quinta-feira, 26 de agosto de 2010

António Marques Lontro Júnior

Filho de António Marques Lontro e de Joaquina Domingues, faleceu no dia 13 de Março de 1966, contando 74 anos de idade. Houvera nascido a 1 de Dezembro de 1891.

Foi casado com Piedade Gaspar, tendo os filhos: Benjamim, Vitalina, Maria da Piedade e Manuel.

António Amaral e Piedade Gaspar

Era canteiro de profissão.
Foi sócio e colaborador do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense desde a sua fundação, sendo eleito secretário da Direcção na primeira Assembleia Geral. Tocou flauta na Tuna desta colectividade.
Colaborou, também, com a Sociedade de Instrução Tavaredense, fazendo parte da sua orquestra durante alguns anos.


Em 1925, fez parte da Comissão Paroquial de Tavarede.
O Grupo Musical homenageou-o nomeando-o seu sócio honorário.

Caderno: Tavaredenses com história

João Adelino da Silva Pereira

Nasceu em Tavarede no dia 7 de Junho de 1913 e faleceu em Cantanhede, em 28 de Dezembro de 1967.

Tirou o curso do magistério primário em Coimbra e, enquanto exercia a sua actividade de professor, matriculou-se na Universidade daquela cidade, onde se licenciou em Direito.

Passou a exercer advocacia em Cantanhede, onde foi nomeado presidente da Câmara e ali desenvolvendo intensa actividade, nomeadamente nos campos da assistência rural, no abastecimento de águas, fomento escolar e cultural, etc.

Publicou “As obras públicas municipais e as suas limitações” e “O dever de servir – imperativo de consciência”.

“… Filho de Tavarede, há largos anos pertencia também a Cantanhede, onde exerceu advocacia e a cujo município presidia há quase 7 anos, exibindo uma distinta folha de serviços prestados ao concelho que administrava: assistência rural e abastecimento de águas, fomento escolar e cultural, etc.: lembremos, do domínio cultural, os actos de 1965 celebrados na vila, em memória do 3º. Conde de Cantanhede, vencedor da batalha de Montes Claros. Reflexos dessa jurisprudência aplicada aos temas administrativos são também os escritos que apresentou ao X Congresso Beirão, em 1965”

“Entretanto, o mais destacado campo de sua acção de homem e jurista prudente foi o ensino. O dr. Silva Pereira começou a sua vida profissional como professor primário e casou com a srª D. Julieta Gonçalves da Silva Pereira, igualmente professora primária. Tais factos não parecem acidente, antes se afiguram inerentes à estrutura daquele espírito, revelada ainda, mais ou menos notoriamente, em outros actos como: a criação e direcção do Colégio Infante de Sagres, o mais populoso estabelecimento de ensino particular da zona; o apoio oficial dado à criação da Escola Técnica de Cantanhede; a comunicação, cheia de actualidade, apresentada ao I Congresso Nacional do Ensino Particular (1965), sobre “A rede escolar nacional e os estabelecimentos do ensino particular”; e o movimento, que umas vezes iniciou e outras vezes secundou, tendente ao estabelecimento de boas e afectivas relações de vizinhança entre os estabelecimentos de ensino, dentro das zonas e nas regiões”.

A Câmara de Cantanhede, em reconhecimento da obra deste ilustre tavaredense, homenageou a sua memória atribuindo o seu nome à avenida à beira-mar, na Praia da Tocha, daquele concelho.

Caderno: Tavaredenses com história

Manuel Nogueira e Silva


Natural de Tavarede, onde nasceu no ano de 1907, era filho de Francisco da Silva Proa e de Amélia Augusta Nogueira e Silva. Casou com Fernanda da Silva Ribeiro e teve dois filhos: Madalena e João José. Faleceu no dia 10 de Dezembro de 1964. com 57 anos de idade.

Tipógrafo de profissão, era o proprietário da Tipografia Nogueira, na Figueira.

Foi amador dramático de elevada categoria. A primeira vez que o seu nome aparece na imprensa, é em 1916, numa notícia referente a uma “Festa da Árvore”, onde recitou a poesia A Luz do ABC. Integrou-se no grupo cénico do Grupo Musical protagonizando algumas peças, mantendo-se ali até esta colectividade acabar com a sua secção teatral.

Juntamente com Violinda Medina e outros, foi um dos elementos que transitaram para os amadores da Sociedade de Instrução, onde fez a sua estreia, em 1931, no papel de Jorge, em Os Fidalgos da Casa Mourisca.

Até ao ano de 1951, em que abandonou a actividade teatral, participou em diversas peças ali levadas à cena. Na primeira série de Chá de Limonete desempenhou os personagens de D. Sancho I, Fernando Gomes de Quadros e O Teatro, com que terminou a sua carreira.

Tavarede Futebol Clube (1946),
com Fernando Reis, à sua direita

Amador de largos recursos, tanto no drama como na comédia, entrou, entre muitas outras, em As pupilas do Senhor Reitor, Justiça de Sua Majestade, A Cigarra e a Formiga, O Sonho do Cavador, O Grande Industrial, Entre Giestas, Génio Alegre, Envelhecer, Injustiça da Lei, etc. Desempenhou, de forma a merecer muitos elogios, o papel de Joane, o parvo, no Auto da Barca do Inferno.


Em 1955, em espectáculo evocativo, voltou a reviver o personagem Miguel Mateus, em Entre Giestas.


Desde Os Fidalgos da Casa Mourisca “… sereno e grave, reflectido na sua pouca idade e sabendo sacrificar as aspirações do coração ao que ele considera o seu dever de filho”, até ao Teatro, onde “actua primorosamente mostrando poder convencional”, encontram-se muitas críticas elogiando as suas interpretações.


Morreu muito novo. “Talvez que a natural bondade de que era dotado, o conduziu tão cedo a pagar à Natureza o tributo que todo o ser humano lhe é devedor. O sentimento artístico que possuía, generosamente herdado dos seus ascendentes, manifestou-o, além de em outras actividades, na sua profissão de tipógrafo consciencioso e de amador dramático do melhor quilate, e a demonstrar esta nossa asserção está o facto de ainda não há muito tempo, o ilustre director cénico da SIT, de que fez parte durante largos anos, ter-lhe tecido, publicamente, os maiores e mais significativos louvores”.

Caderno: Tavaredenses com história

Sociedade de Instrução Tavaredense - 48

A Conspiradora (Violinda Medina 'Marquesa dos Arcos' e João de Oliveira Júnior 'Conde de Riba d'Alva')

Voltemos, uma vez mais, ao teatro. Pelo 53º aniversário da sua fundação, foi levada à cena, em primeira representação, a peça “A Conspiradora”, “peça duma categoria indiscutível (ainda há muito pouco esteve em cena em Lisboa, no Monumental), que agradou em absoluto”.
A um espectáculo que se realizou no final de Fevereiro de 1957, no Casino Peninsular, assistiu o autor da peça, Dr. Vasco de Mendonça Alves, que veio de Lisboa, propositadamente, assistir à récita daquela peça pelos amadores tavaredenses. Mestre José Ribeiro, antes de se abrir o pano, “fez a apologia dos seus dotes de dramaturgo e, no final do 2º acto, a assistência solicitou a sua comparência no palco, tendo-lhe D. Violinda Medina feito entrega de um delicadíssimo ramo de flores, gesto que foi sublinhado com calorosos aplausos”. O ilustre visitante manifestou, publicamente, nítida satisfação pelo feliz desempenho e triunfo obtido pelos tavaredenses com esta sua peça.

