a pleiade de rapazes e raparigas que constituem a aureolada Secção Dramatica do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, assim como á sua digna Direcção.

Padre Manuel Vicente

         A Sociedade preparou novo espectáculo com a nova fantasia A cigarra e a formiga, original de Alberto de Lacerda e música de António Simões. Por sua vez, os amadores do Grupo começaram a ensaiar uma nova opereta, de Raul Martins, com versos de António Amargo e música de Herculano Rocha. E quanto à fantasia A cigarra e a formiga, transcrevemos parte de uma reportagem escrita no jornal O Século. O jornal O Século, na sua página teatral de terça-feira, publicou um artigo crítico acêrca da interessante fantasia em 3 actos A Cigarra e a Formiga, com tanto agrado representada pelos modestos amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense. Vem assinado com as iniciais J.T. e por isso atribuímos o artigo ao distinto crítico e escritor teatral de Lisboa, sr. dr. José Tocha.
         Temos muito prazer em arquivar no nosso jornal esta apreciação, feita por pessoa de especial autoridade e competência, da peça A Cigarra e a Formiga, sobretudo pelas palavras de justiça que nela se dedicam aos humildes rapazes e raparigas que a interpretam e à acção, a todos os títulos notável, que a Sociedade de Instrução Tavaredense continua desenvolvendo em prol da educação do povo de Tavarede. Transcrevamos:
         “Em Tavarede, a dois passos da Figueira da Foz, há uma sociedade de instrução, a Sociedade de Instrução Tavaredense, que dispõe dum pequeno teatro, uma autêntica boite, como agora se diz, onde costuma realizar espectáculos curiosíssimos, récitas em que representa uma companhia de amadores absolutamente excepcional.
         Basta dizer que a constituem humildes trabalhadores do campo ou das oficinas, que trabalham de sol a sol e à noite aprendem, estudam, ensaiam com as dificuldades que se adivinham, sabendo-se que entre êles muitos há que nem sabem lêr.
         Há dias assistimos a um dêsses espectáculos, representando-se a fantasia em 3 actos “A Cigarra e a Formiga”.
         A peça é um trabalho de notável merecimento literário, bem construída, interessando de princípio ao fim e visando a produzir um efeito moral dos mais salutares, qual o duma lição clara que prende e diverte os que a recebem – todos os que assistem – e fica por certo nos espíritos de todos melhor que a mais profunda prédica.
         Subido o pano, à frente duma cortina, o Prólogo vem dizer de sua justiça. Vai contar-se uma história que, embora o pareça, não é velha. E o próprio Prólogo apresenta ao público as duas figuras simbólicas, a Cigarra e a Formiga, retirando-se em seguida.
         Em presença uma da outra, cada qual procura fazer valer os seus predicados e aponta os defeitos da outra, ante José Cigarra um rapaz leal e bom mas um tanto alegre e folgazão, um tanto cabeça de vento.
         Em casa da Cigarra, depois em casa da Formiga assiste José Cigarra a um desfiar de figuras simbólicas apresentadas com habilidade, metidas na carpintaria da peça com lógica e a propósito, como sejam a Alegria de Viver, o Riso, o Fatalismo, a Abundância, o Pão, o Vinho, o Oiro, etc. terminando o 1º. acto com uma apoteose ao trabalho que a Formiga apresenta como suprema aspiração das pessoas bem formadas.
         No segundo acto as figuras simbólicas transformam-se em figuras da vida real.
         António Moleiro, viúvo, vive com uma filha, Luísa, que namora José Cigarra com consentimento e agrado do pai. Este, porém, a certa altura, sabendo que João Viúvo, um ricaço boçal da aldeia, procura casar de novo porque, diz êle, a mulher que escôlha valerá bem por duas criadas, tocado pelo espírito da ganância, pela ambição de riqueza, ajuda a pretensão do velho quanto ao casamento com Luísa. Esta, como filha obediente e submissa acata tudo sem protestos embora, intimamente, se contrarie porque o seu desejo seria casar com José Cigarra. A atitude de Luísa deixa no espírito dêste uma dúvida sôbre o amor que ela dizia consagrar-lhe. E José Cigarra resolve, despeitado, rir e divertir-se na festa de S. João que a seguir se realiza. É êste um quadro cheio de realidade, felicíssimo sob todos os pontos de vista, que inclui uma desgarrada cantada pelos dois noivos, ela porque a isso a constrangeram, êle para lhe responder, que é um verdadeiro achado teatral e um primor de poesia no género.
