sábado, 30 de novembro de 2013

O Associativismo nas Terra do Limonete - 51

          Diversos elementos da tuna do Grupo Musical resolveram formar um conjunto para tocar nos bailes organizados pela colectividade. Fez a sua estreia em Outubro e dera-lhe o título de Os Leões de Tavarede. A Conferência de S. Vicente de Paula de Tavarede era quem mais utilizava as instalações do Grémio Educativo, ali realizando diversas festas vicentinas, que, normalmente, constavam de teatro e recitativos. E pelo Natal e fim do ano houve espectáculo. Esta nóvel colectividade local, fez subir à cena, na sua séde, nos passados domingos 24 e 31 de Dezembro do ano findo, duas peças magnificas, habilmente desempenhadas por elementos da sua secção dramática.
         Pela primeira vez, o palco do Grémio sentiu a influência benéfica da graça feminina, que emprestou a esta récita uma nota de interessante originalidade, quer no desempenho, quer na arrumação da cena, que bem demonstrava ter andado por ali dedo de mulher.
         O drama em 2 actos, de um delicado e enternecedor entrecho, revelou-nos em D. Armandina Pinto de Oliveira, “a D. Augusta”, uma amadora senhora do seu papel, que soube incarnar a esposa dedicada até ao sacrificio, que põe em perigo a sua própria honra, tratando com o homem que pretende corteja-la, a solução do marido, a contas com a justiça.
         Mereceu, pois, rasgados elogios quem pisando o palco pela primeira vez, nos apresentou um trabalho tão equilibrado.
         “Gonçalo”, o marido de “D.Augusta”, foi desempenhado por António de Oliveira Cordeiro, que andou bem como de costume, e José Maria de Carvalho fez o banqueiro Castro Leite, patrão do Gonçalo, com a sua costumada habilidade.
         Maria Jesus de Carvalho e os restantes amadores, andaram bem nos papeis de criada e agentes da policia.
         Seguiu-se a comédia, também em 2 actos, “Almas do outro Mundo”, verdadeira fábrica de gargalhada.
         José Maria de Carvalho deu-nos um velho excentrico no “Bento”, marido da “D.Tomásia”, desempenhado por D. Armandina, que revelou extraordinária habilidade para este género de teatro.
         Clarisse de O. Cordeiro, na “Emilia”, autentica grafonola, que atirava as palavras ás catadupas pela boca fora, cumpriu admirávelmente o seu dever.
         Maria Jesus Carvalho, na “Julia”, estreou-se muito bem e prometeu...
         Constantino Souto, foi um “criado” cómico como sempre, e António Cordeiro, no Fernando Galo, nada deixou a desejar.
         Esta récita repéte-se no próximo sábado 6, pelas oito e meia horas da noite, dedicada aos sócios e suas familias.
         O ensaiador, sr. Raul Martins, teve uma chamada especial, e recebeu uma calorosa e entusiástica aclamação, aliaz bem merecida pelo explendido trabalho apresentado.

         O 30º aniversário da fundação da Sociedade de Instrução teve uma inovação naquela colectividade. O espectáculo de gala não teve teatro mas, sim, cinema. Registamos o programa do primeiro espectáculo cinematográfico: Convento de Cristo, Hora suprema e Pat e Patachon professores.
          Embora procurassem apresentar filmes de interesse, o sucesso também não foi grande. Como sabemos, o ensaiador teatral da SIT sofreu períodos de prisão por motivos políticos. Durante um desses períodos escreveu uma nova opereta para ser representada em Tavarede e, uma vez mais, baseada numa obra do romancista Júlio Diniz. Foi a opereta Justiça de Sua Majestade. E em Maio de 1934, o Grupo solicitou à Sociedade a cedência da sala de espectáculos para ali promover uma matinée dramática-musical : Para amanhã à tarde está anunciada no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense uma matinée dramática-musical na qual, além do Grupo de Instrução Tavaredense, composto de 50 figuras, pois terá a colaboração excepcional de amigos da mesma colectividade, executando um repertório escolhido, tomará parte um grupo de excelentes amadores da secção dramática da Sociedade de Instrução Tavaredense, que representará a formosa e sempre aplaudida peça de Ramada Curto – As Três Gerações.


Cena de As três gerações
    
     O programa musical a executar compor-se-á: na 1ª parte: Hino do Grupo, de F. Cardoso; Ircos, marcha, de Selmi; Barcarola, de Stefano Ceretti; e Rapsódia de Fados, de W. Pinto.
         Na 2ª parte: Fado, de Rui Coelho; Czardas nº 5, de J. Brahms; Ecos de Portugal, rapsódia, de Nunes Chamusca; De Lisboa a Macau, marcha, de Abinabad Nunes Silva.

         O Grémio comemorou o seu segundo aniversário com uma sessão solene, à qual se seguiu a representação da opereta Rosas de Nossa Senhora, tendo descerrado os retratos de Raul Martins e António Cordeiro, respectivamente director teatral e director musical.

         Como não dispunha de instalações capazes, novamente o Grupo recorreu à Sociedade para ali dar mais um espectáculo angariador de verbas para o seu cofre. Merece elogios o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense pelo brilho incontestável obtido pelo sarau dramático musical que levou a efeito, no sábado, no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense.
         O teatro encheu-se, e a assistência soube produzir em aplausos a sua satisfação.
         A primeira parte foi preenchida pela tuna do Grupo Musical, reforçada com alguns elementos amigos. Foi ouvida com muito agrado e, números difíceis, se tivermos em conta que na sua maioria os executantes são modestíssimos amadores da aldeia. Muito bem! José Silva, o seu regente, a cujo porfiado esfôrço e provada competência se deve a organização do valioso núcleo musical, que pela segunda vez se apresentou em público, tem direito aos louvores e elogios dos tavaredenses.

José Francisco da Silva
     
    Na segunda parte tivemos a representação da peça em 1 acto 1.023, de Júlio Dantas, interpretada por Severo Biscaia e Esteves Martins, na qual estes dois elementos da secção dramática do Ginásio Figueirense se evidenciaram, mais uma vez, como distintos amadores. Foram calorosamente aplaudidos.
         Tinhamos aqui dito que o sarau fecharia com chave de ouro. E assim foi. Os Bandolinistas David de Sousa formam um grupo tão homogéneo, tão equilibrado e de tão firme execução, que fará brilhante figura em qualquer parte onde se apresente, mesmo perante os amadores de música mais exigentes. Admirável o seu concêrto de sábado no nosso teatro! Ouvimos, deliciados, todos os números, e tivemos ensejo de apreciar a disciplina dos vários elementos que constituem o grupo. A acção competentíssima do seu regente triunfou em tudo, fazendo-se sentir em todos os pormenores da brilhante execução. O sr. Abinabad Nunes da Silva tem motivos para estar contente, porque viu e sentiu que o seu trabalho foi frutuoso. Daqui o felicitamos muito sinceramente e aos seus cooperadores, juntando os nossos aos aplausos calorosíssimos, entusiásticos da assistência que enchia o teatro e dispensou ao Grupo Bandolinistas David de Sousa das mais quentes ovações que ali temos ouvido.

         Pelo S. Martinho, teve lugar mais um espectáculo organizado pelos Vicentinos. Foi com prazer que lá fomos assistir aos vários números da festa.
         Na noite de sábado à noite cumpriu-se à risca o programa, apesar das dificuldades que alguém pretendeu criar à realização daquela sessão, na casa do grémio, invocando para isso, segundo nos disseram, motivos e razões eléctricas.
         Não desanimaram os rapazes que, à falta de melhor, iluminaram o palco com um candieiro Wisar e a plateia com os arcaicos candieiros de petróleo que numa sessão vicentina nada destoam do conjunto. Embora o início da festa estivesse anunciado para as 9 em ponto, só depois das 9,30 é que correu o pano, não porém, sem o protesto do cronométrico prior, nosso amigo, e dalguns, com costela de galinácios, dentre a numerosa assistência.
         Falou em primeiro lugar o amigo Belarmino, nosso companheiro de redacção, e presidente da Conferência que se encarregára de dizer: “Duas palavras” e  não tendo tido oportunidade de se preparar, ali mesmo escolhêra o têma dizendo à assistência que, se não via bem, não era por sua culpa ou dos vicentinos mas por causa dum coiso que já todos conheciam, que se metera em tôda aquela coisa. (Gargalhada geral).
         Subiu depois à cêna o interessante drama em 1 acto da autoria daquêle nosso amigo, intitulado “O Vicentino” e ao qual nos referiremos mais de espaço noutro número do nosso jornal. Nêle focou o autor, e muito bem, a missão do confrade vicentino nas suas visitas aos pobres e miseráveis.