Em todas as deslocações que efectuaram, com esta peça, triunfaram em absoluto. As críticas foram unânimes. “Efectivamente, foi um dos mais belos espectáculos a que temos assistido. É que “A Conspiradora” é, simplesmente, uma admirável peça de Teatro repleta de emoções. O seu enredo tem-nos presos do princípio ao fim da representação. Na sua acção perpassa e vibra a alma das antigas lutas liberais. As situações, por vezes hilariantes, casam-se perfeitamente com as cenas dramáticas, algumas das quais violentas. A dedicação à Pátria, o amor da Família e o sacrifício por uma Causa, são temas nela tratados pelo ilustre autor, na realidade, de maneira superior. Fala-nos simultaneamente à inteligência e ao coração – o precioso relicário que guarda os sentimentos bons e maus do homem. Apesar de terem decorrido já algumas dezenas de anos sobre a data da sua estreia, o assunto é actual.
E os humildes amadores, ensaiados pela mão de fada de José da Silva Ribeiro, conseguiram, o que constitue um dos seus maiores títulos de orgulho, na interpretação das figuras que lhe foram distribuidas, “dominam” completamente a selecta e distinta assistência, que enchia o teatro, arrancando-lhe vibrantes e entusiásticos aplausos, pois a representação, por vezes, foi interrompida, tal a profunda emoção causada durante algumas cenas e em que, para não ferirmos susceptibilidades não citaremos nomes, alguns brilharam a grande altura. Não exageramos, portanto, em afirmar que todos ficaram satisfeitos: o autor, o grupo e o público, cuja opinião é sempre de considerar. Assim vale a pena trabalhar...”.

Entre as várias localidades aonde se deslocou com esta peça, conta-se Torres Novas. “O grupo dramático da SIT inscreveu, com a sua ida, pela primeira vez, a Torres Novas, onde foi dar mais um espectáculo de beneficência, nova página gloriosa nos anais da vida da humanitária colectividade”. Foi uma jornada triunfante. “A retirada, fez-se eram já 4 horas, tendo todos os tavaredenses regressado saudosos e gratos por tantas provas de gentileza, que calaram bem fundo no coração de todos e tornaram inesquecível esta sua triunfal jornada a Torres Novas”.
Em Novembro de 1957, Mestre José Ribeiro proferiu, na colectividade, a sétima palestra sobre teatro. Deu-lhe o título “O Teatro na Antiguidade”, descrevendo representações teatrais anteriores aos clássicos gregos; um drama do século de Salomão, que a Bíblia conservou entre os livros do “Velho Testamento”: o Cântico dos Cânticos. “Apesar de convalescente do forte ataque de gripe asiática, que o reteve no leito alguns dias, o brilhante orador soube com seu habitual à-vontade e profundo conhecimento do assunto versado, em que é considerado Mestre, prender a atenção da assistência, pois lhe ofereceu mais uma das suas esplêndidas lições, sob o ponto de vista Teatral e até Religioso”.
Para comemorar o cinquentenário da morte do poeta e dramaturgo D. João da Câmara, o grupo cénico tavaredense levou à cena a sua principal obra teatral, “Os Velhos”. Esta efeméride passou despercebida por toda a parte, menos em Tavarede. No “Despertar”, de Coimbra, vem o comentário. “Este desinteresse dos doutores em Teatro em Lisboa e Porto e dos grupos dramáticos de Coimbra por D. João da Câmara, foi quebrado (e, vá lá!, digamo-lo com um hiper-bairrismo que cremos perdoável, “puxemos a brasa... ao nosso distrito”) pelas raparigas e rapazes de Tavarede, por essas moças e moços – e sê-lo-ão sempre porque, em boa verdade, o que conta não é o embranquecimento dos cabelos ou o enrugamento do rosto, mas o encanecimento e as rugas do espírito – Amadores do Teatro e da Cultura que, conduzidos por um outro Amador, cujos limites da sua “cultura oficial” desconhecemos, mas cuja “cultura real” sabemos ser grande, ocuparam os ócios dos seus mesteres tão árduos a erguer sobre as tábuas do palco da Sociedade de Instrução Tavaredense, a obra-prima do teatro de D. João da Câmara, uma das mais belas senão a mais bela obra de todo o nosso teatro – Os Velhos”.

Os Velhos - Cena da ceia - 3º. acto

Figueira, Marinha Grande, Alhadas, Coimbra, Alfarelos, Quiaios, Santana, Torres Novas e Vila Verde foram as localidades onde se apresentaram os tavaredenses com esta peça e em espectáculos cuja receita reverteu a favor das obras da nossa colectividade.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 47


Sintra, a chamada sala de visitas de Portugal, recebeu o nosso grupo cénico nos dias 2 e 3 de Setembro de 1956, que ali representaram, em benefício da Santa Casa da Misericórdia local, dois espectáculos, com as peças “Frei Luís de Sousa” e “Peraltas de Sécias”. À representação desta segunda peça assistiu a senhora D. Inês Ressano Garcia, filha do autor e a quem foi oferecido um ramo de flores. Entre outros notáveis, que assistiram a estas representações, contaram-se os actores Alves da Costa e sua esposa, Brunilde Júdice que, entusiasticamente, felicitaram o nosso grupo.


