quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Curiosidade

Dez conselhos...
que valem dez libras!

1 . Trabalha, que o trabalho moderado
Dá força e saúde: - está provado.

2 . Os banhos, o asseio e a limpeza
Conservam a saúde comcerteza.

3 . Ar puro, ar dos campos, agradável
Respira-o se quizeres ser saudavel.

4 . Mastiga os alimentos bem cozidos
Evitarás ao estomago mil perigos.

5 . Quem come demasiado é glutão
Arrisca-se a morrer de indigestão.

6 . Os trabalhos da vida não aguenta
Quem de comidas fracas se alimenta.

7 . Quem a correntes de ar se expõe suado
Andará sempre constipado.

8 . Aquele que a transpirar bebe água fria
Decerto quer morrer de peneumonia.

9 . Aquele que muito dorme pouco aprende
O seu trabalho é pouco e menos rende.

10. Aquele que se conforma com a sorte
Larga vida terá e boa morte.


(A Voz da Justiça - 2.Fevereiro.1917)

TEATRO DA S.I.T. - NOTAS E CRÍTICAS - 5

1927



RÉCITA DE ANIVERSÁRIO

A população de Tavarede teve no sábado e domingo a sua grande festa: o aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, benemérita colectividade que, pela sua acção durante os seus 23 anos de vida, conquistou a simpatia pública, tornando-se um elemento de progresso já hoje indispensável à localidade onde tem a sua sede.


O programa das festas foi rigorosamente cumprido, tendo todos os números um brilho excepcional.


No sábado à noite, a sede da Sociedade regorgitou: os sócios e convidados afluiram em elevado número, sendo enorme o interêsse pela récita de gala.


A elegante sala de teatro encheu-se a transbordar: não havia um lugar, e viam-se ainda muitas pessoas de pé. O aspecto da sala era de belo efeito: das paredes altas pendiam muitas colchas de damasco e espelhos artisticamente colocados, e a tôda a volta do balcão corriam entrelaçados veludos das côres da Sociedade de Instrução.


A récita abriu com o hino, executado pela excelente orquestra que António Simões, distinto e consciencioso amador, dirigiu com segurança.


O lever de rideau “Uma teima” foi representado com distinção, agradando muito a sua magnífica montagem.


Seguiu-se a comédia em 2 actos “Marido de Duas Mulheres”, de difícil representação por grupos de aldeia, e que teve uma boa interpretação por parte dos amadores Jaime Broeiro, António Graça, Maria Teresa de Oliveira, Maria José da Silva, Emília Monteiro, António Broeiro e Francisco Carvalho. Os dois primeiros souberam marcar e dar o preciso relêvo às diversas situações.


A opereta “Simão, Simões & Cª.” também agradou muito, quer pela representação que lhe deram Virginia Monteiro, Jaime Broeiro, António Santos, Francisco Carvalho e J. Mota, quer pela esplêndida partitura, de difícil execução e de belos efeitos orquestrais. Os aplausos em todos os finais de actos foram calorosos e prolongados.


A orquestra, muito bem constituida, deu grande brilho à récita, que teve um certo cunho de distinção. A assistência ouviu com prazer e premiou com muitas palmas a difícil e linda ouverture da ópera “Nabucodonosor”, de Verdi, que teve uma boa execução e a canção da zarzuela “Filhos de Zebedeu”, de Chapi. António Simões viu assim coroados de êxito os seus esforços, e por isso bem mereceu os elogios e parabéns de que foi alvo. (Voz da Justiça – 01.19)

GRÃO-DUCADO DE TAVAREDE

A notícia que demos acêrca da próxima récita da Sociedade de Instrução Tavaredense, no sábado de Aleluia, veio tornar ainda maior o interêsse que já se notava. Pode dizer-se que nenhum espectáculo, no nosso teatro, foi aguardado com tanto entusiasmo como êste.


Já dissémos que se trata duma revista em 3 actos e 8 quadros. O Grão ducado de Tavarede, como se depreende do título, é uma revista fantasia, de carácter local, embora com aluzões à Figueira e a outras localidades vizinhas e ainda com intervenção de personagens de Brenha, Quiaios e Buarcos.


Os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense empenham-se em corresponder à espectativa do público, e certos estamos de que o espectáculo que êles vão proporcionar-nos no dia 16 do corrente constituirá um verdadeiro êxito pela sua novidade.


Os 8 quadros da revista estão sendo montados com todo o rigor. Os scenários, que estão a pintar, devem produzir um belíssimo efeito. As maquettes do Inferno e Apoteose da Lavoura e da Apoteose das Flores são do distinto artista pintor sr. Alberto Portugal de Lacerda.


O guarda-roupa é também lindíssimo, havendo algumas fantasias de muito bom gôsto.


Não podemos alargar-nos em pormenores. Entretanto diremos que o quadro final, o das Flores, pela beleza do scenário e do guarda-roupa, deve causar sensação.


A orquestra é dirigida pelo distinto amador sr. António Simões, que musicou o Grão-ducado de Tavarede, tendo sido duma grande felicidade tanto na parte original como nas adaptações.


E... nada mais nos é permitido dizer aos nossos leitores. (Voz da Justiça – 04.26)

GRÃO-DUCADO DE TAVAREDE

A revista Grão-ducado de Tavarede levou ao teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, no pretérito sábado, uma enchente completa, vendo-se entre a assistência muitas pessoas dessa cidade.


O espectáculo agradou, podendo dizer-se com verdade, que causou extraordinária sensação nos espectadores tavaredenses, para os quais êste género é quasi novidade.


A música é lindíssima, alegre, bem escolhida e perfeitamente ajustada aos personagens e às situações. António Simões, o distinto amador figueirense, foi extraordinariamente feliz na partitura do Grão-ducado de Tavarede. A êle especialmente se deve o êxito da revista.


Os amadores, áparte naturais deficiências que sempre podem notar-se nestes grupos de aldeia, souberam dar uma curiosa e, nalguns casos, brilhante interpretação aos diversos papéis. Idalina Fernandes fez explêndidamente como ninguém faria melhor, a scena da civilização local em que, na volta do rio, as mulheres se descompõem; foi graciosa na Maçã e cantou muito bem o fado da Taberna. António Graça, António Santos e Emilia Monteiro, todos muito bem nos seus papéis. Jaime Broeiro mostrou-se o bom amador que é no Compadre, no Cavador e no Zé Borrachão. Dois bons tipos bem reproduzidos: o do Poeta João e O da Batuta, apresentados por José Vigário e António Broeiro, tendo êste feito também correctamente um dos Compadres. João Cascão, foi primorosamente no Nabo, no Café e no Aguilhão, tendo representado com alegria e vivacidade e cantando muito bem os seus números, brilhando especialmente no Dueto da Hortaliça, com Alzira Fadigas. Francisco Carvalho e Clementina de Oliveira têm também um bom dueto no Impedido e a Sopeira, além de outros papéis; esta foi muito aplaudida na Canção da Árvore, que cantou com linda voz e foi obrigada a bisar. Maria José da Silva fez muito bem o papel de Brenha, cantando esplêndidamente a sua parte no terceto com J. Cachulo e F. Rôla, o qual foi também bisado. A. Pinto, J. Mota e Maria Tereza de Oliveira e os restantes, todos fizeram a sua obrigação. Os coros muito firmes.


Os scenários são bons, tendo sido muito apreciados, principalmente o do Inferno e o das Flores. O quadro da Lavoura encantou a assistência. Por isso mesmo é de justiça atribuir ao distinto artista sr. Alberto Correia de Lacerda, que fez as maquettes e dirigiu a pintura dos scenários uma boa parte do êxito da revista. Merece também referência especial o guarda-roupa, que é variado, luxuoso e tem algumas fantasias de belíssimo efeito, pelo que foi muito elogiada a srª. D. Belmira Pinto dos Santos, que revelou muito bom gôsto na sua confecção.


O Grão-ducado de Tavarede dá no próximo sábado a sua última récita, o que equivale a dizer que o teatro vai ter nova enchente à cunha, dado o extraordinário agrado que a revista alcançou.


Alguns números da revista estão popularizados e começam a ser cantados pelo povo com os seus lindos versos! (Voz da Justiça – 04.20)

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

Em busca da Lúcia-Lima é uma interessante opereta que o distinto poeta nosso conterrâneo sr. João Gaspar de Lemos Amorim escreveu para os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense e que a plateia da Figueira teve já ensejo de aplaudir ali no Teatro Parque.


Delineada com muita fantasia, - os dois actos extremos passados em Tavarede e o segundo na China, graças à velocidade dum avião que transporta dois brasileiros do Rio de Janeiro à terra do limonete e daqui até às proximidades de Macau – o opereta tem scenas animadas e mostra-nos alguns curiosos tipos, com alusões locais e cheias de vivacidade. Cortando a prosa frequentemente, Gaspar de Lemos escreveu lindos versos, felizes de inspiração e perfeitamente dentro da acção teatral, alguns dos quais rapidamente se popularizaram em Tavarede: as quadras maliciosas das lavadeiras, a charge à justiça do Mandarim, a deliciosa canção da Cotovia, a característica Valsa do Limonete, etc.


Valorizando enormemente o trabalho literário, o distinto amador sr. António Simões coordenou e escreveu 23 números de música que constituem a encantadora partitura, que se ouve com prazer e que é mais uma demonstração da competência de António Simões no género de música teatral.


O grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense, por seu lado, procura dar à peça uma representação acertada. A montagem é rigorosa, tanto quanto pode ser num teatro pequeno. Scenários próprios, guarda-roupa luxuoso. O 2º acto, passado na China, no jardim da residência do Mandarim, na festa dos seus anos, é de belo efeito, apresentado com lindo scenário, magnífica e rigorosa indumentária e esplêndida iluminação.


