sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 17

1943

A SIT EM COIMBRA

O êxito continua...


Conforme noticiámos, o festejadíssimo grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, foi na passada segunda feira dar um espectáculo no Teatro Avenida, de Coimbra, com a consagrada fantasia “O Sonho do Cavador”, em récita de gala organizada pela Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Coimbra, em comemoração do seu 80º. aniversário.

A representação desta peça na cidade universitária, constituiu um retumbante sucesso, oferecendo a sala de espectáculos do Avenida, literalmente cheia, um aspecto imponente.

Os amadores tavaredenses honraram uma vez mais os seus pergaminhos, dando à representação da peça um admirável desempenho que lhes valeu da parte da numerosa e selecta assistência, expontâneas e prolongadas ovações, tanto nos finais de actos como durante a representação.


Ao director cénico, sr. José Ribeiro, foram prestadas apoteóticas manifestações, pela assistência, nos finais do 1º. e 3º. actos.


A Direcção da colectividade em festa, foi duma cativante gentileza para com a embaixada tavaredense, tendo no início do 3º. acto premiado os amadores da SIT com mais de 25 anos de serviço, com artísticas lembranças, e oferecido no final do espectáculo, um finíssimo copo-de-água na sua sede.


Registamos com satisfação mais este grande triunfo da “companhia”, e fazemos votos para que muitos mais conte – e contará, disso estamos certos, enquanto ao “leme” estiver a inteligência, o saber e a inquebrantável persistência de José da Silva Ribeiro. (Notícias da Figueira . 01.02)

A SIT EM POMBAL

Pela primeira vez nesta vila, mas, mais uma a fazer bem por terras de Portugal, o grupo cénico da Sociedade Tavaredense deu duas representações no Cine Teatro de Pombal, nos dias 19 e 20 do corrente.


Foram duas admiráveis exibições, a favor do Dispensário Anti-Tuberculoso local, que a todos encantou e, principalmente, deve ter surpreendido uma meia dúzia de pessoas que, sem nunca terem visto o grupo em questão, prepararam um mau ambiente, conseguindo que na primeira noite, na qual foi representada a soberba peça portuguesa “Entre Giestas”, tivessemos uma casa um pouco fraca.


Mas que impressão deve ter causado a explêndida exibição do Grupo, que justas e elogiosas referências não terão feito os espectadores dessa peça, para que no dia seguinte o espectáculo em que foi representada “A Recompensa”, do dr. Ramada Curto, registasse uma enchente, não havendo um só bilhete que ficasse por vender.


De parabéns devem estar os indivíduos que conseguiram trazer cá tão humanitário como competente grupo dramático, que, embora constituído por amadores, podem sem receio de desmentido, comparar-se a muitas companhias de bons artistas profissionais.


Palmas inúmeras, principalmente quando a menina Teresa Paiva entregou à alma do Grupo que é o José da Silva Ribeiro, um lindo ramo de flores, como recordação da sua passagem pelo palco do teatro desta vila.


Em agradecimento aos cumprimentos do sr. dr. Blanc Paiva, mui digno director do Dispensário, falou o director do Grupo, que a todos encantou com a sua palavra fácil e sincera, quando, verdadeiramente comovido, falou das razões que o levaram a vir cá e também da alma e sentir da gente humilde, mas honrada, da linda terra do limonete.


Que breve voltem a esta linda vila, são os votos que fazemos, impacientes por novamente os aplaudir. (Notícias da Figueira – 06.26)

RECORDAÇÕES DE TAVAREDE

Rua Direita acima e caminhando até o Paço, encontra-se á esquerda o caminho chamado da Varzea, no começo do qual procurámos, para o lado do nascente, uma capella que o falecido João Anselmo da Silva Soares havia mandado erigir, um pouco adiante da sua casa de quinta, de que já fizemos mensão no principio d’este escripto. A capella era no estilo gothico, com a frente forrada a cantaria, tendo de extensão pouco mais de quatro metros e de largura uns tres. João Anselmo quiz ali dar repouso eterno a um filhinho, unico, cremos, que lhe havia morrido em tenra edade, não havendo conseguido isso por se oppôr o prelado diocesano d’essa epocha.


Aonde julgámos encontrar ainda o pequeno monumento, só encontramos os restos das paredes, de pouco mais de oitenta centimetros de alto acima do terreno. O camartello demolidor, que não o tempo, havia ali empregado a sua acção.


Pela frente da capella via-se uma vasta eira, que nos deu a entender que, ella, não tendo chegado a servir para o fim piedoso a que o seu fundador a havia destinado, tinha acabado por servir de... palheiro.


E visto que fallamos d’esta capella recorda-nos uma outra, que existiu, tambem para o lado poente de Tavarede. Era situada no cruzamento do caminho directo d’esta cidade aos Condados, e que d’aquelle que vae de Tavarede a Buarcos, proximo da quinta de Luiz Antonio de Sousa e a uns quatrocentos metros para o lado do poente de Tavarede.


Existiu sob a invocação do Senhor da Arieira ou do Arieiro, naturalmente por ser edificada em um logar aonde o povo ia extrahir areia ou saibro para construcção de alvenarias. Em 186.. só existiam d’ella, no local, uns restos de alicerces e algumas pedras apparelhadas, soltas. Mais nada.


Contava-se na povoação que havia sido interdicta e depois demolida em virtude d’um sacrilegio commetido: Um desvairado qualquer foi em uma noite pendurar um enxalavar de carangueijos sobre uma cruz que lá existia, profanando assim aquelle logar sagrado, e d’ahi a interdicção.


O povo de Tavarede attribuiu o sacrilegio a algum pescador de Buarcos.


Ao certo nada sabemos d’esta narrativa, contentando-nos apenas da dicção da tradicção como era contada entre o povo das proximidades da capella.


* * *

Voltando ao local da capella de João Anselmo, de que antes fallámos, e andando um pouco para sul no caminho da Varzea encontra-se uma azenha, que é movida pelas aguas vindas do lado da egreja de Tavarede, as quaes atravessam todos os quintaes das casas situadas do lado do sul da rua Direita.