         Segue-se o 3º. acto, em cujo primeiro quadro se assiste à passagem de figuras da vida moderna, agitada e fútil.
         Cabelos cortados, a toilette arrojada, o jazz, e charlston, etc., são assuntos para uma série de números cheios de vivacidade e de graça.
         Mas, José Cigarra farta-se da vida estouvada e procura em casa da Formiga encontrar o que deseja.
         Em casa da Formiga, enquanto espera que o recebam, adormece e sonha. No sonho aparecem-lhe, nas suas verdadeiras proporções, as figuras reais da peça. João Viúvo é a Formiga com todos os seus defeitos e sem nenhuma das suas qualidades. Êle próprio é a Cigarra estouvada de mais e com pouco amor ao trabalho. Pesando prós e contras êle mesmo tira as conclusões e é já abraçado a Luísa, que nunca deixou de lhe querer, que responde à Cigarra e à Formiga e às suas censuras, uma porque êle se inclina para as teorias da outra. Ambas têm qualidades e ambas têm defeitos. José Cigarra, aprendeu com ambas e concluíu que é preciso trabalhar, lutar, ser bom e honrado sem deixar de ser alegre em saber rir e divertir-se. De tudo isto sai a inevitável e eterna vitória do amor e acaba a peça com uma interessantíssima apoteose ao Amor da família, do trabalho, do semelhante, da Pátria, enquanto um hino solene se faz ouvir e o pano cai.
         Se é certo que a peça é, a todos os títulos, um trabalho notabilíssimo, digno mesmo dum ambiente mais amplo que um simples teatrinho de aldeia, o que principalmente interessou foi a companhia. É que não conhecemos nada que se compare. Temos visto muita vez grupos de furiosos, mais ou menos desastrados, mais ou menos aproveitáveis, mas nunca viramos um conjunto tão curiosamente organizado e tão excepcional pela circunstância de ser recrutado entre gente do campo e de profissões humildes.
         O Prólogo, António Graça, é cavador de enxada; José Cigarra, João Cascão, é ferreiro de ofício.
         São dois elementos de real valor, principalmente o segundo que, por ser um rapaz, estava muito a tempo de se fazer um óptimo actor, porque não lhe faltam qualidades para isso. Os mais, entre os rapazes e as raparigas, revelaram-se também bons intérpretes, com defeitos naturais, mas desculpáveis. Entre êles Emília Monteiro, Guilhermina de Oliveira, Maria Teresa de Oliveira, Maria José da Silva, Francisco Carvalho, os dois irmãos Broeiros, César de Figueiredo, etc.
         A música, de António Simões, acompanha com felicidade tôda a peça, nomeadamente no concertante do segundo acto, que é uma página de real merecimento, e no fim do 6º. quadro, onde motivos populares são habilmente aproveitados.
         Alberto de Lacerda, doublé de pintor e poeta, não se limitou a fazer os versos: pintou parte do scenário, sendo particularmente feliz na apoteóse final, que como idéa completa admiravelmente o sentido geral da peça e como execução é um bom trabalho.
         .......................
         Exemplos como os da Sociedade de Instrução Tavaredense devem ser seguidos por tôda a parte, deviam mesmo ser auxiliadas pelo Estado estas simpáticas iniciativas, que roubam à ociosidade e à taberna um punhado de bons trabalhadores e servem para recolher proventos destinados ao cofre duma escola.
         É possível que muitos leitores destas linhas tenham para o que fica dito o encolher de ombros desdenhoso, natural em quem não acredita sem ver.
         Pois é pena que Tavarede fique ainda assim tão longe. Vendo se convenceriam de quanto pode conseguir a boa vontade ao serviço duma idéa generosa e sob todos os aspectos simpática.

