sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Faustino Ferreira


Natural de Tavarede, aqui nasceu no dia 5 de Maio de 1889, filho de António Ferreira e de Margarida Ramos. Casou com Emília Gaspar da Silva. Teve um filho, Renato e três filhas, Maria de Lurdes, Gracinda e Alda..

Trabalhador nas Oficinas Mota, da Figueira, trabalhou depois, durante muitos anos, na quinta do Sotto Maior, como mecânico das máquinas que produziam a electricidade para o palácio e anexos, bem como era responsável pelo fornecimento e distribuição da água necessária aos consumos.

“… um dos bons amadores tavaredenses, há tempos desligado destas massadas por habitar na Figueira, veio de novo ligar-se aos seus companheiros de palco. É que concorda com a orientação do Grupo.

E como ainda está novo, entende dispensar-lhe todo o seu esforço, todo o seu valor”.

Desde a fundação do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, de que terá sido um dos primeiros sócios, fez parte do seu grupo cénico. Diversas críticas, aliás, referem-no como amador de muito boa qualidade.


Caderno: Tavaredenses com História

Eduardo Pinto de Almeida

Foi regente da Tuna do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, dirigindo também a orquestra que tocava com o grupo cénico.

Em Dezembro de 1924, o Grupo inaugurou as obras que executara na sua sede. Na primeira parte do sarau, “apresentou-se a Tuna no palco, que executou, sob a proficiente direcção do maestro sr. Pinto de Almeida, um reportório escolhido, que a numerosa assistência não se cansou de aplaudir”.

São de sua autoria as partituras das operetas, representadas pelo Grupo Musical, Ninotte e Amores no Campo. Foi nomeado sócio honorário desta colectividade.

No ano de 1925, o Grupo Musical efectuou uma deslocação à Marinha Grande, com o seu grupo cénico e a sua tuna. Esta, no segundo espectáculo, “fez a sua apresentação no palco, onde tocou várias peças, constituindo um acto”, que a assistência aplaudiu com entusiasmo.
Regressando a Tavarede na segunda-feira, 12 de Outubro, e como o maestro Pinto de Almeida fazia anos nesse dia, foi-lhe oferecido “um bonito objecto de vidro, com a seguinte gravação – Ao maestro Pinto de Almeida, no dia do seu aniversário natalício – 12-
Caderno: Tavaredenses com História

Elvira Sisnandis

Filha do Conde Sisnando Davidiz e de Ourovelida Nunes. Foi ela a autora, juntamente com seu marido, da doação do “Lugar de S. Martinho na vila de Tavarede”. É o primeiro documento onde aparece o nome da nossa terra.

“Carta de doação – Em nome da Santa e indivisa Trindade, eu, servo de Deus, Martim Moniz, juntamente com minha mulher Elvira Sisnandis, pois que desde remotos tempos é costume dos nobres paternos, levados pelo afecto do amor, distribuírem alguma parte dos seus próprios benefícios pelos seus amigos fiéis, cujos serviços lhes comprazem, por isso também nós benevolamente comovidos pelo favor da vontade, de boa mente e de motu próprio, fazemos carta de doação a ti, João Gondesindiz, do lugar de S. Martinho na vila de Tavarede. Pelo oriente está aquela várzea que parte com a vila de Tavarede pela pena de Azambujeiro e daí corta no Sovereiro Curvo em direcção à Mamôa; pelo ocidente a vila de Emide; pelo sul estão as salinas junto do rio Mondego; pelo norte a vila de Quiaios.

Concedemos-te, na mesma já mencionada vila de S. Martinho, todos que outrora aí recebeu Cidel Pais do Conde D. Sisnando, que Deus tenha, e estão situados no território de Montemor para o lado da praia ocidental…”.
Caderno: Tavaredenses com História

Moreira Júnior (Gravador)

Escrito de José da Silva Ribeiro por ocasião do falecimento deste grande amigo de Tavarede:

“A vaga que se abriu agora com a morte de Moreira Júnior, essa – não será preenchida. É mais uma... a fazer maior a clareira neste exército de voluntários. Moreira Júnior foi um notável voluntário nas hostes pacíficas da Sociedade de Instrução Tavaredense.

A sensibilidade inclinava-o para as artes plásticas. Não podia satisfazer-se a desenhar perfis da via férrea, carris e éclisses, tire-fonds e travessas de caminho de ferro. Desenhador e artista, dedicou-se às artes do desenho e montou na Figueira a única oficina de gravura química, cuja falta vai ser localmente sentida. O seu temperamento de artista – às vezes irascível, irreverente, insubordinável até a sugestões amigas – criara nele também o gosto do teatro. Nas suas saídas da aldeia figueirense, não deixava de ir ver teatro em Lisboa, ou no Porto, ou ali em Coimbra ou Aveiro quando adregava passar por lá Companhia lisboeta de comediantes ou bailado. Também os amadores lhe interessavam – e ia a Tavarede cheirar o limonete nas representações daquela gente simples que ali continua a tradição teatreira que de longe vinha. E Moreira Júnior passou a dar ao grupo de Tavarede uma colaboração valiosa, oferecida mais do que solicitada – e esta nota atingia bem fundo o nosso sentimento de gratidão – e que fica exuberantemente documentada na colecção dos programas teatrais de Tavarede.

Ex-libris de José da Silva Ribeiro, desenhado por Moreira Júnior

Quando se preparou uma brincadeira a que se chamou Chá de Limonete, Moreira Júnior quis ilustrar o programa da estreia. São do seu lápis todos os desenhos e da sua oficina todas as gravuras que ali figuram: lá está, felicíssima alegoria, o bule, sobre o ramo de limonete, oferecendo a chávena de chá, donde se evola capitoso fumo que, sobre o velho paço dos Quadros de Tavarede, vai desenhar a grande e aliciante palavra – TEATRO. E no ex-libris impresso no livro das Bodas-de-Ouro, outra vez aparece, servindo de fundo a dois versos arrancados ao Todo-o-Mundo e Ninguém de Gil Vicente, o raminho de limonete.

Desde então – quase vinte anos – nunca mais parou a colaboração de Moreira Júnior ao grupo de Tavarede. Todas as gravuras do livro 50 anos ao Serviço do Povo, das peças publicadas e dos programas da Sociedade de Instrução Tavaredense, retratos de autores, alegorias do Teatro, cenas de muitas representações – tudo foi sua generosa oferta. Se ao artista nunca se pagou a concepção e a realização de um desenho, também nunca à oficina se pagaram as gravuras – pois nem o custo do material Moreira Júnior aceitava dos tavaredenses.

E lá partiu – ainda cedo!... – este tão devotado voluntário da teatrada do limonete”.

Caderno: Tavaredenses com História

Mosteiro de Santo António


O guardião e frades do Mosteiro de Santo António da Figueira, situado junto da vila de Buarcos, fizeram petição a Vossa Majestade, nesta Mesa da Consciência e Ordens, dizendo que desembarcaram os ingleses, no mês de Maio passado, na barra desta vila, deram com o dito Mosteiro e roubaram e destruiram tudo o que nele havia, sem ficar coisa alguma, quebrando todas as imagens de Santos e levando os retábulos, sinos e ornamentos, com o que o dito Convento ficou de todo destruído e sem coisa alguma com que celebrasse os Ofícios Divinos e se remedeiem as necessidades da Casa, e desejando o Conselho da Universidade de Coimbra favorecer ao dito Mosteiro e frades dele, o que lhe impede os estatutos poder fazer sem licença de Vossa Majestade, pelo que pedem a Vossa Majestade seja servido dar licença à dita Universidade, para que lhes faça esmola do que Vossa Majestade for servido, e informou o Reitor e deputados da dita Universidade, que no tempo que ela acudiu em socorro da vila de Buarcos, quando os ingleses a saquearam, se viu o grande estrago que fizeram nela e juntamente no Mosteiro de Santo António da Figueira, e que logo então muitos dos estudantes que foram na jornada, lhe aplicaram de esmola o soldo que venceram os dias que lá gastaram e que, contudo, lhes parece que deve Vossa Majestade se sirva dar licença à Universidade, para que, das rendas dela, darmos aos frades do dito Mosteiro cinquenta cruzados para ajuda de se repararem da perda que tiveram.

Parece que visto o que os Suplicantes alegam e informação que houve da Universidade, que Vossa Majestade deve haver por bem de dar licença à dita Universidade, para que das rendas dela dêem aos Suplicantes os cinquenta cruzados de esmola, de que em sua carta fazem menção.

Lisboa, 3 de Janeiro de 1603.

(nos cadernos do Dr. Marcelino Mesquita, donde retirámos o texto acima, acrescenta-se, sobre a vinda de um porpo de estudantes em defesa de BuarcosJ

“… e que vindo os ingleses às vilas de Buarcos e Figueira, acompanhou o Reitor, com armas, cavalos e seus criados e outras pessoas à sua custa, oferecendo-se a todo o sucesso, como devia e fora em todas as ocasiões do serviço de Sua Majestade…”. O Reitor confirma esta informação do Dr. Baltazar de Azevedo, lente de Medicina, acrescentando: “… e que vindo os ingleses às vilas de Buarcos e Figueira, acompanhara, a ele Reitor, levando dois cavalos e armas e, além dos seus criados, outras pessoas à sua custa…”.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 86


“Tornando público um programa que considera ‘ambicioso’. E para cuja concretização a falta de verbas apresenta o principal problema, a Comissão do Centenário da SIT mostra-se esperançosa de que ‘os apoios venham a aparecer’, e aposta nas mais diversas manifestações culturais para marcar uma importante data da colectividade. As actividades de angariação de verbas não têm parado, sendo que os almoços mensais realizados por senhoras da SIT, e a participação da ExpoACIFF têm dado frutos. Diversas entidades oficiais ligadas à cultura já foram abordadas mas, apesar de se mostrarem ‘receptivas a colaborar, a resposta não varia muito: não há dinheiro’. No entanto, afirmam, ‘não vamos deixar de celebrar esta data condignamente’.

