sábado, 25 de julho de 2009

João da Silva Cascão

O Sonho do Cavador - 1928 - João Cascão (Manuel da Fonte) e Emília Monteiro (Rosa)


Nasceu em Tavarede, no dia 31 de Maio de 1905. Era filho de César da Silva Cascão, um dos fundadores da Sociedade de Instrução Tavaredense, e de Maria Ascensão Marques.
Foi industrial de serralharia, estabelecendo oficina na Rua do Paço, na Figueira. “… como serralheiro era um hábil artista, a que muitos recorriam confiados”. Casou com Angelina Gaspar de Freitas, tendo dois filhos: Fernando José e João Gaspar da Silva Cascão.
“Era um dos mais antigos e distintos componentes do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, participando no desempenho de imensas peças representadas nos teatros do nosso concelho e de outras localidades do país, muitas vezes em espectáculos de beneficência. Da forma talentosa como interpretou alguns “papéis” que lhe foram confiados, não desdenhariam os melhores artistas”.
Aluno da escola primária de Tavarede, pisou o palco, pela primeira vez, numa das habituais festas da “Árvore”, em Março de 1914, recitando a poesia Esmola de pobre. Dois anos depois, em 1916, participou numa outra daquelas festas, com desempenho numa pequena comédia-drama As Árvores, contracenando com sua irmã Aurélia.
Começou a representar muito cedo. “Era a única maneira de meu pai me deixar sair à noite”, dizia ele. O seu primeiro papel foi na opereta Em busca da Lúcia-Lima, como Tomás Castanho, em Abril de 1925.
Outras personagens se seguiram e, em 1928, teve o seu primeiro grande triunfo, na fantasia O Sonho do Cavador, com o papel de Manuel da Fonte.
Os Fidalgos da Casa Mourisca, A Morgadinha dos Canaviais, A Morgadinha de Valflor, O Grande Industrial, Entre Giestas, Génio Alegre, Envelhecer, A Nossa Casa, Horizonte, Injustiça da Lei, Auto da Barca do Inferno, Raça, Pé de Vento, Chá de Limonete, Frei Luís de Sousa, Serão Homens Amanhã, Israel, A Conspiradora, Os Velhos, Romeu e Julieta, Omara, O Processo de Jesus e muitas outras, foram peças que tiveram a sua participação e em cujo desempenho interpretou cerca de oitenta personagens.
“… desempenhou o principal personagem por forma a merecer os aplausos que a plateia lhe tributou, a ponto de o interromperem em duas cenas, o que só se faz a quem sabe dizer por forma a transmitir o seu sentimento às pessoas que o ouvem. Este é o maior elogio que pode fazer-se ao seu trabalho e Cascão bem mereceu os aplausos vibrantes, calorosos dos espectadores”.
“… cujo belíssimo trabalho foi subindo de acto para acto. … mas foi um prazer vê-lo no terceiro, pitoresco, naturalíssimo, vivo e humano. Aquela pequena figura do Manuel Firmino, encheu toda a “cena do jantar…”.
Muitas outras notas se podiam transcrever. Em 1959, no concurso do Teatro das Colectividades Amadoras, organizado pelo Secretariado Nacional da Informação, foi-lhe atribuída uma menção honrosa pelo seu desempenho do personagem Manuel Patacas, na peça Os Velhos.
Em Agosto de 1970, dizia João Cascão que “ o teatro é a minha segunda casa. E não o é mais porque a saúde e a idade já não me permitem muitas brincadeiras. Agora, aos 65 anos, só pode ser uma rábula pequena. Já tenho muitas dificuldades em decorar e ouvir o ponto”. O seu último personagem foi Frei Bartolomeu Ferreira, em Camões e os Lusíadas, em Outubro de 1972. A Sociedade de Instrução Tavaredense prestou-lhe homenagem nomeando-o seu Sócio Honorário e colocando o seu retrato no salão nobre.
Também foi um dos mais entusiastas elementos do grupo “Os Inseparáveis”, que se reunia, todos os anos, para confraternizar, no dia primeiro de Maio.
Tendo herdado a fazenda que fica no caminho da Chã, defronte da escola primária (A Primorosa, como lhe chamava), tratava cuidadosamente dos corrimões que lhe davam uvas para o fabrico de um vinho que, dizia ele, “nem de pé se aguentava, de tão fraquinho que era”. Mas era uma satisfação e um prazer para ele, chamar lá os amigos, ao domingo à tarde, para beber um ou dois copitos, acompanhados das tradicionais freiras.

A mobilia do senhor Conde de Tavarede


…………………….
Sinto na alma saudades torturantes
Dos serões e das festas ruidosas,
Com luzes, flor’s e pratas cintilantes,
Veludos, sedas, pedras preciosas.
…………………….