Justifica-se assim o interêsse extraordinário pela reposição desta peça, que se representa no próximo sábado, em Tavarede, numa única récita dedicada aos sócios da Sociedade de Instrução. Infelizmente o teatro é pequeno para tantos espectadores. (Voz da Justiça – 11.23)

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

É o título da brilhante opereta que em Buarcos, no sábado, se exibiu no palco do Trindade, sob um chuveiro de aplausos, constituindo um grande triunfo para os seus distintos autor, sr. João Gaspar de Lemos Amorim; e regente da orquestra, sr. António Maria de Oliveira Simões, que para a peça compôs números de música original de uma graça e relêvo admiráveis.


A sala do Trindade encheu-se de espectadores, alguns da Figueira e muitos de Tavarede, etc., que demonstraram, pelos aplausos, o subido agrado que lhes despertaram o enrêdo da peça, e, sobretudo, os lindos coros garganteados por galantes raparigas de Tavarede, brilhando ainda os números da “Flor-de-Chá”, por Idalina de Oliveira, que procurou corresponder com habilidade às exigências que o autor imprimiu ao seu papel.


E por aí além, todo o conjunto de uma harmonia impressionante, o grupo dramático da benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense marcou dentro do nosso meio uma nota agradabilíssima, primando ainda pelo seu aspecto scénico e guarda-roupa adequado e correcto, o que fez sobressair a peça, e deixando em todos os espíritos a saudade de que a noite não tivesse sido elástica, satisfazendo todos os anseios do público, que não pôde ocultar o seu entusiasmo e os seus aplausos unânimes.


É justo salientar a excelente orquestra, composta dos melhores elementos que aqui se têm visto, e que, sob a segura regência de uma individualidade tratada como amador, ao público deu antes a exacta impressão de um distinto profissional.


Para todos, pois, as nossas saudações mais entusiastas! (Voz da Justiça – 12.07)

QUINTA DA CALMADA

A Quinta da Calmada era, à data do 1º. registo na Conservatória do Registo Predial, um prédio composto de três casas (da Calmada, do Moço e da Malta), terreno lavradio ou de pinhais, pomares e vinhas, sito no sítio da Quinta da Calmada, freguesia de Tavarede.

Confrontações: norte, com herdeiros de Joaquim Alves Fernandes Águas; do sul, com pinhal dos herdeiros de Luiz Duarte da Encarnação e com o caminho superior dos loureiros até à extrema do prédio dos herdeiros de Manuel Dias; do nascente, com herdeiros de Manuel Dias e Roque Gasio; e do poente, com caminho público (inflectindo um pouco para o norte) para a Serra da Boa Viagem.

Pertenceu a Joaquim Marques Ramos Pinto.

Teve como herdeiros: António Mateus Ramos Pinto, nascido em 29 de Novembro de 1889 e falecido na Quinta da Calmada, em 30 de Junho de 1932. Foi empregado superior da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, passando depois ao Porto, com a actividade de negociante e exportador de vinhos. Por motivo de doença adquirida no Porto, regressou à sua quinta em Tavarede, onde faleceu. E Joaquim Mateus Ramos Pinto, que à data da morte do irmão, residia em Leiria já há anos.

Em 16 de Outubro de 1942, foi feito um averbamento anexando, no mesmo prédio, dois artigos (33593 e 33594), ficando a constituir um só prédio, composto de terras de semeadura, pomar, pinhal e outras árvores, tais como oliveiras, loureiros, eucaliptos e vinha, com vários poços de rega, uma mina de água, duas casas de habitação, currais, palheiros, eira, mais logradouros e tudo o mais que lhe pertença, e denominado “Quinta da Calmada”, que confronta do norte com o Dr. Manuel Gomes Cruz, do sul com a estrada pública de Buarcos a Tavarede, do nascente com Rosa Francisca e com o Cónego José Duarte Dias de Andrade, e do poente com herdeiros de Luiz Duarte da Encarnação e com estrada pública.

Passou à propriedade da Mútua de Pescadores - Sociedade Mútua de Seguros, com sede em Lisboa, que, por escritura de 29 de Dezembro de 1962, a vendeu à Câmara Municipal da Figueira da Foz, pelo valor de 600 000$00, para instalação do Parque de Campismo, presentemente ampliado com outros terrenos que lhe foram anexados.

O edifício principal foi utilizado, no final da década de 1910/1920 e princípios da década seguinte, como hospital para doentes atacados com a peste bubónica, que, posteriormente à primeira grande guerra, grassou em Portugal, tendo causado muitas vítimas nesta região.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

TEATRO DA S.I.T. - NOTAS E CRÍTICAS - 4

1926

RÉCITA DE ANIVERSÁRIO

Quando, na nossa última correspondência, dissemos que as festas comemorativas do 22º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense teriam grande brilhantismo, não nos enganámos. Pode dizer-se que Tavarede esteve em festa no sábado e no domingo, e o entusiasmo dos habitantes desta povoação – quási todos pertencendo à benemérita colectividade – exteriou-se duma forma evidente. Não admira. Há muitos anos que a Sociedade de Instrução Tavaredense vem realizando no nosso meio uma importante acção educativa. E por isso não lhe falta a simpatia pública.


O programa, duma simplicidade extrema, teve execução brilhante.


No sábado, o teatro encheu-se completamente. O interêsse pela récita de gala era enorme; a afluência foi tamanha que pelos corredores havia dezenas de pessoas de pé, por falta de lugar. A sala oferecia um aspecto atraente. Nas paredes havia espelhos e colgaduras de damasco; pendentes do teto, largas fitas das côres da Sociedade – azul e granada – vinham prender-se na parede, formando docel que realçava a luz crua do lustre central; a tôda a volta da galeria e no arco do proscénio, estendia-se uma fita de lampadas eléctricas também das côres da associação. O efeito da iluminação era excelente.


A récita abriu com a representação da peça de Bento Mântua Má Sina, que foi de novo aplaudida, seguindo-se-lhe a revista em 1 acto e 3 quadros Pátria Livre, do sr. João Gaspar de Lemos Amorim, música original e coordenada pelo sr. António Maria de Oliveira Simões.


Era esta a principal atracção da récita. Havia um grande interêsse pela representação da Pátria Livre, e pode dizer-se que a revista agradou plenamente. Os aplausos foram calorosos, entusiásticos, fazendo a assistência bisar quási todos os números de música. Houve chamadas ao autor, ao maestro e ao ensaiador. João Gaspar de Lemos Amorim e António Simões mereceram sem favor as prolongadas salvas de palmas que se ouviram – o primeiro, por ter escrito com alegre fantasia e uma certa irreverência o comentário ligeiro e gracioso dalguns acontecimentos e factos locais; e o segundo pela felicidade com que pôs e adaptou os números de música, alguns deles lindíssimos; mas não são menos dignos de elogio o espírito e a boa vontade com que os amadores se houveram, de modo a poderem representar a Pátria Livre apenas com 10 dias de ensaio. Não pode exigir-se mais de amadores de aldeia. A impressão geral da representação foi a melhor, sendo especialmente notadas a apresentação correcta e afinação dos córos. A orquestra, constituída por 14 figuras, magnífica. (Voz da Justiça – 01.19)

PÁTRIA LIVRE

No próximo sábado vai o teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense ter mais uma enchente. Representa-se ali, pela segunda vez, a interessante revista em 1 acto e 3 quadros Pátria Livre, original do distinto poeta e escritor sr. João Gaspar de Lemos Amorim, com 9 números de linda música original e coordenada pelo hábil amador figueirense, sr. António Simões. Quando da sua primeira representação, a Pátria Livre agradou completamente. A revista tem côr local, tem fantasia e uma certa vivacidade de comentário que prendem o espectador, e gira à volta dêste acontecimento sensacional: a separação de Tavarede do concelho da Figueira, levada a cabo por uma revolução triunfante donde sai a proclamação da Republica do Limonete.


A música contribui muitíssimo para a excelente impressão deixada pela revista. Há alguns grupos de efeito nos quais tanto as raparigas como os rapazes se apresentam vestidos com fantasia muito expressiva. Dignos de nota, especialmente, o número da Fonte e côro das Bilhas e o côro de Ceifeiras e Cavadores, cantados com perfeita afinação por tôda a massa coral.


A orquestra é excelente, bem constituída por 14 figuras, sob a regência segura de António Simões.


Completando o espectáculo representar-se hão a opereta em 1 acto O Sol de Ouro, com magnífica partitura do sr. T Leroy, e a comédia em 1 acto Os Mentirosos, que é interpretada com alegria e vivacidade.


A concorrência vai ser grande, pela certa, pois muitas pessoas desta cidade têm empenho de ver a revista de Gaspar de Lemos e António Simões, e é esta a sua última representação por motivo de saída dum dos primeiros intérpretes. (Voz da Justiça – 01.26)

RÉCITA

Realizou-se no sábado a anunciada récita no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense.


Casa cheia, como se esperava e aplausos calorosos.


O espectáculo agradou, e pode dizer-se que, tratando-se de amadores de aldeia, êles se houveram brilhantemente. A opereta O Sol de Ouro, que tem uma partitura lindíssima mas de difícil execução, foi admiravelmente cantada. Virginia Monteiro cantou com brilho o seu couplet, como foram tambem esplendidamente cantados os dois duetos desta com Francisco Carvalho. António Graça deu o preciso relêvo à canção militar. Os aplausos foram merecidos, dêles pertencendo grande quinhão à excelente orquestra, muito bem constituida e brilhando sob a batuta segura do distinto músico que é António Simões.


A comédia Os Mentirosos mais uma vez fez rir a assistência. É de justiça frizar o esplêndido trabalho que nela têm Jaime Broeiro e Virginia Monteiro. Jaime é um amador perfeito, consciencioso, não há que notar-lhe uma falha; tira todo o partido das situações cómicas, sem esfôrço, sem recorrer a exagêros; é duma sobriedade perfeita. E Virginia é uma bela promessa. Tem vivacidade, tem alegria. Se estudar e não se deixar tomar pela vaidade, pode vir a ser uma boa amadora. João Cascão, Emilia Monteiro (esta uma principiante muito aproveitável) e José Mota formaram um conjunto harmónico.