A conferência de imprensa

Cumprindo o programa, foi já editada a medalha comemorativa do centenário, e está garantida uma exposição de teatro, no CAE, que exporá o espólio da SIT. O hino do centenário, da autoria de João Cascão, também se encontra em fase de orquestração para a Tuna, e deverá estar pronto no final do ano. O dia 15 de Janeiro vai começar com o hino da colectividade e o comemorativo do evento, tocados pela Tuna de Tavarede, realizando-se depois, à noite, o jantar de gala no pavilhão gimnodesportivo. O grande espectáculo está agendado para 17, e a sessão solene realiza-se a 18, data provável do lançamento do livro do centenário, coordenado por José Bernardes, e que ‘conta a história da colectividade e dos 100 anos de teatro, ao longo de 250 páginas ilustradas com cerca de 180 fotos’.

Realizar-se-ão ainda vários saraus e conferências, e homenagens a Violinda Medina, João de Oliveira Júnior e José Ribeiro. Programados estão ainda jogos florais, encontro de tunas, concurso de fotografia e desenho, jogos tradicionais e a criação de um memorial, em azulejo, que ostente o nome daqueles que mais deram à SIT, ao longo de 100 anos. Apesar das dificuldades, a comissão está confiante no surgimento de apoios: ‘a cidade vai estar, por certo, ao nosso lado”.

Sede da Sociedade de Instrução Tavaredense

E no dia 15 de Janeiro de 2004, às 8 horas da manhã, a Tuna de Tavarede tocou o hino da colectividade centenária, frente à sua sede, enquanto era hasteada a bandeira no mastro principal, seguindo-se a tradicional salva de 21 morteiros.

Aspecto do Jantar do Centenário

Pelas 21 horas teve lugar o ‘Jantar do Centenário’, no nosso Pavilhão Desportivo. Todas as paredes se encontravam revestidas com alguns dos cenários da Colectividade, nomeadamente aqueles que representam cenas da nossa aldeia. O tecto foi forrado com faixas de tecido azul e vermelho, as cores da SIT.

Foi presidido pelo representante do Governo Civil de Coimbra, encontrando-se presentes diversas entidades oficiais da Figueira da Foz e de Tavarede. Estiveram presentes cerca de 200 pessoas e o jantar foi servido pelo Restaurante O Amigo, da Tocha.

Actuação do Orfeão Académico de Coimbra

Durante o jantar houve acompanhamento musical pelo nosso consócio Maestro João da Silva Cascão e no final, depois de diversas intervenções oratórias, actuou o Orfeão Académico de Coimbra, patrocinado pelo Governo Civil. “ No pavilhão da colectividade, virado ‘museu’ com algumas das relíquias de cenários que marcaram o historial invejável de cem anos de devoção ao teatro no seio da Sociedade de Instrução Tavaredense a engalanar as paredes do amplo recinto e criar uma envolvência onde se ‘respirava’ teatro por todo o lado, decorreu o ‘Jantar do Centenário’, 1º acto do longo programa de realizações que ao longo do ano irão enriquecer as celebrações deste marco histórico: ‘primeiro centenário da SIT’. Solenidade que reuniu cerca de 200 pessoas, a maior parte delas amadores que pisaram o palco, para além dos muitos convidados que honraram o evento em representação do Governo Civil, Câmara Municipal da Figueira e autarquia local.

E o primeiro gesto de saudação à histórica entrada da colectividade no galarim dos ‘Centenários’ veio da apresentação pública da ‘Marcha do 1º Centenário’, referencial honroso de uma caminhada de muitos êxitos a envolver gerações e que guindou Tavarede ao lugar de destaque – houve quem a elegesse ‘Catedral do Teatro Amador’ – que extravasou o Concelho e mesmo o Distrito. Depois, abrilhantado pela suavidade musical saída do piano tocado por João Cascão, o banquete de sabores apadrinhados por celebridades ligadas à arte de Talma – entradas à Molière; creme à Garrett; bacalhau à D. João da Câmara; lombo assado à Gil Vicente; sobremesa à Shakespeare; café Pirandello, tudo regado a vinhos e digestivos à Terra do Limonete, com a novidade da ‘prova’ do Vinho do Centenário da SIT, uma recordação que pode ser comprada na colectividade -; a confraternização saudosa de cenas vividas naquele palco de tantas representações que moldaram vidas e criaram escola e as mesas davam vida nos dísticos que as distinguiram: ‘Romeu e Julieta’, ‘Frei Luís de Sousa’, ‘Os Velhos’, ‘As árvores morrem de pé’, a ‘chamar para a mesa’ ilustres desaparecidos cuja memória não poderia estar ausente deste momento alto do centenário, tudo serviu de motivo para solenizar esta data marcante de 15 de Janeiro de 2004…” .

Sociedade de Instrução Tavaredense - 85


Foi no dia 10 de Março de 2001 que, em reunião geral de sócios convocada expressamente para o efeito, foi formada a Comissão Organizadora das Festas do Centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense. Uma dificuldade imediatamente se fez notar: a falta de dinheiro. A Direcção não tinha disponibilidades, mas a Comissão tinha a intenção de, a exemplo do sucedido nas Comemorações anteriores (Bodas de Ouro e de Diamante), conseguir obter financiamentos para todos os actos a realizar, recorrendo a entidades oficiais e particulares, sócios e amigos da Colectividade e realizando alguns eventos especificamente para a obtenção de receitas, sem recorrer, portanto, aos recursos da Colectividade.

Uma das primeiras iniciativas aprovadas, foi a realização de um almoço mensal. Como curiosidade, registamos que o primeiro destes almoços teve lugar no dia 13 de Outubro de 2002, tendo o prato principal sido “sopa da pedra”.

“São sobretudo mulheres. Justiça seja, porém, feita aos homens que também suam as ‘estopinhas’, mais na preparação da sala e da tenda – onde se vendem rendas e bordados e se pode ‘brincar’ às rifas -, do que propriamente na cozinha, com a mão na massa ou, no caso deste último domingo, na feijoada. Eles ajudam, é certo, mas elas trabalham, desde cedo, para que, por volta da uma da tarde, tudo esteja pronto. Parecem abelhas operárias, incansáveis no seu entra e sai entre a cozinha e a copa, espreitando panelas e descascando batatas ou golpeando castanhas. Entre o cheirinho da comida caseira e gracejos, vão dizendo que estão ali por gosto, porque quase nasceram na SIT, porque sentem orgulho em contribuir para que a festa do centenário da SIT, em 2004, ‘seja em grande’.

Um grupo de senhoras que trabalham na cozinha
…………………..
A estas mulheres não se coloca sequer a questão de poderem não alinhar nestas iniciativas. Em pleno século XXI, tempo áureo do egoísmo e do lucro, estas mulheres (pronto, e os homens também, que sempre dão uma mãozinha), entregam-se sem pedir ou esperar nada em troca.
Ainda que a comida não fosse caseira e, segundo informações de testemunhas no local, saborosíssima, mesmo assim, valia a pena uma visita. Há dúvidas? Então acabe com elas (e com o cozido à portuguesa) no próximo almoço, a 7 de Dezembro”.


Logótipo das Comemorações

Em Setembro desse ano foi deliberado mandar executar as medalhas comemorativas, cujo desenho foi gentilmente oferecido pelo sr. Francisco Simões, que igualmente desenhou o logótipo. Entretanto surgiu de imediato um problema. A casa fornecedora exigiu-nos o pagamento de 40% do custo, sendo os restantes pagos contra a entrega da encomenda. Valeu-nos o presidente da Junta de Freguesia que nos disponibizou a verba necessária para a sinalização da encomenda.












Medalha do Centenário - verso e anverso

Para realizar o dinheiro do seu custo, foram postas à venda no almoço mensal do dia 9 de Março de 2004, ao preço unitário de 10 euros.

Entretanto, em conferência de imprensa levada a efeito em Outubro de 2003, foi apresentado o anteprojecto do programa para as comemorações.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tavarede e o Rio Mondego

Procurando informações escritas nos cadernos manuscritos do Dr. Mesquita de Figueiredo, que se encontram na Sala Figueirense da Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, encontro, por vezes, anotações interessantíssimas, muito em especial sobre factos ocorridos na nossa terra em tempos já bastante recuados.

Desde já aviso que, sendo os referidos cadernos de leitura assáz difícil, admito cometer alguns erros de transcrição. Além disso, e como estão copiados conforme os originais, isto é, em ortografia antiga e com muitas abreviaturas, e para um não ‘especialista’ nesta matéria, de certeza que cometerei algumas ‘gralhas’. Espero, no entanto, não alterar em nada o sentido do que está escrito naqueles documentos.