Frei Luís de Sousa - 2º. acto

Na “Tabela” do Teatro Carlos Manuel, onde se realizaram as referidas récitas, foi afixado, não se sabe por quem, um significativo soneto pondo em relevo as actuações dos nossos amadores. Está assinado, simplesmente, por um “Espectador”.
Em Novembro de 1956, por ocasião do aniversário natalício de José Ribeiro, uma comissão representativa da direcção da SIT, como o dia coincidia com um domingo, em conjunto com elementos da secção dramática e comissão de diversões, resolveu prestar-lhe uma homenagem. Recusou terminantemente. Tomaram, então, a iniciativa de “realizar um almoço de confraternização para inauguração da época de inverno, para assim os sócios terem a satisfação de encontrar junto de si, naquele dia, o Homem que, há mais de 30 anos, tão brilhantemente dirige a secção dramática”, o qual decorreu num ambiente da mais sã e fraterna amizade.
“A necessidade imperiosa da reparação do edifício da nossa sede, com a substituição de todo o telhado, por um lado, e o incentivo que temos recebido de alguns sócios, amigos e admiradores da obra cultural e beneficente da nossa colectividade, por outro, levaram esta direcção a trazer ao conhecimento, apreciação e resolução da assembleia geral, o projecto das obras de transformação da sede, projecto que foi graciosamente elaborado pelo senhor Arquitecto José Isaías Cardoso e que já se encontra aprovado pela Inspecção-Geral dos Espectáculos”.
Embora a época não fosse propícia, a direcção tomou a deliberação de tentar a realização do empreendimento. “Para a realização destas obras, temos já donativos e receitas especialmente destinadas a este fim, na importância de 31.000$00. Contamos com outros donativos e esperamos obter da Câmara Municipal e da Comissão Municipal de Turismo subsídios para o mesmo fim. E estamos também convencidos de que a actividade da secção dramática ajudará poderosamente a levar por diante o nosso objectivo, dando espectáculos nas várias localidades do concelho e noutras localidades do País aonde se tem deslocado para fins beneficentes”.
Gerou-se, então, uma verdadeira onda de solidariedade para com a SIT. A imprensa colaborou significativamente. Para não alongarmos muito, vamos só transcrever um pouco do apelo, feito por um dedicado sócio, através do “Notícias da Figueira”. “Não há ninguém, fora ou dentro do distrito de Coimbra, que ignore em que têm sido gastos os operosos e construtivos 53 anos de existência da SIT. E como tem sido repartido o seu abnegado esforço; como tem sido proveitosa – para as instituições de caridade – a sua abençoada missão de dar sem olhar a quem. Dar, em sacrifícios de toda a espécie, muito da sua acção, do seu valimento, do seu trabalho, operado religiosamente nas curtas horas de lazer dos seus dedicados amadores dramáticos e do respectivo e ilustre director, em benefício dos desprotegidos da sorte. Uma longa vida de acção cultural e humanitária – de manifesto e útil proveito para todos. Para todos, sim. Simplesmente, a SIT tem-se esquecido de si. Cuidou mais nos outros, do que em si. Saltou por cima dos sagrados preceitos de que boa caridade começa por nós próprios... De tão louvável sistema, a velhinha SIT chegou ao estado em que se encontra: Pobre. Pobre – mas asseada e limpa; vigorosa e linda. Só rica em conceitos e gratidões.

Peraltas e Sécias

A sua sede carece de benefícios e ampliações. Uma alma tão grande não pode continuar, por mais tempo, a “vegetar” numa humilde e acanhada casa adaptada à sua elevada acção. À sua graciosa missão. Precisa de meio-ambiente próprio. É digna de “viver” com mais comodidade e mais conforto. Sendo isto verdade – porque o é -, pergunto: Tornar-se-à missão difícil tentar um apelo aos amigos e admiradores da benemérita SIT, no sentido de obter uma subscrição pública, por intermédio da imprensa, da Figueira e de fora, destinada à aquisição de tijolos para as obras de que necessita a simpática e utilíssima colectividade de Tavarede?”.
O apelo foi ouvido. Não se abriram subscrições na imprensa, mas não tardaram a surgir apoiantes à intitulada “Campanha do Tijolo”. Numa outra notícia, refere-se que “a fogueira alastra. O sr. José Augusto Guedes, da Fontela, quiz ser o primeiro a oferecer materiais para as obras da colectividade. Assim, enviou hoje 2.000 tijolos dos autênticos, acompanhados de vales para 1.500 quilos de cal”.
E, diga-se já, em breve as obras se tornaram uma realidade. Foram grandes as ajudas que sócios, amigos e admiradores deram. Muito contribuíu, também, o grupo cénico, com os vários espectáculos que realizou. Mas a grande ajuda acabou por vir da benemérita Fundação Calouste Gulbenkian. O subsídio que concedeu, cerca de metade do custo das obras, tornou possível que, ao fim de tantos anos, o grande sonho se tornasse realidade. A nossa colectividade passou a dispor de uma das melhores salas de espectáculos do nosso concelho.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

José Francisco da Silva



Nasceu no dia 26 de Junho de 1900, em Tavarede, filho de António Francisco da Silva e de Augusta Cruz. Foi casado com Guilhermina Nogueira e Silva, tendo, como descendentes, as filhas Benvinda, Armandina e Amélia.

“Começou com tipógrafo e empregou-se nos escritórios da Beira Alta”. Foi membro da Junta de Freguesia e regedor, nomeado em 1923. Como escrivão da Junta, promoveu uma subscrição pública para a compra do relógio colocado na torre da igreja.

Foi amador teatral do Grupo Musical, destacando-se na opereta, mas foi na música que exerceu maior actividade. Tocava na Tuna e fez parte do célebre quinteto que, além de abrilhantar os bailes nesta colectividade, tocava nas missas solenes, acompanhando o coral, em Tavarede e noutras localidades para onde eram convidados.

Quando o Grupo Musical mudou de sede e extinguiu a sua secção dramática, passou a colaborar com o grupo cénico da Sociedade de Instrução, em especial no ensaio dos coros, conjuntamente com José Medina e António Jerónimo, embora também chegasse a integrar o elenco teatral.

Ao mesmo tempo, continuava no Grupo Musical, tocando e dirigindo a Tuna, sendo, em 1931, escolhido para seu regente, por votação dos músicos. Já anteriormente reorganizara a Tuna daquela colectividade e, em 1929, com a colaboração dos músicos pertencentes às duas associações, levara uma Tuna à Martingança, a abrilhantar umas festas populares lá realizadas. Foi ele que teve a iniciativa da passagem da Tuna pelo Mosteiro de Batalha e ali deixar uma placa em homenagem ao Soldado Desconhecido.

Faleceu, inesperadamente, a 16 de Novembro de 1951, com 51 anos de idade.

“Era uma pessoa muito prestável e muito bondosa. Em Tavarede, pode dizer-se que não tinha um inimigo e muitos dali lhe ficaram a dever alguns bons favores”.

No dia 29 de Junho de 1952, “foi prestada homenagem à memória de um homem que tão desinteressadamente trabalhou para as associações recreativas do concelho e de modo particular para as locais, de que era sócio honorário. Elas devem-lhe serviços que não podem, com efeito, ser esquecidos, pelo desinteresse material com que foram prestados”. A sua campa, no cemitério local, foi construída por subscrição pública.

Como acima se referiu era sócio honorário do Grupo Musical e da Sociedade de Instrução, além de outras colectividades do concelho o terem distinguido com igual diploma. O seu retrato encontra-se exposto no salão do Grupo Musical.

Grupo 'Os Inseparáveis' - José Francisco da Silva é o segundo da direita, em pé

Era um excelente “garfo”. Um dia, encontrando-se no Porto com um grupo de amigos, foram almoçar a um restaurante. O prato do dia era “caras de bacalhau com couves e batatas”. Era um dos seus pratos favoritos. Notou, contudo, que nas restantes mesas, todos os comensais estavam comendo com faca e garfo, certamente com algumas dificuldades. Depois de servido, pendurando o guardanapo no colarinho da camisa, disse para os presentes: “Os senhores desculpem mas, na minha terra, isto come-se à mão”. Pouco depois, todos os presentes já chupavam os ossinhos à mão…

Caderno: Tavaredenses com História

Maria Almira Esteves Ferrão

Quadro '3 Glórias Nacionais' - peça 'Chá de Limonete' - (da esq. para a dir) - António Jorge da Silva (O Endireita); João da Silva Cascão (Manuel da Fonte); João Oliveira Júnior (Frei Manuel de Santa Clara); Maria Almira Esteves Ferrão (Fado); José Maria Cordeiro - Zé Neto (Futebol); e Manuel Nogueira e Silva (Teatro)


Tavaredense, filha de Alberto Ferrão de Almeida e de Maria José Esteves. Nasceu a 30 de Março de 1928 e faleceu no dia 13 de Novembro de 1998. Casou com António Santiago Venâncio, não tendo descendência.