O espectáculo fechou com a revista Pátria Livre, do distinto poeta e escritor sr. João Gaspar de Lemos, com música original e coordenada pelo sr. António Simões, hábil amador dessa cidade. Não há que fazer referências especiais. Todos se houveram muito bem. Os diversos números de música foram cantados a primor, sendo alguns aplaudidos e bisada a Canção da Cotovia.


O guarda-roupa é apropriado e de muito efeito, contribuindo bastante, com a lindíssima música que António Simões compôs e adaptou com extrema felicidade, para o agrado com que a revista se vê.


Foi, emfim, um belo espectáculo.


A saída de João Cascão, que é um dos bons amadores do grupo, não permite que a Pátria Livre se represente novamente, como era desejo do público. (Voz da Justiça – 02.02)

NOITE DE S. JOÃO

Magnifica representação da opereta Noite de S. João, no último sábado, - não esquecendo, já se vê, que se trata de amadores. Foi, seguramente, um dos mais belos espectáculos que o esplêndido grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense nos tem proporcionado. A terrível noite de ventania impediu a enchente à cunha que estava assegurada, mas ainda assim a assistência foi animada, vendo-se bastantes pessoas de fora de Tavarede.


Os primeiros elogios e louvores pertencem, indubitavelmente, ao distinto amador musical sr. António Simões, cujo esfôrço triunfou brilhantemente. Dirigindo uma boa orquestra, constituída por amadores, conseguiu dar relêvo à belíssima partitura da opereta, tão rica de harmonia, de côr, de graça, de alegria encantadora. A sua interpretação é perfeita. Mas onde a competência e a inesgotável paciência de António Simões mais se evidenciaram, foi na forma como ensaiou as vozes, apresentando-nos coros firmes, cantando com bom relêvo, e fazendo ainda brilhar os solos, nos quais alguns amadores venceram admiravelmente as dificuldades da música.


Dêstes, devemos citar em primeiro lugar Helena da Silva Medina, a distinta e simpática amadora que reapareceu no seu antigo grupo. A ela se deve, principalmente, o brilho agora obtido, e que não se conseguira há dois anos, por falta duma amadora com recursos para cantar a parte de Rosária. O número de abertura do primeiro acto, que por êste motivo fôra então cortado em parte, cantou-o agora Helena da Silva Medina com grande correcção. Muito bem! Outra amadora de merecimento é Virgínia Monteiro, que fez com graça a característica. Jaime Broeiro, António Graça e António Santos, representaram duma maneira impecável. Maria Teresa de Oliveira, César Figueiredo, Francisco Carvalho, José Maria Marques, José Mota e os restantes, todos deram uma acertada colaboração. No regente do sol-e-dó mais uma vez se salientou António Dias Cachulo.


Foi uma récita magnífica, podendo dizer-se que não será fácil fazer-se aqui melhor, quer pela alta responsabilidade da partitura, quer pela harmonia do conjunto que agora pudemos apreciar e que não é possível ultrapassar – num grupo de amadores de aldeia, bem entendido.


A António Simões, a Helena da Silva Medina, que aqui não tem quem a substitua em opereta, não só pela sua linda voz como pela simplicidade e correcção como representa, e aos restantes amadores, os nossos sinceros parabéns. (Voz da Justiça – 04.16)

NOITE DE S. JOÃO

O teatro Parque teve anteontem grande concorrência, atraída pela opereta em 3 actos Noite de S. João, que os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense representaram de modo a merecer aplausos.


A plateia figueirense conhecia já êste grupo dramático pela representação das operetas Os Amores de Mariana e Em busca da Lúcia-Lima – e a mesma agradável impressão colheu agora desta terceira visita. É um grupo modesto, com deficiências que é muito difícil apontar em amadores de aldeia e que, aliás, em mais das vezes se encontram também na cidade. Tem, todavia, alguns magníficos elementos, à frente dos quais colocamos: Helena Nunes Medina, voz bem timbrada, muito agradável, e que a-pesar-de bastante doente mostrou quanto valia; Virgínia Monteiro, alegre, cheia de vivacidade, sabendo dar à frase a intenção própria; Jaime Broeiro, amador distinto que pode colocar-se ao lado dos mais distintos, vincando a nota cómica com uma naturalidade perfeita, sem exagêro nem desiquilíbrios; António Graça, sóbrio, correcto, ouvindo bem e mantendo um à-vontade com que valoriza as suas interpretações; e António Santos, que fez excelentemente o galã tímido da opereta, mantendo-se sempre bem dentro do tipo que acertadamente escolheu. Estas figuras principais são acompanhadas por outros amadores que, em papéis secundários, - como F. Carvalho, César Figueiredo, J. Maria Marques, J. Mota, etc., - formam um conjunto harmonioso, muito agradável, que quási faz esquecer as naturais deficiências que a uma crítica rigorosa – esquecida, bem entendido, a qualidade e a categoria dêste grupo dramático – não seria difícil apontar.


Acêrca do valor da Noite de S. João, que é reduzido quanto ao libreto mas que é grande quanto a música, já aqui dissemos o que pensávamos, a propósito da representação desta opereta em Tavarede. Não é ela isenta de dificuldades, mas deve dizer-se que o grupo de amadores tavaredenses, se nem tôdas consegue vencer em absoluto, doutras triunfa brilhantemente. A Noite de S. João exige um numeroso grupo coral, alegre, cheio de vida, sempre animado, dando ruido e côr aos 3 actos e principalmente ao quadro da romaria que é o 3º. – e isso não faltou agora, devendo ainda citar-se como elemento valioso para conseguir a boa impressão do público, o bom gôsto e o cuidado que se notavam na indumentária.


A partitura, obra artística do professor António Eduardo da Costa Ferreira, tem números admiráveis, cheios de beleza, encantadores pela expressão da frase musical, sempre adequada ao personagem e à intenção do verso, e pela magnífica orquestração.


Na interpretação desta primorosa e rica partitura brilha o trabalho extraordinário, feito de muita paciência e incontestável competência, do distinto amador nosso patrício sr. António Simões. O que êle conseguiu em tão pouco tempo da sua bem constituida orquestra de amadores, foi muito; mas o que êle realizou com as vozes, com os coros – firmes como os vimos mesmo em alguns números de grande dificuldade, equilibrados, afinados sempre – foi muitíssimo. Não nos dispensamos de felicitá-lo sinceramente, pela maneira como soube aproveitar estes amadores de aldeia – gente rude, sem a mais rudimentar cultura musical.


A assistência manifestou-se com muitas palmas nos finais de acto, sendo igualmente aplaudidos alguns números de música, especialmente o dueto do 2º acto de Rosário e João que foi admiravelmente cantado, e a Marcha do Sol-e-Dó, que teve de ser bisada e na qual o regente (António Cachulo) tem uma excelente rábula.

Os espectadores saíram satisfeitos do teatro, outro tanto sucedendo aos amadores, que souberam manter a tradição de que nesta cidade goza o grupo a que pertencem. (Voz da Justiça – 05.18)

1926.05.20 - NOITE DE S. JOÃO, NA FIGUEIRA

Cartas sem moral – Exmo. Sr. Custodio, Regedor de L... Alentejo – Meu presado amigo: Depois de uma viagem encomoda, sentado no nº 9 da fila A, cá cheguei são e escorreito e cheio de saudades da boa pinga do amigo Jeronimo.


V. é que deve estar ainda estafadissimo do pagode d’essa noite de S. João.


Acredite, meu amigo, que fiquei admirado com a sua presença de espirito, pois que v. é um teso a valer. E tão teso que um tipo qualquer que andava de noite a roubar galinhas, embrulhado num lençol lhe meteu um susto que o fez bater com os calcanhares no pescoço.


Os seus homens é que são uns cobardes incapazes de fazer frente a um homem, e tão estupidos que não sabem distinguir os impáres dos páres.


O que eu lhe gabo é o seu bom humor e o á vontade com que se mantem na frente d’aquela sucia de alarves tão selvagens como lobos. O Jeronimo é que chuchou valentemente com o meu amigo: mas aquilo não foi por mal, pode acreditar, pois que o mesmo sucedeu à mana Perpetua.


E agora por falar em Perpetua: ela sempre casa ou não?


Um caso que me deixou bastante intrigado, foi o seguinte: quando o João pediu a Rosarinho em casamento houve aqueles brindes regados a vinho, e o trouxa do Serafim que já tinha levado com a tampa ainda ali ficou junto dos noivos e a brindar tambem. Isso com certeza é uso lá da terra.


E a proposito dos roubos do fantasma, tambem lhe quero contar uma historia dum roubo aqui praticado, (mas desta vez não foi azeite ou galinhas) um roubo intrincado como os diabos e que deu volta ao miolo d’um afamado detetive que tinha o habito de mecher muito com os braços e que não fumava sempre de cachimbo como pretendia um certo jornalista que fez a narração desta aventura que eu lhe passo a contar.


Ora o caso é que foram roubados uns vinte mil dolares (olhe que sempre é mais do que todos os roubos do tal lobis-homem) às ordens terminantes de uma certa dama da capital que julgo ser atris ou coisa parecida e que meteu uma catrefa de rapazes sérios neste enorme sarilho.

Mas meteu-os de tal forma que o dinheirinho foi roubado mal e porcamente, sendo tudo descoberto, devido à má orientação da tal dama, o que levou o citado jornalista a terminar a sua reportagem, não dando os parabens áquela distinta artista.


Mas tudo isto se relaciona, embora não o pareça, com a festa da sua aldeia que foi orientada pelo narrador do roubo que, é bom frisar, estava de passagem na Figueira.


E foi ele que o meteu a v. naquele sarilho que o fez deitar os bofes pela boca fóra e bem assim a todos os seus patricios que podiam muito bem ter festejado o santo casamenteiro d’uma maneira mais correcta. V. ainda meteu alguma figura porque cantou pouco: mas acredite que as lindas canções da sua terra foram cantadas muito a fugir não deixando brilhar algumas lindas musicas que tive o prazer de ouvir.