A azenha de que fallamos é antiquissima, não sendo fora de proposito assignar-lhe a provecta edade de tres a quatro seculos de existencia. Dão-lhe actualmente a denominação de azenha do Cascato, pelo seu arrendatario ter um appellido similhante; anteriormente habitava n’ela José Cordeiro, que por muitos annos a trouxe de arrendamento.


* * *

Devido á obsequiosidade do sr. João Santos, de que já algures fallámos, veio-nos á mão a copia d’uma inscripção que existe no côro da egreja de Tavarede e que reproduzimos:

C O 13
V M

Salvo melhor interpretação cremos que diz: coração de Maria, anno 1:300.


Será esta a era da fundação da egreja, ou a de alguma reconstrucção posterior? Inclinamo-nos mais á segunda das supposições; porque não nos parece plausivel que uma povoação antiquissima de que reza a historia corva da monarchia, estivesse sem um templo religioso até dois seculos depois da sua fundação e demais, em tempo em que a egreja cathequisando e talando montes e valles a espalhar as suas doutrinas em combate ás infieis, não perderia um momento em alçar um campanario aonde houvesse uma lareira - um povo a chamar aos seus reditos. (Gazeta da Figueira - 24.06.1896)

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

RECORDAÇÕES DE TAVAREDE

Na casa da rua Direita que apontámos ultimamente e aonde habitava o fallecido velho Aguas, está hoje o digno parocho da freguezia, sr. Joaquim da Costa e Silva, um ornamento da vida ecclesiastica, que bem concebe, perante a sciencia do seculo, qual o seu logar como padre e como cidadão.


Padres assim não destroem; moralmente - edificam.


Cremos que a primeira parochia onde esteve foi a da Ereira, freguezia do concelho de Montemor-o-Velho, e isto ha proximamente quatro annos.


Actualmente é tambem vereador da camara municipal.


E já que falamos de padres, indicaremos os que ha meio seculo a esta parte teem parochiado em Tavarede.


Esteve ali o padre Bernardo da Silva, frade, natural de Brenha, que morreu ha trinta e tantos annos.


Ainda n’esta cidade conhecemos uma sobrinha por nome Henriqueta, que vive, assim como ainda existe familia d’elle em Brenha e n’uma das cidades do sul do Brazil.


Seguiu-se-lhe o padre Manuel da Cunha, homem talhado pela sua bonhomia (até demasiada) para pastor de ovelhas n’uma aldeia. Um padre que sabia alliar os seus deveres da egreja com a lhaneza carinhosa e affavel que particularmente dispensava, sem distincção, a todos os seus parochianos.


Conhecemol-o a primeira vez em um casamento que lá se fez do fallecido commerciante José da Silva Fonseca. Vivia então com duas irmãs.


Esteve algum tempo depois no Brazil, Amazonas, aonde parochiou uma duzia d’annos, voltando a Portugal e á povoaçãosinha que o estimava e respeitava dedicadamente. Ainda hoje n’ella vive, socegadamente, respirando uma atmosphera de bençãos d’aquelle povo.


O padre Manuel da Cunha teve inimigos como nenhum homem estará livre de os ter. O tempo... vingou-o!


É costume dizer-se: os garotos só atiram pedras ás arvores carregadas de fructos...


Em 186.. foi parochiar a egreja de Tavarede o padre Francisco Ernesto da Rocha Sennas. Era de Ilhavo; constando-nos que ainda o anno passado vivia n’uma povoaçãosita das proximidades da sua terra natal.


Não era mau padre, muito popular, resentindo-se um pouco da sua novidade derivada do estudo do que é o mundo, a sociedade - do que tudo isto é.
Ingenuo, ou... ?


A politica, por sua conveniencia ou por qualquer outra razão fóra do alcance das nossas apreciações, preparou-lhe desgostos, descrenças, e o padre Sennas teve que abandonar a sua parochia.


Foi depois o padre sr. Joaquim José de Figueiredo, sacerdote serio e quasi exemplar, se com facilidade se podessem fazer qualificações sem melindrar outras entidades. Tambem um bom padre.


Alguma cousa que de Tavarede diz o Diccionario Chorographico de Pinho Leal, continuado depois da morte do seu primitivo auctor pelo erudito abbade de Miragaya, deve-se ao padre Figueiredo; apezar de que, algumas leves inexactidões existem nos apontamentos por elle fornecidos para a obra. Se algumas vez podermos, trataremos d’ellas, sómente na ideia de encher uns lapsos de historia, alheiados do proposito de deprimir o valor do que escreveu o padre Figueiredo.


Este padre era irmão do nosso fallecido prior Eduardo Jozé de Figueiredo, que aqui morreu em 1870 e tantos, descendo á campa abençoado por todos os que o conheciam. Era um bom homem.


O padre Joaquim Jozé de Figueiredo está hoje parochiando na egreja de Santa Luzia de Lavos.


Tambem teve Tavarede como parocho o sr. Antonio Augusto da Silva Nobreza. Não entraremos muito na sua biographia por que uma vez escrevemos uma graças contra elle.


N’este presuposto podemos ser taxados de parciaes...


Dizem os seus amigos - que era bom amigo, attencioso, e um parocho digno; e nós só acrescentaremos de nossa casa, pelo que temos ouvido: que foi mais politico do que padre.~


* * *

Aqui terminamos hoje, com a resenha abreviada dos parochos que Tavarede tem tido até á actualidade e fechando por agora para não intercalarmos um assumpto diverso sobre outras cousas em que teremos de falar. (Gazeta da Figueira 20.06.1896)

Teatro da S.I.T . - Notas ecRíticas - 16

1942

O SONHO DO CAVADOR

Com uma grande concorrência de espectadores realizou-se no Teatro do Casino Peninsular, na noite de sexta-feira, a anunciada récita pelos apreciados amadores de Tavarede, e com a representação da peça “O Sonho do Cavador”, original de José da Silva Ribeiro e ornada de música original e coordenada pelo “maestrino” António Simões.