Era assim que, na fantasia “Chá de Limonete”, de Mestre José da Silva Ribeiro, a nobre e envelhecida figura do palácio dos senhores de Tavarede, recordava o seu passado.
Como sabemos, o paço de Tavarede foi sempre a residência permanente da fidalga família dos Quadros, desde a sua construção, ainda na primeira metade do século XVI.
A 10ª Senhora de Tavarede, D. Antónia Madalena de Quadros e Sousa, casou, no dia 26 de Dezembro de 1791, com o célebre fidalgo D. Francisco de Almada e Mendonça, corregedor da cidade do Porto, onde realizou importantes obras. A família “Quadros e Almada” passou a ter a sua residência naquela cidade nortenha, fazendo, no entanto, frequentes visitas à nossa terra, onde, no dizer de Pinho Leal, no seu “Dicionário Portugal Antigo e Moderno”, “era a providência dos povos desta terra”.
Tendo enviuvado no ano de 1804, é de presumir que tenha voltado a fixar residência em Tavarede, onde faleceu no dia 25 de Fevereiro de 1835, encontrando-se sepultada na cripta do convento de Santo António, na Figueira da Foz.
Vem isto a propósito para referir que, sendo o palácio de Tavarede residência permanente, ou simplesmente temporária, o mesmo deveria estar mobilado, senão com luxo, pelo menos com as comodidades necessárias ao alojamento da, habitualmente numerosa, família Quadros.
O único filho varão de D. Antónia Madalena e de D. Francisco de Almada e Mendonça, que se chamou João de Almada Quadros Sousa de Lencastre, casou, em 1810, com D. Maria Francisca Emília da Fonseca Pinto de Albuquerque Araújo e Meneses, filha e herdeira do superintendente das coudelarias da comarca de Trancoso, possuidor de largas propriedades naquela terra, que constituíam um morgado, e que, pelo casamento, se uniram à casa de Tavarede.
Passou, entretanto, a residir em Trancoso, com sua família, fazendo, especialmente na época balnear, frequentes e demoradas visitas à nossa terra, instalando-se no seu velho solar de Tavarede.
De igual modo terá procedido o seu filho e herdeiro, o segundo conde de Tavarede, de quem, por seu falecimento em Novembro de 1853, foi herdeiro seu filho primogénito, D. João Carlos Emílio Vicente Francisco d’Almada Quadros Sousa Lencastre Saldanha e Albuquerque que, igualmente, herdou o título de conde de Tavarede.
Esta história tem, como um dos protagonistas, precisamente este titular. “Fidalgo no sangue, no aprumo, na ilustração, no carácter, no sentimento e invariável nas acções, o grande amigo imprimia feição a Trancoso, dava-lhe a sua vida, do seu tom, dos seus nervos, da sua qualificação social, anímica e mental: alma de luz, propagava a luz”, escreveu o jornal A Folha de Trancoso, tempos depois da sua morte.
Como curiosidade, e somente para reforço do que se disse sobre as suas deslocações a Tavarede, recorda-se que o conde, em Setembro de 1883, tomou posse como presidente da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz. Certamente que, se aceitou essa nomeação, seria porque aqui estava o tempo necessário para o desempenho do mesmo ou, talvez, porque tencionava mudar a sua residência para a nossa terra, uma vez que, por essa ocasião, mandou fazer importantes obras de transformação no palácio.
Não deixa de ser interessante, e relativamente a esta história de “A mobília do senhor conde”, o que Ernesto Tomás escreveu na sua reportagem sobre Tavarede, de que já fiz algumas transcrições, agora sobre o palácio da nossa terra:
“Quando por essa época (1865) entrei, pela primeira vez, no edifício do Paço, velho alcácer onde esteve D. Maria Mendes Petite, mãe de Pêro Coelho, um dos que fizeram de D. Inês de Castro uma vítima, condenada pelo seu amor clandestino; quando subi aquelas escadas de pedra, frias e húmidas, que iam dar ao andar nobre do edifício e percorri aquelas salas vastas, mas sem conforto, lembrou-me mais do que uma vez que por ali teriam andado os passos do velho soldado da Índia, D. Francisco de Almada (referia-se ao pai do marido de D. Antónia Madalena), que por lá teria pisado António Pereira (?) de Quadros, e a última habitante do velho solar, D. Antónia Madalena de Quadros e Sousa.
……………
Percorrendo aquela antiquíssima habitação, ainda encontrámos os restos de um altar, numa das divisões ao lado do corredor principal que se dirige, no andar nobre, do norte ao sul. Um oratório, apresentando o seu esqueleto em madeira, tosca, conserva ainda ligados uns restos de forro de pano escuro, com umas linhas de galão sem brilho já. De resto nada de importante”.
Surpreende bastante esta descrição. Ponho, no entanto, uma hipótese. Esta visita terá ocorrido relativamente pouco tempo antes do início das obras de transformação do velho edifício que acima referi, das quais as mais importantes terão sido o desmantelamento da altaneira torre com ameias e a modificação da frontaria do lado poente, com os novos torreões e os rendilhados estilo manuelino, que ainda bem conhecemos. Estariam, então, as mobílias devidamente guardadas em qualquer armazém? É de admitir que sim, e que seriam utilizadas quando a família fidalga aqui vinha passar as suas férias balneares e, talvez, acompanhar o andamento das obras.
Vamos, agora, passar ao segundo protagonista da história: o reverendo pároco Joaquim da Costa e Silva. No ano de 1894, o padre António Augusto Nobreza, também ele protagonista de uma outra história igualmente contada neste caderno, havia sido transferido para outra paróquia e, como era uso naqueles tempos, a diocese de Coimbra abriu concurso para provimento deste cargo, tendo sido provido no mesmo, em Junho de 1894, o padre Costa e Silva, até então coadjutor na paróquia de Paião.
Foi uma figura bastante controversa. Devemos recordar, porém, que naqueles já recuados tempos, as lutas políticas eram assaz violentas. Os militantes de um partido político sofriam, frequentemente, ataques dos partidos adversários. A imprensa, então, explorava ao mais pequeno pormenor todas as possíveis fraquezas e falhas dos responsáveis partidários. Os correspondentes locais, concretamente refiro-me ao caso de Tavarede, muitas vezes se excediam, chegando, até, à difamação e ao insulto, o que resultava, de vez em quando, em desmentidos públicos, quase sempre ordenados pelo Tribunal.
O padre Joaquim da Costa e Silva era natural da Ereira, concelho de Montemor-o-Velho. Como já referi, foi provido na igreja de Tavarede em Junho de 1894. Os próprios adversários políticos reconheciam-no como pessoa bastante inteligente e denodado lutador pelo bem-estar dos povos das paróquias onde esteve, como Paião, Tavarede e, por último, Quiaios.
Recordo, somente, o que o jornal “A Voz da Justiça” escreveu, no dia 4 de Janeiro de 1924, noticiando o seu falecimento: “o padre Joaquim da Costa e Silva que, antes de paroquiar Quiaios, esteve a dirigir a igreja de Tavarede, foi sempre um político activo, pondo a sua influência ao serviço dos homens que aqui defendiam a política regeneradora, antes da proclamação da república e, na vigência desta, dos que, monárquicos ou republicanos, combatiam a política democrática.
Foi sempre nosso adversário. Isto não obsta que, esquecendo nesta hora certos actos por ele praticados e que nós aqui atacámos, digamos que, nas vezes em que o padre Joaquim da Costa e Silva ocupou na Câmara Municipal o lugar de vereador, procurou sempre obter benefícios para a localidade onde paroquiava”.
Estão feitas as apresentações dos dois protagonistas desta história. Vamos, agora, à mesma: “A mobília do senhor conde”.
* * *
Na edição de 20 de Janeiro de 1899 o jornal “O Povo da Figueira” escreveu, em correspondência de Tavarede:
“…….. Quando o conde de Tavarede resolveu vender a casa que aqui tinha (o Paço), e onde havia mobília valiosa, o nosso Papa-jantares (alcunha atribuída ao padre Costa e Silva, não sei a que propósito), dirigiu-se logo a Trancoso a falar com ele, afim de lhe pedir um guarda-roupa para uma aplicação religiosa………..”.
O conde, que era uma pessoa religiosa e bastante generosa, vendo o fim a que se destinava essa peça de mobília, não hesitou e de imediato escreveu um pequeno bilhete, dirigido ao seu feitor, que tinha mandado a Tavarede precisamente para embalar todas as mobílias existentes no palácio, e no qual ordenava para “…. lhe dar o que fosse preciso para a igreja”.
Com aquele bilhete na mão, logo que chegado a Tavarede, o pároco foi ter com o feitor e exigiu o cumprimento das ordens do conde. Reconhecendo a letra do patrão, de imediato o homem se prontificou a cumprir o que lhe era ordenado e logo se disponibilizou para fazer a entrega “de tudo o que fosse preciso para a igreja”. Era, assim, que estava a ordem escrita.
Realizada, entretanto, a venda do palácio e da quinta, o conde veio à Figueira para ultimar tudo. O comprador foi o sr. Luís João Rosa, de quem também conto, neste caderno, uma pequena história.
Depois de tudo tratado com a venda, foi o conde a Tavarede para concluir as providências que havia ordenado ao seu feitor, quanto à embalagem da mobília, que tencionava enviar, pelo caminho de ferro, para a sua casa de Trancoso. Calcule-se, agora, o seu espanto quando o seu empregado lhe disse que a mobília havia-a levado o padre Joaquim da Costa e Silva, a quem a havia entregado em obediência às ordens do sr. conde, conforme o bilhete que lhe mandou e no qual dizia para “entregar o que fosse preciso para a igreja”.
Ruínas do velho palácio
Após dar umas voltas pelas salas, então já praticamente vazias, o conde, vendo que o padre, que lhe tinha pedido unicamente um guarda-roupa, lhe levara as principais peças de mobília que ainda cá tinha, teve o seguinte desabafo: “se a casa tivesse rodas também era capaz de a levar para casa dele”!
Alma bondosa, porém, nada mais disse ou empreendeu, e como não haviam restado senão umas “fracas coisas de mobília”, deu-as ao feitor e regressou a Trancoso de mãos vazias, relativamente à mobília que viera buscar a Tavarede.
O jornal, explorando o caso, acrescenta: “Quem for à igreja só lá vê um guarda-roupa, mas se forem a casa do meu amiguinho (o padre Costa e Silva), lá encontram um bom aparador e muitas outras coisas. O resto da mobília, como lhe não cabia toda em casa, tratou de mobilar a casa de um amigo”!
Entre outras peças, o jornal acrescenta que o pároco levou: “dois guarda-roupas, um importante aparador, duas boas mesas, um lavatório, uma banquinha, uma excelente mesa de jogo (até isto!!!) e não sei que mais”.
O padre, depois do conde se ter ido embora, tomou conhecimento da reacção do titular e comentou para com uns amigos que “a mobília tinha sido levada por ordem do conde”.
Comentário final: se a tinha dado, porque razão mandou o conde a Tavarede um seu empregado (Francisco Pires) com a incumbência de empalhar e embalar a mobília para a despachar pelo caminho de ferro? E porque razão, ao tomar conhecimento do caso, o conde havia comentado “se a casa tivesse rodas também a levava para casa dele?”. Estas palavras foram ouvidas por pessoas da terra, que as confirmaram ao correspondente do jornal.
Adianta ainda o referido correspondente que, depois, o pároco mandou chamar o feitor para que lhe contasse o que se havia passado e sabendo que o conde tinha ficado bastante zangado, principalmente por causa do aparador, que era um móvel muito valioso e pelo qual tinha particular estima, disse ao homem que estava pronto a devolver tudo que o conde quisesse, embora sempre insistindo que ele lhe havia dado toda a mobília que havia trazido.
Não sei se o feitor comunicou para Trancoso esta informação do pároco mas, na verdade, o conde não quis mais saber do caso nem da mobília.
Alguns anos mais tarde, é o correspondente em Quiaios, do jornal “A Voz da Justiça”, que fala na mobília, numa pequena local daquela povoação, em Junho de 1905: “…….no jantar dado (pelo padre Joaquim da Costa e Silva, que fora, entretanto, transferido para Quiaios) foram muito apreciados uns pastéis com recheio de mogno, do conde de Tavarede, e uns pãezinhos feitos de milho da congrua que pertencia ao padre Manuel Vicente, actual pároco de Tavarede”.
Será que, na verdade, “a mobília do senhor conde” foi acabar a sua existência em Quiaios?
(Tavarede - Terra de meus Avós - 3º. caderno)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Fradique Baptista Loureiro