No entanto a menina Rosaria fez um poucochinho de figura, pois que cantou o que lhe coube com uma certa graça e boa vós, não lhe sucedendo o mesmo quando fala, pois que atira muito a atris de teatro a valer.


As canções ao desafio, essas foram uma lastimasinha que até faziam pôr em pé os poucos cabelos do maestro Simões, para quem o João olhava muito, esperando que a musica saísse da batuta...


Mas lá na terra não há quem cante? Se não há, é para lamentar, pois que para as cantigas ao desafio quer-se bôa vóz, vóz sã e cristalina, pois que as cantigas assim cantadas são sempre o caracteristico de uma aldeia quando há festa de arraial.


De resto todos os seus patricios se houveram como puderam e embora não tivessem desacertado muito, bem podiam ter dado mais um pouco de brilho á festa.


Um abraço para o amigo Jeronimo e diga-lhe que dispense do seu serviço alguns dos creados pois que aquilo é gente de mais, apezar do pato ser grande... E agora para terminar, peço-lhe que diga ao seu amigo jornalista que eu não lhe dou os parabens pela organisação da vossa festa; mas que dos 20.000 dolares foram muito melhor roubados...


Quando houver outro arraial, mas que seja bom, avise que eu lá estarei fixe.


Um abraço do seu amigo certo AGFA


PS – A sua encomenda do tal aparelho para obrigar o João a andar direitinho, já está feita. A (O Figueirense – 05/20)

PRIMEIRAS REUNIÕES REPUBLICANAS

1911.01.04 - COMMISSÃO ADMINISTRATIVA PAROCHIAL

Sessão de 24 de novembro de 1910 – Presentes: José Joaquim Alves Fernandes, Antonio Medina, Manuel Fernandes Junior, Antonio Graça e José Garcia; Substitutos: Ricardo Simões e Antonio Secco d’Oliveira. Regedor: Gentil Ribeiro.


Foram distribuidos os pelouros, ficando assim constituidos: Expediente e economia, José Joaquim Alves Fernandes; secretário, Antonio Graça; thesoureiro, José Garcia; culto e cemiterio, Manuel Fernandes Junior; ruas e baldios, Antonio Medina.


Procedeu-se á revisão do inventario e tomou-se conhecimento d’umas circulares da administração d’este concelho e Commissão Administrativa da Figueira, resolvendo-se cumprir o que ellas dizem e responder á Commissão Administrativa, fazendo-lhe vêr as necessidades de que Tavarede carece, que são taes como o desdobramento da escola d’instrucção primaria, pois que a actual, ainda que a digna professora, srª D. Amalia de Carvalho, trabalhe incansavelmente no desempenho da sua missão, não satisfaz, porque é grande o numero de creanças de ambos os sexos que a frequentam, assim como a casa onde está installada não está em condições hygienicas, por isso é urgente este beneficio para esta freguezia; o cano d’esgoto da rua Direita que não dá vasão ás aguas da chuva, ficando a qualquer aguaceiro innundada a rua e casas proximas; e a grade da ponte do Rio que há tempo se encontra partida e que ameaça perigo.


Deliberou-se que se realisem as sessões no primeiro e ultimo domingo de cada mez; continuar no mesmo livro da junta transacta as despezas e receitas.


O sr. presidente apresenta um saldo de 1$465 reis da mesma junta, e os fóros que ainda estão por receber.


Sessão de 4 de dezembro de 1910 – Presentes os cidadãos: José Joaquim Alves Fernandes, presidente; Antonio Graça, secretario; Antonio Medina e Manuel Fernandes; substitutos: Ricardo Simões, Joaquim Severino dos Reis e Antonio Secco d’Oliveira. Regedor, Gentil da Silva Ribeiro.


Lida e approvada a acta da sessão anterior.


O sr. presidente apresenta o inventario revisto e assignado e diz que como não está no dito inventario o valor dos objectos d’ouro e prata propôs que se convide, de combinação com o parocho d’este freguezia, um ourives a pezal-os para se mencionar no livro de inventario os seus valores.


O sr. presidente diz mais: que se encarregará de vêr quem são as pessoas que se teem apossado dos baldios d’esta parochia, assim como tambem, em vista d’esta commissão e o governo da Republica não usufruirem qualquer lucro d’elles, achava melhor pedir ao governo para os mandar vender, podendo o seu producto ser applicado a escolas n’esta freguezia que é uma grande necessidade.


Por proposta do sr. Ricardo Simões, foi deliberado realisarem-se as sessões d’esta commissão na capella de Santo Aleixo, devido a estar em pessimo estado a sala onde ellas se teem effectuado.


Resolveu-se tambem elaborar o orçamento ordinario para 1911 para ser posto á discussão na proxima sessão, e quando assignado e approvado pelas auctoridades competentes ser exposto ao publico.


Sessão de 18 de dezembro de 1910 – Presentes os membros: José Joaquim Alves Fernandes, Antonio Medina, Antonio Graça, Manuel Fernandes Junior e Joaquim Severino dos Reis. Regedor: Gentil da Silva Ribeiro.


Lida e approvada a acta da sessão anterior.


Procedeu-se á discussão do orçamento ordinario para 1911, sendo approvado.


Resolveu-se realisar uma sessão extraordinaria para o proximo domingo, 25 do corrente, para se fazer o orçamento duplicado sendo enviados á Administração d’este concelho para seguir os termos legaes.


Apresentou-se o sr. Manuel da Costa Pinto, ourives, que a pedido do sr. presidente vinha proceder á pesagem e valorização de todos os objectos d’ouro e prata pertencentes a esta parochia, o que se fez em seguida em casa do reverendo parocho sr. Manuel Vicente e que é de 43$420 reis em ouro e 75$342 reis em prata.


Deliberou-se que se junte ao orçamento copia d’esta acta, pedindo ás dignas auctoridades a venda dos baldios para que o dinheiro da sua venda seja applicado á instrucção para o povo d’esta freguezia.


Sessão extraordinaria de 25 de dezembro de 1910. Presentes: José Joaquim Alves Fernandes, Antonio Graça, Antonio Medina e Joaquim Severino dos Reis. Regedor, Gentil da Silva Ribeiro. Lida e approvada a acta da sessão anterior. Discussão do orçamento ordinario duplicado, sendo approvado.


O sr. presidente deu conhecimento d’uma circular que recebeu da Commissão Administrativa da Figueira.


(Gazeta da Figueira - 4.1.1911)

sábado, 12 de novembro de 2011

TEATRO DA S.I.T. - NOTAS E CRÍTICAS - 4

1925

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

A opereta Em busca da Lúcia-Lima levou ao teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, no pretérito sábado, mais uma enchente. Foi extraordinária a concorrência, sendo a maior parte da assistência constituida por pessoas da Figueira.


O espectáculo agradou em absoluto, sendo calorosos os aplausos. Poucas vezes uma peça conseguiu em Tavarede o êxito alcançado por esta, despertando um entusiasmo bem significativo e que é o melhor prémio do esfôrço de quantos para êsse êxito contribuiram.


Em busca da Lúcia-Lima é, na verdade, uma linda opereta com tôdas as condições de agrado. O entrecho é interessante e os 1º. e 3º. actos têm boa côr local.


Está escrita com graça, com beleza, aqui e ali com um pitoresco feliz, e o contraste entre a linguagem do 1º. e último actos – passados em Tavarede – e o 2º. – passado na China -, está admiravelmente marcado. Mas há ainda outra coisa que muito valoriza o trabalho do sr. João Gaspar de Lemos ou êle não fôsse, além de um distinto escritor, um inspirado poeta -: os lindos versos com que são cantados os 23 números de música. Não são os versos vulgares, de rimas forçadas e vazios de sentido, geralmente encaixados à força no libreto: são autênticos versos, verdadeiras produções plásticas, com ritmo, com beleza, com alegria e expontaneidade. Citaremos, por exemplo, a romanza da Flôr de Chá, repassada de tristeza e sentimento; a Canção ingleza, tão pitoresca e característica; a lindíssima Canção da Cotovia, versos cheios de melodia, dum lirismo e duma graça ingénua que encantam; as quadras, de esplêndido sabor popular, cantadas pelo côro das lavadeiras; os pitorescos versos do Beijo, no 3º. e do dueto de Capitolina e Pinga-Amor, no 1º. acto...


Juntemos a estas qualidades da peça uma partitura soberba, feliz na inspiração e na beleza da orquestração, com números originais tão perfeitos como apropriada é a adaptação dos coordenados, e teremos a explicação do triunfo em tôda a linha desta opereta que alcançou em Tavarede um êxito até agora não atingido. João Gaspar de Lemos e o distinto amador de música António Simões bem mereceram os aplausos frenéticos com que a assistência os distinguiu.


O desempenho, à parte pequenas deficiências inevitáveis nos melhores grupos de amadores, foi bom, brilhante e perfeito por vezes. Muito bem Idalina Fernandes, representando com distinção, imprimindo ao seu papel a tristeza requerida – pena é que a sua voz pouco extensa não lhe permita dar relêvo aos números de música; Virginia Monteiro, com uma naturalidade admirável na Capitolina; Alzira Fadigas e Emilia Monteiro brilharam na Folha d’hera e na Mariposa; A Graça, Jaime Broeiro e F. Carvalho, confirmaram os seus créditos de bons amadores, como também mereceram aplausos J. Vigário, A Santos e J. Cascão, êste um principiante que promete vir a ser um elemento valioso, pois tem qualidades para isso. E todos os outros souberam contribuir para a harmonia do conjunto. Merece referência especial a desenvoltura e a graça das raparigas no côro das lavadeiras e no côro das Emilias, como é também digno de registo a forma como todos capricharam no vestuário.


A Sociedade de Instrução tem direito aos nossos aplausos pela maneira como pôs em scena a peça, não se poupando a despezas para que o scenário e a indumentária fôssem o que devia ser. A opereta teve uma apresentação brilhante, sendo de efeito deslumbrante o 2º. acto, no qual se exibiu um guarda-roupa a rigor e luxuoso.


Dificilmente se fará melhor em Tavarede, e por isso não nos surpreende o grande número de pedidos para nova representação desta opereta.