Numa ‘Informação para uma demanda sobre pescarias’, que o Dr. Marcelino Mesquita anota como “sem data, mas a letra parece dos fins do sécullo XVI”, encontrei o seguinte:

“O lugar da Figueira da foz do Mondego, onde está a Alfândega de El-Rei nosso senhor do fito rio, (é termo de Tavarede, que é Couto e jurisdição cível do Cabido da Sé de Coimbra e no dito Couto e lugar haverá cento e sessenta moradores, e é um lugar muito nobre dos melhores do seu tamanho que há em todo este Reino, e vivem nele fidalgos e cavaleiros e escudeiros e homens nobres muito ricos, o qual Couto tem toda a jurisdição cível e os juizes dele conhecem dos feitos cíveis de toda a comarca e apelação e agravo para o Ouvidor dele para El-Rei nosso senhor. E no dito Couto há a Câmara com todos os oficiais, como em qualquer vila do Reino, e nele se fazem as eleições dos juizes e vereadores e os outros oficiais pela forma da ordenação e toda esta jurisdição cível é do dito Cabido…”

Sabe-se, assim, que Tavarede tinha muita importância apesar do reduzido número de habitantes. Pena é não indicarem nomes das pessoas de valimento tão elevado, como refere. Por aquela época, já Tavarede era dominada pelo seu Morgado, da família Quadros, instituido por António Fernandes de Quadros, no ano de 1540, pouco tempo antes do seu falecimento.
Mas continuo com o documento acima. “Este Couto de Tavarede começa a correr da barra da dito rio Mondego, e ao longo da margem norte vai ter a outro lugar que se chama Vila Verde, que é outro lugar que tem toda a jurisdição cível como a tem Tavarede, e é do Bispo de Coimbra. E correndo ao longo da mesma margem do dito rio, chegamos a outro lugar, que se chama Maiorca, que também tem jurisdição cível como Tavarede e que corre ao longo do dito rio, até chegar à jurisdição cível de Montemor (e este lugar é da Santa Cruz de Coimbra e a jurisdição cível da Universidae da dita cidade).

Da outra parte do referido rio Mondego, da banda do sul, começando na dita barra, está outro lugar que se chama Lavos, que é do Bispo de Coimbra, e acima dele está outro lugar que se chama Reveles e Serroventoso, que é do dito Bispo de Coimbra, e que tem toda a jurisdição como Tavarede, e acima deste, ao longo do rio, está outro lugar que se chama Verride…”
Pela continuação do texto, verificamos que os barcos iam, rio acima, até Montemor para vender o pescado e comprar “… esta comarca tem muito pão de sua lavra e não tem necessidade de todo, antes o carrega para fora, para outras partes, e no Couto de Tavarede e Figueira e vilas de Buarcos e Redondos e suas comarcas, não têm nenhum pão, nem azeite, nem legumes, nem outros mantimentos de sua colheita…”

Havia, então, a venda de pescado, sardinha, solhas, etc., e compra de cereais e legumes para abastecimento destes referidos lugares. Todavia, não era fácil o percurso e a descarga do pescado em Montemor. No Inverno, com os campos alagados durante dois ou três meses ‘… não podiam ir aos barcos a pé nem em bestas, nem noutras barcas, e é uma grande légua da dita vila de Montemor até aos navios…’. No Verão, pelo contrário, era a escassez de água no rio que não permitia a subida dos barcos para fazerem o seu negócio.

É claro que o acima descrito é só uma pequena amostra dos elementos que se encontram sobre Tavarede antiga. Pouco tenho transcrito sobre a nossa história. Como se sabe, tenho-me dedicado mais ao Associativismo e aos nossos antepassados mais ilustres. É que as nossas colectividades têm desempenhado um papel importantíssimo na terra do limonete. A Sociedade de Instrução ainda agora comemorou o seu 107º aniversário e o Grupo Musical e de Instrução comemorará o seu Centenário em Agosto próximo. Dar a conhecer o seu passado paraceu-me muito importante. O que encontrei, e espero encontrar, sobre o passado de Tavarede será transcrito lá mais para diante.

Joaquim Fernandes Estrada

Sócio benemérito da Sociedade de Instrução Tavaredense. Nasceu no ano de 1862 e morreu em 1936.


No ano de 1927, ofereceu a esta colectividade o seu primeiro estandarte. Com desenho de António Piedade, foi bordado por Maria do Céu Rio, professora de lavores na Escola Industrial e Comercial da Figueira. “Na folha vermelha, destacando-se dum fundo de rosas, sobre base em que se desenham máscaras teatrais, um livro e, sobre este, a lâmpada acesa. Na folha azul, entre as datas de 1904 – 1927, uma lira e uma máscara”.

O seu retrato encontra-se exposto no salão nobre da colectividade.

Caderno: Tavaredenses com História

Benjamim Monteiro de Sousa

Filho de António Monteiro de Sousa e de Emília Neto Sacramento, residia em Tavarede, onde faleceu no dia 3 de Junho de 1970, contando 76 anos de idade.

Profissionalmente exerceu funções na Central Eléctrica, onde trabalhava com as máquinas produtores de electricidade.

Foi integrado no Corpo Expedicionário Português que, em França, combateu durante a primeira grande guerra. Tinha o posto de 1º. Cabo no Regimento de Artilharia 2 e regressou de França em 1919.

Em 1923 foi eleito para a Junta de Freguesia, sendo nomeado tesoureiro. No ano seguinte foi escolhido para exercer a função de regedor “… pessoa digna e cordata, que saberá honrar o seu cargo”.

Casado com Isabel Cordeiro, tiveram 6 filhos: Silvino, Alice, Jorge, Rui, Mário e Arménio. Ocupava os tempos livres do seu emprego, onde trabalhava por turnos, no amanho de umas terras no Prazo, perto da capela de S. Paio.

Algumas vezes fui o filho Mário, levar o seu almoço, ao trabalho, na central eléctrica. Iamos pelo caminho da Várzea e, a seguir ao largo do Pinheiro Manso, entrávamos por um portão num caminho que, pelo chamado juncal, ia até ao nosso destino. Quando sabíamos que havia matança de bois no matadouro municipal, levávamos uma panela e iamos lá buscar sangue, que, depois de cozido, era um excelente petisco. Bons tempos, aqueles!
Benjamim Monteiro é o primeiro da última fila, à direita. Foto tirada aquando do casamento do filho Jorge com Maria da Piedade Lontro.

Caderno: Tavaredenses com História

António Cordeiro

Natural de Tavarede, foi o proprietário da Tabacaria Africana, no Bairro Novo, Figueira da Foz. Filho de José Maria Cordeiro e de Ana Pais.

Fez parte, durante pouco tempo, no grupo cénico da Sociedade de Instrução, mas presidiu à sua Direcção em diversas gerências. Bairrista, tinha no seu estabelecimento um grande pote de barro sempre cheio de água fresca da sua terra, que gostosamente dava a beber aos seus muitos amigos.

Como nota curiosa, referimos que era um benfiquista ferrenho. O “placard” em lousa, que pendurava na parede do seu estabelecimento com as últimas notícias locais e nacionais, indicava todos os domingos os resultados dos desafios de futebol. Quando o seu clube festejava alguma vitória mais importante, enfeitava a montra do estabelecimento com uma enorme bandeira e uma estatueta com uma grande águia. Pelo contrário, quando perdia, era sempre de trato bastante difícil de aturar.

Na sua tabacaria tinha um enorme pote com água de Tavarede, sempre fresca. Parece que lá ia Manuel dos Santos, o grande toureiro português, beber água da nossa fonter, antes das corridas em que participava.
Caderno: Tavaredenses com História

Alfredo Esteves Cardoso

Natural de Brenha, onde nasceu no ano de 1918 e faleceu em 2001.

Muito dedicado ao associativismo, destacou-se como músico. Também deu a sua colaboração no campo teatral, chegando a dirigir a secção cénica da Troupe Recreativa Brenhense.

Com seu pai e irmãos, era sócio gerente de uma casa de bicicletas na Figueira. Era curioso o facto de serem eles quem preparavam o almoço diário, a cuja mesa se sentavam também os primos que trabalhavam na Figueira, e cuja ementa diária era “bacalhau cozido com batatas e cebolas”. Fosse Verão ou Inverno. Amigos havia que, quando vinham de visita à Figueira, ali iam almoçar, pois sabiam antecipadamente o prato que os esperava, sempre regado com o bom “palhete” de Brenha.


Concurso de pesca da SIT. - À direita, com seu irmão José Esteves e João de Olveira Júnior

Alfredo Cardoso, colaborou cerca de 70 anos, com a Sociedade de Instrução Tavaredense, tocando violino na orquestra, dirigida, primeiro por António Simões, e depois por seu primo Anselmo, José Ferreira e José Custódio Ramos.

No ano de 1951, a colectividade nomeou-o seu sócio honorário.

Caderno: Tavaredenses com História

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sociedade de Instrução Tavaredense - 84


Antes de começarmos a recordar as comemorações do Centenário, assinalamos que, em 2002 e pelo aniversário, foi levada à cena a peça de Pirandello ‘O Homem, a Besta e a Virtude’.

‘O Homem, a Besta e a Virtude’

E em Abril de 2002, com a presença do autor, Dr. Luís Francisco Rebelo, o nosso grupo cénico representou ‘É urgente o amor’. O autor, findo o espectáculo e em cena aberta, manifestou o seu agrado e satisfação pelo desempenho dado a esta sua obra.

Nesse ano o grupo cénico teve uma inovação. Resolveu apresentar, nalguns locais da aldeia, teatro de Gil Vicente. Foi um enorme êxito e grande assistência se aglomerou nos locais onde houve teatro.



‘Teatro de Rua’

Também na nossa sala de espectáculos foi levado a efeito um espectáculo dedicado a Gil Vicente, com a apresentação da peça ‘A farsa do Velho da Horta’, a que se seguiu uma palestra, pelo Dr. José Bernardes Cardoso, sobre o glorioso autor português do século XVI.