         Todos desempenharam bem o seu papel. Dêsde o José Maria de Carvalho, no Leonardo, Constantino da Silva, no papel de Visconde, Aires de Carvalho, e Gustavo de Carvalho, no antipático Tomaz e Belarmino no desempenho do Vicentino até ao João Cordeiro, filho de Leonardo todos agradaram sobretudo porque o enrêdo traduz bem o que infelizmente acontece em nossos dias. Um reparo apenas: é preciso dar ao desempenho do conjunto mais naturalidade. Parabens a todos e ao amigo Belarmino pela sua feliz inspiração.

sábado, 23 de novembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 50

E, logo a seguir, este grupo cénico teve a sua primeira deslocação a Coimbra. Acabou a hora adiantada o sarau levado a efeito no Teatro Avenida pelo Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria e que fazia parte do programa das festas das “bodas-de-oiro” daquela associação de socorros mútuos. Por esse motivo, só hoje nos é possível referirmo-nos a esse sarau, em que colaboraram o grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense e o Orfeão da Escola Industrial e Comercial de Brotero.
         Sob a regência de Raposo Marques, este grupo coral deu início à festa, fazendo-se ouvir em algumas partituras que arrancaram faros aplausos do público. Este orfeão é, sem dúvida, um notável agrupamento, que se impõe pelo conjunto de vozes bem timbradas e bem ensaiadas. Raposo Marques, em poucozs meses, conseguiu pôr algumas dezenas de raparigas e rapazes a cantar, - e a cantar bem.
         O grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense foi apresentado, depois, pelo sr. Dr. Joaquim de Carvalho, ilustre Professor da Faculdade de Letras, que pronunciou o seguinte discurso:
         “Sou conterrâneo dos amadores qaue ider ver representar. Esta circunstância explica o convite honroso que a direcção do Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria me fez para vios roubar uns breves instantes, mas se me decidi a quebrar hábitos e propósitos ferozmente defendidos não foi apenas por ter ouvido a voz da terra, que nos foi comum na infância.
         Não. O espectáculo de hoje, todos o sabem, tem um fim beneficente e de solidariedade, coisa rara nos tempos de egoísmo, e se este fim o torna digno, há nele outras coisas que o tornam admirável. E essas coisas, senhoras e senhores, são os elementos que o compõem. Vós acabais de ouvir o Orfeão da Escola Comercial e Industrial de “Brotero” – quer dizer o sortilégio de arrancar a disciplina e a harmonia à turbulência e aos berros de umas dezenas de rapazes e de raparigas. Se extrair de uma massa irrequieta de escolares um corpo organisado conscienciosamente obediente, como fez o dr. Raposo Marques, é coisa admirável e louvável, que dizer do esforço de José Ribeiro, descobrindo na rusticidade de modestos aldeões o sentido das coisas belas?
         Eu não venho prolongar, à maneira antiga, a representação a que vamos assistir, nem tão pouco apresentar o grupo cénico da Sociedade de Instru.ção Tavaredense. Como vós, sou espectador, mas um espectador que quere inclinar-se com admiração e simpatia perante o esforço de ujm homem.
         Para aqueles que sentem no seu sangue a voz humilde de gerações de aldeões e de menestréis e conquistaram por si o que se chama uma posição elevada, e por vezes de comando social, surge frequentemente um drama de consciência: como servir com fidelidade e dignidade o povo donde saímos e ao qual nos zsentimos ligados quando mais não seja pelo convívio familiar?
         Não é este o momento de vos dizer a resposta que dou ao grave caso de consciência, mas é o momento de afirmar que reconheço em José Ribeiro um companheiro de sentimentos e de propósitos. No nosso tempo de superstição de diplomas, José Ribeiro, sem curso, pelo seu esforço e talentos pessoais, elevou-se do manejo da profissão gráfica às responsabilidades morais e intelectuais de jornalista, que dum jornal local se faz por vezes ouvir em todo o país; mas se isto é já singular, muito mais raro e admirável, é a obra de instrução, de educação artística e de benemerência social que realisou com os nossos modestos conterrâneos.
         Numa época em que o culto absorvente dos exercícios físicos de destreza e força parece desterrar o amor da arte, não é porventura extraordinário que este homem, em vez de organizar um clube de foot-ball, o que lhe seria fácil e até rendoso, realise o milagre de despertar umas tantas vocações e de as disciplinar num sentido artístico?
         Ele é crítico teatral; ele é autor dramático, ele é ensaiador cénico, e atravez da multiplicidade de tantas aptidões louvemos-lhe e aos seus companheiros o entusiasmo com que arvoraram a flama da educação artística popular ed a generosidade com que procedem. Eles não mercadejam com a sua arte; colocam-na ao serviço dos fins desinteressados da instrução popular e da solidariedade social.
         Demasiadamente me alonguei já; mas não quero terminar sem me congratular com o Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria de Coimbra pelos seus actuais propósitos mutualistas e de ter apelado para o grupo dos meus conterrâneos, que ides ver representar. Para os actores eu não vos peço minhas Senhoras e meus Senhores nem palmas, nem i ndulgências; peço-vos apenas que compreendais o nobre esforço deste grupo e vos inclineis perante o homem, felizmente moço, que soube despertar algumas das excelentes aptidões para o culto da beleza e da bondade, que dormitam no nosso povo e só aguardam a varinha do feiticeiro que as desencante”.
         O grupo dramático representou, depois, a peça em 5 actos “A Morgadinha dos Canaviais”, extraída do imortal romance de Júlio Diniz. Todos os amadores se houveram de maneira a merecer fartos aplausos, que o público, que enchia por completo a sala, não lhes regateou. Trata-se, de facto, dum notável agrupamento artístico em que todos os elementos, com rara boa-vontade e acerto, se desempenham dos seus papéis de maneira a causar a melhor impressão e a merecer elogios.
O Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria colocou fitas nas bandeiras do Orfeão e do grupo dramático e vai elege-los seus sócios beneméritos.

         Julgamos que ainda não referimos, que todas as deslocações do grupo cénico da Sociedade, tinham o fim de dar espectáculos em benefício de entidades de assistência. Na verdade, pode afirmar-se que foram muitas as centenas de contos de reis, resultantes de tais espectáculos e de que beneficiaram asilos, hospitais, etc.

         O Grupo continuava com a sua tuna, a qual era muito solicitada para animar, sobretudo, festas populares. O Grémio Educativo, além de manter a sua escola em permanente actividade, procurou continuar a fazer teatro, com adultos e crianças, embora com escassos resultados.


         Em Setembro de 1933, Tavarede e a Sociedade de Instrução, receberam a visita de representantes do Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria, de Coimbra, que aqui vieram agradecer o espectáculo dado em seu benefício e, ao mesmo tempo, para fazerem a entrega do diploma de sócio benemérito. “À Sociedade de Instrução Tavaredense:
         Ao entregarmos hoje à vossa generosa guarda o diploma de Sócio Benemérito do Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria de Coimbra move nos apenas o mais puro sentimento de gratidão. Vós haveis conquistado os nossos corações de uma forma profunda e perdurável colaborando desinteressadamente nas festas das nossas Bodas de Oiro, e ao mesmo tempo vós haveis conseguido que Coimbra vibrasse unânimemente connosco nos mesmos sentimentos de aplauso e reconhecimento.
         Graças ao vosso glorioso grupo cénico, ficou memorável a noite de 26 de Junho de 1933, na qual o público de Coimbra, aplaudindo vibrantemente a primorosa representação de A Morgadinha dos Canaviais, simultâneamente aplaudiu a vossa arte e a vossa benemerência. É um eco desses aplausos e um testemunho da nossa gratidão que hoje vos oferece
         O Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria de Coimbra.
         Coimbra, 24 de Setembro de 1933”.
         Terminada a leitura, foi erguido um viva à Sociedade de Instrução Tavaredense, entusiasticamente secundado pelos conimbricenses, e ao qual o presidente da Direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense, respondeu com um viva ao Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria de Coimbra, vibrantemente correspondido pelos tavaredenses. Então, o presidente da Direcção do Grémio entregou ao presidente da Direcção da SIT o diploma, devidamente emmoldurado, de Sócio Benemérito, e uma pasta que encerra a mensagem. Esta pasta é um belo trabalho, com as capas cobertas de sêda vermelha e azul, - as côres da Sociedade de Instrução – e interiormente forrada de sêda verde e branca – as côres do Grémio. A meio da capa está cravada uma artística placa de prata que tem gravado o emblema da SIT. A mensagem, escrita em pergaminho, é um esplêndido trabalho caligráfico do secretário do Grémio, sr. José Augusto de Andrade.
         O sr. José Ribeiro, falando em nome da Direcção e do grupo cénico, agradeceu a honra com que o G.E.C.I. de Coimbra tão distintamente acaba de conquistar a gratidão dos tavaredenses.
         Em seguida foi servido aos visitantes pelas amadoras do grupo cénico um “Pôrto-de-Honra” oferecido pela Direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense, no qual se ergueram brindes de mútua simpatia e gratidão. Em nome dos visitantes brindou o sr. Albertino Pereira de Matos, que num discurso brilhante recordou a noite de representação em Coimbra da Morgadinha dos Canaviais, afirmando que seria motivo de sincero prazer para Coimbra a ida, de novo, àquela cidade do grupo tavaredense. Respondeu, agradecendo, o sr. José Ribeiro.