Nasceu em Nelas, Santar, no ano de 1849.
Foi um dos fundadores da Sociedade de Instrução Tavaredense, em 1904, tendo sido o primeiro presidente da Direcção.
Em Junho de 1914, esta colectividade realizou uma sessão solene em sua homenagem, durante a qual foi descerrado o seu retrato, que se encontra no salão nobre.
“Faleceu na segunda-feira de madrugada (18 de Maio de 1919) este nosso amigo. O extinto, já há bastante tempo se encontrava impossibilitado de trabalhar, devido ao mal que o fez desaparecer para sempre.
Fradique Baptista era viúvo há bastantes anos, vivendo só. Antigo tanoeiro, empregando-se há anos na vida da agricultura, na sua mocidade foi um dos amigos da instrução, coadjuvando outros amigos que aqui fundaram a S.I.T.”.
Contava 70 anos de idade. Também lhe foi atribuído o diploma de sócio honorário.

Manuel Rodrigues Tondela


Era natural de Verride e morreu na Figueira da Foz, em Fevereiro de 1931, com 75 anos de idade.
Pedreiro de profissão, exerceu, durante mais de vinte anos, o lugar de empregado, como contínuo, na Assembleia Figueirense.
Pertenceu à Comissão Administrativa Paroquial, em 1911, sendo nomeado regedor.
O seu nome estará para sempre ligado à Sociedade de Instrução Tavaredense: era o seu sócio número um, sendo um dos seus fundadores. Além de ter feito parte dos corpos sociais em diversas gerências, foi professor da escola nocturna daquela colectividade, tarefa a que dedicou o melhor carinho e esforço.
Em Janeiro de 1928, a Sociedade de Instrução homenageou-o descerrando o seu retrato, que se encontra no salão nobre. “Foi durante cerca de 20 anos, o professor das primeiras letras da aula nocturna, prestando ali grandes e desinteressados serviços”. Era sócio honorário da colectividade por “relevantes serviços”.
Suas filhas, Clementina, Maria José e Eugénia colaboraram no grupo cénico, especialmente a última que, até 1914 “brilhou no teatro declamado e no musicado”.
“Conforme o desejo que manifestou em vida, ficou sepultado no cemitério desta localidade (Tavarede).
Durante cerca de 20 anos viveu em Tavarede. Pelo seu feitio prestável e bondoso e pelo desinteresse com que sempre se dispunha a prestar o seu auxilio, conquistou a estima e a simpatia dos tavaredenses, simpatia a que ele correspondia, considerando Tavarede como sua terra.
O seu nome fica ligado à Sociedade de Instrução Tavaredense: Manuel Rodrigues Tondela, que era o sócio nº. 1 e foi nomeado sócio honorário, foi um dos fundadores da benemérita associação local. Ele e sua família deram à Sociedade de Instrução uma dedicação sem limites. Durante muitos anos, enquanto a saúde lho permitiu, ele foi o professor da escola nocturna; e suas filhas foram dos mais valiosos elementos da secção teatral, a que prestaram brilhante colaboração.
Inutilizado pela idade para o trabalho foi, com sua esposa, viver para a Figueira, para casa de sua filha Eugénia. Mas, sempre que a saúde lho permitia, vinha assistir às festas da sua querida Sociedade de Instrução, que eram para ele motivo de grande prazer moral”.
Foi casado com Joana da Silva Lopes, que morreu em Abril de 1938, com 83 anos.






terça-feira, 21 de julho de 2009

Fontes de Tavarede


A primeira notícia que encontrei, sobre a nossa terra, publicada na Imprensa figueirense existente nos arquivos da Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, tem a data de 6 de Setembro de 1863, e foi no jornal "O Figueirense". Vou transcrevê-la, como recordação:

Na antiga Fonte da Várzea, onde no dia 1º. de Maio iam os ranchos dos Potes Floridos e que hoje já não existe.

"A Fonte da Várzea, quando no anno de 1861 com ella se gastou inefficazmente a somma de 308$855, alem de valiosos materiais que estavam para diversa applicação, foi pela tentativa d'uma mina para serem aproveitados os repares, e o resultado foi, que tendo-se perdido nesses trabalhos a direcção da origem desconhecida, deu que fazer aos encarregados para readequirir a antiga, cujo veio chegaram a perder, é no entretanto é extrahida a púcaros pela profundeza do nivel, sendo mister derregar as aguas externas por meio de vala de communicação com o ribeiro, e esta é a encosta do norte do monte a que o correspondente se refere.
A fonte da Lapa está em igual profundidade, e é a continuação do monte.Em Tavarede é a fonte abundante e de excellente qualidade, porém ao nivel da parte mais baixa da povoação situada na planicie.

A Fonte de Tavarede, no início dos anos cinquenta do século passado.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tavarede - Um pouco do passado

Hoje vou recordar um figueirense, Ernesto Fernandes Tomás, que, sob o pseudónimo de Estoern, nos deixou uma interessantíssima descrição de Tavarede dos finais do século dezanove, numa extensa reportagem que fez publicar no jornal "Gazeta da Figueira", entre Fevereiro e Dezembro de 1896 (reportagem que, devido a doença e falecimento de um filho seu, não concluiu) e à qual deu o título de 'Recordações de Tavarede".
Foi ele quem, nesta reportagem, faz a descrição dos teatros na nossa terra em 1860/1865, no tempo em que "as sociedades dramáticas vegetavam como tortulhos em Tavarede" e que serviu a Mestre José Ribeiro para o seu livro "50 Anos ao Serviço do Povo", publicado por ocasião das 'Bodas de Ouro" da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Muito me tenho eu aproveitado desta reportagem para os meus cadernos. E, certamente, hei-de continuar a recorrer a ela para recordar neste 'blogue' os princípios do associativismo na Terra do Limonete, e outros temas do próximo passado tavaredense.