À Direcção da SIT e ao seu esplêndido grupo dramático, os nossos sinceros parabéns. (Voz da Justiça – 05.01)

EM BUSCA DA LUCIA LIMA

Por intermedio do nosso colaborador Raymundo Esteves tivémos a honra de ser apresentados ao exmo. sr. João Gaspar de Lemos, distinctissimo poeta e auctor da opereta “Em busca da Lucia Lima” que ultimamente tem sido representada com agrado no teatro da Sociedade d’Instrucção Tavaredense.


Gaspar de Lemos, sem de longe pensar que o estamos entrevistando, vae-nos dando na sua agradabilissima conversação, todos os elementos de que carecemos, apenas um pouco ennublados na parte respeitante ao valor da peça, que segundo outros é bem urdida, mas que a sua modestia, que bem se coaduna com o seu valor, faz ver eivada de erros e que só (expressões suas) a tecnica e boa vontade de José Ribeiro e a explendida musica de Antonio Simões, poderiam salvar.


Descreve-nos a peça. E o assumpto certamente bem tratado é tão curioso, tão interessante, tem tanto theatro, tamanha beleza, que a gente logo vê quanta modestia o auctor tem falando da sua peça do modo ligeiro que o fez.


Começamos então a sentir verdadeiro desgosto por a não termos visto em scena e Gaspar de Lemos dá-nos umas leves esperanças de que ella seja aqui representada em récita de homenagem à Santa Casa da Misericordia, e volta-nos a falar com entusiasmo do valor da musica, da inteligente enscenação, do seu explendido desempenho que representa uma verdadeira consagração para José Ribeiro pelo triunfo obtido d’aquelles rudes e pouco cultos amadores que por única arma de combate para vencer tantas dificuldades, possuem a boa vontade e o grande desejo de progredir.


Que Gaspar de Lemos nos perdoe a traiçãosinha e fique certo de que aguardamos ocasião de podermos satisfazer o desejo de ver na ribalta a sua “Em busca da Lucia Lima”. (Gazeta da Figueira – 05.02)

EM BUSCA DA LUCIA LIMA

Sim, senhores, a cilada foi bem planeada e bem levada a effeito, pondo isto em evidencia que o Raymundo Esteves, o estrategico do ardil, mostra natural vocação para bandoleiro. Não quer isto dizer que o cumplice entrasse subalternamente no caso como Pilatos no Crédo. Mas estão perdoados! Fiquem, porem, certos que ao largar os dois e ao afastar-me do local do sinistro, já no meu espirito eu tinha aprehensões e suspeitas da nefaria trama. E sem laivos de rancor, sem sombras de azedume ou leve ressentimento sequer, dei logo por bem empregado os poucos minutos gastos por nós trez a palrar sobre o assumpto provocador da cilada. Como bem comprehendem, esta deu ensejo a que eu prestasse homenagem bem convictamente ao maestro Antonio Simões, pessoa da minha maior estima, cuja nitida percepção das situações e fino sentimento artistico lhe deram azo a ornar o libretto com deliciosa e cativante musica, e bem assim ao José Ribeiro, admiravel rapaz, que realisou prodigios d’ensinamento na declamação e marcação da peça, manifestando mais uma vez a sua capacidade comprehensiva da techica teatral, não deixando escapar as mais subtis minucias, e tudo isto conjugado com heroica paciencia e uma vontade ferrea que contrariedade alguma conseguiu quebrantar.


Exaro aqui o meu agradecimento sincero pelas boas palavras que me dispensa e que se me afiguram excessivas. Não ignora, é certo, que nas produções literarias d’esta natureza o libretto (enredo e efabulação) constitue quasi um simples pretexto para exhibir musica e indumentaria. Já vê, pois, meu caro Sr. Sobral, que para o exito da opereta Em busca da Lucia Lima e agrado com que nas trez recitas ella foi ouvida, eu contribui com diminuta quota. Longe de mim o proposito de querer adornar-me com vistosas plumas de enfatuado pavão. Desde o primeiro ensaio d’apuro reconheci logo que o valiosissimo concurso dos meus dois amigos e colaboradores evitaria o fracasso da peça. E d’esta vez fui profeta na minha terra. De resto nunca tive pretensões a lançar a publico, já não digo uma obra prima (crédo!) no genero mas qualquer coisa com o fim d’engodar a notoriedade.


Creia-me com muita consideração, seu creado e admirador J. Gaspar de Lemos. (Gazeta da Figueira – 05.09)

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

No sábado, com grande concorrência, deram os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense a sua anunciada récita em benefício da Santa Casa da Misericórdia, representando a opereta original do nosso conterrâneo sr. João Gaspar de Lemos Amorim, Em busca da Lúcia-Lima, com música original e coordenada pelo distinto amador figueirense sr. António Maria de Oliveira Simões.


Já neste jornal se disse com certa largueza, quando da sua representação em Tavarede, o que era esta opereta, de entrecho simples, com muita côr local, alguns tipos trazidos para o palco com felicidade, e em cujos três actos as brilhantes qualidades de poeta de Gaspar de Lemos se afirmam com pujança. Os versos da Lúcia-Lima fogem ao ramerrão das rimas forçadas, têm sentimento, têm princípio, meio e fim, são espontâneos, ajustam-se perfeitamente à acção da peça e à oportunidade em que são cantados. Os espectadores, fazendo ao autor chamadas calorosas no final do 2º. acto, foram justos. Dessas ovações coube grande quinhão a António Simões, que o público, merecidamente, chamou ao proscénio. António Simões é um distinto amador, com sentimento artístico e com excelentes qualidades de interpretação. A partitura com que faz cantar a opereta Em Busca da Lúcia-Lima é um trabalho de valor. Tem números originais lindíssimos e os coordenados estão perfeitamente adoptados. Não há dúvida: foi um colaborador valiosíssimo de Gaspar de Lemos. A êle se deve, incontestavelmente, uma grande parte do agrado com que a peça tem sido acolhida.


O desempenho deixou bem impressionada a assistência. Trata-se dum grupo de amadores que vivem na aldeia, sem a ilustração e sem os sentimentos que o meio fornece aos amadores da cidade. Não têm também a menor educação musical – e isto é importante. Todavia, reconhecemos a êste grupo um certo valor, e por isso o julgamos com direito a algumas breves observações.


Os primeiros papéis femininos foram entregues a Idalina de Oliveira, que fez com distinção a Flôr de Chá, imprimindo ao personagem a tristeza requerida. É pena que a sua voz seja tão pouco extensa e não lhe permita vencer as dificuldades da parte que lhe coube na partitura, devendo, no entanto, dizer-se que cantou muito bem a romanza do 2º. acto; e a Virginia Monteiro, que nos deu uma Capitolina insinuante, alegre, risonha. Com o tique da menina d’aldeia educada na cidade mas que não pode desmentir o ditado: - o que o berço dá... Jaime Broeiro e António Graça afirmaram-se como amadores distintos e conscienciosos; A. Santos, J. Cascão e A. Silva, são também amadores com qualidades aproveitáveis; J. Vigário foi bem no Mandarim, não parecendo um principiante; e F. Carvalho, que é também um bom elemento, cantou com segurança a sua parte no concertante final do 2º. acto, outro tanto não podendo dizer-se do dueto com Flôr de Chá, que saíu muito incerto. Os outros amadores, em papéis de menor responsabilidade, bem como os coristas, mostraram-se cuidadosos, contribuindo para o agradável conjunto.


Os coros, a duas e três vozes, muito seguros, revelando o trabalho e a paciência de António Simões.


A opereta está posta em scena com rigor de scenários e guarda-roupa. No 1º. acto há um belo fundo representando o Largo da Igreja de Tavarede, sendo também de excelente efeito a vista chinesa do 2º. acto. Rogério Reynaud tem na Lúcia-Lima um magnífico trabalho scenográfico.


Abel Santos, caracterizador, foi igualmente muito feliz. Optimos os tipos do Regedor e de Cosme Papóia.


A assistência manifestou-se calorosamente com palmas nos finais de acto, tendo ainda aplaudido vários números de música.


A impressão deixada por esta récita foi lisonjeira para os amadores tavaredenses, que têm motivos para estar satisfeitos com o seu esfôrço, que foi justamente apreciado.


E merece também os maiores louvores a Sociedade de Instrução Tavaredense, que desta forma quis auxiliar a benemérita instituição que é a Santa Casa da Misericórdia. (Voz da Justiça – 06.16)

EM BUSCA DE LUCIA-LIMA

Primeiro que tudo, - registêmos consoladôramente o triunfo alcançado pelo nosso querido amigo e dedicado colaborador. O espectaculo de sabado, a favor do Hospital, satisfez a quantos. O Parque, não tinha poiso vago. De galerias, balcão, camarotes, frizas, descia uma bicha humana que alastrava pela plateia. E toda a gente, quer pontuando com salvas quentes de palmas, a maior parte dos córos, quer no final do 2º acto aclamando com entusiasmo autores e seus auxiliares, - n’uma chamada ao proscenio vibrante de sinceridade – claramente demonstrou o seu agrado.


N’uma operêta, vulgarmente, há apenas um motivo ligeiro, um fio leve de entrecho, para se fazer ouvir musica. Em busca de Lúcia-Lima, tem mais que isso, tem seu enrêdo, começo, meio, fim, tudo afinado e certo, como é proprio do talento do autor.


Conta-se em duas palavras.


Dois brazileiros, sabem por um jornal, que em Tavarede, se oferece como noiva uma linda rapariga – Lúcia-Lima. Metem-se n’um avião. E surgem no Largo da Igreja da ridente povoação visinha. Por telegrama, o povo sabe da sua chegada. Na receção, um dos aviadores apaixôna-se pela filha do regedôr, prendada rapariga cheia de graça. Pinga-Amor, galo do burgo, não vê com bons olhos que outro lhe requeste aquela a quem quer como ás meninas de seus olhos. E manhosamente faz constar que Lúcia-Lima, abalára para Macau...


