Em 1995 foram as crianças da nossa terra que tiveram grande participação no nosso teatro, como intervenientes e como assistentes. Pela primeira vez, no nosso palco, houve ‘Teatro de Fantoches’, tendo sido apresentadas algumas pequenas peças, recordando-se, nessa ocasião, a figura carismática e bondosa do ‘Catitinha’, que foi um característico da Figueira nas décadas de 40 e 50. E, em complemento, foram representadas duas peças de teatro infantil, com encenação do amador José Medina.
E em Abril houve um espectáculo extraordinário. Foi feita a representação do ‘Auto da Serração da Velha’ (tragédia em camisa pelo motivo do vestido se encontrar na barrela, dizia o programa), ‘escrita pelo grande dramaturgo Marrada Bruto’. Era o prosseguimento de uma tradição tavaredense bem antiga. E, claro, o êxito foi enorme.
Teatro de Fantoches - ‘O Catitinha’
Nos meses do Verão, e aproveitando as férias escolares, o amador José Medina resolveu retomar a encenação de teatro infantil. Entre outras pequenas peças, ensaiou e representou a fantasia ‘Raminho de Limonete’, da autoria do saudoso amador José Fernandes dos Santos.
A propósito destes espectáculos, um velho admirador e amigo do nosso teatro escreveu no jornal ‘O Figueirense’ uma crónica que achamos interessante. “Haverá uns doze anos, numa leira de terra a escassas centenas de metros da Fonte de Tavarede, um sr. de seu nome José Lopes Medina, ajudava na apanha das batatas que sua mãe ali mandara “semear”. Falou-se de teatro e de José Ribeiro, como era natural, (já então José Medina era um actor-amador consagrado) e ouvi-lhe afirmar, num tom algo profético, que ainda um dia havia de ser ele a ensaiar uma peça de teatro.
Os anos foram passando, José Ribeiro deixou-nos (fisicamente, já se vê), a SIT (Sociedade de Instrução Tavaredense) continuou a proporcionar-nos bons espectáculos teatrais (sob a direcção da drª Ana Maria Bernardes) e chegou este verão com um modesto cartaz a anunciar que ia haver teatro infantil na SIT. Ao passar os olhos pelo referido cartaz noto que o “Raminho de Limonete” e o “Cavador”, haviam sido meus alunos no 5º ano de escolaridade no ano lectivo que há pouco findou. Porém, a maior surpresa vinha mais à frente: “Direcção de cena: José Lopes Medina”! Cumpria-se a profecia!
Cenas de ‘O Raminho de Limonete’
Se outros motivos não houvessem, bastariam estes dois para despertar a minha curiosidade pelo espectáculo. Abençoada curiosidade, que me levou a assistir a um espectáculo maravilhoso, óptimo len itivo para ultrapassar tanta coisa de negativo com que o dia-a-dia nos vai envolvendo. Quando em 1954 se festejaram as “Bodas de Ouro” da SIT, José Ribeiro publicou um livro onde se pode ler: “A actividade da Sociedade de Instrução Tavaredense tem sido conduzida por este pensamento: aproveitar do teatro a sua função recreativa, mas utilizando-o também como instrumento e meio de cultura… Procurou-se sempre que o grupo cénico exercesse influência no gosto do público, sem deixar que o mau gosto do público influisse na actuação do grupo cénico. Há uma linha de coerência, de dignidade artística, de brio moral e mental que se não deixou quebrar”.
José Medina, para além de ter conseguido uma boa actuação sob o ponto de vista artístico, teve o bom senso de escolher texto simples, de fácil e agradável compreensão e com “sumo educativo”, na medida certa, que, ao que julgo, se enquadram nos “estatutos” da SIT acima transcritos. Aliás, o “Raminho de Limonete”, da autoria de José Santos, cheira muito ao limonete de José Ribeiro: o diálogo entre a Cidade e a Aldeia, o Cavador, a Cigarra e a Formiga, etc., lembram-nos o tavaredense que durante várias décadas, através do teatro (o regime salazarento não o deixou voar noutras direcções) foi enaltecendo a sua “Dulcineia”, fazendo a apologia da vida simples e honrada ao mesmo tempo que promovia culturalmente os seus conterrâneos.
‘O Raminho de Limonete’
A idade dos actores vai dos 5 anos (Carlos Duarte) aos 20 (Pedro Maia). Este último é já um actor experimentado no palco da SIT. Parece que no próximo dia 16 de Setembro os pequenos-actores vão voltar ao glorioso palco de Tavarede. Seria bom que este espectáculo contasse com a presença de pais e professores, especialmente dos 3 ciclos do ensino básico, com vista à sua repetição para os alunos das nossas escolas. Trazer à SIT os alunos das Escolas da Figueira e das localidades onde não existem casas de espectáculos e levar o espectáculo aos palcos das restantes aldeias, penso que seria uma meta a atingir. Não quero terminar sem deixar aqui expressos os meus parabéns e agradecimentos a todos os que contribuiram para pôr de pé este espectáculo, e, muito especialmente, aos pequenos actores e ao sr. José Medina”.
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