Fachada principal do Palácio dos Condes de Tavarede, segundo desenho de António da Piedade

Por agora vou recordar a sua visita ao Paço dos Condes de Tavarede e a descrição que começa por fazer da nossa terra:
"Tavarede era então um pequeno burgo, menos desenvolvido que hoje, anegrado por uns grupos de casas em derrocada, que serviram de habitação a uma população pobrissima de trabalhadores laboriosos, vivendo uns dias de trabalho nesta cidade, enquanto que outros, transformando os terrenos à volta da antiga povoação, nos proporcionavam o gozo de um jardim de cintura, alegre, verdejante, provocando-nos ao viver no campo.
Tavarede assim, a povoação dos tempos coevos da monarquia, engrandecida mais tarde com o foral de D. Manuel, trazia-nos à memória umas lendas tradicionais ali escondidas entre verduras e flores. Bons tempos esses!
Como até hoje, os edifícios que nos chamavam a atenção, mais pelo contraste da sua extensão, com a exiguidade das outras pobres construções, eram: o Paço, a Igreja, a casa denominada - da Renda e uma outra ao cimo da povoação pelo lado do norte, que nos indicavam como a casa de Ourão. Ainda outra deixava de entrar nesta relação, e que existe ainda com boa aparencia ao lado do caminho para a fonte da povoação, a que chamavam a - casa do sr. João Anselmo.
Quando por essa época entrei, pela primeira vez, no edifício do Paço, velho alcáçar aonde esteve D. Maria Mendes Petit, mãe de Pero Coelho, um dos que fizeram de D. Inez de Castro uma vítima, condenada pelo seu amor clandestino; quando subi aquelas escadas de pedra, frias e húmidas que iam dar ao andar nobre do edifício e percorri aquelas salas vastas, mas sem conforto, lembrou-me mais do que uma vez que por ali teriam andado os passos do velho soldado da India, D. Francisco d’Almada, que por lá teria pizado António Pereira de Quadros, e a última habitante do velho solar, D. Antónia Madalena de Quadros e Sousa.
Estes últimos jazem hoje junto ao altar-mor, em carneiro, na Igreja da Misericórdia desta cidade, edificado em terrenos que lhes pertenciam e ao antigo couto de Tavarede.
Percorrendo aquela antiquíssima habitação, ainda encontrámos os restos de um altar, numa das divisões ao lado do corredor principal que se dirige, no andar nobre, do norte ao sul. Um oratório, apresentando o seu esqueleto em madeira, tosca, conserva ainda ligados uns restos de forro de pano escuro, com umas linhas de galão sem brilho já.
De resto nada de interessante.
Descendo ao rés-do-chão do Paço encontrámos também os despojos, de madeira e ferro, de um veículo de luxo, que poderiam ter pertencido a uma sege ou carroção a bois, cuja entidade se escondia nas brumas do passado.
Uma tradição que ouvimos do povo e que se liga á existência dumas colunas de mármore branco, muito correctas, que dividem a meio, verticalmente, as janelas da frente do Paço, hoje dos Condes de Tavarede, diz-nos que D. Francisco d’Almada, tendo combatido na India ou na Africa, os infiéis, no assalto a um pagode do gentilismo, depois de o tomar, trouxe, para Lisboa, na armada, as colunas do pagode, que foram distribuidas como galardão àqueles que mais se distinguiram na guerra
".

Fotografia do Palácio dos Condes de Tavarede, tirada por José Relvas, finais do século dezanove

Permito-me fazer umas pequenas correcções a este texto. Primeiro: não foi D. Francisco de Almada quem andou a combater na India e em África. Como sabemos foi António Fernandes de Quadros, o fundador da Casa de Tavarede no século XVI, que trouxe de Azamor, onde foi governador, as colunas de mármore referidas. Segundo: D. Antónia Madalena, que foi a décima senhora de Tavarede, casou com D. Francisco de Almada (governador da cidade do Porto e titular de diversos cargos no norte do País), e foram os pais de João d'Almada Quadros de Souza Lencastre (a quem o príncipe regente D. João VI, em 1804, concedeu o título de 1º. Barão de Tavarede e a Rainha D. Maria II, elevou a Conde, em 1848) e de D. Ana Felícia (que casou com o morgado de Roliça).

Também descreve a Igreja, "na sua arquitectura acanhada e ornatos arquitectónicos ressentidos do cunho das construções jesuíticas, é, como todos os outros edifícios, um exemplar dos da época quinhentista...".

Quanto à Casa de Ourão refere que constava ser de gente de linhagem fidalga, a quem alguns habitantes da terra eram obrigados a pagamento de foros de que eram senhoria. Relativamente à casa pertença de João Anselmo, no caminho para a fonte, julgamos ter sido deitada abaixo e que ficaria onde mais tarde esteve instalada a forja de Assalino Cardoso. Certamente noutra ocasião voltaremos ao caso do "senhor João Anselmo".


Como se pode verificar e adivinhar, Ernesto Fernandes Tomás, foi um estudioso das coisas da nossa terra. Aliás, outros trabalhos dele, igualmente publicados, nos deixa a descrição de Tavarede, como na polémica que travou ácerca da Estrada Aveiro-Figueira, em projecto por aqueles tempos.

Acabou por sucumbir a uma doença, parece que provocada pelo desgosto da morte do filho, nos primeiros anos do século vinte.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - Bailes


Tal como o Teatro, a Música, em Tavarede, também alcançou grande fama. Mas hoje não vou escrever sobre esta Arte tão bonita, pois também não escrevi nada sobre o Teatro, excepção feita a uma breve referência às primeiras deslocações, fora de portas, dos dois grupos cénicos tavaredenses. Quero dizer que, quando escrevo Tavarede, por enquanto estou só a referir-me a "Tavarede-burgo", isto sem qualquer desprimor para as restantes colectividades da freguesia.

Os bailes em Tavarede sempre foram muito apreciados. E, como hoje escolhi o Grupo, recuo ao século passado, aos anos 20 (foram os anos dourados desta colectividade), pois encontrei a nota de que, em Novembro de 1925, era a orquestra de bailes desta colectividade, composta por: António de Oliveira Cordeiro, 1º. violino; António Medina Júnior, 2º. violino; João Dias, violoncelo; António Ferreira Jerónimo, flauta; e José Francisco da Silva, rabecão.

Quero crer que esta orquestra não tinha nada a ver com os actuais conjuntos musicais. Mas isto pode ser assunto para o João Cascão, não para mim.

Não sei quantos anos durou a orquestra, pois só encontramos novamente notícias sobre conjuntos para bailes, em Fevereiro de 1939, numa acta da direcção, que refere "foi pedido ao sr. Carlos Santos para tentar organizar uma orquestra privativa do Grupo, tendo sido convidados para a integrar os músicos: Manuel Loureiro, António Marques Lontro, Amâncio Pinto de Sousa, Joaquim de Oliveira, Manuel Lindote, Pedro Medina, João Medina e José Gonçalves". Não terá surtido efeito positivo, pois, em Janeiro de 1940, a direcção informa que "aceitou a colaboração do sr. António Martins de Sousa Gomes para organizar uma orquestra-jazz, sob a sua direcção". Também não terá resultado. Mas no dia 13 de Abril de 1940, fez a sua estreia a orquestra privativa do Grupo, à qual foi dado o nome de "Lúcia-Lima-Jazz". Foi seu organizador e director José Nunes Medina.


Um día procurarei contar aqui a história desta orquestra-jazz que alcançou grande fama e que existiu algumas décadas, com renovação dos seus componentes, como é natural.

A partir desta época, o Grupo Musical passou a ter mais inclinação para as "matinées" aos domingos, que atraiam muitos figueirenses, e não só, especialmente depois de acabarem os desafios de futebol, pois muitos espectadores e jogadores, deslocavam-se a Tavarede para dançar um bocado. Normalmente o salão estava sempre cheio.

Eram reuniões agradabilíssimas, onde a mocidade reinava. Muitas vezes eram organizadas festas dançantes a que davam nomes sugestivos. Nessas ocasiões, era costume convidar uma orquestra de fora, que chamavam sempre mais gente.