Foi amadora teatral da Sociedade de Instrução Tavaredense. Teve a sua estreia em Noite de Teatro Português, em 1947. Participou, a partir de então, em Não subam escadas às escuras, Horizonte, Os dois inseparáveis, Raça, Auto da Barca do Inferno, Não mentirás, O Cão e o Gato, Pé de Vento, Chá de Limonete, Na boca do Lobo, Chá e Terra do Limonete. No ano de 1990 deu a sua colaboração ao espectáculo de homenagem à memória de José Ribeiro.

Caderno: Tavaredenses com História

José Joaquim Alves Fernandes Águas

Nasceu em Tavarede no dia 21 de Janeiro de 1841 e morreu na Figueira (Praia de Buarcos) em 12 de Janeiro de 1919.
Segundo filho de Joaquim Alves Fernandes Águas e de Ana Ribeiro, enveredou, tal como seu irmão mais velho, José Alves Fernandes Águas, pela marinha mercante, onde conseguiu uma carreira brilhante, durante muitos anos.

Contramestre piloto (imediato) no brigue “Zarco”, passou ao comando do veleiro “Olinda”, matriculado na Capitania de Lisboa para viagem a Moçambique, em Novembro de 1872. Aquela matrícula refere como comandante o capitão José Joaquim Alves Fernandes. Só mais tarde é que nos seus registos aparece o apelido Águas.

Como oficial da marinha mercante, comandou diversos navios e conhecia, na perfeição, a costa oriental da África Portuguesa (Moçambique), tendo convivido de muito perto com oficiais graduados da Marinha de Guerra Portuguesa, que não desdenhavam dos seus conselhos.

Por ocasião do seu falecimento, a imprensa figueirense publicou a seguinte notícia:
“Domingo de manhã fomos dolorosamente surpreendidos pela notícia da morte, brusca, deste nosso bom amigo, sogro dos srs. drs. Manuel e José Gomes Cruz.

Com 79 anos, o velho Capitão Águas, designação por que era mais conhecido, por na sua mocidade ter comandado vários navios da marinha mercante, ainda no sábado à noite recolhera ao leito cheio de saúde e de bonomia, nada fazendo prever o triste desenlace que na manhã seguinte, abruptamente, havia de ferir sua extremosa família e os seus muitos amigos.

Era, da numerosa família Águas, o único ancião sobrevivente, a todos infundindo respeito o seu porte austero e as suas tradições de marinheiro destemido.

O sr. Capitão Águas deixou a vida marítima há perto de quarenta anos e durante o tempo em que a exerceu cometeu feitos de audácia de que, pela sua proverbial modéstia, nunca quis tirar relevo. Ele conhecia, no seu tempo, como ninguém, a costa da nossa Africa Oriental, e alguns dos oficiais mais graduados da nossa marinha de guerra, como, por exemplo, Augusto de Castilho, conviveram de perto com o nosso malogrado amigo, apreciando com grande consideração as suas valorosas qualidades de homem do mar.

Possuidor de alguns meios de fortuna, o sr. José Joaquim Águas constituiu o seu lar na Praia de Buarcos, ali, e, nos últimos anos, na sua Quinta da Esperança, à estrada de Tavarede, passando a sua existência, jamais deixando de exercer a sua actividade.

Ultimamente, há perto de dois anos, o sr. Artur de Oliveira, gerente da Sociedade Portuguesa de Navegação, convidou o sr. Capitão Águas para auxiliar os importantes serviços desta e, aceitando o convite, como que remoçando, o saudoso extinto soube, com zelo inexcedível, interessar-se pelas propriedades da sociedade, afirmando sempre os seus excelentes conhecimentos técnicos e fazendo ouvir os seus conselhos cheios de prudência.

Além de trabalhador, José Joaquim Alves Fernandes Águas possuía um espírito profundamente liberal, nunca recusando o seu apoio às instituições propagadoras da instrução.

Caderno: Tavaredenses com História



Foi membro dos mais graduados da Maçonaria, e, como tal, justamente considerado no Grémio Fernandes Tomás, desta cidade. Interessaram-no sempre os progressos do Partido Republicano, e por vezes, em tempo da propaganda e da organização partidária, fez parte da Comissão Municipal Republicana deste concelho, de comissões paroquiais, etc.
Da consideração de que gozava o nosso saudoso amigo foi testemunho a piedosa e imponente manifestação ontem dedicada ao seu cadáver, no acompanhamento que o levou da Figueira ao cemitério de Buarcos, onde, por vontade do finado, foi sepultado na terra, para, posteriormente, serem os seus ossos trasladados para o seu jazigo ali existente.
Nessa manifestação viam-se centenas de pessoas de todas as classes sociais, sobressaindo todo o pessoal da Sociedade de Navegação, cuja bandeira cobria o féretro, sendo também a chave deste, por solicitação do sr. dr. Manuel Gomes Cruz, conduzida pelo director - gerente da sociedade, sr. Artur de Oliveira
A família deste nosso amigo e a Sociedade de Navegação ofereceram ainda duas formosas coroas de flores, sendo outra conduzida pelo menino José Cruz, dedicada por ele, sua irmã e primos, todos netos do malogrado morto e que eram agora o seu maior enlevo”.

João dos Santos


Natural de Coimbra, nasceu no dia 26 de Outubro de 1860.
Muito novo veio para a Figueira, empregando-se na Tipografia Lusitana, de Augusto Veiga, onde aprendeu a profissão de tipógrafo.
No ano de 1886, João José da Costa, da Quinta dos Santos, tomou-o ao seu serviço, nomeando-o administrador e depositando nele toda a confiança, assim como D. Emília Duarte Costa, quando enviuvou. Por testamento desta senhora, foi o herdeiro da Quinta dos Condados e de outras propriedades.


Cerca do ano de 1890 fixou residência em Tavarede. “Era um espírito liberal, que sempre deu combate à reacção. Fundou e manteve nesta localidade, com outros amigos, uma escola nocturna, em que durante anos foi professor. Foi um devotado amigo e protector da Sociedade de Instrução Tavaredense”.


“Mas para que a Tavaredense possa cumprir devidamente os princípios por que pugna, reconhecidos como de um alto valor educativo, moral e cívico, para o povo daquela localidade, desbravando há mais de 13 anos o árido caminho onde se antolha, enervante e perigoso, o cancro do analfabetismo, um outro elemento prestigioso tem sido como que a escora sobre que assenta a cúpula desse edifício do Bem, onde a bandeira da Gratidão tremula, é que os seus benefícios admiram pelo seu grande zelo e entranhada devoção! E esse homem é, como todos sabem, o grande benemérito que se chama João dos Santos.