‘Farsa do Velho da Horta’

No aniversário seguinte foi representada nova peça de Luís Francisco Rebelo. Desta vez foi a peça ‘Páginas arrancadas’. Foi esta a última peça representada pelo grupo cénico antes de atingir o seu centenário.

‘Páginas arrancadas’

E chegamos, finalmente, às festas comemorativas do primeiro centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 83


O Centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense aproximava-se rapidamente. Uma comissão de sócios foi constituída para a organização de umas comemorações em tudo condignas com o passado da Colectividade. O espectáculo de aniversário de Janeiro de 2000, preparado pela encenadora e directora do grupo dramático, Ilda Simões, teve o título de ‘Instantes de Teatro’.


Duas cenas de
‘Instantes de Teatro’

“Momentos de vidas passadas e presentes, testemunhos da dedicação que os tavaredenses têm pela terra onde nasceram e pelos homens que fizeram a sua história” foram a tónica da representação com que a Sociedade de Instrução Tavaredense encerrou as comemorações do 96º aniversário da colectividade. Escrevendo no palco (de tão ricas tradições) Gratidão, Homenagem e Dedicação num arranjo teatral denominado “Instantes de Teatro” que teve o condão de repôr em cena muitos dos êxitos que contribuiram para o brilhante historial da Sociedade de Instrução Tavaredense, o grupo cénico soube estar à altura das responsabilidades com mais uma “peça” de magnifica concepção e actuações de grande brilho.

No dia Mundial do Teatro de 2000 foi levada à cena uma das mais conhecidas e admiradas peças de Bernardo Santareno, ‘O pecado de João Agonia’,”… Inserido nas Jornadas de Tavarede por Timor, a peça subiu novamente à cena na passada segunda-feira, dia 27, assinalando o Dia Mundial do Teatro, data que anualmente tem sido sempre comemorada, com uma representação teatral pelos amadores da SIT.

“O pecado de João Agonia”, é a história de um jovem (marcado pela maldição de uma avó louca) que, nos anos 60, e após ter cumprido serviço militar em Lisboa, regressa à sua aldeia serrana. O jovem traz com ele um segredo que procura apagar da memória, mas que acaba por ser revelado por um vizinho despeitado. A ignorância das gentes da terra para quem a homossexualidade era uma chaga maior que a lepra… vai desencadear toda a tragédia que se abate sobre a família dos Agonias”.

‘O pecado de João Agonia’

A preparação das comemorações centenárias ocupavam muito tempo, mas o grupo cénico não parava. Em 2001 foi Anton Tchecov que subiu à cena com as peças ‘Um pedido de casamento’, ‘O Urso’ e ‘O canto dos cisne’.


'O Canto do Cisne'

‘O Urso’

Nesse mesmo ano, e não esquecendo a tradição, mais uma efeméride é comemorada em Tavarede. Desta vez foi o centenário do nascimento de José Régio, de quem se representou a peça ‘O meu caso’.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 82


“Iniciada por “sinistro” cortejo sob o comando do Juiz seguido de luzido (muitas tochas) séquito a que a música fúnebre e muitos embuçados emprestavam um ambiente pesado através das ruas que levavam da SIT às ruínas do Paço, aí teve lugar a “prisão da Velha Malvada” que, após sumário exame (de grande comicidade brejeira), foi conduzida a tribunal (palco do Teatro da SIT)”. A tradição mantinha-se. Mais uma vez a “Serração da Velha” se cumpriu na data própria.

Em Maio de 1998 o então Ministro da Cultura, Dr. Manuel Maria Carrilho, visitou a sede da Sociedade, onde ouviu atentamente contar a história da nossa colectividade, bem como as necessidades mais prementes, na ocasião a instalação eléctrica. Depois de algumas palavras, ‘A cerimónia encerrou com breves palavras de Manuel Maria Carrilho que referiu ser preciso “manter vivos os anseios do povo”. Manifestou também conhecer o trabalho desenvolvido em Tavarede assim como no concelho figueirense, uma vez que a Figueira da Foz foi durante 18 anos a cidade das suas férias. Disse ser necessário “combinar esforços” e que o contributo que conferiu para o equipamento pode ser ampliado se tal o justificar”. O Ministro concedeu um subsídio de 4 mil contos para as obras referidas.

O 95º. aniversário foi festejado com um espectáculo com a representação da comédia ‘O Festim do Baltazar’ e uma parte com ‘História Cantada de Tavarede’, peça

que envolveu cerca de 50 pessoas. E foi anunciado que a SIT, a exemplo do que tem feito com outras figuras de relevo nacional, iria ‘assinalar o bi-centenário do nascimento de Almeida Garrett, um dos grandes vultos da literatura portuguesa’.


‘Na presença de Garrett’

“No ano em que se comemora o duplo centenário do nascimento do grande dramaturgo não podia a “Capital do teatro” do nosso concelho deixar passar em claro tal efeméride. Fê-lo de modo bem vincado e digno partindo de um texto adrede escrito, permitindo-se ilustrar a representação com diversas incursões por algumas obras do polígrafo, com especial realce para o Frei Luís de Sousa, de que nos apresentou o terceiro acto, completo. Teve esta encenação a particularidade de, em simultâneo, manter quase sempre em cena o próprio Garrett, o qual ia respondendo a curioso e bem elaborado questionário de uma arguta jornalista e, ao mesmo tempo, revendo-se, emocionado e feliz, na sua própria obra, a dois séculos de distância.


‘Na presença de Garrett’
‘Frei Luís de Sousa’

Confirmando o que alguém disse, muito justamente, ser Garrett “de entre todos os escritores do século XIX o mais lido, o mais estudado e o mais amado pelas novas gerações”, as autoras do texto, dras. Ilda Manuela Simões e Maria Clementina Reis Jorge Silva, tiveram a feliz ideia – como esclarecidas pedagogas que se orgulham de ser – de pôr em palco vários alunos das nossas escolas, os quais, além de breve troca de impressões com o presencial autor, declamaram alguns dos seus mais significativos poemas.

Também a História de Portugal, no que concerne à ligação ideológica do liberalismo defendido e vivido por Garrett no segundo quartel do século XIX, com a implantação da República em 1910, e, mais perto de nós, com a eclosão do 25 de Abril de 1974, foi feita uma abordagem oportuna e proficientemente pedagógica e digna de registo. Finalmente: ante os tão demorados agradecimentos expressos pela responsável a todo um ror de gente que contribuiram para tal realização, fica a todos a certeza de que o teatro mexe, verdadeiramente, em Tavarede. Parabéns!”.

O programa deste espectáculo refere ‘… procura dar uma visão da vida e da obra de Almeida Garrett. Uma jornalista convida o escritor para uma entrevista e à medida que esta se vai desenvolvendo irão surgindo no palco fragmentos de algumas obras de Garrett…’.

Soiedade de Instrução Tavaredense - 81


No ano de 1997, por motivos de ordem particular, a encenadora do grupo cénico, Ana Maria Bernardes, teve de abandonar a sua actividade teatral. E ‘com toda a sua boa vontade e dedicação, apesar disso implicar muito sacrifício da sua parte’, lê-se no relatório da Direcção desse ano, aceitou o convite feito para aquele cargo a amadora Ilda Manuela Duarte Simões.

Também nesse ano, e já não era a primeira vez que isso acontecia, houve grande dificuldade em constituir novo elenco directivo. Mas, felizmente, a crise foi ultrapassada. “… Ao ter, pela primeira vez na sua história, uma direcção totalmente composta por mulheres a Sociedade de Instrução Tavaredense não quer enveredar, obviamente, por uma qualquer guerra de sexos, mas sim dar continuidade a uma tradição que conta (e muito) com a participação do sector feminino.

Ainda que, de facto, esta situação resulte de uma acentuada crise directiva, a opção directiva acaba também, de forma indirecta, por prestar uma justa homenagem a todas as mulheres que, ao longo dos tempos e de uma forma por vezes heróica deram forma e fundo aos objectivos da Sociedade de Instrução Tavaredense. Decerto ela, “a mulher tavaredense” pelos exemplos cívicos e artísticos que soube dar, seria na verdade, a merecedora de algo que a perpetuasse publicamente e não algo que por natural e datado no tempo não vai além do que é efémero.

Mas, numa prova de que os exemplos recebidos não foram em vão, as novas gerações de mulheres, voluntária e decididamente, disseram não ter medo dos “papéis principais”, posição que tanto visa honrar o passado como criar condições para que os ideais do associativismo sejam comungados, efectivamente, pelas classes mais jovens e não sirvam apenas de motivo para verborreias fáceis e estéreis debitadas em ultraromânticas sessões solenes…”.

Nesse ano, as duas colectividades tavaredenses (Sociedade e Grupo) uniram-se para se apresentarem nas Marchas de S. João. “… Das nove marchas que desfilaram apenas quatro o fizeram para concurso. A primeira delas, da freguesia de Tavarede, envolveu o trabalho do Grupo Musical e Instrução Tavaredense e da Sociedade Instrução Tavaredense. Composta por cerca de 50 elementos, vestidos com as cores da cidade, amarelo e verde, a marcha de Tavarede fez uma alusão aos laranjais da localidade, famosos no século XVII.