O desempenho, por parte de todos os amadores, agradou ao público. A peça, que é um hino ao trabalho, está escrita por mão de mestre, e enriquecida com lindos cenários do artista Rogério Reynaud. Os coros sobressairam pelo seu volume de vozes e boa afinação. Também a orquestra estava composta de maneira a oferecer um agradável conjunto.


O “Sonho do Cavador”, com uns leves retoques que os seus autores devem ter em vista, depois desta representação, é uma peça regional digna de figurar como elemento que represente o teatro popular da nossa terra e seu concelho.


No final do espectáculo os aplausos foram calorosos, sendo chamados ao palco José Ribeiro e António Simões, que o público brindou com aplausos ainda mais calorosos. (Notícias da Figueira – 04.18)

TEATRO DE AMADORES

A Sociedade de Instrução Tavaredense, da vizinha povoação de Tavarede, acaba de ter mais um sucesso com a representação da peça “Recompensa” do brilhante escritor dr. Ramada Curto, e que foi à cena no Teatro Avenida de Coimbra.


Toda a imprensa da cidade Universitária é unânime nos elogios dirigidos aos modestos mas conscienciosos amadores ensaiados pelo distinto jornalista José da Silva Ribeiro.


No intervalo do 1º. para o 2º. acto o sr. dr. Armando de Lacerda, professor da Universidade, saudou o grupo num primoroso discurso, ao qual respondeu em agradecimento o nosso conterrâneo José Ribeiro de uma forma que lhe resultou uma prolongada ovação, continuação da que havia sido feita ao ilustre professor universitário.


A “Sociedade de Defesa e Propaganda de Coimbra” ofereceu ao grupo de Tavarede, para ser colocado na sua sede, um artístico lampeão trabalhado pelo sr. Albertino Marques, hábil artista conimbricense. (Notícias da Figueira – 06.06)

GÉNIO ALEGRE, NA FIGUEIRA

Na última sexta-feira realizou-se no elegante teatro do Casino Peninsular uma récita com a representação da encantadora peça em 3 actos – “Génio Alegre” – dos célebres comediógrafos espanhois Irmãos Quintero, e desempenhada pelo apreciadíssimo grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, da vizinha povoação de Tavarede.


A casa encontrava-se quasi cheia e a assistência era composta na sua grande maioria por famílias banhistas, que aplaudiram com entusiasmo os amadores tavaredenses, que deram à peça um grande relevo, distinguindo-se nos seus papeis a excelente amadora D. Violinda Medina e Silva e o distinto amador Manuel Nogueira.


O conjunto é esplêndido e todos os amadores, consoante os seus papeis, concorreram para que a linda peça fosse ouvida e apreciada com toda a atenção por uma assistência estranha ao nosso meio.


O mesmo grupo de amadores de Tavarede representa amanhã no teatrinho da Associação Naval 1º. de Maio a muito aplaudida fantasia – “O Sonho do Cavador” – que é ornada de linda música e tem já um grande número de representações.


É grande o interesse por esta récita e decerto a casa de espectáculos da popular associação registará mais uma enchente. (Notícias da Figueira – 10.03)


O SONHO DO CAVADOR

No teatrinho da Sociedade de Instrução Tavaredense, realizou-se no passado sábado, mais uma representação - a 50ª. - da festejadíssima fantasia “O Sonho do Cavador”, a peça que esta época esgotou as lotações dos teatros Peninsular e da Associação Naval, da Figueira, e dos Caras Direitas, de Buarcos.


Para solenizar tal acontecimento - pois não é vulgar em teatro de amadores uma peça atingir tal número de representações, foi pela Direcção da S.I.T. e pela sua Secção Dramática prestada uma singela mas significativa e merecida homenagem, no final do 2º. acto, aos grandes amigos da colectividade, srs. José da Silva Ribeiro e António M. Oliveira Simões, respectivamente autores do poema e da partitura do “Sonho do Cavador”.


O distinto advogado, sr. dr. Lontro Mariano, focou num belo improviso a carreira gloriosa da peça, desde a sua estreia naquele mesmo palco, onde, volvidos catorze anos, se consagravam as suas bodas de ouro.


Felicitou aos autores da peça pelo êxito alcançado e evocou a saudosa memória de João Gaspar de Lemos - um dos maiores artífices daquela bela obra.


Uma prolongada ovação coroou as palavras de sua exª., a quem o sr. José Ribeiro agradeceu em nome dos autores, afirmando que “Gaspar de Lemos não estava presente em pessoa mas estava, com certeza, em espírito”.


A orquestra executa o hino da Sociedade, sobre o palco chovem perfumadas pétalas de flores e a assistência, como que electrisada com tão sublime, e inesquecível quadro, irrompe numa frenética ovação.


Toda a representação da peça decorreu com desusada animação, tendo sido dispensados fartos aplausos a todos os intérpretes.


No dia seguinte, domingo, realizou-se uma piedosa romagem ao túmulo onde repousam os restos mortais de João Gaspar de Lemos, no cemitério desta localidade.


Sobre a sua campa foram depostos inúmeros ramos de flores, singelo preito de saudade dos componentes do Grupo Cénico, por quem o extinto votava um acrisolado amor.

O Director Cénico, proferiu algumas palavras de saudade, tendo sido guardado um minuto de silêncio em memória de tão saudoso amigo.


Durante esta cerimónia não foram esquecidos os nomes de dois ilustres filhos de Tavarede - dr. José Gomes Cruz e Manuel Jorge Cruz.


Sobre as suas campas foram deixados alguns ramos de flores. (Notícias da Figueira – 10.17)


SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE

Conforme noticiámos na nossa última “carta”, deslocou-se no sábado passado à Pampilhosa, o apreciadíssimo grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, afim de ali realizar dois espectáculos – no sábado, em “soirée” e no domingo, em “matinée” -, com a peça em 3 actos, “Recompensa” original do dr. Ramada Curto, a favor da beneficência daquela vila.


Por informações colhidas, soubemos que os amadores tavaredenses se portaram admiravelmente, desempenhando com impecável correcção esta tão encantadora obra do teatro português.


A assistência que encheu o teatro nos dois dias, premiou com prolongados aplaudos a brilhante actuação dos tavaredenses.