         Os nossos visitantes retiraram depois, em automóveis, para a Figueira, donde regressaram a Coimbra.

sábado, 16 de novembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 49

           Nesse ano de 1932, as costumadas danças populares, tiveram a organização conjunta da Sociedade e do Grupo, num pavilhão montado no Largo do Paço (alguma imprensa diz que este largo havia sido alcunhado de Largo da Liberdade) e abrilhantadas pela tuna do Grupo.

         O Grémio, cumprindo o programa cultural delineado, iniciou uma série de conferências, todas elas de índole religiosa. A Sociedade continuou com as suas deslocações, nomeadamente à Figueira e a Buarcos. A propósito da representação da peça Os fidalgos da Casa Mourisca, em Buarcos, colhemos este apontamento publicado num jornal de Coimbra, e da autoria de um destacado amador daquela cidade e autor de diversas peças teatrais. À noite, espectáculo no Peninsular por um grupo de bons artistas e récita no teatro de Buarcos pelo excelente grupo cénico de Tavarede, que representou o drama “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, uma das mais bonitas peças extraídas da obra de Júlio Deniz. Mais uma vez fiquei assombrado com o desempenho dado a uma peça cheia de dificuldades por gente modesta, sem cultura dramática. Por vezes me esqueci e julguei estar vendo representar autênticos profissionais e não gente duma simpática aldeia, em geral operários. O grupo das mulheres possui competências que não se discutem.

         Começaram, também, os preparativos para a abertura da nova época teatral. A Sociedade iniciou os ensaios da peça Canção do Berço e no Grémio preparou-se uma



Canção do Berço

opereta infantil, Filhas de Eva. Foi mais um período de muito difícil apreciação e inclusão nestes apontamentos. Enquanto um jornal figueirense, afecto à Sociedade, anunciava a actividade da colectividade e elogiava a montagem e interpretação das peças representadas, dois outros periódicos preocupavam-se mais em atacar tanto a Sociedade como o Grupo, criticando, em termos bastante agrestes, todos os oradores que nestas usavam da palavra no diversos actos solenes, chegando ao ponto de usarem termos e expressões pouco decentes, referindo-se a pessoas que ainda conhecemos pessoalmente e que muito se destacaram na vida social e cultural local.

         Da sessão solene do aniversário da Sociedade, em Janeiro de 1933, não podemos deixar de transcrever  este apontamento: Uma outra homenagem ia ser prestada naquela sessão solene, que tão imponentemente estava decorrendo. O sr. presidente convida o director da secção dramática, sr. José Ribeiro, a descerrar a fotografia que está coberta pelo velho estandarte da Sociedade de Instrução Tavaredense. Há um momento de ansiosa curiosidade, que se transforma numa verdadeira apoteose: aparece o retrato do venerando cidadão e grande benemérito sr. Joaquim Felisberto Soto-Maior. A tuna do Grupo Musical, que a esta sessão memorável deu colaboração brilhante, executa o hino da Sociedade, e a assistência ergue-se e, de pé, manifesta a sua admiração e o seu respeito ao homenageado com uma calorosa, carinhosíssima e prolongada ovação. O sr. presidente traça o perfil moral do sr. Joaquim Soto-Maior, mostrando como a bondade da sua alma e as suas virtudes cívicas souberam conquistar a veneração de todo o povo do concelho da Figueira. O nome de Joaquim Soto-Maior está inscrito a ouro na história das instituições de beneficência e de instrução que tem auxiliado, como está indelevelmente gravado no coração de tantos e tantos infelizes que lhe devem socôrro inesquecível. Se todos os homens que possuem fortuna tomassem como exemplo a vida dêste benemérito, nenhum pobre teria palavras de maldição para os ricos. À Sociedade de Instrução Tavaredense dirige felicitações pela homenagem que acaba de prestar e que é uma bela prova do sentimento de gratidão.

         Seguindo o critério idealizado, vamos transcrever um extracto de um dos discursos proferidos na sessão solene comemorativa do primeiro aniversário do Grémio Educativo. A obra que fundámos hà um ano surgiu no momento oportuno. Não veio com intuitos belicosos. Não apareceu com o estreito proposito de hostilizar ninguem. No campo dos ideais somos intransigentes. Senhores da Verdade, defendemo-la com entusiasmo, com sinceridade e elevação. Aqui dentro - convém proclamá-lo bem alto - nunca se fizeram nem farão ataques pessoais. No dia em que tal sucedesse ficaria vago o meu modesto lugar.
         Nesta colectividade há pensadores, bons ou maus, nunca arruaceiros. O Gremio Educativo toma chá em vez de carrascão... Completa hoje um ano de labuta o nosso Gremio. É uma criança - dirão alguns. Talvez. Mas uma criança inteligente, educada, uma criança prodigio que não diz nomes feios, não precisa de cueiros, nem mete os dedos no nariz... Sabe o que quere e para onde vai.
         Há na sua vida um ponto de semelhança com a vida do Mestre. Tambem ele foi perseguido nos seus primeiros tempos por certos herodes que tiveram a pretensão de o exterminar. Tambem alguns fariseus ergueram a voz contra a sua obra reconstituida, contra a sua obra edificadora. Ao Gremio que tivera nascimento com assistencia eclesiastica, houve quem vaticinasse um enterro civil.
         Tudo passou, porem. E cá estamos a festejar o primeiro passo - o mais dificil na vida das colectividades. O que fizemos durante um ano ocioso seria relembrá-lo. Fizemos muito? Fizemos pouco? Trabalhámos.
         No campo social alguma coisa conseguimos. O Gremio Educativo nasceu duma necessidade urgentissima. Á sua fundação presidiu um nobre e alevantado ideal - a educação e a instrução do povo, a reconquista das almas para Deus.
         Deve entender-se por educação como dizia Bonald: tudo o que serve para formar bons costumes; e por instrução o que traz e acrescenta conhecimentos. A instrução forma sabios, a educação forma homens. Se importa muito instruir, importa ainda mais educar. Isto é fundamental.
         Evidentemente, que será sempre util derramar pelo povo os beneficios da instrução; mas não se faça dela a razão da felecidade humana. Saber ler é excelente, mas não basta. É indispensável ministrar tambem ao povo uma boa e solida educação, baseada na moral cristã - a melhor que até hoje se conhece. É necessario incutir Jesus nas almas. Alem da disciplina material, aquela que regula os corpos, existe a disciplina moral que exerce acção sobre o espirito.
         Se o problema não foi assim resolvido, acontece o que por aí se verifica: as cadeias a abarrotar de letrados, os tribunais a condenar constantemente homens cultos e até bachareis. Aquela utopia de Vitor Hugo: abrir uma escola é fechar uma cadeia, há muito que vem sendo desmentida. A instrução espalha-se activamente; todos os dias se abrem novas escolas - e as cadeias estão cada vez mais povoadas. Os grandes criminosos, os grandes bandidos, os grandes burlões dos nossos dias, não os recruta o crime, infelizmente, na legião dos analfabetos.
         O “saber”, disse há cerca de um ano o mais lido dos nossos prosadores contemporaneos - o sr. dr. Antero de Figueiredo - “é uma chave preciosa que abre muitas portas. E eu desejo que “ela” abra as portas da beleza, do amor e da bondade”.
         Não são eles, os homens que não sabem ler, os culpados dos conflitos que pelo mundo se desencadeiam, dos ódios e dos interesses que agitam as nações. São os tais letrados, os tais a que chamam vulgarmente homens de saber.  