Quando se fazia intervalo, havia sempre o anúncio: "no final deste número os cavalheiros levam as damas ao bufete". É verdade que muitos "cavalheiros" procuravam adivinhar e não dançavam esse número, pois as algibeiras muitas vezes estavam vazias!


Hoje quero somente aqui mostrar algumas fotografias. Será que ainda se lembram?



quinta-feira, 16 de julho de 2009

O meu blogue - Esclarecimento

Fiquei hoje muito surpreendido ao saber que tinha um seguidor, melhor dizendo, uma seguidora.
Mas quero, primeiramente, esclarecer o seguinte:
Quando pretendi dar começo a este blogue, primeiro que tudo para ocupar o meu tempo e deixar de estar sempre a pensar e preocupado com problemas que não interessa estar agora a avivar, tive que pedir aos meus netos para me ajudarem pois, apesar de utilizar computadores já há mais de 30 anos, (como utilizador e nunca como programador), reconheço que sou uma nulidade no assunto. Mas, quem não sabe pergunta, que foi o que eu fiz.
Mas, na verdade, reconheço que ainda não está a funcionar como deve ser. Para dar um exemplo, basta dizer que, sem saber como, retirei o meu perfil e, até agora, ainda não fui capaz de o colocar. Estou à espera que os meus netos, agora ocupados com exames, tenham tempo para me resolver o assunto.
Esta a razão porque não divulguei o blogue. Já agora, aproveito para dizer que a minha intenção é unicamente recordar alguma coisa sobre o passado de Tavarede, muito do qual já publiquei na Imprensa ou em livros, para que os futuros tavaredenses, se o quizerem, poderem conhecer um pouco da história da sua terra e saber que se podem orgulhar de serem tavaredenses.
É claro que, quando sei alguma nova actual, procuro inseri-la, desde que tenha interesse.
Concluindo, agradeço imenso à amiga Inês Fonseca (uma tavaredense e uma adepta da SIT que muito admiro) o facto de ser a primeira pessoa a seguir o blogue "Tavarede - Terra de meus Avós". Lá está o seu retrato e o seu perfil (o que não acontece comigo, porque não sei), mas não sei se escreveu alguma coisa sobre o assunto, pois, confesso, os meus 'professores' ainda não me ensinaram.

Padre António Matos Fernandes


Um semanário figueirense publicava, em Novembro de 1973, uma local intitulada 'Novo Pároco', da qual permito-me recortar estes pequenos retalhos: "Tavarede viu partir, com muito pesar - e tem plena razão para isso - o seu pároco, revdº. Dr. João Evangelista Amado Mateus, que acaba de ser colocado na freguesia de Assafarge, a poucos quilómetros de Coimbra, com a obrigação de leccionar música no Seminário Maior de Coimbra. ... Para o substituir foi nomeado o revdº. António Matos Fernandes, do Seminário da Imaculada Conceição, que ja tomou posse. Cumprimentamo-lo e desejamos-lhe todos os êxitos materiais e pastorais".
Já lá vão trinta e cinco anos e quase nove meses.
Quanto a êxitos materiais nada posso dizer. O padre Matos, ao longo de todos estes anos, teve alguns ganhos materiais mas, todos o sabemos, o dinheiro que tem conseguido sempre o aplicou na sua (e nossa) Igreja, que se encontra muitíssimo bem apresentável e acolhedora, e noutras obras de carácter social. de que é exemplo o Centro Paroquial S. Martinho de Tavarede, de que foi o grande impulsionador.
É fácil concluir, portanto, que relativamente a êxitos pastorais, o nosso amigo e senhor Padre Matos, tem uma 'carteira' bem recheada. E trabalho também não lhe tem faltado e ainda bem.
Li agora a notícia de lhe vai ser prestada homenagem, pelas Comissões das Paróquias de Tavarede, Vila Verde e Brenha, actualmente a seu cargo.
Serão comemorados os 50 anos da sua Ordenação Pastoral, dos quais quase trinta e sete à frente da Igreja de Tavarede. Bateu, e de longe, o anterior record, que era pertença do Padre Manuel Vicente, com 27 anos a paroquiar a nossa terra. (Não foram mais porque teve a infelicidade de morrer no acidente de uma excursão a Fátima).

Bem merece a homenagem e as saudações de todos os tavaredenses. Integrou-se perfeitamente na nossa terra. As nossas colectividades têm-no como uma grande amigo, sempre presente nos acontecimentos mais importantes.

Saúdo, pois, o Padre António Matos Fernandes, cumprimentando-o pela efeméride e desejando, com sinceridade, que continue com os seus actuais paroquianos ainda por longos anos e com os melhores êxitos pastorais, que são bem merecidos.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Uma história do Teatro (Zé Neto)

José Maria Cordeiro (Zé Neto)


Do jornal "Correio da Figueira", de 20 de Novembro de 1990, permitimo-nos transcrever a seguinte notícia:

"O meu velho amigo José Maria Cordeiro, tavaredense dos quatro costados e a quem eu costumo chamar por graça “governador civil de Tavarede” (ele retribui-me dando-me o mesmo cargo em Buarcos), não obstante já ter ultrapassado a meta dos 80, continua a palmilhar todos os dias as ruas da cidade na sua missão de cobrador, persistindo teimosamente em sobreviver com a “choruda” reforma de 19 contos que, com a “ginástica” que se pode calcular, lhe dá para viver com alguma dignidade.
Quando nos encontramos, vem sempre à baila a sua Sociedade de Instrução Tavaredense, peças em ensaio e evocamos mestre José Ribeiro que, como é do conhecimento geral, foi durante toda a sua vida a alma mater da Sociedade e da sua secção cénica que ele criou com tanto carinho.
José Cordeiro tem pela memória do mestre uma grande veneração e há tempos aludindo à sua enorme competência no campo teatral, saiu-se com esta frase lapidar: José Ribeiro sabia tanto de teatro que, de uma pedra, era capaz de fazer um actor.
E o mais curioso é que ele fez essa afirmação como se a carapuça lhe servisse, pois que, por essa ocasião nunca tendo pisado o palco, foi feito actor à “pressão” quando nunca tal lhe passava pela cabeça.
E então contou-me a história: a Sociedade ensaiava nos anos quarenta a peça "Horizonte”, de Manuel Frederico Pressler, que iria ser representada em Coimbra a favor da Obra do Professor Elísio de Moura. Entre outros faziam parte do elenco os “crónicos” Violinda Medina e João Cascão.
Durante o ensaio geral um dos intérpretes teve um desaguizado com uma das amadoras e deu-lhe uma bofetada.
José Ribeiro não hesitou e consciente da decisão a tomar, deu-lhe ordem de expulsão imediata.
No dia seguinte de manhã José Ribeiro procurou o Cordeiro em sua casa e disse-lhe que precisava dele para interpretar o papel do amador
expulso. Ele porém argumentando com a sua inexperiência, escusou-se ao convite, mas tais foram os argumentos de José Ribeiro que, cônscio da responsabilidade que lhe era exigida, acabou por aceitar, mesmo correndo o risco de não fazer sequer um ensaio.
O Cordeiro que mais tarde haveria de ser ponto e que conhecia a peça por ter assistido a alguns ensaios convenceu-se que não iria pôr em causa os bons créditos que o grupo disfrutava, principalmente em Coimbra, onde o Grupo ia todos os anos representar.
De posse do papel onde estavam anotadas as respectivas marcações, isto é, as marcações que o personagem tem de fazer no decorrer da representação, o improvisado actor leu e recebeu o papel que acabou por decorar com relativa facilidade.
Os amadores tavaredenses, como ao tempo acontecia, deslocavam-se de comboio e o “ensaio geral” foi então feito numa carruagem de 3ª. sendo provável que tivesse corrido mal, o que é bom augúrio para que a representação corra bem.
O certo é que José Cordeiro saiu-se bem e safou a rascada não obstante as poucas indicações que José Ribeiro lhe havia dado.
E foi certamente a pensar neste episódio que ele então me disse que 'José Ribeiro sabia tanto de teatro que, de uma pedra, era capaz de fazer um actor'".