Congratulamo-nos com o facto. (Noticias da Figueira – 10.24)


O SONHO DO CAVADOR

No teatro da Associação Naval 1º. de Maio, dessa cidade, realizou-se no passado domingo, o anunciado espectáculo com a “réprise” da lindíssima fantasia “O Sonho do Cavador”, em última representação desta época.


Conforme tinhamos previsto, o teatro da popular colectividade registou mais uma grande enchente, tendo a numerosa assistência premiado com vibrantes aplausos o correcto desempenho dos amadores tavaredenses, dentre os quais, justo é destacar, a distintíssima amadora, srª. D. Violinda Medina e Silva, pela sua arte, alegria e vivacidade.


A sua descrição da “Madrugada” foi simplesmente magistral.


A festejadíssima fantasia sai assim do cartaz da presente temporada, em pleno êxito.

A récita realizada no sábado, na sede, também registou grande concorrência e animação. (Notícias da Figueira – 10.31)

A SIT, NA PAMPILHOSA

À benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense, foi prestada uma simpática homenagem pelo povo da Pampilhosa, aquando da recente visita do grupo cénico àquela vila.


Num dos intervalos da representação da peça “Recompensa”, foi descerrada uma placa em pedra mármore com a seguinte inscrição:


“À Sociedade de Instrução Tavaredense – Homenagem do Povo da Pampilhosa – 17-10-1942”.


Usou da palavra, o mui digno professor da Pampilhosa, sr. Firmino da Costa, tendo agradecido em nome da SIT, o director do grupo cénico, sr. José da Silva Ribeiro.


É mais um padrão que ficará a perdurar, lembrando aos vindouros a acção benemerente da SIT, já tão largamente espalhada pelo nosso país. (Notícias da Figueira – 10.31)
SOCIEDADE DE INSTRUÇÃO TAVAREDENSE

Para a história:
“TEATRO – Na região existem vários grupos dramáticos cuja actuação só merece elogios. Elogios pela actuação – louvores pela persistência. Um, o de Tavarede, que já nos deliciou, teria público em Lisboa.


Porque não tentam? Sempre era uma afirmação de sensibilidade artística, que trazia vantagens”.


O que deixamos transcrito, não é da nossa “lavra”.


Ainda bem. (Notícias da Figueira – 11.07)

O GRUPO DE TAVAREDE – ANÁLISE SINCERA

Pela segunda vez assisti a uma representação do Grupo de Tavarede: “Entre Giestas”, de Carlos Selvafem, peça bem portuguesa característica.


Como equilíbrio é do melhor que conheço.


Convencionado que a amadores não se pode pedir a “presença” que se exigira a profissionais, são desculpáveis – e justificáveis – certas deficiências, cuja supressão contribuiria para valorizar, ainda mais, o simpático agrupamento.


Admirador fervoroso do trabalho, da persistência e da dedicação – é um manancial inesgotável de dedicação o “quadro” de Tavarede – citarei, ao acaso, o que se me afigura merecer acolhimento atencioso.


Não se “põem” em cena, com facilidade, dezenas de figuras. Quantas horas perdidas, paciência atormentada, sistema nervoso alterado!...


Porém, porque nem sempre há a franqueza para se apontar com lealdade – e vá, permita-se-nos… - com conhecimento de causa, alguns pormenores que contribuem para anular o brilho da representação, tem-se persistido em manter o que se deveria eliminar.


Comecemos pelo princípio.


É de louvar, e daqui aplaudimos a iniciativa, digamo-lo assim, de iniciar o espectáculo a hora prefixa, com o aviso prévio de a autoridade poder impedir o acesso de espectadores.


De acôrdo e mais aplausos, com os desejos, sinceros, de que a medida faça escola.


Mas é de admitir aquela enormidade de intervalos? A categoria do grupo carecia já de carpinteiros aperfeiçoados, embora amadores, que demonstrassem, praticamente, a maior presteza.


Por outro lado – estou a escrever de um modo geral – os intérpretes dão a nítida impressão, o que se deveria evitar, do pêso das responsabilidades que lhes assenta sôbre os ombros; “o grupo é de categoria, é imprescindível continuar prestigiante”, e febrilmente aguarda-se a “deixa” para se despachar, velozmente, o diálogo.


Engeita-se a responsabilidade para se salvar a honra, pessoal, do convento… E nasce assim o mastigar de frases, a repetição de palavras, que nunca foi de bom efeito teatral.


Falemos, agora, duas linhas, apenas, de Violinda Medina, que possui, reconheço, admirável intuição. “Sente e sofre” em canea. É admirável, por vezes, em algumas arrancadas. Já a vi “estarola” e em “mulher de sentimentos”. Vibra, chora e ri com facilidade. Um pequeno-grande senão: utiliza sempre a mesma tonalidade de voz, perdendo, assim, lindos efeitos dramáticos.


Um pequeno esfôrço, treimo, facultar-lhe-á, em pouco tempo, dispôr de excelentes recursos que permitirá afirmar-se, sem favor, que Violinda Medina é uma amadora que não haveria desdourose pisasse os melhores palcos nacionais.


Dos homens, o mastigar. Há “características” interessantes, aos quais se solicita, somente, serenidade. A tal presença de espírito… Das mulheres, há muitas que agradam.


É a minha admiração pelo simpático agrupamento que motivou estas considerações.


Não é de estranhar que se encontre espírito de dizer mal. De boas intenções está o inferno cheio…


Informaram-nos que o grupo já apresentou na mesma peça, melhor actuação. Talvez… Há horas felizes… (O Figueirense – 11/25)

A SIT EM TOMAR

O grupo cénico da SIT averbou mais um grande e indiscutível triunfo na sua recente deslocação à cidade de Tomar.


Os tomarenses foram mais uma vez de uma gentileza sem limites para com os tavaredenses, acorrendo em massa à estação do caminho de ferro e prodigalizando aos visitantes uma entusiástica recepção.


Depois da chegada formou-se um extenso cortejo até ao hotel, encorporando-se no mesmo, as colectividades locais com os seus estandartes e duas bandas de música.