Os dois brazileiros, seguem no rastro da que os fizera abalar de longes terras. E vão ao Oriente, tombando por sua desgraça, n’uns arrozaes sagrados. A lei chineza é concisa a tal respeito. São condenados á morte escura. Mas já a filha do Mandarim se rendera d’Amor por um dos brazileiros. Prepara lhes a salvação e a fuga. E vem com eles, no avião possante que os retorna a Tavarede.


Em cinco, seis scenas bem lançadas, desfaz-se o equivoco. O jornal que lhes levára a noticia, era um numero de carnaval. Lúcia-Lima, afinal, é o nome do arbusto aromatico a que sôe de chamar-se limonête. Tavarede é a terra do limonête, por conseguinte a terra de Lúcia-Lima. Desmascara-se o Pinga-Amor. E a peça acaba como tudo o que remata certo, - com o casamento da chinezinha airosa e da provocante filha do regedôr, com os dois simpaticos e endinheirados aviadores...


Vista agora o leitor tudo isto de rendas claras, de graça fina, de versos onde o ritmo cantante do poeta, se espelha como uma aza ligeira na agua clara d’um regato. Empreste-lhe o culto gosto de Antonio Simões, fornecendo-lhe musica viva, saltitante, travessa, achando sempre o motivo proprio para cada recorte do poêma. Bons scenarios. Otimo guarda-roupa. E enscenação primorosa d’esse inteligente môço que é José Ribeiro, - tão profundamente fino e esperto, quanto simpaticamente modesto. E terá um espectaculo brilhante, que sobremaneira honra a Sociedade de Instrução Tavaredense.


Para que se não cuide que olhámos a Lúcia-Lima, pelo oculo d’aumento da nossa estima pelo autor, oiçâmos impressões de quem de direito:


Sr. Rodrigo Galvão, profundo conhecedor de theatro, meteur-en-scéne distintissimo, primoroso diseur:


=Gostei. O librêto é interessante, original e tem finalidade. Musicas felizes. Que assombroso trabalho para conseguir aquilo. E sobretudo, que magnifico motivo de Educação Social...


Sr. Antonio Pereira Correia, - aclamado autor de diversas obras congeneres: Sim, senhor. Agradou-me. Estou satisfeito. Que se podia exigir mais?...


Sr. Luiz Dias Guilhermino, amador dos melhores da Figueira que há longos anos ao theatro dedica o melhor do seu esforço: A peça é bôa. E que fantastico trabalho o de José Ribeiro. Na Figueira, ninguem era capaz de fazer melhor...


E é opinião geral! (Gazeta da Figueira – 06.17)

EM BUSCA DA LUCIA LIMA

Como é meu costume em récitas de amadores, não faltei no sábado passado, no Parque-Cine, para vêr a representação da opereta em 3 actos, Em busca da Lucia Lima, da auctoria do sr. João Gaspar de Lemos Amorim.


A peça não está mal feita e melhor posta em scena, mas nasce dum disparate carnavalesco e quasi todo o seu enredo é um disparate completo.


Não é admissivel, nem mesmo em teatro, que um anuncio carnavalesco publicado num jornal de provincia, trouxesse a Tavarede, e de aeroplano, dois comerciantes brazileiros, que se faziam acompanhar dum muléque, para verem uma mulher que o já referido anuncio dizia ser formosa... Como se no Brazil não houvesse mulheres bonitas...


De aeroplano, só Gago Coutinho e Sacadura Cabral, atravessaram o Atlantico, não em busca duma mulher, mas em demanda de mais uma corôa de gloria para Portugal. Depois, os trez personagens referidos não me deram a impressão de terem chegado de aeroplano. Eduardo Leirosa ( Antonio Santos) entrou em scena vestindo uma imitação de um passe-montaigne, enquanto o seu companheiro Tomás Castanho (João Cascão) vestia um vulgar casaco de inverno e Juca Rabino (Emidio Santos) um fato de brim que se usa quando o calor aperta, como nestes dias. Como diz o nosso povo, preto tambem ser gente, e o desgraçado Juca Rabino, se tivesse vindo de aeroplano do Brazil a Portugal, quando chegasse a Tavarede era já cadaver, e não podia portanto, acompanhar o patrão a Macau, como acompanhou e donde regressou são e salvo, vestindo a mesma farpéla... Que diabo, ao menos vestissem-lhe uma pele de ovelha...


Tambem não é humano nem admissivel que os referidos viajantes fossem prezos em Macau por terem caido em cima do arrozal sagrado. Ainda não há muito tempo que trez aviadores portuguezes foram à mesma provincia, tendo caido dentro dum cemitério, e não consta que tivessem sido prezos por tal delicto. Ainda se podia admitir tal incidente se a acção da peça se passasse há 300 anos atraz, mas os programas dizem que é da actualidade...


E depois, aquele cabo de mar, reformado e rude como todos os cabos de mar, aparece-nos consul de Portugal em Fchin-Fou, (China). Certamente que o auctor da Lucia Lima tem em muito pouca conta a diplomacia portugueza, que apezar de pouco selecionada, ainda não conta em seu seio vulgares cabos de mar...


E para rematar as minhas considerações ácerca da peça devo dizer que era perfeitamente dispensavel a pornografia que a esmalta, que para mais nada serve se não para gaudio da gente ignorante que gosta sempre de ouvir porcarias.


O desempenho. Gostámos, porque os amadores esforçaram-se por bem desempenhar os seus papeis.


Idalina de Oliveira e Virginia Monteiro, andaram bem nos personagens, respectivamente, de Flôr-de-Chá e de Capitolina, em que revelaram um grande à vontade com que se mantiveram até ao fim da peça. Pena é que não tenham voz para bem cantar, porque declamam com sofrivel correcção.


Antonio Santos e João Cascão são dois bons amadores, que muito podem ajudar o grupo de que fazem parte.


Não gostei de José Vigario no Mandarim Chi-Sha-Lá. Emquanto todos os seus familiares e respectivo povo andaram e revelaram gestos como é de uso nos habitantes do Celeste Imperio, ele dava passos de metro e gesticulava largo demais. Deu-me por vezes a impressão de estar a vêr o diabo do Presepe.


Antonio Graça e Jaime Broeiro mostraram-se os bons amadores que são.


A musica. Principío por dar um abraço no Antonio Simões que foi feliz na musica que coordenou e na instrumentação com que a compôs. Só não gostei de ver chinezas a cantar musica regional portugueza, o que não seria admissivel nos habitantes da China, que nem casar querem com gente da Europa, como energicamente foi proclamado pelo soberano Mandarim Chi-Sha-Lá.

Mas á parte este senão, escolheu musica muito bonita, que se ouviu com agrado e soube manter em ordem os córos que por vezes quizeram fugir dela. Bravo, seu maestro!


Para quem vai a minha admiração máxima é para o ensaiador, sr. José Ribeiro. Só quem sabe o que é ensaiar amadores, sejam de que arte forem, é que pode avaliar o trabalhão que ele teve para fazer representar a opereta Em busca de Lucia Lima, como ela foi representada.


Sim senhor, muito bem. Boas marcas e muita ordem na entrada e saida dos diversos personagens. Se tivesse duas mulheres que cantassem bem, e um rapaz que tivesse boa figura e boa voz, o sr. José Ribeiro podia abalançar-se a representar operetas, já não digo de auctores consagrados, mas peças escritas com ordem e que um publico ilustrado ouvisse com agrado, porque tem geito para ensaiar e sabe disciplinar a sua gente.


E são estas as impressões que recolhi da representação da opereta Em busca de Lucia Lima e que transmito ao papel ao correr da pena. (O Figueirense – 06/18)

S. MARTINHO DE TAVAREDE

S. MARTINHO

Não há memória ter-se realizado qualquer cerimónia litúrgica ao orago São Martinho da freguesia de Tavarede.


Esta imagem muito deteriorada, foi retirada da Igreja Paroquial há muitos anos para o Museu Municipal da Figueira, e agora restaurada, por iniciativa do Revdº Pároco sr. Manuel Joaquim da Costa Ferreira, conseguiu que ela voltasse para o seu lugar. Para festejar a sua colocação, que de novo ficará no culto da Igreja Paroquial, realiza-se no domingo, 30, às 10 horas: missa solene, sermão e comunhão geral. Cantará o grupo coral feminino de Tavarede; às 14 horas: chegada da Filarmónica Figueirense, que acompanhará a recolha das oferendas de Condados, Saltadouro e Tavarede, dirigindo-se, depois, à Chã, onde se juntarão as dos outros lugares: Caceira e Casal d’Areia, Carritos, Bairro da Estação e Bela Vista, Casal da Robala e Vergieira, Vila Robim e Várzea; às 15 horas: solene procissão, que percorrerá o itinerário do costume. No fim, leilão das fogaças dos vários lugares da freguesia.


O produto das oferendas destina-se a custear as despesas da festa e da reparação da veneranda imagem de São Martinho, que, de novo, ficará ao culto na Igreja Paroquial.


Esta festa está a despertar grande entusiasmo nas Comissões, qual delas melhor apresentará nos seus andores as oferendas em honra do São Martinho, Padroeiro de Tavarede, que no seu divino altar volta a presidir aos solenes actos ali a realizar.



(O Figueirense - 29.11.1958)





S. MARTINHO

Festa de regosijo, foi a que se realizou no dia 30 do mês findo, com o regresso da imagem de São Martinho, orago da freguesia de Tavarede e que agora está de novo no culto da Igreja Paroquial.


Festa inédita nesta freguesia, que revestiu grande contentamento. A procissão de lindo efeito, com a apresentação de 11 andores todos ornamentados com as oferendas que despertaram os olhares do povo, assim como o que conduzia a imagem de São Martinho – Padroeiro da freguesia.


Está de parabéns o Revdº Pároco sr. Manuel Joaquim da Costa Ferreira por ter realizado esta festa integrada com o regresso do orago São Martinho – Padroeiro de Tavarede.