‘Na Feira dos Malandrecos’

E porque as políticas já mexem, para não haver lugar a “interpretações erradas”, os organizadores distribuiram às pessoas um resumo descritivo da marcha. No panfleto podia ler-se que “a laranja de Tavarede teve fama no século XVII e chegou a ser exportada para Roma”. A marcha de Tavarede procurou, por isso, fazer referência aos laranjais, ao transporte do produto para vários pontos da Europa e ao “consumo das laranjas pelas entidades eclesiásticas romanas”. Cestas e caravelas cheias de laranjas e lampiões foram os elementos presentes na marcha que, com movimentos muito diversificados, encerrou o seu desfile com a abertura da laranja gigante. Lá dentro, uma jovem com uma pequena faixa identificava a origem da marcha…”.

Por sinal, a classificação das marchas deu muito barulho. O júri, que havia dado o primeiro prémio à nossa marcha, fez marcha atrás e classificou-nos em segundo, dando o primeiro a outra marcha concorrente.


Um estranho no Natal’

O aniversário seguinte, 1998, teve teatro juvenil e teatro adulto. Primeiro, os jovens apresentaram as peças “Na Feira dos Malandrecos” e “Um estranho no Natal”. Depois, e na primeira encenação de Ilda Simões, houve uma reposição. Foi com a peça ‘A Forja’, de Alves Redol, que já havia sido levada à cena 27 anos antes.



‘A Forja’

Facto curioso: o protagonista masculino, João Medina, representou o mesmo papel, o do ‘pai Malafaia’. E na sessão solene comemorativa do aniversário, foi prestada homenagem a este amador, que completava 50 anos de carreira no nosso grupo cénico. “… Vejo José Ribeiro por trás das cortinas”. Testemunho vivo de 50 anos de dedicação ao teatro, João Medina, no palco que fez parte da sua vida, não encontrou outra forma de agradecer que estas palavras: “Para aqui vim com 15 anos pela mão de José Ribeiro e ainda hoje o “pressinto” por trás daquelas cortinas a dar-me ânimo sempre que subo ao palco. E aqui andarei até cair nestas tábuas do “meu” teatro, como as árvores que morrem de pé”.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sociedade de Instrução Tavaredense - 80

“… Carpindo e choramingando a velha lá foi conduzida, à luz de archotes que teimavam em contrariar a chuva de “molha parvos”, até ao cadafalso, antecedida de um cómico julgamento, no palco da SIT. Não eram muitos os que acorreram à sala do Palácio da Justiça, e talvez por isso a velhota, de nome Ana Castanha Pilada, escutou o Juiz (que pelos vistos não saberá só de futebol…) declarar o corte como sentença final, talvez influenciado por uma bombástica testemunha. Claro que se ouviu o testamento, caseiro, para as pessoas da terra, a provocar alguns risos, não tantos quantos os necessários, o que parece vir a confirmar a falta de coragem… poética (só esta?) dos escribas”. Este apontamento vem a propósito do ‘Auto da Serração da Velha’ mais uma vez levado a efeito para cumprimento da tradição.
‘Auto da Serração da Velha’

Mas em 1996 cumpriam-se 10 anos da morte de José Ribeiro. Não esqueceu a data a Colectividade. “E José da Silva Ribeiro regressou a Tavarede na noite do passado sábado, tendo conseguido o milagre, cada vez mais inviável de concretizar, de esgotar a lotação possível da SIT, de tal forma que o nosso jornal (que se esquecera de marcar bilhete) passou a noite sentado (e bem) numa cadeira solta que, por simpatia da casa, conseguiu encostar a uma das paredes laterais da sala de espectáculos. Que bom seria que da próxima ida a Tavarede nos sucedesse o mesmo!

Como referimos na última edição de “O Figueirense”, no passado dia 13, sexta-feira, completavam-se dez anos sobre o falecimento de Mestre José da Silva Ribeiro, tavaredense que acreditamos ser o mais ilustre que a terra, dita do limonete, viu nascer. Dele não iremos ora traçar o bilhete de identidade de nobre cidadão, até porque, também no último jornal, já o fez – e com brilho – o dr. Pires de Azevedo. Apenas recordamos hoje que José da Silva Ribeiro tinha na Sociedade de Instrução Tavaredense o seu segundo lar, e que a sua gente (palavra para ele tão querida) era toda aquela que com ele criava e irradiava cultura através do Teatro, no palco e na plateia.

Pois bem, a sua gente, mesmo alguma que nunca viu o Mestre, marcou de forma extraordinariamente digna a saudade de 10 anos. E como o fez? Criando e divulgando cultura através do Teatro – tal como desde 1916 o fez Mestre José Ribeiro -. Pelas tábuas da SIT, num fim de semana super cultural, passaram os amadores de teatro da Chã, de Carritos e de Tavarede, prova provada que as sementes lançadas pelo homenageado, ao largo de uma vida, continuam a frutificar em agradável crescendo de vitalidade. Assistiu O Figueirense ao sarau inaugural deste ciclo de teatro e algumas notas, retiradas com certa emoção, terão certamente mais peso neste despretencioso apontamento de reportagem.




Cenas de ‘Lembranças’

E a primeira radica-se, desde logo, no facto da SIT não ter deixado passar em claro um evento que seria criminoso esquecer. Assinalou-o agregando à festa da gratidão mais duas colectividades teatrais da freguesia, numa divisão de honras que enobrece a SIT e, particularmente, a figura do evocado. Depois, já o escrevemos, não nos recordamos, mesmo olhando anos para trás, de encontrar na SIT uma casa tão repleta e tão participativa, verdadeiro oásis na desertificação que consome os campos da cultura.

Depois ainda, - reconfortante e esperançosa realidade – as nossas palmas ecoaram mais forte quando olhávamos para a quantidade de gente jovem – e talentosa – que os responsáveis da SIT tiveram a magia de apresentar em palco. Como Zé Ribeiro se sentiria feliz se pudesse (será que não pôde?!) aplaudir esta sua “nova gente”! Sem juventude não há futuro e de tal se aperceberam, até pedagogicamente, os continuadores do Mestre.

Uma palavra mais para os minutos “sofridos” pela plateia na primeira parte desta noite de evocação, quando em ecrã gigante se projectou parte de um filme no qual a personagem é o próprio José Ribeiro, falando de si, do Teatro, da SIT e “da minha gente”. O silêncio na sala durante a projecção da película e a bombástica ovação final… para bom entendedor. Mas, e o espectáculo?

Lembranças, de seu nome, ele é corporizado por um conjunto de curtas e variadas representações a que o Mestre em vida deu vida e que agora em palco (re)vivem com “gente velha e gente nova”, gente discípula directa do Mestre e gente (repetimos intencionalmente o termo) que José Ribeiro gostaria de ensinar. Também intencionalmente não falamos em nomes, pois tal não desejariam os amadores envolvidos nesta homenagem. Pensamos, finalmente, que este magnífico espectáculo, mesmo desatempadamente inserido na data que lhe deu razão de existir, necessitava de ser aplaudido uma outra vez, até porque certamente na SIT não esteve toda a “minha gente” de Zé Ribeiro”.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 79

A 15 de Janeiro de 1904, um grupo de homens simples de Tavarede fundou a Sociedade de Instrução Tavaredense tendo como principais objectivos – instruir e educar. Os tempos eram dificeis, mas estes homens perceberam que sem instrução e cultura não seriam cidadãos de corpo e alma. Por outro lado, esta colectividade foi bafejada pela sorte de ter entre os seus associados José da Silva Ribeiro, o tavaredense responsável pelo notável desenvolvimento da cultura neste espaço. Através do teatro ele ajudou muitos daqueles que com ele trabalhavam ou que somente assistiram aos seus espectáculos a encontrarem o seu sentido de vida. Os textos por si escritos ou por si escolhidos entre os grandes autores literários mostravam mensagens diversas, onde cada um se podia encontrar e defender a sua dignidade social.

Passados dez anos da sua morte, a Sociedade de Instrução Tavaredense continua a manter-se fiel ao propósito dos seus fundadores, reforçado por José Ribeiro. Por isso o teatro continua: a preocupação com a cultura está mais viva do que nunca. Assim, no dia 20 de Janeiro junte-se aos tavaredenses, assista à representação da peça de Luís Francisco Rebelo “O Dia Seguinte”. Neste texto o autor elogia a vida, fala dela como uma maravilhosa aventura, única e digna de ser vivida. Nestes tempos de alguns desencontros dos homens com o mundo, vá a Tavarede e reafirme o valor da sua vida nas palavras de Luís Francisco Rebelo: “O teatro deve ajudar os homens a viver”.

‘O Dia Seguinte’

Foi com esta peça que comemorou o aniversário de Janeiro de 1996. E em Fevereiro coube a vez ao Kiwanis Clube da Figueira da Foz homenagear a nossa colectividade, o nosso Teatro e José da Silva Ribeiro. Na reunião efectuada num restaurante da Figueira, a que assistiram diversos elementos responsáveis da nossa terra e da SIT, foram vários os oradores que historiaram a nossa actividade ao longo de tantos anos de existência. “… Claro que, para falar de José da Silva Ribeiro, lá estava a drª Ana Maria Caetano, a “filha” que ele não teve mas foi confidente, menina dos seus olhos, repositório vivo de muitos segredos que José Ribeiro jamais revelara.