Os amadores tavaredenses deram à representação das duas peças – “Envelhecer” e “Recompensa” – um desempenho magistral, arrancando à numerosa assistência, que encheu totalmente nos dois dias o teatro, frenéticas ovações.


A “Recompensa”, especialmente, talvez por se tratar de uma peça em que a sua acção decorre num meio fabril e por consequência dentro do ambiente da terra, foi por mais de uma vez interrompida na sua representação, por expontâneas e entusiásticas manifestações.


O êxito da bilheteira foi completo. Inúmeras pessoas ficaram sem bilhete, chegando-se a meter empenhos para os conseguir.


Em face de tal sucesso, foi solicitado ao director cénico a realização de um terceiro espectáculo, o que infelizmente se não poude conseguir, devido aos compromissos dos componentes do grupo.


Ao grupo foi oferecido na sede da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, depois de terminado o segundo espectáculo, um finíssimo e abundante copo-de-água, seguido de um animadíssimo baile, que terminou altas horas da madrugada.


Congratulamo-nos com mais este grande triunfo alcançado por esse punhado de rapazes e raparigas de boa-vontade, que constituem o grupo cénico da SIT – o melhor “cartaz” de propaganda desta encantadora terra do limonete.


No próximo dia 21, lá o teremos no Teatro Avenida de Coimbra, colaborando nos festejos aniversitários da benemérita colectividade coimbrã – Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Coimbra.


Subirá à cena, uma vez mais, a peça das multidões, - “O Sonho do Cavador”. (Notícias da Figueira – 12.12)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Teatro da S.I.T - Notas e Críticas - 15

1941

GÉNIO ALEGRE

Amanhã, domingo, realiza-se uma recita no elegante teatrinho da Naval, subindo à cena a encantadora peça em 3 actos dos consagrados escritores espanhois, Irmãos Quintero, “Génio Alegre”, representada pelo aplaudido grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense.


“Génio Alegre” é uma das mais belas peças da vasta obra de Joaquim e Serafim Quintero. Trata-se duma comédia sã, alegre, recheada de graça e de ternura, verdadeiro hino à alegria de viver. A sua representação pelo grupo tavaredense constitui um espectaculo de bom cunho artistico, saudavel e optimista.


Esta admiravel peça quinteriana é representada no palco da Naval com todo o rigor de montagem com que o foi já no Teatro Peninsular, desta cidade, no Teatro Avenida, de Coimbra e no Teatro de Tomar, com exito notavel.


O lindo cenário é um trabalho primoroso que honra o distinto Artista Rogério Reynaud.


Nota – A Direcção previne os sócios de que o espectaculo começará rigorosamente à hora marcada, podendo ser impedida a entrada no salão depois de subido o pano. (Jornal Reclamo – 02.15)

UMA LINDA PEÇA PELO GRUPO TAVAREDENSE

Prosseguindo na sua tão louvável actividade, a benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense vai no dia 18 apresentar-nos a sua segunda peça deste época: depois da obra vigorosa, fortemente dramática que há pouco aplaudimos, o admirável drama de Marcelino Mesquita – Envelhecer, o grupo cénico tavaredense representará no teatro do Peninsular o Sonho de uma Noite de Agosto, uma peça encantadora, leve, risonha, polvilhada de graça e ternura. Trata-se de mais uma peça do célebre dramaturgo espanhol Martinez Sierra, o autor dessa adorável obra-prima de lirismo teatral que é a Canção do Berço, que também já nos doi dado admirar pelo grupo tavaredense.


Sonho de uma Noite de Agosto são três actos aliciantes, em que a alegria e o bom humor caminham a par em cenas hábilmente construídas, através dum diálogo vivo e espirituoso, constituindo um espectáculo são, alegre e de excelente lição moral.


As admiráveis qualidades da peça são correspondidas por um desempenho brilhante por parte dos amadores tavaredenses e por uma montagem cénica primorosa, em que não é descuidado o mais insignificante pormenor no arranjo das cenas.


Os bilhetes estão já à venda na Tabacaria Africana, podendo contar-se com uma enchente no Peninsular, na noite de 18 do corrente. (Jornal Reclamo – 04.12)

GÉNIO ALEGRE

A importante função social da Obra da Figueira nãr carece de ser exaltada, tão patente está aos olhos dos figueirenses; e igualmente são de todos conhecidas as enormes dificuldades com que luta a benemérita instituição para manter os seus asilos de crianças e velhos. Ao inevitável acréscimo de despesas não tem correspondido aumento de receitas, de tal modo que algumas vezes uma grave ameaça tem pesado sôbre os asilos: fechar as suas portas a novas admissões e, como se isso não fôra bastante doloroso, lançar à rua alguns dos velhos e crianças que ali encontram lenitivo aos azares da vida e até mesmo um certo bem-estar. Essa ameaça parece agora renovada, e por isso a Direcção da Obra da Figueira mais uma vez recorre à generosidade dos figueirenses.


Com o mesmo perfeito desinterêsse e elevado espírito de solidariedade com que tem auxiliado as outras instituições de beneficência da nossa terra, a benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense prontamente acorreu ao apêlo da Obra da Figueira: o seu grupo dramático representará na sexta-feira, 2 de Maio, no Teatro Peninsular, a encantadora peça “Génio Alegre”, obra-prima dos célebres Irmãos Quintero, que os amadores tavaredenses apresentam com uma brilhante montagem cénica, admiravelmente emoldurada em lindo cenário que é um dos melhores trabalhos do distinto artista Rogério Reynaud.


O espectáculo é, por si só, recomendável, pois a anedota, que se desenrola em três actos de boa técnica quintereana, é adoravel de graça, de ternura, de saudavel optimismo – verdadeiro hino à alegria de viver. Não admira que o Peninsular tenha uma enchente – e o facto justifica-se tanto mais quanto é certo que ao valor artístico do espectaculo se junta o seu fim altamente simpático. (Jornal Reclamo – 04.26)

RECORDAÇÕES DE TAVAREDE

Só por incidente trouxemos para aqui a data da existencia de salinas em Tavarede, pois que, disso tratando o sr. dr. Rocha no seu livro: Materiaes para a historia da Figueira (1873) diz: terem ellas existido anteriormente á monarchia, ahi pellos annos de 1147, ou 1109 da era christã, formando esta sua opinião em documento do Livro Preto da Sé de Coimbra, que falla de uma doação em que figura - unam marinam in foce Mondeco.