  





José Maria de Carvalho
Transitado ndo Grupo Musical



         Enquanto os analfabetos trabalham na lavoura, nas industrias, fomentando a riqueza nacional, homens cultos há que se entregam ao criminoso mister de fabricar bombas e engenhos de morte para esfacelar a humanidade. Um bombista pode ser muito sabio mas é sempre um elemento perigoso para a sociedade. Que prova isto?
         Que a instrução por si só não basta. Que o a b c é insuficiente. Que, finalmente, a Educação vale mais do que a instrução.
         Há quem responda que a educação consiste nisto de andar a distribuir chapeladas a torto e a direito, em cortesias e salamaleques, como os cavalos nas touradas.
         Puro engano! Está longe da verdade quem assim raciocina.
         A educação não é apenas a aparencia exterior, aquele verniz aparatoso que distingue as pessoas de fino trato! A educação verdadeira, é uma autentica revolução contra os vicios da natureza humana, uma reacção poderosa contra os maus instintos, dominando-os. É por isto, é só por isto, que somos reaccionarios. Educação é sinónimo de aperfeiçoamento.
         Foi para trabalhar neste campo que o Gremio surgiu. Foi para educar, na rigorosa acepção da palavra.

Após algumas representações com uma nova peça, A morgadinha dos Canaviais, também extraída do popular romance de Júlio Diniz, fizeram nova deslocação a Tomar. A notícia de que pessoas amigas da Figueira e Tavarede veio de visita à nossa cidade, põe logo em alvorôço a população tomarense. Francamente, são tantos os motivos a que pode atribuir-se tal facto, que nos sentimos embaraçados para escolhermos um. Lembro-me de que seja a estada de muitos tomarenses naquela linda praia, nos meses de Agôsto e Setembro, onde são amavelmente recebidos e gozam uns momentos de felicidade, que para isto influa. Lembro-me daquele passeio nocturno à porta dos cafés Europa e Espanhol, onde portuguesas gaiatas, de braço dado com muchachas mui gentis, espalham alegria por tôda a parte num desejo bem justificado de gozarem o que a vida tem de belo e bom, e penso que talvez seja êste quadro cheio de luz e côr, que nos leva a receber bem o povo figueirense – tavaredense, um pouco convencidos de que nos traga aquilo que os nossos olhos embevecidos tiveram ocasião de observar na sua terra... Lembro-me que suponham os nossos visitantes da beira-mar portadores da sua encantadora Serra da Boa-Viagem, do seu Cabo Mondego, do seu pequeno jardim. Do espírito do seu egrégio Fernandes Tomaz ou do seu inigualável Casino Peninsular. Lembro-me que seja a leitura


Violinda Medina e Silva - A morgadinha dos Canaviais

dum jornal figueirense aqui mui lido e orientado por uma pessoa que... não podemos dizer, que nos façam ver em cada figueirense ou tavaredense um amigo que temos obrigação de receber bem. Emfim, depois de muito pensar reconheço que é por tudo isto e mais ainda: a vinda pela primeira vez, em 1930, da Sociedade de Instrução Tavaredense, que originou as boas relações que existem entre Tomar – Figueira. Se as simpatias conquistadas por tão benemérita colectividade já eram grandes, muito maiores ficaram sendo quando o ano passado, num rasgo de gentileza para com a nossa terra, aqui veio dar duas récitas com “Os Fidalgos da Casa Mourisca” e “As Pupilas do Sr. Reitor”, em benefício da Sopa dos Pobres, cuja inauguração, por coincidência curiosa, se realizou no passado domingo, como noutro lugar noticiamos.
         Em face de todos estes factos, a vinda da Sociedade de Instrução Tavaredense constituíu o grande acontecimento de domingo e segunda-feira na nossa cidade.
         No domingo, na estação do caminho de ferro, à chegada do combóio das 18 horas, eram os nossos visitantes aguardados por muito povo e numerosos amigos, que lhes dispensaram uma carinhosa recepção.
         As duas brilhantes récitas no nosso teatro foram motivo de justiceiros comentários, sendo unânimes os elogios pela maneira cuidadosa como tôdas as peças foram postas em cena. O desempenho e o entrecho das “Três Gerações”, “Morgadinha dos Canaviais”, “Canção do Berço” e da linda opereta “O 66” agradaram plenamente, não escondendo a numerosa assistência a sua preferência pelas duas primeiras, que de bom grado tornaria a ver. Todos os intérpretes dos magníficos espectáculos foram calorosamente aplaudidos, tendo havido chamadas especiais com muitas flores à mistura. O público encheu o teatro no primeiro dia, e na segunda esgotou-se a lotação, sendo grande o número de pessoas que não conseguiram obter bilhete.

         Foram duas noites de festa que deixaram as recordações mais agradáveis, devendo os tavaredenses levado da nossa terra as melhores impressões e a certeza absoluta de que os tomarenses teriam prazer em vê-los aqui no próximo ano numa viagem oficial, trazendo-nos também o que de representativo tem a linda praia da Figueira.

sábado, 9 de novembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 48

         O teatro da Sociedade, tendo alcançado enorme êxito com a peça Os fidalgos da Casa Mourisca, continuou com o teatro de características populares, apresentando As pupilas do Senhor Reitor, igualmente numa adaptação do romance homónimo de Júlio Diniz. O excelente grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense obteve no sábado um novo e grande triunfo, aliás já previsto; a opereta As Pupilas do Sr. Reitor, fica no seu reportório, depois dos Fidalgos da Casa Mourisca, como um belo êxito artístico.

         A interpretação foi sempre boa, das primeiras figuras às simples rábulas, num conjunto harmonioso e brilhante. Nas duas protagonistas vimos duas amadoras distintas: Emília Monteiro na triste Margarida, e Violinda Medina e Silva, na alegre Clara, a que deu a precisa vivacidade – ambas primorosamente. João Semana encontrou em António Graça o intérprete perfeito, o mesmo devendo dizer-se de Jaime Broeiro, no José das Dornas – dois tipos magistralmente desenhados, representação alegre, dando os efeitos cómicos com a maior naturalidade, sem um exagêro. António Broeiro compôs a primor a figura do bondoso Reitor, João Cascão e Manuel Nogueira, deram o carácter próprio ao rústico Pedro e ao volúvel Daniel. Maria Teresa fez com justo sabor as duas características – a mulher do tendeiro e a criada do João Semana; e F. Carvalho tem no João da Esquina um dos melhores papéis que lhe conhecemos. Uma rábula bem feita: a Francisca, por Guilhermina de Oliveira.

O grupo cénico da SIT em 1928
    
Guarda-roupa a rigor e cenários de belo efeito – três cenas diferentes pintadas pelo distinto artista sr. R. Reynaud (a cena do 4º quadro só no próximo espectáculo pode ser apresentada). A música é lindíssima, bem portuguesa, com a assinatura do grande e saudoso maestro Felipe Duarte, que valorizou extraordinariamente a adaptação do experimentado escritor teatral Penha Coutinho. Pena foi que o número de abertura – a linda canção das lavadeiras – saísse com desafinação nas vozes, o que foi devido ao nervosismo com que o espectáculo começou a hora tardíssima (passava das 23!) por virtude da demora na montagem do cenário. O dueto das duas pupilas no 1º acto, foi magistralmente cantado por Emília Monteiro e Violinda Medina, que ouviram uma grande ovação; depois o grande concertante – a chegada do novo médico – difícil e de belo efeito, também aplaudido sem favor, e o côro final. No 2º acto dominou a Canção da Cabreira, em que sobressaiu a esplêndida voz de Violinda acompanhada pelo côro – quatro vozes – que arrebatou a assistência. Poucas vezes se tem feito neste teatro tão demorada e calorosa ovação. Outros números ainda foram aplaudidos e todos os restantes coros foram cantados com perfeita afinação.
         Merecem referência as caracterizações de António Esteves, felicíssimas.
         Para o belo êxito das Pupilas contribuíram, além dos elementos citados, muitas dedicações desinteressadas e a competência e bom gôsto de dedicados amigos da SIT. É nosso dever registar os nomes de António Simões, que regeu a excelente orquestra – constituída por amadores mas formando um conjunto que se ouve com prazer – e dirigiu superiormente tôda a parte musical; José Medina, que ensaiou as vozes, dispendendo um esfôrço enorme em que foi ajudado por José Silva e Jerónimo Ferreira; e D. Belmira Pinto dos Santos e Pedro Campos Santos, que dirigiram a execução do guarda-roupa.
        