Nasceu no dia 20 de Fevereiro de 1910, filho de João Cordeiro e de Maria Joaquina Vaz. Era conhecido por José “Neto”, pois seu avô e um tio tinham o mesmo nome.
Casou com Maria José da Silva Figueiredo e teve uma filha, Helena Maria.
Muito culto, foi um grande coleccionador de “ex-libris”, deixando uma bem organizada colecção, e dedicou-se à história da sua terra, organizando vários cadernos com recortes de jornais, especialmente relacionados com o teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Adepto das práticas desportivas, foi um dos fundadores do Sportsinhos Futebol Clube, em 1926, de que foi dirigente e atleta, e no ano de 1940, do Atlético Clube Tavaredense, “que se propõe trabalhar no sentido de chamar ao desporto, alguns “terroristas” que ainda por aí existem, que vêem erradamente no desporto não o revigoramento da raça, mas, sim, o seu definhamento”.
Foi muito dedicado à Sociedade de Instrução, exercendo diversos cargos directivos e de responsável pela biblioteca, que dirigiu durante vários anos com a maior proficiência. A colectividade distinguiu-o com o diploma de sócio honorário, em 1979.
No grupo cénico, onde actuou, como amador dramático, de 1946, na peça Horizonte, até 1965, em Centenário de Gil Vicente, interpretou diversas personagens em peças levadas à cena. No entanto, a sua grande colaboração prestada ao teatro terá sido como ponto, tarefa que desempenhou enquanto teve saúde.
Foto 1 - Na peça "Chá de Limonete (1950) - no papel 'Futebol'
Foto 2 - Em "Frei Luís de Sousa (1951), no papel de 'Prior de Benfica'

domingo, 12 de julho de 2009

Estudantina Tavaredense

Fundada no dia 22 de Março de 1893, a Estudantina Tavaredense teve como principal impulsionador Gentil da Silva Ribeiro, acompanhado por Manuel e José Gomes Cruz, à data ainda estudantes na Universidade de Coimbra.
Instalou-se numa daquelas velhas associações dramáticas (que em Tavarede vegetavam como tortulhos, no dizer de Ernesto Tomás), onde iniciou a actividade em condições muito precárias.
Foi por pouco tempo, pois poucos meses depois, mudou-se para o Teatro Duque de Saldanha, que o senhor Conde de Tavarede mandara fazer na sua Casa do Paço. Iniciou a sua acção com o teatro (velha tradição da terra), a que se seguiu a formação da primeira tuna que existiu na terra do limonete.
Em Julho de 1894 dá o seu primeiro espectáculo, já nas novas instalações, com as comédias em 1 acto "Por um triz", Criado distraído", "Dois curiosos como há poucos" e a cena cómica "José Galo na cidade". Num recorte, a imprensa figueirense escreveu: "não temos senão que aplaudir a iniciativa dos arrojados rapazes, pois que o teatro é uma escola onde podem instruir-se e desenvolver-se".
O teatro foi ensaiado por Manuel Gomes Cruz e a orquestra foi dirigida por seu irmão José.
Em Junho de 1895 já a tuna estava em actividade. Uma notícia diz-nos que "para a Senhora da Graça, em Montemor, também esta freguesia deu um bom contingente de forasteiros, que ali foram cumprir (alguns) as promessas que tinham feito à 'Santinha' durante o ano, sendo acompanhados pela simpática 'Estudantina Tavaredense', que no regresso tocou primorosamente alguns números de música, provando-se assim que nem os instrumentos vinham desafinados pela 'prima' nem os executantes pela... 'toeira'".
Vários amadores se distinguiram na Estudantina Tavaredense. De entre eles, salientamos Almeida Cruz ", que, anos mais tarde, tanto se distinguiria como actor-cantor profissional.
Durou, aproximadamente, dez anos, pois dissolveu-se em fins de 1903 e a liquidação dos seus bens fez-se no início de 1904. O seu estandarte é uma velha relíquia que está à guarda da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Um tavaredense emigrado no Brasil, escreveu em Agosto de 1916, uma carta da qual recolho o seguinte retalho: "... vem à baila o Zé Maria Cordeiro, esse folgazão de quatro costados, que era dos Presépios o seu principal organizador e fazia andar tudo numa poeira... O Gentil, pelo descaramento e naturalidade, com que em plena cena papava as migas com vinho enquanto o Diabo esfregava um olho... O Manel Cruz (parece que o estou a ver) vestido de S. José, empunhando o seu bordão, mais a Nossa Senhora (Mariquitas Sapateira), a bater à porta do próximo para lhe dar pousada... E os pastores brutos... Que reinação se fazia noutros tempos!...".

Como se sabe, o associativismo em Tavarede tem longa e honrosa tradição. No "site" da Junta de Freguesia de Tavarede, no início de Associações e Colectividades", está publicado um breve resumo que escrevi para ler num aniversário do Grupo Desportivo e Amizade do Saltadouro. Também já fiz publicar em "A Voz da Figueira", uma longa série de artigos sobre a Sociedade de Instrução Tavaredense e outra sobre o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense (esta não publicaram os 4 ou 5 últimos artigos não sei porquê. Talvez porque entenderam que não estariam bem escritos ou que não valeria a pena ocupar espaço no jornal). Também no segundo livro de "Tavarede - A terra de meus Avós", procurei desenvolver a vida das associações tavaredenses, o teatro e a música, bem como relembrei diversos tavaredenses (e não só) que foram muito importantes para a história da nossa terra. Certamente que me repetirei nalgumas passagens, mas julgo valer a pena.

João José da Costa







Nasceu no dia 23 de Janeiro de 1818 e morreu, na sua Quinta dos Condados, em 27 de Março de 1893.
“Dotara-o a natureza de uma tal energia de carácter, que todas as suas obras recebiam a impressão característica daquela actividade nunca saciada. Na administração dos fartos bens que granjeou; na política, em que por vezes entrou com a fogosidade só própria dos vinte anos; nas gerências municipais, onde a sua presidência ficava sempre assinalada em obras de vulto e de primeira necessidade; no exercício do cargo de provedor, na Santa Casa da Misericórdia, em que as suas administrações eram modelo de economia bem entendida, de aperfeiçoamento e melhoramento; como procurador à Junta Geral, que não o houve mais zeloso nem mais escrupuloso… em todos os actos da sua larga e acidentada vida, quer pública quer particular, em todos eles imprimiu o cunho de uma vontade tenaz, regulada e inteiramente submetida à linha de conduta que lhe marcava um cérebro que não desferrava facilmente da ideia que elaborara”.
Foi major comandante do batalhão nacional da Figueira em 1846, batendo-se pelo constitucionalismo; Provedor da Santa Casa da Misericórdia, de 1859 a 1861, tendo sido nomeado Sócio Honorário, e foi ele quem escreveu o regulamento interno do Hospital; Presidente da Câmara Municipal, nos períodos de 1862/1863 e 1864/1865; Procurador à Junta Geral do Distrito. Durante alguns anos, na primeira metade da década de 1880/1890, foi presidente da Junta de Paróquia de Tavarede, onde deixou assinalada obra, sendo muitos os melhoramentos que mandou fazer à custa do seu bolso.
Também foi sócio fundador da Assembleia Figueirense e, benemérito da cultura popular, foi o principal impulsionador para a fundação da Filarmónica Figueirense, no ano de 1842, tendo ainda feito parte de uma Comissão Promotora da Instrução Primária, na Figueira da Foz, e presidente da Associação Comercial.
Sabendo o grande gosto que as gentes de Tavarede tinham pelo teatro e conhecedor “das péssimas condições em que os amadores davam as suas récitas na desmantelada casa do Terreiro”, que lhe pertencia, “transformou o prédio num, para o tempo, excelente teatro. Por certo não haveria melhor em terras pequenas como a nossa”, escreveu Mestre José Ribeiro.
Foi, também, o ensaiador do grupo cénico que representou no novo teatro.
“… para estas amadoras mandou João José da Costa fazer os vestidos e o calçado, como já fizera com todo o guarda-roupa do “Rei Ló-Ló”, e tudo era pago do seu bolso, todas as despesas com a montagem e representação das peças corriam de sua conta, porque os espectáculos eram inteiramente gratuitos”. “… homem ilustre, verdadeiro benemérito, patriota no melhor sentido da palavra. Na história de Tavarede do século passado (dezanove) nenhuma outra figura se lhe avantaja”, escreveu José Ribeiro.
João José da Costa havia casado, no ano de 1855, com Emília Duarte, filha de Tomás José Duarte, edificador do palacete da Quinta dos Condados. Não tiveram descendentes.
A sua memória está perpetuada em Tavarede, pois foi atribuído o seu nome à rua que vai da sua antiga Casa do Terreiro, hoje sede da Sociedade de Instrução Tavaredense, até à sua Quinta dos Condados. O seu retrato está exposto no salão nobre desta colectividade.