O que restará saber, porque não está averiguado, é, se essa marinha na foz do Mondego, estaria na proximidade da povoação de Tavarede, se mais ao sul, e no lugar aonde hoje ainda se encontram duas, ao norte do Matadouro. O mesmo caso de duvida encontramos, na situação das marinhas que D. Maria Petite doou ao convento das donas Pregaratas de Gaya, situadas em - Tavarede.


Muito longe teriamos de ir se tivessemos de seguir a este respeito o livro indicado, que dá elementos preciosos para a historia da Figueira e seus arredores, e com relação a salinas muito diz, sobre as da Morraceira (Insua da Oveirôa), Villa Verde e Tavarede.


* * *

Em uma planta que vimos ha annos, copia d’outra que existe no ministerio das obras publicas, está designada topographicamente - a Morraceira (?) justamente no logar occupado actualmente pela povoação do - Casal da Robala. A planta original é do anno de 1801. Erro do original? erro do copista? - Não sabemos.


Uma nova publicação, que segundo nos consta vae ser dada á luz pelo sr. dr. Rocha, nos poderá talvez dizer alguma cousa sobre o assumpto.


* * *

Adiante um pouco do logar que nos suggeriu a existencia das argolas, e uns motivos para flanar um pouco pela historia havia e ha duas casas na mesma rua, proximas do largo do Forno, que se a memoria nos não falha tem hoje de novidade os numeros 35 e 37 de policia. Pertenceram ao fallecido sr. Joaquim Alves Fernandes Aguas, operario tanoeiro, que ao mesmo tempo empregava algumas vagas do seu labor no trato do amanho da sua quinta do Pezo não muito longe situada ao norte da povoação.


Vivia ali com a sua prole, bastante extensa, filhos e filhas que foram creados senão com uma educação almiscarada de salão, pelo menos educados regularmente, bem morigerados, decentes e eivados de espirito trabalhador.


Ahi pelos annos de 1865 a 1872, veio essa familia laboriosa para a Figueira, e bafejada felizmente pela fortuna, representa no commercio local um importante nucleo, especialmente representada pela firma Aguas & Cª.


O fallecido Joaquim Aguas, era muito respeitado entre o povo da freguezia de Tavarede, exercendo no logar e por muitas vezes alguns cargos administrativos: - Regedor, presidente da junta da parochia, juiz eleito, etc.. Com o exercicio d’estes cargos havia-se contaminado da severidade do exercicio d’elles e era severo, sem embargo de ser um bom cidadão, bom chefe de familia e até - gracejador e amigo de divertir-se. Para elle um theatro, um presepe (costume nato de Tavarede) eram o cumulo dos seus divertimentos. Em uma das suas casas que apontamos, lá instalou um theatrinho seu, cerca do anno de 1864, em que elle, filhos e filhas entravam, representando, e o que é melhor é que - mulheres representavam d’homens e vice-versa.


Recorda-nos ainda de uma d’essas noutes agradaveis que lá se passaram.


A costumada troupe de rapazes da Figueira estava no seu posto de espectador. Alguns rapazes d’ella occupavam-se em ajudar, tocando n’uma orchestra adrede arranjada para satisfazer ás exigencias do espectaculo.


Na casa velha, vestiam-se as figuras e preparava-se o mise-em-scéne; na casa nova, havia o palco e a plateia, e a communicação d’uma para outra casa era feita por uma porta que dava para o fundo do palco. Havia-se esgotado o reportorio do prezepe e ia entrar em scena a comedia : - O marido victima das modas.


Os rapazes da Figueira encarregaram-se da mudança do scenario, mas, para fazerem uma partida ao velho Aguas e rirem-se no fim, collocaram os bastidores em sentido inverso, isto é, de pernas para o ar.


Tudo prompto... Panno acima...


Ninguem havia reparado no desarranjo do scenario, mas o velho Aguas, que, sentado na plateia, acompanhava passo a passo as phases do espectaculo, tendo reparado gritou: - Vá o panno abaixo!... panno abaixo!... E foi.


Dirigiu-se lá dentro á casa velha, zangado, fulo de raiva, e fez-nos uma apeporação tão apimentada que não era para rir; faltando pouco para que todos da Figueira fossem postos no meio da rua. Mantivemo-nos comtudo, um pouco mais sérios, rectificando no nosso espirito a ideia que formavamos do nosso velho Aguas, - de que elle estava sempre prompto a aturar-nos rapaziadas e a rir-se d’ellas.


D’ahi para diante teriamos de pensar que, dentro do seu theatrinho, nos deveriamos portar com o aprumo da seriedade, com toda a correcção de espectador gommé aliás... rua! (Gazeta da Figueira - 23.5.1896)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

RECORDAÇÕES DE TAVAREDE

Voltando d’esta digressão da egreja pela rua Direita, recordámo-nos d’umas argolas, firmadas em grossas lagens no pavimento da rua, ahi por pé da casa da Renda, de que o povo dizia terem servido para amarração de navios no tempo em que o Mondego alagava a grande planicie que desde a povoação se estende para o sul até á margem direita d’este rio, hoje, mais restricta.


Nem pelo sim, nem pelo não; devemos registrar esta tradicção local.


Muitas considerações teriamos que estender em pró e contra, fundados em probabilidades, porque afinal, como já temos dito, a história das terras no nosso concelho é um pouco problematica, attendendo-se á falta de dados seguros, devendo-se a um trabalho insano e agreste, alguma cousa que se sabe por investigação. Que o diga o sr. dr. Antonio dos Santos Rocha, que, louvavelmente tem trabalhado no assumpto, consumindo dinheiro tempo e paciencia, para trazer na publicidade umas noticias prehistoricas e historicas do nosso concelho.