         Depois do espectáculo inaugural, o Grémio Educativo continuou com o teatro. Como estava anunciado, realizou-se no último domingo, na séde dêstre Grémio, um magnífico espectáculo, “reprise” das festejadas peças que constituiram a récita de gala da sua inauguração oficial, o qual marcou novamente pela novidade que representa em Tavarede.
         A casa estava repleta, verdadeiramente à cunha, como se diz em gíria teatral, e apezar de terem sido distribuidos muitos convites extra lotação, não foi possivel satisfazer numerosos pedidos feitos á última hora.
         Os jovens amadores, mais uma vez entusiásticamente ovacionados, foram muito além do que havia a esperar da sua inexperiência. Apezar de ser a segunda vez que pisam o palco, houveram-se com um brilho raro muitas vezes em pessoas experimentadas. Alguns dêles são mais do que uma prometedora esperança. São uma realidade palpável. Com as vocações reveladas, pode orgulhar-se o Grémio de ter resolvido a sua questão do teatro.
         No final do espectáculo, o público fez uma chamada especial ao ensaiador, sr. Raul Martins, em que lhe manifestou a sua admiração pela rara tenacidade e proficiência de que deu prova na encenação das referidas peças.

         Em Junho de 1932, o grupo cénico da Sociedade de Instrução realizou segunda visita a Tomar. A visita da Sociedade de Instrução Tavaredense constituiu por assim dizer o maior acontecimento que ultimamente aqui se tem registado.
         Já o fim altruísta que trazia a Tomar tão simpática Sociedade, já porque ainda não tinham sido esquecidas as magníficas impressões deixadas há dois anos, tudo contribuiu para o bom acolhimento que aos tavaredenses foi dispensado e para o entusiasmo que durante dois dias se observou pela estada entre nós de tão amáveis visitantes.
         Conforme fôra anunciado, a Sociedade de Instrução Tavaredense chegou a Tomar pelas 15 horas de sábado. O grupo era constituído por mais de 80 pessoas.
         Na estação do caminho de ferro, além de muitos amigos, correspondentes dos jornais e povo, aguardava os visitantes a Comissão da Sopa dos Pobres, presidida pelo sr. capitão Jesus.
         Depois de feitas as apresentações e dadas as boas-vindas, dirigiram-se para os hotéis que lhes estavam reservados.
         Ao fim da tarde chegaram vários automóveis e uma camioneta com muitas pessoas e famílias que aproveitavam esta oportunidade para visitar a nossa terra. Entre outras pessoas vimos os srs.: dr. José Cruz, dr. Manuel Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, Firmino Cunha, Fernando Reis, Francisco Freitas Lopes, Eduardo Soares Catita, Araújo, Carlos Traveira, etc. etc.
         Refeitos da viagem, espalharam-se pouco depois pela cidade, visitando o que temos digno de mensão.
         Pelas 20 horas foram cumprimentados pela Sociedade Filarmónica Gualdim Pais no Hotel Nabão e pelas direcções das nossas sociedades de recreio.
         À noite representou-se no teatro a linda opereta As Pupilas do Sr. Reitor, que agradou bastante. Aos principais intérpretes da peça foram oferecidos ramos de flores e a assistência aplaudiu calorosamente e fez chamadas especiais.
         No domingo, a-pesar-da chuva que caíu quási tôda a manhã, continuaram as visitas aos nossos monumentos.
         Às 14 horas houve no Grémio Artístico uma matinée e um “Pôrto-de-Honra” oferecidos à Sociedade de Instrução Tavaredense.
         Foi uma festa cheia de alegria e entusiasmo, de perfeita confraternização entre tomarenses e visitantes.
         Dançou-se animadamente, até às 20 horas. Enquanto no salão de baile se servia um chá às senhoras, num outro salão era servido o “Pôrto-de-Honra”. Usaram da palavra os srs. dr. José Cruz, dr. Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, dr. Manuel Gomes Cruz, António Medina Júnior e os tomarenses António Duarte Faustino e Domingos Vístulo, que puseram em relêvo o significado desta visita e as consequências que dela resultam para a Figueira e Tomar com tão amistosas relações. Trocaram-se muitos e entusiásticos brindes, ouvindo-se, por vezes, aclamações calorosíssimas.
         À noite realizou-se o segundo espectáculo, com Os Fidalgos da Casa Mourisca.
         Se a impressão deixada pelas Pupilas do Sr. Reitor tinha sido boa, a dos Fidalgos da Casa Mourisca ultrapassou tudo que se possa imaginar. À medida que a peça ia decorrendo, ia também por sua vez subindo a admiração do público pelo que estava observando. O cuidado da montagem das cenas, a forma de dizer dos distintos amadores, a perfeita interpretação de A Broeiro (D. Luís), de D. Violinda Medina e Silva (Baronesa), D. Emília Monteiro (Berta), D. Maria Teresa (Ana do Vedor), António Graça (Frei Januário), Nogueira e Cascão nos filhos do velho fidalgo, etc., formando um conjunto primoroso, que dava motivo a que a assistência, como que electrizada pelo que estava vendo, aplaudisse com entusiasmo e dissesse com justiça: parecem artistas e não amadores!
         Num intervalo alguns amadores de S. Martinho do Pôrto, com o seu ensaiador, também um distinto amador de teatro o professor de ensino secundário naquela vila, foi ao palco saudar o grupo tavaredense e oferecer flores às amadoras. O discurso proferido pelo ensaiador do grupo de S. Martinho do Pôrto, no qual se afirmava muita admiração pela forma invulgarmente brilhante como se estava representando a peça e se elogiava a Sociedade de Instrução Tavaredense pela sua formidável obra educativa, arrancou à assistência, que enchia completamente o teatro, novas e prolongadas ovações.
         Em seguida, a Comissão da Sopa dos Pobres, à frente da qual estava o sr. capitão Jesus, veio ao palco agradecer a todos os tavaredenses o seu cativante desinterêsse e a sua amabilidade em virem até nós cooperar na grande obra de assistência em que se encontravam empenhados. Estas palavras foram cobertas de ovações calorosíssimas. Tôda a sala, repleta, vibrava de entusiasmo. As ovações repetiram-se quando o director do grupo cénico tavaredense, nosso amigo sr. José Ribeiro, agradeceu.
         Muitas flores, muitos aplausos e sobretudo muito entusiasmo e carinho, tudo dá motivo a que possamos afirmar terem deixado nos tomarenses as melhores impressões os dois brilhantes espectáculos que, numa hora feliz, a Sociedade de Instrução Tavaredense veio dar à nossa cidade.
         Na primeira noite, a bem constituída orquestra que o distinto amador figueirense sr. António Simões nos apresentou, e que tão apreciada foi, executou, a abrir, numa simpática homenagem à nossa terra, o hino de Tomar.
         Terminado o espectáculo de domingo realizou-se um baile no Grémio Artístico, que se prolongou até às 4 e meia de segunda-feira.
         Os nossos simpáticos visitantes retiraram na segunda-feira, bem impressionados com o acolhimento que tiveram em Tomar, e os tomarenses viram-nos partir com saudade.
         Daqui felicitamos a simpática Sociedade de Instrução Tavaredense.
         =À vinda para Tomar, uma surprêsa aguardava os nossos visitantes em Caxarias: na gare da estação estavam as crianças da escola daquele lugar, tôdas levando flores e acompanhadas da nossa patrícia srª D. Iria da Fonseca Baptista e da srª  D. Maria Cristina Trezentos, a cuja inteligente acção e belo espírito se deve a realização da récita infantil realizada em Caxarias e de que então demos notícia. Acompanhavam-nas ainda outras pessoas. À chegada do combóio, a srª D. Iria Baptista fez as apresentações e dirigiu saudações ao simpático grupo tavaredense, saudações que o director do grupo agradeceu com palavras de admiração pela obra daquelas senhoras e dos seus cooperadores. Às intérpretes das duas Pupilas foram oferecidos lindos ramos de cravos, bem como ao director do grupo, que por todos agradeceu, sensibilizado. No momento do combóio prosseguir a marcha, ergueram-se vivas calorosos aos tavaredenses e ao povo de Caxarias.