É ele que, além de relevantes auxílios prestados à “Tavaredense”, lhe cede também a bela casa onde ela se acha instalada, e tudo gratuitamente; e bem se pode ela julgar sumptuosa, - no meio modesto em que se encontra, - numa disposição encantadora, como salões apropriados para secções e divertimentos, gabinetes de direcção, salas de escola, etc., e uma excelente sala de espectáculos…”.

Durante alguns anos foi ensaiador do grupo cénico e, em 1912 escreveu a revista de sabor local “Na Terra do Limonete”, à qual se seguiu “Dona Várzea”, ambas musicadas por Gentil Ribeiro.
Sócio honorário e benemérito da colectividade, o seu retrato encontra-se exposto no salão nobre, descerrado numa homenagem que lhe foi prestada em Janeiro de 1914.


Prestou colaboração na Junta de Paróquia local, foi vereador da Câmara Municipal da Figueira e provedor da Santa Casa da Misericórdia. Muitas associações e colectividades mereceram o seu apoio.


Morreu no dia 18 de Maio de 1931. “A doença que o assaltara há quinze dias fora implacável, vencendo todos os recursos da ciência empregados para salvar o enfermo. Não nos surpreendeu a má nova, mas magoou-nos profundamente. Era natural de Coimbra, contava 71 anos de idade, e viera para a Figueira como tipógrafo, aqui trabalhando em todos os jornais que ao tempo faziam a política progressista e regeneradora. Aí por 1886 foi tomado, para seu empregado particular, pelo sr. João José da Costa, dos Condados, por ali ficando e assistindo à morte deste estimado cidadão, como assistiu, mais tarde, à morte da viúva daquele, a srª D. Emília Duarte Costa. Contemplado por esta senhora com a casa dos Condados e outras propriedades, fazia, todavia, a vida modesta que sempre tivera, não deixando, contudo, de praticar actos de generosidade a favor de instituições de beneficência”.

Caderno: Tavaredenses com História

Sociedade de Instrução Tavaredense - 46

O Grupo Cénico em Conimbriga, quando da visita a Condeixa (Frei Luís de Sousa)

Junho de 1955. Tavarede recebe mais uma honrosa visita. A Banda Nabantina, de Tomar, que veio abrilhantar as festas de S. João, na Figueira, deslocou-se à nossa terra para agradecer os espectáculos de benefício que o grupo tavaredense havia dado naquela cidade. “E ao som de vivas a Tomar e à terra do limonete, a Banda Nabantina, seguida de enorme cortejo, atravessou a povoação, tocando uma linda marcha. Das janelas, engalanadas com colchas, são lançadas milhares e milhares de pétalas de flores sobre os tomarenses, que recebem salvas de palmas em todas as ruas por onde passam”.

A publicação “Jornal de Actualidades”, num artigo sobre o teatro-amador português, denomina a nossa terra como “Tavarede – Aldeia-Escola de Teatro”. Depois de várias considerações, refere “A aventura maravilhosa daquela aldeia pobre, a espreitar a Figueira da Foz, é uma verdadeira gesta de amor e de dedicação. Noite caída e ceia tomada, rapazes e raparigas de Tavarede, trabalhadores dos campos e das oficinas, operários e cavadores, modistas e empregados de escritório, carpinteiros, serralheiros e pedreiros dirigem-se para o pequenino palco-escola da Sociedade de Instrução Tavaredense, uma associação cultural e recreativa fundada em 1904, que tem, desde a sua fundação, mantido um extraordinário labor. Esta associação derrama a sua benéfica e luminosa actividade numa aldeia muito pequena e esse motivo faz com que poucas famílias não tenham representação no seu grupo de amadores teatrais”. E conclue desta forma: “Mas o aspecto para nós de maior realce na actividade de José da Silva Ribeiro, está consubstanciado na sua ideia de tornar os amadores de Tavarede conscientes das personagens, dos seus sentimentos, das ideias que as determinam na época em que vivem e do ambiente em que essas mesmas personagens se movem. Tudo lhes é indicado através de pequenas palestras durante os ensaios, palestras que são esquematizadas sem ar de lição, mas que são compreendidas pelo seu heterogéneo grupo de amadores. Parece-nos que mais não será necessário escrever para que fique esclarecido porque chamámos a Tavarede, a aldeia-escola de Teatro. E para começarmos o nosso roteiro não poderíamos deixar de escolher esse admirável agregado beirão, composto de gente que trabalha arduamente todo o dia e que, à noite, procura no Teatro a sua fonte de saúde mental. Falámos de Tavarede. E isso muito nos honra!”.

A Sociedade de Instrução colaborou, em 1955, numa embaixada figueirense que foi à cidade da Guarda apresentar um espectáculo cultural. Pelo nosso grupo foi representado o terceiro acto de “Frei Luís de Sousa”, antecedido por uma explicação do entrecho do 1º e 2º actos, feita pelo director do grupo cénico.

Cena de 'Ana Maria' - 1956

Novas peças foram levadas à cena. Recordamos, somente, “Israel”, “Ana Maria” e “Peraltas e Sécias” e ainda, pouco depois, “A Conspiradora”. Antes de fazermos algumas referências ao que se passou com estas peças, referimos que, em Janeiro de 1956, o programa do espectáculo do aniversário foi bastante atractivo. Teve três partes: a primeira, constou de uma síntese da peça “Tá-Mar”, pelo Grupo de Teatro Miguel Leitão, de Leiria; a segunda, de um fragmento da peça “Entre Giestas”, pelo nosso grupo; e a terceira, foi preenchida com guitarradas, serenata e canções por estudantes do Orfeão e da Tuna Académica de Coimbra.

A peça “Ana Maria”, da autoria de Alberto de Lacerda, José Tocha e José Ribeiro, com música de Joel Mascarenhas, baseia-se em factos históricos, ocorridos em França no século 18, e tem como figuras principais “o famoso pintor Fragonard, a célebre bailarina Guimard e Ana Maria, discípula do Mestre, que depois se tornou sua mulher”. Na opinião das críticas encontradas, não foi uma peça muito conseguida. “Embora se divise através de tudo uma tentativa de trabalho sério e honesto, muito de apreciar e louvar, isso não basta para que esta “Ana Maria” consiga fazer carreira”.

“Depois do excepcional relevo dado pelo mesmo grupo (da SIT) às comemorações garrettianas, esta homenagem à memória de Marcelino Mesquita, testemunha quanto o valoroso grupo de Tavarede se empenha em reacender no espírito do numeroso e selecto público frequentador dos seus espectáculos, a chama votiva do culto das grandes figuras da dramaturgia portuguesa”.

