Fundada no dia 22 de Março de 1893, a Estudantina Tavaredense teve como principal impulsionador Gentil da Silva Ribeiro, acompanhado por Manuel e José Gomes Cruz, à data ainda estudantes na Universidade de Coimbra.
Instalou-se numa daquelas velhas associações dramáticas (que em Tavarede vegetavam como tortulhos, no dizer de Ernesto Tomás), onde iniciou a actividade em condições muito precárias.
Foi por pouco tempo, pois poucos meses depois, mudou-se para o Teatro Duque de Saldanha, que o senhor Conde de Tavarede mandara fazer na sua Casa do Paço. Iniciou a sua acção com o teatro (velha tradição da terra), a que se seguiu a formação da primeira tuna que existiu na terra do limonete.
Em Julho de 1894 dá o seu primeiro espectáculo, já nas novas instalações, com as comédias em 1 acto "Por um triz", Criado distraído", "Dois curiosos como há poucos" e a cena cómica "José Galo na cidade". Num recorte, a imprensa figueirense escreveu: "não temos senão que aplaudir a iniciativa dos arrojados rapazes, pois que o teatro é uma escola onde podem instruir-se e desenvolver-se".
O teatro foi ensaiado por Manuel Gomes Cruz e a orquestra foi dirigida por seu irmão José.
Em Junho de 1895 já a tuna estava em actividade. Uma notícia diz-nos que "para a Senhora da Graça, em Montemor, também esta freguesia deu um bom contingente de forasteiros, que ali foram cumprir (alguns) as promessas que tinham feito à 'Santinha' durante o ano, sendo acompanhados pela simpática 'Estudantina Tavaredense', que no regresso tocou primorosamente alguns números de música, provando-se assim que nem os instrumentos vinham desafinados pela 'prima' nem os executantes pela... 'toeira'".
Vários amadores se distinguiram na Estudantina Tavaredense. De entre eles, salientamos Almeida Cruz ", que, anos mais tarde, tanto se distinguiria como actor-cantor profissional.
Durou, aproximadamente, dez anos, pois dissolveu-se em fins de 1903 e a liquidação dos seus bens fez-se no início de 1904. O seu estandarte é uma velha relíquia que está à guarda da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Um tavaredense emigrado no Brasil, escreveu em Agosto de 1916, uma carta da qual recolho o seguinte retalho: "... vem à baila o Zé Maria Cordeiro, esse folgazão de quatro costados, que era dos Presépios o seu principal organizador e fazia andar tudo numa poeira... O Gentil, pelo descaramento e naturalidade, com que em plena cena papava as migas com vinho enquanto o Diabo esfregava um olho... O Manel Cruz (parece que o estou a ver) vestido de S. José, empunhando o seu bordão, mais a Nossa Senhora (Mariquitas Sapateira), a bater à porta do próximo para lhe dar pousada... E os pastores brutos... Que reinação se fazia noutros tempos!...".
Como se sabe, o associativismo em Tavarede tem longa e honrosa tradição. No "site" da Junta de Freguesia de Tavarede, no início de Associações e Colectividades", está publicado um breve resumo que escrevi para ler num aniversário do Grupo Desportivo e Amizade do Saltadouro. Também já fiz publicar em "A Voz da Figueira", uma longa série de artigos sobre a Sociedade de Instrução Tavaredense e outra sobre o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense (esta não publicaram os 4 ou 5 últimos artigos não sei porquê. Talvez porque entenderam que não estariam bem escritos ou que não valeria a pena ocupar espaço no jornal). Também no segundo livro de "Tavarede - A terra de meus Avós", procurei desenvolver a vida das associações tavaredenses, o teatro e a música, bem como relembrei diversos tavaredenses (e não só) que foram muito importantes para a história da nossa terra. Certamente que me repetirei nalgumas passagens, mas julgo valer a pena.
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