         = Alguns rapazes tomarenses foram de automóvel, na segunda-feira, à estação de Chão das Maçãs, e ali esperaram o combóio que conduzia à Figueira os nossos visitantes, levando-lhes ramos de flores, o que deu origem a novas manifestações de carinhosa simpatia.

O grupo cénico da SIT - 1ª. deslocação a Tomar

sábado, 2 de novembro de 2013

O Associativismo da Terra do Limonete - 47

         A tuna do Grupo, que havia sido reorganizada, voltou a sair no domingo de Páscoa de 1932, em visita de cumprimentos a congéneres, entidades, imprensa e amigos. E ainda em Abril, teve lugar a inauguração oficial do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense. Aqui deixamos a reportagem. Espectaculo – Conforme anunciámos realizou-se em Tavarede nos dias 10 e 11 a inauguração da nova colectividade que dá pelo nome de “Grémio Educativo e Instrução Tavaredense” e que, como o seu nome o indica, visa a educação e instrução principalmente da juventude.
         Acedendo ao amavel convite dos seus dirigentes, lá fômos assistir no sábado às representações constantes do programa dêsse dia, e não podemos calar os justos e merecidos louvores a que têm jus todos os que tomaram parte nas cenas.
         O espectáculo anunciado para as 9,30 da noite começou cêrca de hora e meia mais tarde, o que não admira por tratar-se de amadores que pela primeira vez entraram em cena e portanto pouco práticos nos preparativos.
         A esplêndida sala de recreio estava repleta.
         A orquestra composta de distintos músicos do regimento e regida pelo hábil violinista António Cordeiro executou o hino do Grémio, artística composição do consagrado músico sr. Herculano Rocha, ao mesmo tempo que um grupo coral escolhido entre os alunos da escola vocalizava a letra, expressiva produção do sr. Padre Abílio Costa, professor do Seminário, alma de artista sempre pronto a coadjuvar tôdas as boas iniciativas.
         Seguidamenrte, surge no palco o sr. Belarmino Pedro anunciando à assistência que um grupo de gentis senhoras desta cidade tendo à frente a Ex.ma Srª. D. Carmo Santos, confecionára um estandarte para oferecer ao Grémio, cuja Direcção por sua vez o entregou aos alunos da escola.
         Então, um petiz de palmo e meio, o maior aluno da escola, avança, toma a haste do estandarte, emquanto uma menina lhe coloca duas lindas fitas oferecidas pelos alunos.
         De novo é entoado o hino pelos pequenos com o acompanhamento da orquestra e, após um pequeno intervalo, começa “Uma recepção elegante”, farsa cómica em 1 acto, desempenhada por cinco meninas.
         Uma delas é a dona da casa e faz de senhora; outra desempenha o cargo de creada e que à porta recebe as visitas. Entram sucessivamente três visitas que são anunciadas pela creada, pouco satisfeita com a brincadeira porque também quer ser Senhora como as outras. Trocam impressões sôbre o tempo, falam dos seus haveres, das suas reuniões elegantes, das suas preocupações, tudo isto com uma graça extraordinária, e põe termo à cena a pequenita vestida de creada que, não podendo resignar-se mais com o papel que as companheiras lhe distribuiram, apresenta-se à patroa a pedir... o seu ordenado, pois quer ir para a terra.
         Foi uma cena desempenhada com bastante graça, o melhor que é lícito esperar-se de creanças, e que arrancou fartos aplausos à assistência.
         Sucedeu-se-lhe um drama muito interessante, “Amor de Pai”, em que tomaram parte cinco rapazes.
         Heitor da Silveira, interpretado por António d’Oliveira Cordeiro, é um rapaz boémio de vida talvez duvidosa, jogador de profissão, sem escrúpulos de consciência, alma de fé perdida que procura arrastar para o torvelinho das loucuras humanas e da vida desregrada a Lucio, filho do General Castro, interpretado por Constantino Migueis Fadigas.
         Trava-se entre os dois vivo diálogo sôbre a existência da alma e de Deus. Lucio tem fé, porque seu pai é crente e lh’a incutiu, e porque tem fé teme a Deus, receia ofendê-lo e sente repugnância pela vida a que quer arrastá-lo o seu companheiro.
         Entram depois no palco o General Castro (José Maria de Carvalho), figura de militar da velha guarda de el-rei, acompanhado do Brigadeiro (António Simões Baltazar), que falam das gloriosas façanhas do passado. Vem depois o creado (Constantino Souto da Silva) com os jornais que trazem as últimas notícias e a narrativa dum crime cometido na estrada de Cintra. Mais tarde volta com uma carta que lhe notifica a prisão de Lucio, filho do General, por comprometido no atentado. Depois entra em cena o filho, que pede perdão ao velho General, cujos primeiros movimentos foram de repulsa pelo filho que envergonhou a sua farda e o seu nome honrado. Mas o filho, que a princípio se deixára levar pelas más companhias, não ajudára à prática do crime, arripiando o caminho a tempo e horas, e o Brigadeiro, velho amigo do General, averigua e justifica a inocencia de Lúcio e dela informa o General Castro, que abraça a ambos.
         Todos desempenharam bem.
         José Maria de Carvalho com muita naturalidade representou e traduziu irrepreensivelmente na fisionomia, nos gestos, no olhar expressivo, na voz languida e triste o General Castro, revelando muita habilidade para êste género de teatro.
         António Cordeiro, parece que estava talhado para o seu papel; era duma comprovada naturalidade.
         Constantino Souto da Silva, no papel de creado, assentavam-lhe bem as suiças e desempenhou bem.
         O mesmo dizemos de António Simões de Baltazar, Brigadeiro, que se houve melhor na comédia “Valentes e medrosos”.
         Constantino Migueis Fadigas representou a mêdo; entretanto foi bom para comêço.
         Todos foram muito aplaudidos.
         Após um pequeno intervalo, aparece “Um chaufeur desastrado”. É um pequeno que se aproveita do sôno do pai para dar um passeio de automovel. Para isso convida um companheiro que não aceita o convite, mas não desiste do seu temerário intento e lá vai estrada fóra, aos zig-zags, atropelando aqui um apregoador de flores, ali um vendedor de pasteis e mais adiante um limpa-chaminés. Os dois primeiros nada sofreram; apenas perderam pela rua as flores e os pasteis e vieram pedir indemnisação, que lhe foram pagas. O último é que sofreu forte contusão num quadril e, cheio de dores, com a cara enfarruscada, vem pedir dinheiro para comprar essencia de terebentina para umas fricções. O chaufeur desastrado recusa dar dinheiro a prontifica-se a fazer umas massagens. Começou a operação auxiliado pelo seu companheiro, e dentro em pouco estavam ambos enfarruscados, protestanto nunca mais quererem nada com gente que traz o corpo sujo. Todos disseram com muita piada.
         Por fim veio a comédia “Valentes e medrosos”, que fez rir a bandeiras despregadas.
         Pantaleão (António Simões Baltazar) é um provinciano barrigudo que vive só para comer e beber. Como é rico vai à cidade e assiste a uma tourada. Ele, que não percebe nada destas coisas, discute com Ramalho (José Maria de Carvalho) uma péga; travam-se de razões, armam zaragata, batem-se e acabam por combinar um duelo, trocando entre si as moradas. Entretanto cada qual procura mudar de casa o mais depressa possivel.
         Clemente (António Cordeiro) consegue alugar casa na cidade, onde fixa residencia e onde tem o seu emprêgo. Por sua vez subloca e aluga quartos.
         Pantaleão dirige-se-lhe e aluga-lhe um quarto cuja renda paga adeantadamente, e põe-no ao facto do que se passa. Do mesmo modo Ramalho vai também alugar uma dependência da mesma casa, e eis que os dois inimigos irredutiveis vivem paredes-meias. Ambos se deitam. De noite Pantaleão levanta-se excitado pela questão que tivera na véspera, atravessa o compartimento do seu rival, ouve ressonar, e às apalpadelas encontra o seu inimigo Ramalho que, deitado num canapé, sofre um pezadelo. Há barulho e o dono da casa traz um candieiro para ver de que se trata. Nesta altura reconhecem-se, engalfinham-se um no outro e jogam o sopápo. Pantaleão barrigudo cai sôbre Ramalho deixando-o quási esborrachado. Intervem Clemente, que dá a cada um uma espada para se baterem em duelo e, retirando-lhes a luz, deixa-os completamente às escuras. Começam então a procurar-se, enfiando as espadas pelos moveis que caem com estrondo.