Isto foi escrito a propósito da peça “Peraltas e Sécias”, com que a SIT comemorou o centenário do nascimento de Marcelino Mesquita. “A Voz da Figueira”, donde respigámos a nota, escreve ainda a propósito do mesmo assunto: “Demonstrado está que dos pequenos e anónimos grupos de amadores provincianos têm saído grandes figuras do nosso teatro profissional, inclusivamente notáveis encenadores, justo se tornava, como preito de gratidão a esses grupos que praticam a arte de representar por apaixonado amadorismo, lhes fosse dispensada protecção, concedendo-se-lhes carinhoso auxílio em vez de os desconhecer ou até enredar a sua acção em asfixiantes teias burocráticas”.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 45


Além dos actos comemorativos referidos na última história, importa recordar três outros acontecimentos naquele ano de 1954. O primeiro, foi o lançamento do livro “50 Anos ao Serviço do Povo”, da autoria de Mestre José da Silva Ribeiro, “valiosíssimo elemento para a história de Tavarede e da Sociedade de Instrução Tavaredense. Poucas pessoas terão acompanhado e terão na memória a notável acção da popular colectividade que há cinquenta anos vem sendo uma escola de educação e cultura e que através do seu Teatro – Teatro de Verdade – vem contribuindo para beneficiar instituições filantrópicas que disso carecem. O autor do livro, acaba de prestar um bom serviço à sua terra e à SIT com a publicação, que recomendamos aos que se interessam pela evolução e progresso das populações e das colectividades”.

Livro das Bodas de Ouro - Autor: José da Silva Ribeiro

O segundo acontecimento, ocorrido em Junho daquele ano, foi a visita de “uma embaixada de Coimbra, constituída por indivíduos que representavam várias instituições a favor de quem o nosso grupo cénico já realizou espectáculos, e da qual fazia parte também o eminente Professor Senhor Doutor Elísio de Moura. Foi essa embaixada portadora de valiosa e significativa placa que se encontra colocada numa parede da nossa casa, e que nos foi oferecida numa memorável sessão a que presidiu o Senhor Doutor Elísio de Moura, que teve palavras de muito apreço para a Obra da SIT, que fundo calaram nos nossos corações, tendo feito também, em palavras cheias de beleza, o elogio do nosso querido grupo cénico”.


Ainda no mesmo ano, a nossa colectividade comemorou, com vários espectáculos, o primeiro “Centenário da Morte de Almeida Garrett”. Iniciou estas comemorações com um espectáculo, em Tavarede, no mês de Agosto, antecedido de uma sessão de abertura presidida pela professora Srª Drª. Cristina Torres, tendo Mestre José Ribeiro falado “sobre a vida e obra de Garrett”, seguindo-se a representação da peça “Frei Luís de Sousa”.

Com esta peça, o grupo deslocou-se à Figueira, Condeixa, Alhadas, Quiaios, Marinha Grande, Soure e Coimbra, sempre no âmbito das comemorações garrettianas, obtendo as mais elogiosas referências. Mas o ponto alto destas comemorações teve um programa especial. Sobre ele, falou o director cénico ao jornal “Notícias da Figueira”.


“Seria irrealizável se não contássemos com colaborações e dedicações valiosas. A tragédia “Catão” decorre em Útica, no ano 46 AC; “D. Filipa de Vilhena”, no século 17; “Um auto de Gil “Vicente”, no século 16 e “O Tio Simplício”, no século 19, em plena época do próprio Garrett. Veja a variedade e a riqueza do guarda-roupa, cenários e cabeleiras de cada época. O acto de Um auto de Gil Vicente passa-se a bordo da nau “Santa Catarina do Monte Sinai”, na antecâmara da que é já Duquesa de Sabóia, onde se encontra o rei D. Manuel, a infanta sua filha D. Beatriz e Bernardim Ribeiro, cujos amores lendários são o motivo da peça; o almirante da esquadra Conde de Vila-Nova; o Bispo de Targa; o velho Garcia de Rezende, que nos deixou descrição minuciosa daquele quadro da época manuelina; os embaixadores do Duque de Sabóia; Paula Vicente, a filha de Gil Vicente, apresentada por Garrett como grande intérprete na representação das obras vicentinas, etc. São quatro obras diferentes, com acção em quatro épocas diferentes, apresentadas num só programa, exigindo a presença de mais de 30 intérpretes, porque cada um deles não pode interferir em mais de uma peça. Isto bastará para se avaliar da complexidade – quantos problemas a resolver! – e da grandeza do empreendimento a que a Sociedade de Instrução Tavaredense se lançou, ensaiando um programa tão difícil e dispendiosa montagem. Alberto Anahory, que é uma autoridade em guarda-roupa histórico, está a tratar da indumentária com o seu belo gosto e sentido artístico; e o professor Manuel de Oliveira, artista consagrado na cenografia, estuda já os cenários a pintar, cujas “maquettes” em breve serão expostas. Estes dois artistas dão-nos colaboração preciosa, com uma simpatia que excede os limites de simples probidade profissional. Sem eles, e sem outras devoções carinhosas, não chegaríamos ao fim”.

E numa organização da Biblioteca Pública Municipal, perante enorme assistência, José Ribeiro proferiu uma conferência na qual “com invulgar brilho, abordou o tema – A propósito do Frei Luís de Sousa – Mentiras na História, Verdades no Teatro, que foi ouvida com o maior interesse por toda a selecta assistência”.

E vamos acabar este capítulo contando um acidente que, felizmente, não teve consequências de maior, mas do qual poderiam ter resultado gravíssimos danos. Foi no espectáculo realizado em Condeixa, no dia 22 de Agosto daquele ano, com a peça “Frei Luís de Sousa”. Como todos estarão recordados, no final do primeiro acto, assistia-se ao incêndio da casa de Manuel de Sousa Coutinho, ateado por ele próprio, para que a sua casa não pudesse servir de residência aos governantes traidores à Pátria, e que fugiam da peste que grassava em Lisboa. O incêndio era simulado nos bastidores por vários elementos do grupo com archotes, etc. No interior de uma das portas, por onde aquele fidalgo atirava um archote aceso, estava o amador Fernando Reis, que interpretava o papel de “Romeiro” e que, recebendo o archote, ateava dois cartuchos com pólvora, simulando fogo e fumo. Inadvertidamente, algumas fagulhas de um cartucho atearam o outro que, por sua vez, pegou fogo às roupagens e às barbas que o caracterizavam. Socorrido de imediato, foi levado ao hospital para ser tratado das queimaduras sofridas. O hospital era assistido por freiras e àquela hora da noite tinha a porta fechada. Foi necessário bater com alguma violência para abrirem a porta. Estava de serviço uma freira-enfermeira. Calcule agora o nosso leitor, o espanto e o terror da freira ao abrir a porta e deparar com aquela figura do “Romeiro” a surgir da escuridão... Desatou a fugir corredor fora, gritando, claro!

Fotos: Catão e Um Auto de Gil Vicente

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Joaquim da Silva Oliveira


Natural de Tavarede, nasceu no ano de 1923, filho de Manuel de Oliveira e Maria Silva Oliveira. Casou com Emília da Silva Cordeiro e teve um filho, José Manuel.

Desde muito novo que se dedicou à música. Tocou na Tuna do Grupo Musical até à sua extinção e fez parte do conjunto “Lúcia Lima Jazz”, desde a sua fundação em 1940. Antes da formação deste conjunto, tocou nas orquestras “Os Refinados”, do Grupo e “Fluvial-Jazz”, da Praia de Buarcos.

Lúcia Lima Jazz - Anos 50 (terceiro a contar da direita)

Com seu tio e padrinho, José Nunes Medina, deu a sua colaboração ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, onde tocava violino durante os ensaios dos coros. Depois da morte daquele seu familiar, foi ele quem assumiu a direcção dos ensaios. Também fez parte da orquestra que tocava nos espectáculos.