Placa da Medalha de
José da Silva Ribeiro
(Átrio da entrada da SIT)







E a sua intervenção, qual oração ao Homem que durante 91 anos fez da liberdade uma opção, deixou comovidamente absortos os presentes que viram passar “o Homem de Tavarede”, o “Amigo da Família”, o “Político Assumido”, o “Filantropo”, o “Jornalista”, o “Escritor” e… o “Vulto de Teatro”. Com citações, confidências, anotações, conselhos, desabafos, ensinamentos e muito humanismo teceu, primorosa e devotadamente, a drª Ana uma imagem sublime desse Homem bom que legou aos vindouros exemplos tão nobres como trabalho, tolerância, fraternidade, liberdade.

O lutador que considerou o irreverente jornal “Voz da Justiça” sua glória e seu Calvário, fez da arte a sua Política, do palco de Tavarede “cátedra” de prestigiados amadores cénicos que deixavam confundidos famosos profissionais e “morreu de bem com a sua consciência” jamais poderá ser esquecido, afirmou a drª Ana que para remate da sua intervenção não encontrou melhor expressão que esta: = Resta-me a consolação de ter visto morrer um Homem de grande verticalidade”.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O Teatro em Tavarede - A minha teoria


Diz a tradição que foi Gil Vicente o “pai” do Teatro em Portugal.

Nascido em 1465, julga-se que em Guimarães, teve a sua primeira representação, como autor e actor teatral, no ano de 1502, com o Auto do Vaqueiro, em saudação à Rainha D. Maria, mulher do Rei D. Manuel I, pelo nascimento do seu primeiro filho varão, aquele que mais tarde seria o Rei D. João III de Portugal.

“Não foi infrutífera a semente lançada por Gil Vicente, representando os seus autos e monólogos no Paço da Ribeira, ante a Corte de D. Manuel. O gosto pela arte teatral ficou, sabendo-se que, logo no reinado de D. João III, se inaugurou em Lisboa um teatro nas “Fangas da Farinha”, nome porque era conhecido, na época, o local onde hoje estão instalados os tribunais da Boa-Hora”.

Não é o fim destas notas historiar o Teatro em Portugal. Interessa-nos, isso sim, procurar desvendar um pouco o mistério, porque, realmente, é um verdadeiro mistério, do gosto que, desde os tempos antigos, sempre houve em Tavarede por tão nobre Arte.
Lemos há dias, numa publicação de 1955, uma interessante notícia sobre o teatro amador português em que o seu autor se propunha acompanhar a esforço de “determinados grupos de amadores que representam um luz muito viva a pretender atravessar o nevoeiro que, desde há um certo tempo, caíu sobre alguns dos poucos palcos da nossa terra...”

E, então, escolheu para iniciar os seus trabalhos o grupo “duma modesta aldeia beirã, Tavarede...”, usando, a justificar a sua opção, um título, quanto a nós, felicíssimo: TAVAREDE - ALDEIA ESCOLA DE TEATRO.

É claro que, à data da notícia, só existia em Tavarede um grupo dramático, o da Sociedade de Instrução Tavaredense. Mas, na nossa terra, o teatro, embora tenha tido a sua maior actividade, nível e expansão, com esta colectividade, é bem anterior à fundação da S.I.T., conforme adiante se verá.

Pode considerar-se um atrevimento da nossa parte escrevermos a “nossa” história sobre o Teatro em Tavarede, depois de tudo quanto fez, nos ensinou e deixou escrito, o nosso ilustre e saudoso conterrâneo, Mestre José da Silva Ribeiro.

Mas, como já referimos anteriormente, a história da nossa terra ficaria incompleta se aqui não incluíssemos e procurássemos descrever com algum aprofundamento, as duas grandes tradições tavaredenses: o Teatro e a Música.

Certamente que poucas ou nenhumas novidades iremos dar àqueles que se têm dedicado a estes temas. As nossas buscas incidiram, forçosamente, sobre as mesmas fontes. Haverá, até, algumas repetições, mas não tendo nós encontrado em parte alguma uma teoria, pelo menos, que nos levasse às origens do Teatro em Tavarede, atrevemo-nos nós a formular uma. A memória daquele grande Homem de Teatro certamente nos perdoará a nossa ousadia.

Já no primeiro volume destas notas, e a propósito da história da nossa terra, fizemos algumas referências a um magnífico trabalho publicado no último decénio do século passado no jornal “Gazeta da Figueira” e a que deu o título de “Recordações de Tavarede”, o ilustre jornalista figueirense Ernesto Fernandes Thomaz, em que nos legou uma bela visão sobre a vida na nossa terra na última metade do século XIX.

Por agora temo-nos limitado a expurgar alguns retalhos que nos interessam para dar continuidade à nossa história. Mas, no volume quarto, tencionamos transcrever, integralmente, este e outros trabalhos que temos reunido e que se encontram dispersos em várias publicações, pois entendemos que serão de muito interesse.

Logo no início escreve:
“... Ahi pelos anos de 1865, tendo voltado d’umas voltas pela América, no primeiro domingo que tinha adiante, depois da chegada, ouvi falar uns rapazes amigos em uns theatros em Tavarede. Desde creança, um lamechas por por divertimentos de tal genero, acompanhei até lá os amigos e sem mais demora... a caminho de Tavarede”.

Mais adiante e sobre este assunto, deixou-nos escrito:
“... O José do Ignácio, havia sido também, em outro tempo, uma parte obrigatória em todas as sociedades dramáticas que vegetavam em Tavarede como tortulhos. Um pouco mais idoso de que os seus companheiros e procurado com o caracteristico, desempenhava os papeis de centro. A primeira vez que o vimos assim encadernado, foi em um theatrinho da rua Direita, que haviam encaixado em uma casa conhecida pela designação de - casa do Ferreira”.

Sabe-se, assim, de fonte segura, que em Tavarede, nos princípios da segunda metade do século passado, havia diversas sociedades dramáticas, que davam regularmente os seus espectáculos. E como eram estas sociedades dramáticas?

“... A plateia, que para o aproveitamento de maior número de espectadores havia sido construida em fórma de palanque, era engendrada por umas taboas manhosamente pregadas n’uns cunhos de madeira e estes por sua vez da mesma fórma ligados a uns postes de pinheiro inclinados contra a parede.

O pano de bocca, qualquer colcha, de chita, de padrão em labyryntho vermelho. A illuminação fazia-se por meio das classicas vellas de cebo espetádas em palmatórias de pau...”.

Como se adivinha, sendo mais que toscas, estas salas não ofereciam quaisquer condições. Tudo se improvisava. Os camarins, por exemplo, eram o quintal e os telheiros, nas trazeiras da casa, onde os actores e as actrizes se vestiam e caracterizavam no meio dos mais variados utensílios agrícolas, e que, nas noites frias do inverno, procurariam aquecer-se um pouco junto dos animais recolhidos nos seus estábulos, enquanto aguardavam a sua hora de entrada em cena.

No entanto apresentava-se teatro. Comédia e drama. E o povo assistia. Pateava ou aplaudia. Lemos algures que, em determinado ano e pelo Natal, se representaram em Tavarede, em simultâneo, seis presépios!...

Sabendo nós quantas pessoas são precisas para pôr em cena o Presépio, embora, admitamos, fossem um pouco resumidos em relação aos Autos Pastoris que ainda vimos representados em Tavarede, no palco da Sociedade de Instrução Tavaredense, cedido para o efeito ao Grupo Musical, fácil é calcular que toda a população de Tavarede estaria ligada ao teatro. Como amadores, como músicos e como pessoal do palco, ainda havia gente para esgotar a lotação das pequeninas salas de espectáculo. Muitos iam da Figueira e dos arredores, como vimos.

Ora, tudo isto, porém, nos leva aos inícios da segunda metade do século passado. E antes?

Com muita surpresa nossa, ao folhearmos um caderno de recortes de jornais velhos e relacionados com o teatro, encontrámos a seguinte notícia:

D. Francisco de Almada e Mendonça, marido de D. Antónia Madalerna de Quadros e Sousa - 10ª. senhora de Tavarede

Recuando até ao ano de 1771, data em que a Câmara de Tavarede foi mudada para a Figueira, conjuntamente com as suas justiças, lembrar-nos-emos que era então senhor de Tavarede, Fernando Gomes de Quadros. Rezam as crónicas que este fidalgo foi um verdadeiro tirano para com o seu povo, vivendo, praticamente, como um senhor feudal. Pelos escritos que nos deixou o ilustre investigador e historiador Dr. Rocha Madahil, e de que já publicámos alguns no primeiro volume, sabe-se que o povo vivia aterrorizado com tal fidalgo.

Não permitia as menores liberdades aos tavaredenses de então. Inclusivamente, basta recordar que ele e os seus lacaios não tinham pejo em invadir a casa dos pobres residentes, se desconfiasse que tivessem feito um simples forno para cozer o seu pão ou assar um pedaço de carne.
Será bastante difícil acreditar que, vivendo nessas condições, o povo tivesse qualquer disposição, ou liberdade, para teatros. Parece-nos, portanto, lógico admitir que o Teatro em Tavarede terá surgido entre 1771, data em que os fidalgos perderam o seu poderio, e 1865, ano em que Ernesto Fernandes Thomaz cá veio assistir a uns teatros...

Com muita surpresa nossa, ao folhearmos um velho caderno de recortes de jornais relacionados com o teatro, encontrámos a seguinte notícia:
“ A 13 de Maio de 1798 foi inaugurado o Teatro de S. João na cidade do Porto. Prestou este serviço à cidade o seu antigo corregedor Francisco de Almada e Mendonça”.