         O creado (Constantino Silva) supõe tratar-se duma invasão de ladrões e munido duma vassoura vem às escuras distribuir vassouradas a êsmo. Ambos apanham. Nisto chega Clemente de vela na mão e consegue que aqueles desavindos façam as pazes. Continúam a viver na mesma casa, mas para isso o creado, de vassoura em punho, previne que é preciso ter juizo!
         Foi uma cena muito engraçada. Saíu-se muito bem o Baltazar que revelou habilidade para representações cómicas. José Maria é um rapaz sério de mais para cenas desta natureza. Cordeiro teve naturalidade mas foi pouco original. Constantino Silva houve-se sempre com muita naturalidade no seu papel de creado. Todos muito bem.
         O espectáculo terminou como principiára – pelo hino, entoado pelos pequenos da escola.
         Resta-nos uma referencia especial para uma figura que não entrou em cena mas orientou os entrechos.
         O sr. Raul Martins, sargento do 20 desta cidade, foi quem desinteressadamente ensaiou as várias peças e serviu de ponto nêste divertido espectáculo, cabendo-lhe por isso tôdos os encómios, e sendo bem merecidos os aplausos que a plateia lhe rendeu quando o obrigou a vir ao palco. Teve decerto muito trabalho com o ensaio de todos, sobretudo dos miudos, mas os seus esforços foram coroados de bom êxito. Felicitamo-lo.
         Os cenários eram da auctoria do nosso amigo Reitor de Montemor, sr. Padre Nunes Pereira, outra alma de artista que se tem dedicado ao desenho à pena. Já publicámos trabalhos seus no número especial de Verride.
         A impressão que colhemos e que nos ficou esta parte do programa da inauguração do Grémio, foi a melhor possível.
         Fazemos votos para que o “Grémio” progrida, levando à cena sòmente peças moralisadoras, que visem a recrear o espírito sem ofender a Deus e perverter as almas.
         Sessão solene – Como é natural, a parte das festas do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense que mais entusiásmo despertou, foi a sessão solene.
         Não é porque o espectáculo não agradasse ou fôsse pouco concorrido. Das linhas que acima ficam, claramente se deduz o contrário, isto é, que o espectáculo oferecido por esta colectividade aos seus numerosos convidados, resultou deveras interessante e concorridissimo por pessoas de Tavarede e da Figueira.
         Mas a sessão solene, pela categoria dos oradores inscritos, pelo dia e hora a que ia realizar-se, estava reservada para fechar com chave de ouro as festas do Grémio.
         Assim aconteceu.
         Pouco depois da hora aprazada, começaram a chegar automoveis da Figueira que conduziam algumas das pessoas mais distintas e representativas desta cidade, muitas pessoas que daqui foram a pé e os sócios do Grémio com suas familias.
         Dentro de pouco tempo, o salão, que é bastante grande e que foi muito embelezado, estava repleto, aguardando-se apenas a chegada da orquestra.
         Entretanto, nós iamos aproveitando o tempo a tomar nota, ao acaso, dalgumas das pessoas mais distintas que se encontravam entre a assistência.
         Senhoras: D. Rita Juzarte Santos, D. Caetana Laidley Costa, D. Clotilde C. de Sousa, D. Maria Manuelna Camolino de Sousa, D. Alice Camolino de Sousa, D. Celeste Maria de Melo Mendes, D. Celeste Mendes, D. Gloria Soares d’Oliveira, D. Maria de Lourdes Mendes Deniz da Fonseca, D. Greta Scheibe, D. Alda Ferreira d’Almeida, D. Maria da Conceição Loureiro, D. Maria do Carmo Juzarte Santos, D. Maria da Cruz e Costa, D. Josefina da Cruz e Costa, D. Ofélia da Cruz e Costa, D. Guilhermina Rodrigues Cordeiro d’Oliveira, D. Hercilia Melo da Costa Ramos, D. Maria da Conceição Palrinhas, D. Ricarda Moniz, etc. etc.
         Cavalheiros: Srs. Dr. António Sotero, Dr. Canavarro de Valadares, Fernando Mendes, Capitão Manuel Nunes d’Oliveira, Dr. Mendes Pinheiro, Tenente Coronel Bemfeito, António Ramos Pinto, Mosenhor José Duarte Dias d’Andrade, Dr. Cesar Freire Falcão, Capitão Aguiar de Loureiro, P.e Augusto Nunes Loureiro, P.e Abilio Costa, P.e José Lourenço dos Santos Palrinhas, P.e Alfredo de Melo Abrantes Couto, P.e José Martins da Cruz Deniz, Ezequiel Leite Coelho Forte, António Simões, António Victor Guerra, Raul Martins, Capitão Mourinha, Joaquim Gomes d’Almeida, Francisco Martins Cardoso, Carlos Aguiar de Loureiro, Manuel Figueiredo Maia, etc., etc.
         Assim que chegou, a orquestra tocou o hino do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, que foi ouvido de pé e com o maior respeito, por toda a numerosa e selecta assistencia, e o sr. Dr. Cesar Freire Falcão, já no palco, lê, na qualidade de presidente da Assembleia Geral desta colectividade, alguns artigos dos estatutos do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, que expressam os seus fins.
         Lê em seguida os nomes dos seus actuais corpos gerentes, que vão tomando lugar no palco, e convida a presidir àquela sessão solene, Monsenhor José Duarte Dias d’Andrade, antigo senador católico, Director do Colégio Liceu Figueirense e um dos membros mais categorizados do clero português.
         Uma prolongada salva de palmas aplaude o convite do sr. Dr. Falcão, e Monsenhor Andrade, depois de ocupar o seu lugar, convida para junto de si os srs. Dr. Mendes Pinheiro, Dr. António Sotero, Capitão Manuel Nunes d’Oliveira, Tenente Coronel Bemfeito e Dr. Canavarro de Valadares.
         Constituida a mesa, o sr. Capitão Manuel Nunes de Oliveira procedeu à leitura do expediente.
         Agradeceram os convites que haviam recebido e felicitaram o Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, as seguintes entidades e colectividades:
         Bombeiros Voluntários da Figueira, Rui Fernandes Martins, António Augusto Esteves, Sociedade Boa União Alhadense, Sociedade Filarmónica 10 de Agosto, Filarmónica Figueirense, Grémio Instrução União Caceirense, Troupe Recreativa Brenhense, Sporting Clube Figueirense, Grupo Instrução e Sport, Grupo Musical Tavaredense, Sociedade de Instrução Tavaredense, Associação Naval 1º de Maio, Camara Municipal da Figueira, Administração do Concelho, Ateneu Alhadense, Associação de Classe dos Empregados no Comercio e Industria Figueirense e Associação dos Carpinteiros Figueirenses.
         Discursos – Foi dada a palavra ao orador inscrito, sr. Dr. Cesar Freire Falcão.
         O sr. Dr. Falcão, não obstante o seu curso tirado com brilho e distinção numa Universidade de Roma e a sua já longa vida de professor dos mais distintos e trabalhadores, é um espírito requintadamente modesto que vive na Figueira há doze anos, quási só para o estudo e para o ensino, motivo porque, certamente, por muitos dos nossos leitores não será ainda conhecido. Isso não impede que, neste momento em que a vaidade parece ser o degrau escolhido para tantos subirem na vida, lhe rendamos as homenagens sinceras da nossa particular estima e apreço pela sua nobreza de caracter, pelo seu talento e pela sua modéstia.
         O sr. Dr. Falcão começa por dizer que é na qualidade de presidente provisorio da Assembleia Geral que lhe cabe a honra de, em primeiro lugar, cumprimentar, em nome do Grémio, as autoridades religiosas e civis de Portugal e nomeadamente as deste concelho; saudar jubilosamente todas as colectividades daquela freguesia e pela ordem da sua antiguidade: Sociedade de Instrução Tavaredense, Grupo Musical e Instrução Tavaredense, Grupo Musical Carritense e Gremio de Instrução Caceirense, às quais, afirma, a nova associação, agora fundada, garante a melhor camaradagem e absoluta lealdade.
         Agradece em seguida a comparência das pessoas presentes, convencido de que vieram não tanto por mera curiosidade ou simples passa-tempo, mas antes pelo desejo de manifestar interesse, apoiando com carinho uma obra que aos católicos se afigura duma extraordinária utilidade social.
         O orador aborda, em seguida, para explicar os fins daquela colectividade, o movimento e o assunto da instrução e educação.