É uma cousa corrente em geologia, que uma grande parte das planicies são formadas por terras de aluvião, desaggregadas dos montes visinhos, pelas correntes das aguas naturaes, das chuvas e nascentes. A bacia de Tavarede, a sua grande planicie deveria ter uma origem assim. O terreno em que a povoação assenta tem, approximadamente, quatro metros de nivel acima da baixamar das grandes marés no Mondego. Nada mais natural pois, que as aguas d’este rio se internassem entre montes até lá, e lá chegassem navios que entrassem a foz do Mondego. Como affirmar? Como negar? Teremos de ficar no campo das probabilidades á falta de dados positivos.


Uma escriptura do reinado de D. Sebastião, de há tres seculos, que vimos ha annos, encadernada em pergaminho, fallava de marinhas no logar de Caceira. Dizer hoje isto em face das transformações porque tem passado a crôsta da terra, e perante os que só veem o presente, é aventar uma heresia aos estranhos á sciencia. Folheando o diccionario Corographico de J. A. d’Almeida, impresso em 1886, em Valença, que não é dos mais volumosos, mas no entretanto dos mais fieis, encontramos a pag. 232 do 3º volume o seguinte, tratando-se de Villa Nova de Gaya: -”O convento das freiras Dominicas, foi sob a invocação de Corpus Christi, fundado em 1345, á custa de D. Maria Mendes Petite, na propria casa da sua residencia, e doado ás Donas Pregaratas, da ordem de S. Domingos de Santarém
.........................................................................................


D. Maria Petite dotou este convento com diversas propriedades em Villa Nova de Gaya; umas casas e herdade em Leiria; um terço d’outras herdades em Santarem; umas azenhas e marinhas de sal em Tavarede, etc., etc.


D. Maria Mendes Petite, era viuva de Estevão Coelho, e mãe de Pero Coelho, que foi um dos assassinos de D. Ignez de Castro, e ao qual D. Pedro I mandou arrancar o coração pelas costas.” (Gazeta da Figueira - 2.5.1896)

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 14

1939


(Durante este ano a actividade do grupo cénico da S.I.T. esteve, praticamente, parada devido à prisão, por motivos políticos, do seu director.)



1940

RÉCITA A FAVOR DO HOSPITAL

Na quarta-feira, 27 do corrente, vem o grupo cenico da Sociedade de Instrução Tavaredense representar mais uma vez, no Teatro Peninsular, a admiravel peça em 3 actos “Entre Giestas”, de Carlos Selvagem.


Trata-se, incontestavelmente, duma obra-prima do nosso teatro rústico, duma peça bem portuguesa – pelo assunto, pelas personagens, pela linguagem e pelo ambiente – que o grupo tavaredense interpreta brilhantemente e apresenta com um primor de montagem cénica digna de nota. Para cada um dos três actos pintou Rogério Reynaud, belos cenários, que o honram como distinto artista. Quando esta consagrada obra do teatro português foi levada a Coimbra, a sua representação constituiu um dos mais brilhantes exitos que o grupo tavaredense ali tem alcançado.


É, pois, um espectáculo de inegável valor artistico, que justifica só por si a enchente que vai ter o Peninsular; mas impõe-se também, e principalmente, pelo seu fim tão simpático, visto que o produto da récita reverte a favor da benemérita Santa Casa da Misericórdia, cuja obra de assistencia é importantissima no nosso concelho e só poderá continuar com o auxilio de todos os figueirenses.


O ilustre dramaturgo Carlos Selvagem, que gentil e generosamente autorizou a representação da sua peça, virá assistir à récita do dia 27, será então ensejo de o público da Figueira lhe exprimir a sua admiração e o seu reconhecimento. (Jornal Reclamo – 03.12)

OS AMADORES DE TAVAREDE

O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, - logo após a sua récita nesta cidade em benefício do Hospital da Misericordia, com a representação da lindissima peça “Entre Giestas” na presença do seu autor o ilustre dramaturgo Carlos Selvagem, que se sentiu verdadeiramente sensibilizado com o distinto desempenho da sua produção, - partiu para Tonar a dar dois espectaculos de beneficencia com as peças “Entre Giestas” e “Génio Alegre”, esta dos consagrados Irmãos Quinteros, e a que o0 excelente grupo de amadores de Tavarede dá um notável relevo ao seu desempenho.


O jornal “Cidade de Tomar” realça o trabalho dos nossos conterraneos com as seguintes palavras:


A casa dos pobres, sentiu-se rica com a dádiva do Grupo de Tavarede.


Duas récitas duas casas cheias, duas manifestações de bom teatro.


José Ribeiro, o incansável animador de tanto prodígio, o realisador dêsse teatro do povo, trouxe a Tomar, duas notáveis peças que a interpretação dos seus comediantes conseguiu arrancar à gelida plateia tomarense o quente aplauso duma verdadeira apoteose.


Os irmãos Broeiro e outros, rapazes e raparigas que vimos no “Sonho do Cavador” e na “A Cigarra e a Formiga”, no pequeno teatrinho de Tavarede, hábitat proprio dessa gente modesta, em que o valor parece contradizer a sua condição simples, impunha-lhes outros vôos, como nas presentes peças.


Os mesmos de sempre, há muitos anos se reunem, depois das canceiras do dia, no pequeno palco de Tavarede a repetir a sua vida de trabalhadores humildes, ou a viverem outra vida, como oferenda milagrosa que a ribalta lhes dá, como no Génio alegre dos Quinteros.


Mas tão bem se integraram nesses papéis, que muito a custo acreditamos que sejam bem diferentes, fóra do palco, aqueles senhores de “Almidar de la Reina”...


Neste despretenciosa resenha dum acontecimento semanal, não podemos deixar de destacar “Clara” no “Entre Giestas”, encarnação viva do “Angelus” de Millt, ou de aplaudir “Consuelo” na descrição primorosa do repique como dois extremos histriónicos de invulgar relevo.