Enquando a saúde lhe permitiu, deu o seu contributo ao actual agrupamento “Tuna de Tavarede”, bem como a outros conjuntos que solicitavam a sua colaboração.

Na Tuna de Tavarede

Era sócio honorário do Grupo Musical e da Sociedade de Instrução.

Ainda participou, como amador teatral, na representação de algumas peças, como Recompensa, Peraltas e Sécias, A Conspiradora e O Processo de Jesus.

Faleceu no dia 1 de Fevereiro de 2005.

Caderno: Tavaredenses com História

José Maria Cordeiro

Tavaredense, nascido em 1859, era filho de José Cordeiro e de Ana Pais. Foi casado com Ana Cruz Cordeiro, teve dois filhos, João, Mário, José Maria e António, e faleceu em 13 de Janeiro de 1940, com a idade de 81 anos.

Comerciante de mercearias e vinhos, tinha o seu estabelecimento perto do Largo do Paço, e exerceu funções na Junta de Paróquia e de regedor, na última década do século dezanove.

Tal como seu irmão Francisco, foi grande animador das festas populares na nossa terra. Com o seu estabelecimento melhor localizado que o de seu irmão, pois dispunha de muito mais espaço para montar o seu pavilhão, não poupava o Francisco na disputa de maior clientela, usando de meios menos próprios, como o de raptar, ou desviar, os músicos que seu irmão contratara para abrilhantar as danças no seu pavilhão.

Foi o que aconteceu em 1906 e 1907. Mas neste último ano, o Francisco reagiu, conseguiu outros músicos e pespegou um enorme letreiro no seu pavilhão, dizendo: NEM ASSIM. Como é que ele reagiu à provocação?

“Começou por lançar no espaço uma dúzia de restolhentos foguetes de morteiros com três respostas, que tinha para vender, deitou as mãos a uma gaveta da cómoda e dela ripou um lençol de muita estimação que, pelos modos, fora uma prenda de casamento, e fê-lo em tiras, colou-as umas às outras, mandando-as descerrar, a todo o comprimento do avantajado pavilhão do seu apreciado rancho, ornamentado a capricho com verdura, grinaldas de flores e bandeiras em profusão, muitos balões e cordas com papéis de cores garridas, onde se dançava e cantava, alegremente, até ao romper de alva, e juntou-lhe, em letras garrafais, a seguinte legenda, em resposta à tendenciosa falácia do seu querido mano Francisco: ATÉ AQUI CHEGUEI EU!...”.

Pois a verdade, e em conclusão da história, é que acabou por levar “uma tesíssima descompostura, no próprio arraial” de sua esposa, a senhora Aninhas, a quem teve de prometer comprar outro lençol idêntico, para substituir aquele que era “uma velha prenda de estimação do apartado dia de noivados de ambos”.

Caderno: Tavaredenses com História

Francisco Cordeiro

Natural de Tavarede, filho de José Cordeiro e de Ana Pais, aqui nasceu no ano de 1862. Casou com Maria Guilhermina Rodrigues e teve três filhas: Guilhermina, Rosa e Emília. Faleceu em Março de 1918.

Comerciante, tinha um estabelecimento de mercearias e vinhos, mais ou menos a meio da Rua Direita. Foi um dos fundadores da Sociedade de Instrução, em Janeiro de 1904. Em 1910 desempenhou as funções de regedor.

“Há dias noticiámos que uma doença obrigara o nosso querido amigo a guardar o leito. Magoadamente o dissemos e apetecíamos ao estimado comerciante desta terra o seu pronto restabelecimento, para que de novo o víssemos no labor da sua vida quotidiana. Infelizmente, comovidamente, vimos agora dizer que a malvada morte mais uma vez quis provar-nos que de ninguém se compadece, e por isso, ontem, segunda-feira, acabava de registar nas páginas da sua negra e terrível agenda mais um nome, o de um dos nossos melhores amigos, acabava de nos roubar para sempre aquele bondoso e caritativo homem que se chamava Francisco Cordeiro.

Era muito nosso amigo, como o era de todas as pessoas que com ele conviviam, como o ficava sendo, enfim, de toda a criatura que com ele falasse apenas uma só vez, e é por isto, por nos lembrar que era extremamente bondoso, que nós de forma alguma podemos deixar de derramar algumas lágrimas de viva saudade ao lembrarmo-nos do quase inesperado e infausto golpe, que vem enlutar o coração de uma família extremosa.

Francisco Cordeiro, que não morreu velho, pois apenas contava 55 anos de idade, gozava aqui de muita estima…”.

Talvez devido à sua condição de comerciante e, portanto, interessado para o seu negócio, foi um grande entusiasta das festas populares em Tavarede, nomeadamente das antigas festas sanjoaninas. Ele e seu irmão, José Maria (ver nota), igualmente estabelecido com o mesmo ramo de comércio, apesar de serem muito amigos, rivalizavam na organização dos tradicionais festejos, montando cada um o seu pavilhão, onde animadamente dançavam os dois ranchos então existentes na nossa terra.

O pavilhão do irmão Francisco, devido à localização da loja, era muito mais pequeno que o de José Maria, pois este, vizinho do Largo do Paço, dispunha de espaço bastante mais amplo. Neste último dançava o Rancho Flor da Mocidade e no outro o Rancho da Alegria. Claro que, numa terra pequena como era a nossa, a rivalidade era muita. E os manos Cordeiro, amigos, amigos, negócios à parte, tudo faziam para prejudicar o outro em benefício próprio. Não olhavam a meios. E aconteceu que, em 1906, tendo tudo preparado, o Francisco verificou que o seu querido irmão lhe havia raptado os músicos contratados, pelo que ficou sem música para o seu pavilhão. No ano seguinte, 1907, sucedeu-lhe o mesmo. “tendo à hora de arranjar uma fanfarra composta de homens de antes quebrar que torcer”. E então vai de afixar um enorme letreiro, no seu pavilhão, onde havia escrito: NEM ASSIM.

José Maria reagiu. Como? Veremos na nota respectiva.

Caderno: Tavaredenses com História

D. Antónia Madalena de Quadros e Sousa

Morgada. 10ª. Senhora de Tavarede, nasceu no dia 3 de Junho de 1774, filha de D. Joana Madalena de Quadros, morgada de Tavarede, e de José Juzarte de Quadros Cardoso Maldonado. Casou em 26 de Dezembro de 1791, com o célebre e poderoso fidalgo D. Francisco de Almada e Mendonça.

Além da Casa de Tavarede, D. Antónia Madalena herdou o senhorio dos Casais das Eiras, de seu pai, e o morgado da Casa dos Leites, de sua prima D. Maria Madalena de Sousa Leite, viscondessa de Condeixa.

Com seu marido e restante família, passavam grandes temporadas na nossa terra. A propósito, Pinho Leal, no seu Dicionário de Portugal Antigo e Moderno, escreve que “quando aqui residiam (Tavarede), eram a providência dos pobres destes sítios. As senhoras de sua família deram muitos ornamentos para a igreja matriz, alguns dos quais ainda existem”.