         Analisa rapidamente o estado actual da sociedade e diz que o Gremio tem nos seus estatutos um programa bem claro e uma atitude perfeitamente definida: pretende educar e pretende instruir.
         Refere-se às vantagens da instrução de que ninguem já hoje deixa de reconhecer e prossegue na defesa da educação sempre aliada à instrução, em termos como êstes: mas longe vai o tempo em que se julgava que a instrução era tudo e o resto quási nada; aquele tempo em que se tomava como axiomática a célebre frase de Vitor Hugo: “abrir uma escola é encerrar uma prisão”. Têm, na verdade, sido abertas, nos últimos dois séculos, milhares, talvez milhões de escolas em todo o mundo, mas infelizmente, ao lado delas continuam abertas as prisões.
         E parece até observar-se um fenómeno, á primeira vista, paradoxal.
         Á medida que o progresso avança, que quási toda a população se instrue, que a ciência constantemente nos assombra e deslumbra com as maravilhas das suas portentosas descobertas, nós constatamos que o bem-estar da humanidade, a tranquilidade das nações, a paz entre os homens são um sonho cada vez mais distante.
         Porquê? – pergunta o ilustre orador, e continua logo fazendo a apologia da educação e do ensino religioso.
         Com a autoridade que lhe conferem quási vinte anos de professorado, afirma que a escola neutra é impossivel e aconselha os católicos a cumprirem o dever de auxiliar as suas escolas, no numero das quais está o Grémio Educativo e Instrução Tavaredense.
         Termina exortando os católicos a unirem fileiras em volta do pároco daquela freguesia e a lutarem por meios pacíficos, que foram os preferidos pelo Divino Mestre, pela recristianização dos povos.
         O sr. Dr. Falcão foi muito ovacionado e cumprimentado no fim do seu brilhante discurso.
         Seguiu-se-lhe no uso da palavra o segundo orador inscrito e anunciado, sr. Carlos Aguiar de Loureiro, professor e estudante do 5º ano de Direito. Alma aberta e franca a tudo que possa contribuir para a felicidade, rejuvenescimento e recristianização da sociedade, não esquecendo que o pior mal da nossa época é o egoismo e a falta duma solida educação, Carlos Loureiro é um jovem que tem sabido aproveitar para si e para distribuir pelos outros, as muitas lições e exemplos que o mundo oferece constantemente aos espíritos observadores e sequiosos da verdade.
         Moço talentoso e artista, para quem a vida não corre certamente como um mar de rosas, Carlos Loureiro vive intensamente a sua Fé e cultiva a virtude, não sem sacrificio e desinteresse.
         Apesar de não ser de todo desconhecido para os nossos leitores, pois varias vezes nos tem mimoseado com a sua colaboração, não podiamos deixar de o apresentar àqueles que porventura ainda o não conheçam, ao menos com as palavras simples e merecidas que acima lhe dedicamos. E porque o discurso que leu no preterito domingo, em Tavarede, é muito interessante sob todos os aspectos, não nos limitaremos a dar umas notas ou resumo dele, mas antes começaremos noutro lugar, a sua publicação na integra, com a certexa antecipada de que ninguem dará por mal empregado o tempo e o espaço.
         Depois do sr. Carlos Loureiro, que viu o seu trabalho coroado com uma prolongada salva de palmas, usou da palavra o sr. P.e José Martins da Cruz Deniz, dignissimo Paroco de Tavarede e, como afirmou o sr. Dr. Falcão, alma mater do Grémio Educativo e Instrução Tavaredense.
         O sr. P.e Cruz Deniz desenvolveu largamente diante da numerosa e selecta assistência, que o escutava com vivo interesse, um assunto de magna importância e de flagrante actualidade, que cuidadosamente tinha preparado e estudado – O Perigo Bolchevista.
         O ilustre orador e distinto professor de Historia dividiu o seu trabalho em capítulos de documentação e apreciação dos acontecimentos na Russia sovietica, da sua politica interna e externa e da infiltração do bolchevismo em varios paises europeus.
         Afirma categoricamente que o bolchevismo russo é obra do judaísmo e que na Russia há, como no tempo dos Czares, duas classes distintas, correspondendo às antigas classes privilegiadas os judeus que têm colonizado a Russia, e ás classes oprimidas e escravizadas, todo o povo russo.
         O bolchevismo é o meio adoptado pelo judaísmo para destruir tudo o que possa recordar a civilização cristã, e para estabelecer em todo o mundo o sonhado imperialismo judaico.
         Analisando conscienciosa e detalhadamente a infiltração do bolchevismo em varios paises, citando factos e documentos, o sr. P.e Cruz Deniz combate a maçonaria que classifica de microbio do bolchevismo judaico e, referindo-se a Portugal, observa que as campanhas desencadeadas nos ultimos anos contra os padres e contra a Igreja, visam os mesmos fins já alcançados na Russia. Afirma que a Igreja, em Portugal, não é mais do que um capítulo da vida nacional, pelo que atacar a Igreja é atacar a Nação.
         No final do seu brilhante discurso, o sr. P.e Deniz foi muito cumprimentado e ovacionado.
         Levantou-se em seguida, para falar, o sr. Dr. Canavarro de Valadares, que, como já dissemos, fazia parte da mesa.
         Uma ansiosa espectativa invade então todas as pessoas presentes que reconhecem em S. Exª um advogado de vastos recursos e dotes oratórios.
         O ilustre causídico não esconde o entusiasmo que lhe despertaram na alma os discursos precedentes e irrompe em calorosos elogios e agradecimentos pelos momentos de prazer que lhe porporcionaram.
         Fala com eloquencia e arrebata, por vezes, entrando a breve trecho na historia de Tavarede, que, segundo afirma e demonstra, é tradicionalmente piedosa.
         Congratula-se, pois, por assistir à inauguração duma associação que muito contribuirá para que Tavarede, sobre que têm pairado as nuvens da descrença, volte à tradição e reviva o seu passado religioso.
         Dirige especiais cumprimentos a Monsenhor Andrade, a quem considera muito, não só por, como afirmou o sr. Dr. Falcão, ser um dos mais distintos ornamentos do clero português, mas tambem porque foi seu professor de Literatura, tendo-lhe dado a honra de o classificar como o melhor aluno do seu curso.
         Termina fazendo votos pelas prosperidades do Gremio Educativo e Instrução Tavaredense e pedindo a Deus que abençoe esta colectividade.
         Uma ruidosa salva de palmas traduziu o agrado da assistência.
         Como a hora já ia adiantada, Mosenhor Andrade fecha com chave de ouro a série de discursos daquela sessão tão solene.
         Agradece penhorado a honra que lhe dispensaram dando-lhe a presidencia da sessão, e espraia-se, em considerações sôbre a gravidade do momento que passa.
         Evoca o passado glorioso dos portugueses, para vincar como a historia da Igreja é em grande parte a historia de Portugal.
         Exprime tambem os seus votos pelas prosperidades da colectividade que acabava de ser inaugurada, e encerra a sessão por entre vibrantes aplausos e vivas ao Papa, a Portugal, ao Gremio, ao Prelado da Diocese, etc.
         Pela Direcção do Gremio foi enviado um telegrama de saudação ao senhor Bispo Conde.
         A Direcção da jovem colectividade Grémio Educativo e Instrução Tavaredense, ficou assim constituida:


João de Oliveira – Presidente da Direcção

         Direcção: - Presidente, João de Oliveira; vice-presidente, Manuel Borges de Miranda; 1º secretário, João Pereira; 2º secretário, José Maria de Carvalho; tesoureiro, Jacinto Pedro.
         Vogais efectivos: - Joaquim Rodrigues, António Luiz Mota e Manuel Clemente dos Santos.
         Vogais substitutos: - João Migueis Fadigas, Joaquim Saraiva e Joaquim Jorge da Silva.
         Conselho Fiscal: - Dr. Carlos Aguiar de Loureiro, Manuel da Silva Jordão e António Lopes.
         Conselho Fiscal substituto: - Capitão António Jacinto A. de Loureiro, José Rodrigues e José Vicente.

         Assembleia Geral: - Presidente, Dr. Cezar Freire Falcão; vice-presidente, Dr. José Luiz Mendes Pinheiro; 1º secretário, António de Oliveira Cordeiro; 2º secretário, Manuel Nogueira e Silva.