(O Figueirense - 13.12.1958)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

TEATRO DA S.I.T. - NOTAS E CRÍTICAS - 3


1924

OS AMORES DE MARIANA

O festejado grupo de amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense vai representar êste ano, em uma récita que se realiza no próximo sábado, no seu teatro, a linda opereta em 3 actos Os Amores de Mariana.


Esta peça é, certamente, a mais feliz das que Miguel Costa escreveu e dedicou aos amadores. De entrecho simples, com alguns tipos bem copiados do natural e situações cómicas que provocam o riso sem que para isso seja preciso recorrer à graçola pesada ou a ditos equívocos, os 3 actos têm a dar-lhes maior animação nada menos de 29 números de música alegre, saltitante, muitos dêles de sabor popular admiravelmente adaptados à acção da peça pelo inspirado maestro que foi Dias Costa. Se acrescentarmos que Amores de Mariana tem um excelente desempenho por parte dos amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense, justificados ficam os aplausos que a opereta sempre conquista, sem que os espectadores mostrem sombra de cansaço.


A récita de sábado está sendo esperada com grande interêsse, não só porque a opereta se não repetirá em Tavarede, mas também porque nela retoma o seu antigo papel – a protagonista – a distinta amadora tavaredense Helena de Figueiredo, que possui uma voz bem timbrada, muito agradável e com os recursos que a partitura exigem.


Muitas pessoas desta cidade irão a Tavarede no próximo sábado aplaudir mais uma vez a festejada opereta.


No próximo dia 26 do corrente, domingo, o mesmo grupo de amadores vai a Quiaios, representar esta opereta no teatro do Grupo Instrução e Recreio.


Temos a certeza de que agradará ali plenamente, ouvindo os seus intérpretes merecidos aplausos. (Voz da Justiça – 14.10)

OS AMORES DE MARIANA

Foi uma noite esplêndidamente passada a de anteontem. O teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense teve uma enchente colossal, e a linda opereta Os Amores de Mariana foi mais uma vez ouvida com o maior agrado. Os aplausos foram entusiasticos em todos os finais de acto e nalguns números de música, que tiveram de ser bisados.


O desempenho bom, mantendo os créditos do nosso festejado grupo de amadores. Helena Figueiredo, a distinta amadora que agora reapareceu no seu antigo papel e que foi acolhida com uma quente ovação e muitas flores, cantou admiravelmente a dificil parte de Mariana. Idalina de Oliveira soube, como sempre, fazer-se aplaudir na Morgada, que interpretou com grande naturalidade e muita graça. António Coelho, o apaixonado Zé Piteira; António Silva, no seu caricatural e tão expressivo Morgado do Freixo; Jaime Broeiro, no sacrista sabichão de latinório; António Graça, insubstituivel no brasileiro Barnabé; António Santos, que fez o janota conquistador; e Francisco Carvalho, com muita naturalidade no Manuel d’Abalada – souberam manter a alegria da peça através dos três actos, devendo dizer-se que os amadores que se incumbiram de papéis secundários ajudaram bem, dando um agradável conjunto. Os coros estiveram afinados e certos, o que poderosamente contribuiu para a boa impressão geral.


Entre a assistência estavam muitas pessoas da Figueira e Buarcos.


No próximo domingo vão os nossos amadores representar esta opereta a Quiaios, no teatro do Grupo Instrução e Recreio onde, estamos certos, Os Amores de Mariana agradarão plenamente. (Voz da Justiça – 10.21)

NOITE DE S. JOÃO

Como previramos, o teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense teve no último sábado extraordinária concorrência. Representou-se a opereta em 3 actos Noite de S. João, cuja lindíssima música agradou plenamente.


Coube o maior quinhão dos aplausos ao nosso amigo e distinto amador sr. António Maria de Oliveira Simões, cuja competência e bom gosto artístico ficaram bem revelados na forma brilhante como interpretou a dificílima partitura do professor António Eduardo da Costa Ferreira e ensaiou as vozes.


O que êle conseguiu, em pouquíssimos ensaios e através de várias dificuldades, dos nossos modestos amadores, que não possuem nenhuma cultura musical e alguns dos quais pela primeira vez representavam, foi muito, foi muitíssimo. Os aplausos que ouviu e as apreciações que todos fizeram ao seu trabalho foram merecidíssimos, porque não há dúvida nenhuma de que foi António Simões o elemento que mais contribuiu para o agrado da Noite de S. João.


Não há que fazer referência especial ao trabalho de cada um dos amadores. Todos, aparte deficiências naturais em amadores de aldeia, desempenharam bem os seus papéis. Alguns dos antigos amadores, como Idalina Fernandes, Jaime Broeiro e António Graça, confirmaram os seus créditos, merecendo citar-se o excelente tipo de António Santos; Virgínia Monteiro, que pela primeira interpretava um papel de responsabilidade, fez a característica com muita graça, imprimindo à D. Perpétua a preciosa nota de ridículo; José Cachulo (outro principiante), Maria Teresa de Oliveira, F. Carvalho, J. Maria Marques e os restantes ajudaram bem o conjunto. Uma rábula esplêndida: a de António Cachulo no Regente do Sol-e-dó.


Caracterizações primorosas, algumas de grande relêvo, do distinto artista que é Abel Santos; e scenários a carácter, de belo efeito, do sr. Rogério Reynaud.


A Noite de S. João, que é uma opereta de grande responsabilidade, repete-se no próximo dia 19, e então teremos ensejo de verificar que foram suprimidas as deficiências e hesitações que pudemos notar nesta primeira representação. (Voz da Justiça – 12.09)

OS AMORES DE MARIANA

Um grupo de amadores dramaticos de Tavarede veio no sabado ultimo ao Parque-Cine dar um espectaculo com uma opereta regional, cuja acção se passa nos arredores de Coimbra, segundo rezam os programas, e por tanto paredes meias com a nossa terra.


Fui assistir com um serto interesse, porque sempre gostei do teatro musicado, principalmente quando a acção se passa em qualquer das nossas provincias, algumas delas tão ricas em motivos para uma boa partitura. Os bons auctores é que vão escasseando.


As operetas do Pereira Correia são-me familiares, porque nunca deixei de assistir às suas representações, e apezar de bastante vista, ainda gosto do Barão de Antanholes, que tem musica bonita e bastante movimento de personagens. É uma opereta que vinca sempre em todos os que assistem às suas representações. O que não se dá com Os Amores de Mariana, que é uma opereta inferior e com passagens até pouco decentes, diga-se a verdade.


Do desempenho pouco há a dizer, porque se tirarmos Antonio Coelho, que se mecheu à vontade, e Helena de Figueiredo, que tem geito, nada mais se aproveitou. Pena foi que o primeiro se não tivesse mantido na scena da embriaguez, porque teria sido perfeito e que a segunda tivesse pronunciado um tromento que a meu ver devia ter dito tormento. De resto, tem boa voz e canta com certo gosto.


A marcação pareceu-me deficiente. Não percebi que o André, charlatão, surgisse no palco com a massa coral, em lugar de ali aparecer casualmente, o que deu a impressão de que entre ele e os caponios havia o melhor entendimento. Ou não?


Tambem não compreendi a situação de Ernesto de Melo (Antonio Santos) depois de Mariana (Helena de Figueiredo) lhe ter dado com a tampa ter-se mantido no palco, assistindo à alegria que reinou à volta do Zé Piteira (Antonio Coelho), quando este teve a certeza do amôr de Mariana. Julgo que ele devia ter desaparecido, porque havia sido preterido pelo rival.


E para terminar com os meus reparos devo dizer que não achei proprio que no côro Brazileiro di água dôce, os comparsas, todos dos arrabaldes de Coimbra, québrassem tão harmonicamente a módinha brazileira. Lá que o Pancracio a exibisse e a massa coral se manifestasse de qualquer maneira propria do seu temperamento e educação, compreendia-se, agora que a secundassem com tanta geiteira é que se tornou reparavel.


Em Tavarede é natural que estes senões não se notem, agora nesta cidade, onde nem sempre agradam os nossos melhores amadores e muitas vezes até artistas de carreira, foi arrojo exibir uma opereta inferior, mesmo muito inferior.


A musica, além de cédiça, está coordenada muito à ligeira e foi interpretada muito deficientemente. Pena foi que assim sucedesse, porque a orquestra estava bem organisada e apta a executar uma partitura de mais vulto.


Mas o fim principal dos amadores tavaredenses foi arranjar dinheiro para o seu cofre, e esse atingiram-no, porque a casa estava quasi cheia, o que devia ter produzido uma boa receita.
Felicito-os por tal motivo. (O Figueirense – 12.18)

OS AMORES DE MARIANA

O meu vizinho Roque Maleitas, que teve artes de arrancar-me por algumas horas ao meu pacato isolamento na noite de 13 do corrente para ir ao Parque ver Os Amores de Mariana, opereta desempenhada pelos amadores dramáticos da Sociedade de Instrução Tavaredense, surgiu há pouco à minha porta brandindo com indignação e cólera um número do Figueirense. Indagada a causa daquele insólito estado de alma, Roque Maleitas, sempre bufando e apontando com dedo sinistro a 5ª coluna da 2ª página da já citada luminácia, desabafou nestes termos:


= Tome lá! Leia! Leia as pachonchadas dum tal A P. Veja o desplante do farçola! Parece mordido da tarântula ou que recebeu requerimento para dizer mal de tudo por conta alheia!


= Oh! Homem de Deus, sossegue, aplaque essas iras e conversemos tranquilos como bons vizinhos e amigos. O homemzinho não há de ser tão mau que ache tudo péssimo. Ora vamos lá a ver isso.


Após lida com a atenção que o caso requeria a crítica teatral do sr A P, eu, para julgar com imparcialidade e justiça, chamei em meu auxílio as minhas impressões do espectáculo, e, confrontando-as com as manifestadas no Figueirense, declarei ao amigo Roque que na verdade não concordava com aquelas opiniões, embora fôssem abalizadas, a julgar pelo tom catedrático e categórico, que é de morrer a rir como a Maria Rita. (Por tamanha ousadia peço, curvado e reverente, tôda a desculpa a êste conspícuo Sarcey, mas tenho por hábito pensar pela minha cabeça e pôr sempre de lado sentimentos que possam influir no meu ânimo. A minha acanhada capacidade não permite ir tão longe quanto eu desejaria, mas conservo sempre presentes as nobres e altivas palavras de Juvenal: Vitam impendera vero – consagrar a vida à verdade!).