Este Francisco de Almada e Mendonça era “moço fidalgo do conselho de D. Maria I, senhor da Villa de Ponte da Barca, 1º. alcaide-mór de Marialva, commendador da ordem de Christo, desembargador do Paço, intendente geral das obras publicas das trez provincias do norte, superintendente do tabaco e saboaria do Porto, intendente da marinha da mesma cidade, corregedor perpétuo da sua comarca, juiz geral das coutadas do reino e havia nascido a 30(?) de Fevereiro de 1757, e fallecido em 1804”.

Deixou obra importantíssima na cidade do Porto, que o perpétuou dando o nome de Rua do Almada a umas das, actualmente, mais importantes ruas da cidade.

Mas... e o que tem, ou pode ter, tudo isto com o teatro em Tavarede?

Apenas isto: este poderoso fidalgo tinha casado, a 26 de Dezembro de 1791, com D. Antónia Magdalena de Quadros e Souza, 10ª. senhora de Tavarede.

Recordemos, parcialmente, o que, no Dicionário Portugal Antigo e Moderno, Pinho Leal escreve sobre Tavarede:
“... Tinha aqui o seu solar, o benemérito D. Francisco de Almada e Mendonça que, quando aqui residia. era a providência dos povos destes sítios. As senhoras da sua família deram muitos ornamentos para a igreja matriz, alguns dos quaes ainda existem, assim como a sua casa e quinta, hoje dos condes de Tavarede...”
Relacionando tudo isto, ocorreu-nos uma ideia:

Tendo sido um grande protector do teatro na cidade do Porto, aonde até mandou construir o Teatro de S. João, hoje Teatro Nacional de S. João, em edifício já reconstruído, pois o original foi destruído por um violento incêndio ocorrido na noite de 11 para 12 de Abril de 1918, não terá sido este ilustre fidalgo que, durante as suas longas estadias em Tavarede, tenha incutido no espírito dos tavaredenses o gosto pelo Teatro?

Ele, e a sua família, foram grandes amigos e beneméritos do pobre povo de Tavarede. Acreditamos que, tendo-os ajudado materialmente, terão, igualmente, promovido a sua cultura. E o teatro era, à época, um dos principais veículos culturais.

Aliás, os seus descendentes terão continuado a sua obra. Lembremo-nos que foi o seu bisneto, o terceiro conde de Tavarede, quem mandou construir no seu palácio um teatro. Deu-lhe o nome de outro dos seus avós: o Duque de Saldanha. Nos últimos dois decénios do século XIX e princípios do corrente, ali se representaram bastantes dramas e comédias. Por ali passaram grandes amadoras e amadores tavaredenses, dos quais basta recordar o nome ilustre de Almeida Cruz.

Será esta a realidade quanto ao aparecimento do teatro em Tavarede? Conforme dissemos é esta a nossa teoria. Errada ou verdadeira, a certeza que há é que também a chamada “Casa de Tavarede” teve um importante papel no desenvolvimento do teatro e da música na nossa terra.

Não foram somente tiranos ou déspotas, os fidalgos de Tavarede. Também, e até em grande maioria, foram figuras ilustres e honradas, amigas da nossa terra, donde alguns eram naturais. E esta ainda não deu qualquer prova de gratidão para com eles.Perpétuou, e com toda a justiça, outros nomes ilustres. Falta recordar para sempre o nome dos fidalgos de Tavarede numa qualquer rua, viela, praça, beco ou simples travessa.

Não é justo que a ilustre Casa de Tavarede seja somente recordada, e enquanto conseguirem resistir, pelas tristes ruínas do seu palácio. Quando estas ruírem totalmente, desaparecerá para sempre, nas gentes desta nossa terra, a memória daqueles que foram os senhores de Tavarede.

E terminemos este capítulo com uma frase do dr. Rocha Madahil e que bem simboliza a realidade: “mas a Figueira deve tudo o que é à velha torre de Tavarede”.

(Ao dar uma volta aos meus apontamentos mais antigos encontrei esta nota, e algumas outras, que julgo ter interesse. Aliás, este 'teoria' foi depois publicada no segundo livro de Tavarede - A Terra de meus Avós)

Joaquim Rodrigues

Nasceu no ano de 1902, filho de José Rodrigues e de Ana de Jesus, natural de Sernache dos Alhos, Condeixa, e faleceu em Tavarede a 12 de Novembro de 1994.

Vulgarmente, foi conhecido por “Joaquim do Padre”, pois havia sido o padre Manuel Vicente, seu padrinho, quem o trouxera para o seu serviço, ainda muito novo.

Em 1931 foi nomeado Guarda Campestre pela Câmara Municipal da Figueira, sob proposta da Comissão Administrativa Paroquial de Tavarede e, no ano seguinte, foi eleito membro da Junta de Freguesia, tendo, também, exercido funções de regedor.

Herdeiro do padre Vicente, descobriu, anos mais tarde, numa arca velha que se encontrava na adega de sua casa, diversos livros de registos de baptismos, casamentos e óbitos da paróquia, que estavam desaparecidos e que teve o cuidado de entregar ao professor Vítor Guerra, o qual se encarregou da sua conservação.

Casado com Estrela Melo Brandão Saraiva, tiveram a seguinte descendência: Armando, Sílvia, Maria e Ernesto.

Sua mãe, Ana de Jesus, morreu em sua casa, em Fevereiro de 1953, com a idade de 103 anos.
Caderno: Tavaredenses com História

António Francisco da Silva

Faleceu na Figueira da Foz, onde residia há bastantes anos, no dia 23 de Fevereiro de 1950. Era filho de Joaquim Francisco da Silva e de Ana da Costa, naturais da vizinha freguesia de Brenha, onde ele também nasceu.

Casou com Augusta Cruz, de Tavarede, para onde veio residir. Teve dois filhos: Adriano Augusto e José Francisco.

Exerceu actividade profissional de serralheiro, na Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, como montador de pontes do Serviço de Via e Obras.

Militou no Partido Republicano Evolucionista, sendo um dos responsáveis pela secção deste partido em Tavarede. Foi eleito, por diversas vezes, para a Junta de Paróquia, onde desempenhou os cargos de secretário, tesoureiro e presidente, assim como também foi nomeado regedor.

No campo associativo, fez parte da Sociedade de Instrução até ao ano de 1914. Por divergências, pediu a demissão e ingressou no Grupo Musical, no qual, como dirigente, teve importante desempenho, especialmente na compra e reconstrução da sede, em 1924.

Abandonou a actividade associativa quando esta colectividade foi forçada a vender a sua sede (1931) e acabou com a secção dramática.
Caderno: Tavaredenses com História

Abílio Simões Baltazar

Foi um dos três compradores da quinta do Robim, vendida, em 1914, pelos herdeiros de João António da Luz Robim Borges. Era natural de Almalaguês.

No dia 12 de Agosto de 1928, integrado numa excursão com pessoas de Tavarede e da Figueira da Foz, que se deslocavam a Fátima para participarem nas cerimónias religiosas que ali se efectuavam, foi uma das vítimas do acidente de viação ocorrido em Reguengo do Fetal, já próximo do seu destino.

Ainda foi conduzido ao Hospital de Leiria, mas, devido à gravidade dos ferimentos, foi transportado, horas depois, para a sua residência, na Vila Robim, onde faleceu instantes após a sua chegada. “O extinto, que sofreu dolorosamente em poucas horas, era um carácter probo, cheio de dignidade e dotado de excelente coração”. Contava 78 anos de idade e era casado com Maria José Pedro.

A propósito da compra daquela quinta, que estava montada com todo o equipamento necessário à exploração agrícola e pecuária, constou que, depois da aquisição e divisão dos terrenos, procederam ao levantamento de toda a instalação de rega, que, sendo a tubagem em chumbo, foi vendida, apurando, só nesta venda, um valor superior ao dispendido com a compra da quinta.
Caderno: Tavaredenses com História

Sociedade de Instrução Tavaredense - 78


Em 1995 foram as crianças da nossa terra que tiveram grande participação no nosso teatro, como intervenientes e como assistentes. Pela primeira vez, no nosso palco, houve ‘Teatro de Fantoches’, tendo sido apresentadas algumas pequenas peças, recordando-se, nessa ocasião, a figura carismática e bondosa do ‘Catitinha’, que foi um característico da Figueira nas décadas de 40 e 50. E, em complemento, foram representadas duas peças de teatro infantil, com encenação do amador José Medina.

E em Abril houve um espectáculo extraordinário. Foi feita a representação do ‘Auto da Serração da Velha’ (tragédia em camisa pelo motivo do vestido se encontrar na barrela, dizia o programa), ‘escrita pelo grande dramaturgo Marrada Bruto’. Era o prosseguimento de uma tradição tavaredense bem antiga. E, claro, o êxito foi enorme.


Teatro de Fantoches - ‘O Catitinha’

Nos meses do Verão, e aproveitando as férias escolares, o amador José Medina resolveu retomar a encenação de teatro infantil. Entre outras pequenas peças, ensaiou e representou a fantasia ‘Raminho de Limonete’, da autoria do saudoso amador José Fernandes dos Santos.

A propósito destes espectáculos, um velho admirador e amigo do nosso teatro escreveu no jornal ‘O Figueirense’ uma crónica que achamos interessante. “Haverá uns doze anos, numa leira de terra a escassas centenas de metros da Fonte de Tavarede, um sr. de seu nome José Lopes Medina, ajudava na apanha das batatas que sua mãe ali mandara “semear”. Falou-se de teatro e de José Ribeiro, como era natural, (já então José Medina era um actor-amador consagrado) e ouvi-lhe afirmar, num tom algo profético, que ainda um dia havia de ser ele a ensaiar uma peça de teatro.