Todavia, se muito admirámos Violinda Medina, João Cascão, os Irmáos Broeiro e outros, mais admirámos ainda o milagre de Tavarede, pela fraternidade que une aquele grupo, que há tantos anos vêm dando uma lição de optimismo e de arte, fazendo do Belo o Bem, ao qual Tomar, os pobres de Tomar, já há muito são devedores. (Jornal Reclamo – 04.13)


RECOMPENSA

Mais uma vez nos foi dado assistir ao desempenho da “Recompensa”, de Ramada Curto, no teatro do Casino Peninsular. Interpretou-a a SIT, de Tavarede, que, embora não conseguisse a mestria do grupo Rei Colaço - Robles Monteiro, revelou invulgares dotes aitísticos, grande e inteligente esfôrço, deixando-nos òtimamente impressionados.


As personagens foram bem “encarnadas”: Maria da Graça, a mulher de coração inteligente, activa, justa e caridosa; Guilherme, um bom homem, de sentimentos nobres, coração terno; José, o tipo de financeiro manhoso, cínico, para quem todos os processos de enriquecer são bons, mesmo que sejam indignos; Mariana, uma criaturinha sem personalidade, imbecil; Manuel, modêlo vulgar; Tereza e Gustavo de Ornelas, um par fútil, pretencioso e ridículo; João, o empreiteiro arrogante, imoralão.


Das peças de Ramada Curto, esta é, incontestàvelmente, a melhor, aquela em que chega a ser... superior a êle mesmo. Não sendo católico defende uma tese católica. Nem liberalismo nem socialismo – mas que a economia obedeça às normas superiores da justiça, respeitando o Direito de propriedade e aproveitando a iniciativa particular. Nem o patrão deve ser tirano nem o empregado escravo; vivam como em família amando-se e auxiliando-se em harmonia de colaboração e interêsse. O operário é uma pessoa humana, cuja dignidade tem de ser respeitada e jámais explorada como uma máquina. O trabalho é uma honra em que nos é permitido colaborar com o Criador e angariar o necessário à vida.


A tese da “Recompensa” constitui uma aspiração justa da humanidade, que tarde ou nunca virá a realizar-se.


O impedimento está em que não será tão cêdo (perdoem-me a falta de fé) que os homens terão a animarem-no princípios de vida como os que vivia Maria da Graça que, no meio das dificuldades inquietantes da vida, se voltava para o céu e imprecava os homens, recordando o que aprendera na catequese: “Tenho uma fé e uma crença, e essa fé manda-me que não faça aos outros aquilo que não quero que me façam a mim”.


Aqui está o segrêdo da sua vitória, a pedra de toque em que devemos aquilatar o oito das suas intenções.


Muitos que reclamam justiça, talvez com sinceridade e desinterêsse, não repararam que a primeira revolução a fazer é a remodelação dos corações – enquanto os homens se não abraçarem em Deus, fonte de justiça e amor, continuarão a ser “lobos” e tôdas as tentativas de reorganização social estão condenadas a abortar desastradamente. O fracasso das enovações socialistas encontra aqui a sua explicação.


Haverá quem veja em “Recompensa” a defeza do comunismo – uns para o atacarem, outros para o apregoarem.


Embora não conheça as intenções do autor nem de quem o interpreta, devemos dizer que a tese de “Recompensa” não tem nada de socialismo (no sentido em que o define a Sociologia) mas que é a expressão do pensamento cristão. Assenta na Fé, e o socialismo é ateu; respeita o direito de propriedade, e o socialismo reclama a sua abolição; respeita a virtude moral como o melhor bem, e o socialismo é materialista, pragmatista, etc. (O Dever – 05.31)

ENVELHECER

A Sociedade de Instrução Tavaredense acaba de enriquecer o seu vastissimo repertorio teatral, com um novo original português.


Trata-se da formosissima peça em quatro actos, “Envelhecer”, uma das mais belas obras do teatro português, original do glorioso dramaturgo Marcelino Mesquita, e que o seu grupo cénico levou à cena no seu teatrinho, em matinée, para inauguração da época 1940/41.


A “companhia” tavaredense honrou uma vez mais os seus pergaminhos, desempenhando com mão de mestre, esta dificilima peça.


Da interpretação de tão delicada obra, justo é destacar, sem desprimor para os restantes, a actuação de João Cascão e Violinda Medina, que, nas figuras principais, têm uma das suas mais brilhantes criações.


Não se pode exigir mais; as figuras por eles encarnadas, não são representadas, são vividas ao natural, humanamente.


Em todos os finais de acto, a assistencia, que era numerosa, tributou aos amadores tavaredenses, quentes e prolongados aplausos.


“Envelhecer” foi apresentada ao publico figueirense, na sexta-feira, 20, no teatro do Grande Casino Penincular, sendo, como em Tavarede, apreciada e aplaudida, pelo que felicitamos os nossos conterraneos. (Jornal Reclamo – 12.28)

OS AMADORES DE TAVAREDE

O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, que é conhecido aqui em casa e fora dela pelos “Amadores de Tavarede”, aumentou e enriqueceu o seu já apreciavel reperotio com uma nova peça – uma joia de subido preço e de elegancia literária do glorioso dramaturgo Marcelino de Mesquita: “Envelhecer”.


Vieram representa-la à Figueira, no Teatro do Casino Peninsular, na noite de sexta-feira. Gostámos da peça, que é obra de mestre consagrado, e gostámos do desempenho, que é obra de um paciente e inteligente elemento que tem o poder de fazer representar, sem descair no ridiculo, dificeis cenas que só artistas de garra podem desempenhar sem deslises...


Foi mais um triunfo para José Ribeiro e para a sua gente.


Tudo correu bem. Os arranjos de cena muito cuidados e de graciosa disposição. As endumentarias a rigor. O desempenho muito correcto, sobresaindo como interpretes dos principais papeis a distinta amadora D. Violinda Medina e o tambem habil amador João Cascão, que com este seu novo trabalho firmaram ainda mais o conceito conquistado nas plateias onde se teem apresentado.


Os restantes amadores também se portaram de maneira a resultar uma récita perfeita e que deixou a assistencia satisfeita.


Os nossos parabens.


E, como Fialho de Almeida disse ao auctor da peça, nós dizemo-lo aos “Amadores de Tavarede”:


Bravo! Bravo! Bravo! (Jornal Reclamo – 12.28)