Vou pois, vizinho Roque, com a franqueza e lealdade que se devem a um amigo, dizer de minha justiça e fazer a contestação dos erróneos pontos de vista do crítico A P, que se me afiguram castelos de cartas, derrubáveis com um leve sôpro.


Pela leitura inteira do relato salta logo aos olhos que o crítico A P mete o bedelho e aprecia duma assentada a parte literária da peça, a parte musical e orquestral e emfim a parte puramente scénica. Apre que é ter talento como o diabo! Outro que não A P, com tanta competência às costas por certo que largaria asneira nalgumas das ditas partes. Mas o perentório A P não esteve com meias medidas, largou a dislatar a torto e a direito.


= Vizinho e amigo, observou Roque Maleitas, agora que estão em moda as designações por iniciais, as dêste figurão não poderiam traduzir-se por Asno Perfeito? Que lhe parece?


= Amigo Roque, tanto pode dar-se essa tradução como outra adequada. Eu, sem repelir a que lhe dá, que fica a matar, optaria pela de: - A P – a pedido – e cá tenho as minhas razões. Mas nada de divagar e deixe-me dizer-lhe o que penso.


Em tôdas as operetas, ainda as mais cuidadas, como o Solar dos Barrigas, o Burro do Sr. Alcaide, a Noite e Dia, Os Sinos de Corneveille e outras, o entrecho, a efabulação, emfim a parte meramente literária resumem-se em fantasias quási sempre ilógicas, desenrolando-se e caminhando a acção com o fim evidente de exibir música, e para isso não se despreza o mais insignificante episódio. Os Amores de Mariana, produto dum artista sem mira a ostentar resplendor na cabeça, é uma peça modesta, sem pretensões e portanto imerecedora duma crítica ríspida, tão radical e exterminadora que a todos se afigura feita de encomenda. Para que evocar nêste caso o Barão de Antanholes, que não é uma peça interiça, nem vinca cousa alguma, como conselheiramente declara o A P? Ninguém leva a mal ao exigente crítico a familiaridade com as operetas do sr. Pereira Correia. Nesse ponto goza de tanta liberdade como certos animais importunos... Depois, amigo Maleitas, afirmar que Os Amores de Mariana têm passagens pouco decentes é mostrar desconhecimento da Giroflé – Giroflá, da Perichole, da Mascote e tantas, tantas. Cá por mim não lhe vi cousas próprias a provocar caretas a um pater – familias ou a fazer córar uma donzela beiroa. Com tão assanhadiço pudor não deve o austero Aristarco pôr os pés no teatro mas deve ficar em casa bebendo capilé de cavalinho e lendo a Imitação de Cristo. Referindo-se ao desempenho, repare o amigo Roque, o tremebundo crítico manobrou uma rêde varredura! Por magnânina complancência escaparam Helena de Figueiredo e António Coelho; mas não poupou da indispensável ferroada. Para mim, meu estimável vizinho, Helena tem mais do que jeito, tem compreensão, apresenta-se sem bisonho acanhamento, possui voz maleável, canta agradavelmente, e bem melhor que várias belfécias que às vezes nos impingem as secções dramáticas da Figueira, que em questões de recta pronúncia, metem num chinelo o Padre António Vieira.


António Coelho pode desafrontadamente pedir meças aos esperançosos amadores em que A P descobre futuros Talmas. Tem intuição clara das situações e não merece na scena da embriaguês o reparo sandeu. Jaime Broeiro, que é um amador caracteristicamente cómico, apreciável; António Silva, que exibiu um morgado típico; Idalina Fernandes, que em scena não deixa surpreender a mais passageira gaucherie, e os demais rapazes só mereceram do peitado crítico o esmagador ditame: Nada mais se aproveitou!


Este articulista de afirmações acácias, as quais não passam de lérias pacóvias, não compreende nem avalia o esfôrço pertinaz, o trabalho paciente e exaustivo, quási heróico, de preparar criaturas, umas insuficientemente cultas e outras mais ou menos rudes e pô-las em condições de se exibirem em público. Não compreende nem avalia esse trabalho colossal, e daí o artiguelho inábilmente acintoso, verdadeira cornucópia de baboseiras, despejadas com ares doutorais. Sentenceia êle que a marcação lhe parece deficiente. Vê-se que disso não percebe êle nada e nem sequer sabe o que seja marcação. Melões confunde com batatas. Desconfio, amigo Maleitas, que tôda emburundanga visa o José Ribeiro, que é o ensaiador. Suponho que errou o alvo e perdeu o sem tempo e feitio, porque êste belo rapaz tem como lema o conceituoso provérbio árabe: “Os cães ladram mas a caravana passa”.


Asseguro-lhe meu prezado Maleitas, que não é hercúlea empresa desfazer o resto da meada da estultas frioleiras dêste Aristarco pataqueiro, mas a conversa já vai longa. Não quero todavia deixar sem reparos a preciosa observação, talvez um pouco ousada que reza da forma seguinte: “Em Tavarede é natural que estes senões não se notem, agora nesta cidade, onde nem sempre agradam os nossos melhores amadores e muitas vezes até artistas de carreira, foi arrôjo exibir uma opereta inferior, mesmo muito inferior”.


Apesar de residir neste velho Buarcos, você sabe, amigo Maleitas, que a tal cidade disfruta a justa fama de ser um imenso foco de civilização, um copioso alfôbre de sábios e de altas mentalidades, que em crítica de arte são bem mais exigentes que os dilettants do teatro Scala, e tanto assim que amadores ensaiadores (todos em primô-castello!) são criaturas que deram as suas provas passando em seguida à categoria de notabilidades consagradas. Os habitantes de Tavarede e do resto do concelho são todos bárbaros e selvagens. Como o vizinho leu, o crítico encapotado achou cediça a música coordenada à ligeira e interpretada deficientemente. Foi realmente um êrro de palmatória, é preciso confessar, porque a opereta, popular e despretenciosa como é, devia ser ornada com música dos Huguenotes ou do Barbeiro de Sevilha, e interpretada, está bem de ver, por artistas da envergadura da Patti, da Borghia Mamo e do Caruso.


Terminando, amigo Maleitas, e sério, sério, acho muito mais decente e honesto, mais digno de elogios e incitamentos que o grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense empregue em coisas teatrais o tempo que tira aos seus labores ainda com o risco de sofrer as zagunchadas de zoilos peitados e de língua corrosiva, em vez de seguir o exemplo da jeunesse doirée dos finitos de papo-sêco que desperdiça os seus ócios nos gineceus da R. da Cêrca e nos santuários recônditos da batotinha amena.


De resto, vizinho e amigo Maleitas, que assistiu à representação da modesta opereta, abismado com o severo julgamento dêste crítico plugúrrio, aplicará ao mesmo a sublime quadra, que bem assenta em casos tais:


Pilriteiro que dás pilritos
Porque não dás coisa boa?
Cada um dá o que tem
Conforme a sua pessoa.


Sr. Director, pela publicação destas linhas, que pretendem simplesmente fazer um pouco de justiça a quem a merece e enfreiar filáucias mal intencionadas, ficar-lhe hei sumamente grato. Um leitor da “Voz”. (Voz da Justiça – 12.26)

Centro de Dia de S. Martinho de Tavarede



Mesmo sem estar inaugurado o Centro de Dia de S. Martinho, em Tavarede, cujas obras tiveram início em 1995, acolhe já 35 utentes e presta apoio domiciliário a outrs. As carências de apoio eram grandes ‘e não podia esperar por inaugurações’, disse-nos Simões Baltazar, presidente da Junta de Freguesia de Tavarede.


Iniciada em 1995, com o apoio de muitos tavaredenses, que aos fins-de-semana ali trabalharam e deram ajuda monetária ou materiais, assim como a ajuda importante de várias empresas, a obra cresceu sem apoios oficiais, já que estes só apareceram na parte final e foram bem vindos.


O sonho e a realidade podem hoje ser contemplados e mais de três dezenas de utentes já usufruem do conforto da instituição, que opresta também, dentro das suas limitações, apoio domiciliário a outras pessoas menos jovens.


O Centro de Dia de S. Martinho, da responsabilidade da Paróquia de Tavarede, nasceu para satisfazer algumas situações de carência na freguesia, que não podiam esperar mais, daí a sua entrada em funcionamento mesmo sem ter sido inaugurado, o que acontecerá brevemente, assim que os arranjos exteriores e zonas envolventes estiverem concluidos, explicou o presidente da Junta de Freguesia de Tavarede.


Ainda recentemente, reconhecendo os prestimosos serviços que esta instituição de solidariedade social está a prestar à comunidade, o Ministério da Segurança Social ofereceu uma carrinha ao Centro de Dia de S. Martinho, um apoio fundamental para o bom desempenho das funções do referido Centro.


Independentemente de algumas iniciativas que têm decorrido, os arranjos exteriores e zoma envolvente ainda vão orçar perto dos três mil contos, valor que a Paróquia de Tavarede espera conseguir através da boa vontade de todos, no mais curto espaço de tempo, para poder concluir e inaugurar a obra.


Todos os anos, por ocasião das festas de S. Martinho, em Tavarede, realiza-se o ‘Cortejo de Oferendas’ cuja receita tem revertido para o Centro de Dia.


Trata-se de uma iniciativa que tem o empenhamento da maioria dos lugares da freguesia, que este ano rendeu a importância de 2.283.945$00, distribuidos da seguinte forma ………………



(Diário de Coimbra - 6.1.2000))



NOTA - É já no próximo domingo que se realiza este tradicional Cortejo de Oferendas, cuja receita reverte a favor da Paróquia de Tavarede. Se estiver perto, assista e colabore, se estiver longe, desde que seja tavaredense, não esqueça a sua terra natal.