sábado, 11 de julho de 2009

Teatro - As primeiras saidas

Curiosamente, sendo uma colectividade mais nova, foi o grupo dramático do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense que fez a primeira deslocação "fora de portas", do teatro de Tavarede. Foi em Janeiro de 1918 que se deslocou a Verride, terra natal dos seus principais fundadores, José e António Medina, onde representaram o drama "Um erro judicial" e a comédia "Os gagos".
O correspondente de um jornal figueirense naquela localidade, escreveu: "Foi uma noite bem passada, e ha muito tempo que nas tábuas do palco do nosso velho teatro não são executadas peças com tanta correcção".


Tuna do Grupo Musical e de Instrução Tavarede - anos 20

Mas foi em Outubro de 1925 que alcançou um êxito verdadeiramente triunfal, com a primeira deslocação que fizeram à Marinha Grande. "A tuna, sob a proficiente direcção do amigo sr. Pinto d'Almeida, executou uma marcha de saudação à Marinha Grande. Percorreu as ruas principais da vila, no meio das maiores aclamações, sempre acompanhada de muito povo conduzindo archotes acesos...".



Violinda Medina, protagonista de "Um erro judicial"

À noite, no Teatro Stephens, houve espectáculo. Depois de um concerto pela tuna, que tocou diversas peças, seguiu-se a representação do drama "Um erro judicial", terminando o espectáculo com a comédia "Herança do 103". O êxito foi enorme. de tal forma que, no dia seguinte, em que estava programado outro espectáculo com outras peças, "uma comissão de cavalheiros pediu encarecidamente que alterassemos a ordem do programa e representassemos o drama da véspera, ao que gostosamente acedemos". E, segundo a notícia, ainda pediram, com muito empenho, para que o grupo ficasse para a segunda-feira seguinte, para mais um representação daquela peça.




Em Julho de 1930, coube a vez ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense fazer a sua primeira deslocação. Foi a Tomar, onde representaram as peças "O Sonho do Cavador" e "A Cigarra e a Formiga".


O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, na 1ª deslocação a Tomar

Foi uma jornada triunfal "... a recepção que aqui teve a excursão da SIT. Imponência, beleza, entusiasmo, sinceridade - eis as características dessa admirável recepção, que não esquece aos que da Figueira vieram a Tomar". Estes dois espectáculos foram em benefício da Misericórdia local. Quem fez a apresentação do grupo cénico foi o dr. Manuel Gomes Cruz.
Esta deslocação foi o início de uma longa lista de deslocações áquela linda terra do Nabão. Foram muitas as peças ali representadas, sempre a favor de instituições locais, e sempre com lotações esgotadas.
"E o povo de Tomar? A sua franqueza, a sua comunicativa sinceridade, o carinho que não esconde aos seus visitantes, o espírito acolhedor que faz a sua tradição de povo hospitaleiro como nenhum outro o é mais!
Tomar vivia há cêrca de um mês no pensamento dos promotores dêste passeio. Até que o dia próprio chegou.
A excursão partiu da Figueira no combóio das 9,50 de domingo, seguindo nela, além dos elementos do grupo teatral da Sociedade de Instrução Tavaredense, muitas outras pessoas da Figueira. Eram cêrca de duas centenas os excursionistas. E muitas mais teriam sido se a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses tivesse concedido facilidades para o transporte. Além das que seguiram pelo combóio muitas pessoas foram da Figueira em automóveis.
Após uma longa demora na Lamarosa, chega o combóio que conduz a excursão pelo ramal de Tomar.
Ti João da Quinta, Rosa e Manuel da Fonte, em "O Sonho do Cavador"


Os figueirenses sabiam, contavam que seriam recebidos com simpatia. Mas não podiam esperar a grandiosidade das manifestações que lhes reservavam os tomarenses.
Finalmente o combóio parou, e uma grande girândola de foguetes estraleja no espaço. Cá dentro, na gare, trocam-se os primeiros cumprimentos estão a comissão de recepção, representantes da Câmara Municipal, das diversas agremiações locais, imprensa, etc.; está também a comissão de gentis senhoras, a quem o presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense oferece, em nome dos excursionistas, um lindíssimo ramo de cravos.
Lá fora, uma multidão enorme aguardava os visitantes. A manifestação é calorosa, ouvindo-se palmas e vivas incessantemente. O estandarte da Sociedade de Instrução cruza com os das associações que ali esperavam. A Tuna Comercial e Industrial de Tomar, a Banda Republicana Marcial Nabantina e a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais executam os seus hinos. E, em meio de grande entusiasmo, forma-se um cortejo imponente em que estão representados, além da comissão de recepção, a Câmara Municipal, Associação Comercial e Industrial, Centro Democrático Tomarense, Clube Tomarense, Grémio Artístico Tomarense, Tuna Comercial e Industrial de Tomar, Banda Republicana Marcial Nabantina, Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, Sporting Clube de Tomar, União Foot-ball Comércio e Indústria, Associação de Classe dos Caixeiros de Tomar, Orfeão Tomarense, jornal “De Tomar”, jornal “Acção”, Liga dos Combatentes da Grande Guerra, os excursionistas e muito povo.
O cortejo atravessou as ruas da cidade por entre aclamações e vivas. Das janelas pendiam ricas e lindas colchas e as senhoras atiravam flores. Os da Figueira, entusiasmados e reconhecidos, gritavam: - “Viva Tomar! Vivam as senhoras de Tomar! Viva o povo tomarense!” – e logo a multidão correspondia e as muitas centenas de vozes diziam: “Viva a Figueira! Viva a Sociedade de Instrução Tavaredense!”.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