Os anos foram passando, José Ribeiro deixou-nos (fisicamente, já se vê), a SIT (Sociedade de Instrução Tavaredense) continuou a proporcionar-nos bons espectáculos teatrais (sob a direcção da drª Ana Maria Bernardes) e chegou este verão com um modesto cartaz a anunciar que ia haver teatro infantil na SIT. Ao passar os olhos pelo referido cartaz noto que o “Raminho de Limonete” e o “Cavador”, haviam sido meus alunos no 5º ano de escolaridade no ano lectivo que há pouco findou. Porém, a maior surpresa vinha mais à frente: “Direcção de cena: José Lopes Medina”! Cumpria-se a profecia!



Cenas de ‘O Raminho de Limonete’

Se outros motivos não houvessem, bastariam estes dois para despertar a minha curiosidade pelo espectáculo. Abençoada curiosidade, que me levou a assistir a um espectáculo maravilhoso, óptimo len itivo para ultrapassar tanta coisa de negativo com que o dia-a-dia nos vai envolvendo. Quando em 1954 se festejaram as “Bodas de Ouro” da SIT, José Ribeiro publicou um livro onde se pode ler: “A actividade da Sociedade de Instrução Tavaredense tem sido conduzida por este pensamento: aproveitar do teatro a sua função recreativa, mas utilizando-o também como instrumento e meio de cultura… Procurou-se sempre que o grupo cénico exercesse influência no gosto do público, sem deixar que o mau gosto do público influisse na actuação do grupo cénico. Há uma linha de coerência, de dignidade artística, de brio moral e mental que se não deixou quebrar”.

José Medina, para além de ter conseguido uma boa actuação sob o ponto de vista artístico, teve o bom senso de escolher texto simples, de fácil e agradável compreensão e com “sumo educativo”, na medida certa, que, ao que julgo, se enquadram nos “estatutos” da SIT acima transcritos. Aliás, o “Raminho de Limonete”, da autoria de José Santos, cheira muito ao limonete de José Ribeiro: o diálogo entre a Cidade e a Aldeia, o Cavador, a Cigarra e a Formiga, etc., lembram-nos o tavaredense que durante várias décadas, através do teatro (o regime salazarento não o deixou voar noutras direcções) foi enaltecendo a sua “Dulcineia”, fazendo a apologia da vida simples e honrada ao mesmo tempo que promovia culturalmente os seus conterrâneos.


‘O Raminho de Limonete’

A idade dos actores vai dos 5 anos (Carlos Duarte) aos 20 (Pedro Maia). Este último é já um actor experimentado no palco da SIT. Parece que no próximo dia 16 de Setembro os pequenos-actores vão voltar ao glorioso palco de Tavarede. Seria bom que este espectáculo contasse com a presença de pais e professores, especialmente dos 3 ciclos do ensino básico, com vista à sua repetição para os alunos das nossas escolas. Trazer à SIT os alunos das Escolas da Figueira e das localidades onde não existem casas de espectáculos e levar o espectáculo aos palcos das restantes aldeias, penso que seria uma meta a atingir. Não quero terminar sem deixar aqui expressos os meus parabéns e agradecimentos a todos os que contribuiram para pôr de pé este espectáculo, e, muito especialmente, aos pequenos actores e ao sr. José Medina”.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 77

No dia 18 de Novembro de 1994 comemorou-se o centenário do nascimento de Mestre José da Silva Ribeiro. A colectividade e o seu grupo cénico de forma alguma poderiam deixar de assinalar a efeméride. E fizeram-no com enorme brilho, segundo os comentários publicados em diversa imprensa.

“… Com a lotação esgotada, a SIT assistiu, na noite do dia 18, ao regresso, às tábuas do seu palco, de Mestre José Ribeiro, sempre presente mercê de uma feliz encenação, que transportou para o palco objectos do Mestre, como a sua secretária, a sua cadeira, o seu candeeiro… o seu lugar de trabalho. Depois, bastaria um pouco de imaginação. E essa não faltou aos que conceberam esta representação, estas “Palavras de Uma Vida”, baseada em textos retirados do diário do homenageado, de passagens de algumas cartas, de peças que o Mestre levou à cena. Depois de tudo o que vivemos no dia 18 … Tavarede cantou os parabéns a José da Silva Ribeiro”.

Centenário do nascimento de José da Silva Ribeiro ‘Palavras de uma Vida’

O relatório da Direcção desse ano, refere, a propósito desta homenagem: “… gostaria de referir que se o êxito obtido com este espectáculo nos envaidece, também nos leva a sentir uma maior responsabilidade… … sabendo-se, pela experiência, que a defesa da tradição não significa, necessariamente, repetição, tudo faz supôr que a SIT esteja a escrever não só mais uma página na sua longa e rica história, como também tenha aberto o capítulo dedicado ao futuro. Mas o futuro não se mostrou nada fácil. E só com grande esforço e dedicação se tem conseguido manter em actividade a tradição tavaredense de fazer Teatro”.

“Antes do espectáculo houve uma sessão solene, a que presidiu o presidente da Câmara Municipal, e durante a qual vários oradores se referiram à vida e obra de Mestre José da Silva Ribeiro. Em nome da Sociedade de Instrução Tavaredense usou da palavra a presidente da Direcção drª Ilda Simões, que falou da herança nobre e rica legada por José da Silva Ribeiro e da responsabilidade de lhe dar o devido sentido, especialmente por falta de apoios financeiros, terminando com uma saudação especial ao homenageado. Este tom teria sequência na poética e tocante mensagem de Isaura Carvalho e prolongado na intervenção da drª Ana Maria Caetano que a rotulou como de gratidão e que desenvolveu com o comovido sentido autobiográfico devido a um pai espiritual.

Centenário do nascimento de José da Silva Ribeiro - Aspecto da sessão solene

A emoção cedeu lugar à razão quando foi lida mensagem do “Grande Oriente Lusitano” de saudação a José da Silva Ribeiro, na qual se destacava o papel na intransigente defesa dos valores da maçonaria e de como os soube pôr em prática na imprensa, na educação, na filantropia e no teatro… … O Dr. Deolindo Pessoa, homem de teatro que tem espalhado os conhecimentos adquiridos no TEUC por diversos agrupamentos nomeadamente o CITEC (Montemor-o-Velho) ou por terras de Lamego onde exerceu medicina, prestou homenagem ao saber e perseverança de José da Silva Ribeiro (sem esconder que as diferenças estéticas eram suplantadas pelo amor ao teatro) e pediu à Câmara Municipal que institucionalizasse o organismo coordenador das actividades teatrais do concelho, solicitado em 1986 aquando do 1º Encontro Regional de Teatro de Amadores organizado pelo Lions Clube da Figueira da Foz.

Na sua intervenção o presidente da Câmara Municipal, no que devia ter sido o encerramento da sessão solene, centrou a sua filosófica intervenção em torno da coerência e verticalidade da vida de José Ribeiro e da “probidade e profunda qualidade da sua pluridisciplinar e multifacetada obra” aspectos que em sua opinião cumpre analisar num sentido prospectivo e “não numa redutora perspectiva exclusivamente revivalista e panegírica”.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Até Deus querer, senhor Administrador!


Senhor Administrador!!! Era o meu cumprimento diário. Durante tantos anos...

Há muito que estou habituado a sair de casa, por volta das 9 horas da manhã, ir beber o cafézito (a indispensável bica) à Santa Maria e, logo a seguir, visita à Casa Salgueiro. Cumprimentava o primo Zé Cordeiro, a Lita e a Sílvia. Era o costumado "Bom dia, senhor Administrador! Então de que se queixa?". Ele encolhia os ombros e eu completava "De nada, graças a Deus!".

Quando, por qualquer motivo eu não aparecia por lá da parte da manhã, ficavam em cuidados e telefonavam a saber se havia algum problema... Já era um hábito velho.

Pois o senhor Administrador, o meu primo Zé Cordeiro, partiu agora para a tal viagem para a qual todos nós temos bilhete reservado. É curioso: era o mais velho de três irmãos e foi o último a partir. Tinha 88 anos, completados no passado mês de Setembro.

Era um homem extraordinário. Bom e educado, estava sempre receptivo para com todos, amigos ou simples conhecidos. A Sociedade de Instrução Tavaredense era uma das suas paixões. Aliás, o Zé Cordeiro vivia para a Família, para a sua loja e para a colectividade. Foi um grande colaborador de mestre José Ribeiro. '... Em Tavarede, naquele tempo, ainda não havia automóveis e, então, lá ia o Zé Cordeiro levar a Violinda, na vespa, a sua casa na Rua da Fonte. Já os amadores tinham regressado a suas casas depois do ensaio, e só eu e José Ribeiro e a Violinda, à minha espera para a ir levar... Algumas vezes aconteceu com uma outra amadora, por sinal muito boa a representar, a Inês, que vivia no Casal da Robala, ser acompanhada a casa, a pé, por José Ribeiro. Eu ia à Figueira levar a Violinda e depois regressava pelo caminho do Casal da Robala, ao encontro do Mestre. para o trazer de volta para sua casa. Vezes sem conta isso aconteceu...". Este retalho faz parte do depoimento que escreveu para o livro do Centenário da SIT. É suficiente para mostrar a sua dedicação àquela casa.

Chegou, agora, a sua hora. Deixa imensas saudades. Que descanse em paz, é o que sinceramente deseja este velho primo, companheiro e amigo.
A fotografia acima terá sido a última que tirou. Foi no seu estabelecimento, na Casa Salgueiro.