António Graça

         Não podia faltar a crítica conservadora. Das bandas de Tavarede, onde a seita dos três pontinhos ilumina a obtusidade de meia duzia de camponios ensinando-os a dar á perna num geito lôrpa e a proferir sandices de olhos em alvo, chegou ao teatro “Parque Cine” da Figueira um grupo dramático, apregoado pelos arautos da grande imprensa neste “Século” tartufo, como a expressão maxima – que fino!... – da arte de Talma.
         E, assim, tivemos nós um hilariante espectaculo com a representação sumida duma fantasia “A cigarra e a formiga” historia absolutamente inédita no dizer do infeliz “prólogo” – um homenzinho ridiculo, dum ridiculo inconsciente.
         A peça é uma amalgama de bocadinhos alheios onde não falta a piada porca, a forçar gargalhadas pela torpeza, sem teatro e sem arte, pretexto apenas para a apresentação da companhia. Uns bocados de aqui, uns versos de acolá, uma sugestão de alem, isto tudo muito mal cerzido, falho de unidade, distribuido por três actos e 10 quadros. Há um prólogo a apresentar em versos imbecis, sem gramática e sem metrica, os dois personagens principais – uma Formiga, lua cheia vestida de cinzento, de voz monocórdica e sem gestos, e a outra, um bicharôco verde que consegue atravessar o palco continuamente, de principio ao fim, com um risinho lôrpa engatilhado nos labios desmesuradamente abertos. Durante este primeiro acto, sem preparação teatral, recorre-se a um desenrolar monótono de fantoches manejados sabe Deus como e porquê.
         No segundo acto, por certo o menos peor da fantasia, assiste-se a um pandemónio amoroso em que a filha não quer casar, mas que diz que quer porque o pai quer, ficando o namoro desprezado sem saber o que quer, no meio duma confusão tam grande que não há forma de se perceber nada. O segundo quadro deste acto fornece-nos um arraial de S. João, sem movimento, sem côr e sem vida, mero pretexto para uma misera desgarrada.
         O terceiro acto continua a baboseira inicial, terminando por uma estupidificante apoteose ao amor, muito ridicula e pobrinha.
         Como se vê tudo isto é nojento em demasia, tanto mais que os vinte e sete numeros de musica anunciados se resumem, na sua concepção a uma monótona e bafienta repetição de motivos.
         Dos scenarios: o do primeiro quadro, especialmente, é um pastelão de cores com as perspectivas erradas; o do segundo sofre-se; o do terceiro apresenta-nos um cofre tam bem pintado de azul que é o melhor efeito comico da peça. De resto como muito bem diz a cigarra, tudo aquilo é fantasia.
         Do valor literário da obra, ainda que muito pese ao habilitado critico do Século, a nossa apreciação, nada pode encarecer. Quizeramos fazer algumas transcrições, mas o espaço falta-nos. Não resistimos contudo a esta edificante quadra:
                                      Ai minha mãe, minha mãe!
                                      Vivesses tu tinha eu pae!
                                      Assim se o pranto me cai,
                                      Não tenho pae nem ninguem!
         E basta!... que isto de se gritar pela mãe, quando se pretende chamar o pae que fugiu atravez da mãe por a menina chorar, é o que de melhor conhecemos no genero Rosalino Candido, Calino & Companhia.
         A interpretação, não supre as faltas atraz anotadas, antes continua a asneira. Iletrados, ou pouco menos, as silabas saiem-lhes da boca numa inconsciencia tal que comove.

         A Sociedade de Instrução Tavaredense melhor faria, se ensinasse as boas regras do A B C aos seus associados em vez de os meter num palco a fazerem rir pelo ridiculo das suas pretensões artisticas.