António Maria Monteiro de Sousa de Almeida Cruz



Nasceu em Tavarede no dia 1 de Maio de 1879, filho de José Maria de Almeida Cruz e de Maria Guilhermina Monteiro de Sousa e Cruz.
Desde muito cedo que manifestou a sua aptidão para o teatro. Aos nove anos apresentou-se pela primeira vez em público, numa récita carnavalesca, com a cena cómica Um Alho. Por sinal que, receando não fazer boa figura, quis recusar a sua participação na festa, tendo sido necessário sua mãe “pespegar-lhe um sopapo” para ele entrar em cena.
Participou, depois, num teatrito numa travessa das Rua das Rosas, em espectáculo dos alunos da escola do professor Joaquim Evangelista, na comédia Não subam escadas às escuras. Em 1895 foi para Coimbra, assentar praça, como voluntário, no Regimento de Infantaria 23, como aprendiz de música.
Com 18 anos, no teatro Duque de Saldanha, em Tavarede, colaborou no grupo cénico da Estudantina Tavaredense, desempenhando o protagonista na comédia Atribulações dum estudante. Por essa ocasião também representou em Buarcos, no Teatro Duque, a comédia Médico à força.
Em 1898 foi trabalhar para Angola, onde permaneceu somente treze meses, regressando à sua terra natal. Anteriormente, havia exercido funções em Guimarães, em 1894, e nas Companhias do Gás e da Água e do Caminho de Ferro da Beira Alta, na Figueira, em 1897. “Embora fosse cumpridor nos seus empregos, o seu temperamento boémio e artístico em nenhum deles se acomodava. Outras tendências o impeliam; outra vida lhe estendia os braços carregados de aplausos”.
Participou activamente no grupo dramático da Estudantina Tavaredense e colaborou no Teatro do “Celeiro”, em Buarcos e no Teatro Taborda, em Brenha, onde tomou parte na inauguração. No ano de 1899 ensaiou, naquele teatro de Buarcos, o Presépio.
Também se dedicou ao magistério, tendo sido o primeiro professor da Escola Nocturna Popular de Bernardino Machado, em Buarcos, tendo a posse sido dada pelo próprio patrono da escola.
“… o alegre rapaz, boémio simpático e famoso pela sua voz, que, acompanhando-se a violão, nas noites luarentas e mornas da aldeia silenciosa, enchia a rua, passeando-a do Rio ao Paço, com as melodias das serenatas e fados de sua autoria, despertando a gente moça e atraindo-a às janelas, para escutá-lo”.
Em 1901 foi contratado pelo empresário Gouveia, tendo feito a sua estreia profissional no Teatro da Trindade, em Lisboa, na noite de 19 de Setembro daquele ano, representando o papel de “Nicolau”, da opereta Os sinos de Corneville.
Cantou e protagonizou, entre outras peças, a Toutinegra do Templo, Boémia, Amores de Zíngaro, Se eu fora Rei, Eva, Viúva Alegre, Casta Susana, A Capital Federal, Maridos Alegres, Amor de Máscara, D. César de Balzan, A filha da srª Angot, A Princesa dos Dólares, Conde de Luxemburgo, etc., etc.
Fez diversas digressões à província, ilhas, colónias, Brasil, Argentina e Uruguai, chegando a ser empresário no Rio de Janeiro. Em 1925 foi contratado para o S. Luís, onde realizou uma temporada que ficou memorável.
“… Um ano mais tarde, formou companhia e, durante largo tempo, explorou o Teatro Apolo, onde representou A Mouraria, uma das peças de maior êxito no nosso país e o Arco do Cego. Do Apolo transitou para o Éden, onde apresentou duas revistas. Os resultados financeiros não foram bons, e Almeida Cruz terminou aí a sua actividade de empresário. … Abandonando a sua carreira artística, em que conquistara merecidos aplausos, consagrou-se a negócios de livraria, pois era, igualmente, grande apaixonado pela leitura e pelos livros”.
Foi casado por três vezes. Da primeira vez com Virgínia Machado, filha do fiscal da empresa do Teatro da Trindade, e de quem teve um filho. Casou, depois, com Palmira Bastos, a grande Palmira Bastos, uma das maiores actrizes do teatro português de sempre. Por último, contraiu matrimónio com Ana Almeida Cruz.
Morreu em Lisboa, no dia 28 de Abril de 1951. Tavarede prestou homenagem à sua memória dando o seu nome a uma rua na Urbanização do Vale do Pereiro.
“Uma ocasião, um novel autor pediu-lhe para ler uma peça que queria ver representada. A leitura fez-se no camarim do artista, no teatro Apolo. Mas, ou porque o texto da peça fosse aborrecido ou porque o autor não desse entoação à sua obra, Almeida Cruz acabou por adormecer. O autor incipiente parou a leitura e disse ao empresário: - Vejo que está dormindo. Quer que eu continue a ler?
Almeida Cruz, com a sua larga prática de actor, respondeu: - Dormir também é uma opinião, meu caro amigo. A sua peça é muito longa. Outro dia acabaremos o resto”. Ignoramos se a peça alguma vez terá subido à cena
.

domingo, 5 de julho de 2009

Maestro João da Silva Cascão

Durante os meses de Julho e Agosto, todas as terças, quartas e quintas-feiras, o nosso conterrâneo e amigo Maestro João da Silva Cascão, actuará no Álea (o restaurante concerto bar do Casino), pelas 21 horas, com entradas gratuitas.
Estamos inteiramente de acordo com a notícia: "o pianista João da Silva Cascão regressa a uma casa que conhece bem, para serões musicais de qualidade".
Um abraço de parabéns para o João, bem merecido pelo reconhecimento feito à sua categoria de profissional.

E também mais um abraço especial, pela elevada craveira artística que ele imprimiu ao nosso grupo coral "CANTIGAS DE TAVAREDE" e que, com toda a certeza, continuará a manter. Tavarede e a Sociedade de Instrução Tavaredense bem merecem que as lindas cantigas das suas fantasias e operetas sejam recordadas para que os seus autores nunca sejam esquecidos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Maria Almira Medina


Integrado nas comemorações do 104º. aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, teve lugar uma tarde cultural a que demos o título "JORNADAS POÉTICAS DE SINTRA EM TAVAREDE - À CONVERSA - LIVROS E AUTORES".
Esta reunião tinha, inicialmente, a intenção de fazer a apresentação do último trabalho literário da Maria Almira. Como, entretanto, se optou por fazer a apresentação na Figueira (teve lugar na Livraria Sinédrium, dois ou três meses antes), foi resolvido levar a efeito estas "Jornadas Poéticas", para apresentar aos seus conterrâneos (em mais de 60 anos de actividade ainda não fôra possível a Maria Almira mostrar a sua arte na sua terra natal) a sua poesia e alguns outros trabalhos seus.
Trouxe consigo um grupo de amigas e amigos como ela dedicados à poesia e à literatura, que contaram histórias e declamaram diversos poemas. A reunião foi bastante concorrida e agradou a todos, sintrenses e tavaredenses.
Mal acabou a reunião, a maioria foi-se embora para Sintra, ficando cá somente a Maria Almira, o marido e um casal amigo. No domingo seguinte, antes da sessão solene, houve actuação do nosso grupo coral, que encantou aqueles quatro visitantes, surgindo de imediato a ideia da sua deslocação a Sintra, logo que oportuno.
A oportunidade surgiu com a festa de homenagem que a Câmara Municipal de Sintra lhe prestou no passado dia 29 de Junho (dia de S. Pedro, padroeiro de Sintra), tendo, em data oportuna, a Direcção da SIT tratado do necessário para o efeito.
A reportagem desta deslocação feita pelo Zé Manel no seu blogue #Chá de Limonete" está primorosa. Em linguagem muito dele, transmite, sem demasiados alardes, aquilo que foi uma viagem que, dignamente, honrou a nossa Terra e a Sociedade de Instrução Tavaredense. Estão todos de parabéns. E, na verdade, o nosso grupo coral "CANTIGAS DE TAVAREDE" pode ser apresentado em qualquer parte.
Do "curriculum" da Maria Almira, além dos livros e poesias publicados em revistas, jornais literários, antologias, livros escolares, etc., transcrevo: "Outras actividades: publicidade, desenho animado, joalharia, têxteis, figurino, cerâmica, pintura, tradução (francês, espanhol, romeno), trapologia, caricatura. Vários prémios de poesia e caricatura bem como várias exposições individuais e colectivas".
Uma figura, felizmente ainda viva, entre muitas figuras, que honram e honraram a Terra do Limonete que lhes foi berço.