Tiveram dois filhos: João de Almada Quadros de Sousa de Lencastre e D. Ana Felícia, que casou com o morgado de Roliça, D. Tomás da Cunha Manuel Henriques de Melo e Castro, condecorado com a medalha da campanha de guerra peninsular, tenente coronel do regimento de milícias da Figueira.

D. Antónia Madalena morreu em Tavarede, onde viveu depois da morte de seu marido, no dia 25 de Fevereiro de 1835. “Diz a tradição que foi enterrada ainda viva”, na sua sepultura no Convento de Santo António da Figueira. Não se encontrou qualquer explicação para esta “tradição”.

Caderno: Tavaredenses com História

Sociedade de Instrução Tavaredense - 44


As Bodas de Ouro da colectividade, comemoradas durante o mês de Janeiro de 1954, alcançaram elevado nível. Relembremos um pouco dos comentários da direcção. “... com as visitas do “Orfeão de Leiria” e do “Grupo Miguel Leitão”, da mesma cidade; do “Grupo dos Estudantes da Universidade de Coimbra”; com os espectáculos “Revivendo o Passado”, nos quais colaboraram antigos elementos do nosso grupo cénico; as sessões solenes de abertura e encerramento, foram os factos mais salientes desta gerência que, se outros não houvessem, bastariam por si só para impor o nome prestigioso da SIT, pela forma brilhante como comemorou os 50 anos da sua prestimosa, cultural e beneficente existência”.

Na “Voz da Figueira” de 1 de Janeiro de 1954, vem publicada uma longa entrevista com o director do grupo cénico, que descreve, de forma admirável, a acção da nossa associação. É uma peça que merece ser lida. Leva-nos aos primeiros tempos do teatro em Tavarede e analisa, até com alguma amargura, a forma como então se fazia teatro. “... Partimos do princípio de que o teatro de amadores, praticado com devoção quase heróica pelas sociedades de educação e recreio espalhadas pelas vilas e aldeias de Portugal, constitui valioso elemento de cultura e recreio do povo, que interessa à nação manter em actividade. É assim que o Estado o encara? É seu dever, nesse caso, facultar-lhe e facilitar-lhe meios de vida. Presentemente as coisas passam-se como se os espectáculos de amadores fossem apenas... matéria colectável: cobram-se licenças, censuras das peças, vistos dos programas, imposto sobre espectáculos públicos (!) e contribuições para a Caixa Sindical de Previdência de Profissionais do Teatro (!!). Uma carga asfixiante! Não está certo. Se o Estado não presta outro auxílio, que ao menos não queira fazer dinheiro da actividade desinteressada do teatro de amadores”.


Evocação - O Sonho do Cavador - As duas Comadres (Maria José Figueiredo e Guilhermina de Oliveira)
Também José Ribeiro proferiu mais uma das suas palestras, que intitulou “A acção da Sociedade de Instrução Tavaredense como instituição de cultura e educação popular”, a qual foi muito apreciada por todos quantos a ouviram.

O primeiro acto cultural das comemorações, teve a participação do Orfeão de Leiria, “que entusiasmou a assistência, mantendo-se suspensa com a interpretação de alguns números do seu vastíssimo repertório”; do Grupo de Teatro Miguel Leitão, com a representação da peça de Anton Tchekov “O Urso”; e um acto de variedades musicais, “que deliciaram a assistência, tendo o público forçado, com os seus aplausos, a bisar alguns números”.

E no dia 30 de Janeiro, realizou-se uma “Noite Vicentina”, na qual o Grupo de Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, sob a direcção do Prof. Dr. Paulo Quintela, apresentou os “Auto da Barca do Inferno”, “Auto da Barca do Purgatório”, “Todo o Mundo e Ninguém” e “Súplica de Cananeia”. A sua actuação “foi calorosamente aplaudida pela assistência que enchia por completo, não só as cadeiras, mas também os corredores da sala de teatro”.

O grupo cénico tavaredense apresentou um curioso programa. No primeiro acto levaram à cena a comédia “Os Medrosos”, que tinha sido a primeira peça representada depois da fundação da colectividade, em Dezembro de 1904, e a segunda parte constou da peça “Evocação”. “Tivemos o ensejo e o prazer de ver representar, com um à-vontade de causar inveja a muitos novos, antigos amadores, desempenhando papéis que criaram, alguns há mais de 40 anos. Foi com verdadeira emoção e ternura que o público viu aparecer no palco as figuras remoçadas de Helena Figueiredo, Idalina Fernandes, Emília Fadigas, Maria José Figueiredo, António Coelho, António Graça, Francisco Carvalho e outros, a quem dispensou calorosas salvas de palmas, à medida que iam entrando em cena. Nos finais de acto, caíam sobre o tablado verdadeiras chuvas de flores, lançadas por algumas senhoras da assistência. Serviu de comentador ao espectáculo o sr. José da Silva Ribeiro, que antes de iniciar-se a representação de cada acto falou das peças a que pertenciam, fazendo a apresentação dos antigos, a quem saudou comovidamente, e dos novos amadores que iriam representá-las. Evocou também velhas figuras da cena tavaredense, como os irmãos Broeiro e tantos outros que, certamente, se pertencessem ainda ao número dos vivos, não deixariam de estar presentes naquelas inolvidáveis noites de saudade”.

Sessão solene - Bodas de Ouro - Presidiu à sessão o Prof. Dr. Joaquim de Carvalho

A sessão solene da abertura das comemorações teve a presidi-la a figura prestigiosa do grande Homem de Cultura figueirense Professor Doutor Joaquim de Carvalho que, encerrando a sessão, proferiu uma brilhante oração, em que louvou a acção da SIT, afirmando a determinado passo que “a Sociedade pela sua escola, pela sua vida associativa, pelo seu teatro, é exemplar no país e toda a gente a considera”.

Registamos o facto de que, depois do falecimento daquele ilustre figueirense, foi oferecido à Sociedade, por um dos seus filhos, “um autógrafo de seu Pai, que aqui se guarda como documento valioso e como preciosa relíquia, autógrafo que serviu de mero ideário para as palavras que proferiu na altura das Bodas de Ouro”.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 43



A iniciativa de levar teatro às aldeias e lugares do nosso concelho, e não só, foi bem sucedida. Nas Alhadas, o espectáculo, que teve lugar na Boa União, reverteu a favor do Jardim-Escola. A assistência, diz-nos o correspondente local, “vibrando de entusiasmo, aclamou os distintos actores, fazendo chamada especial a José Ribeiro, o impulsionador do Teatro no nosso concelho que, com certa comoção, agradeceu”. E conclue: “Que beleza de Teatro! Que belo desempenho! Que magnífica lição! Que apresentação tão distinta! Que naturalidade! Muito bem. Assim é que se faz Teatro!”.


Três Gerações - (Maria Aurélia Ribeiro, Violinda Medina e Silva e Maria Teresa Oliveira)

Depois do “Horizonte”, o grupo tavaredense deslocou-se a Leiria para apresentar “Raça”, “Frei Luís de Sousa” e “Pé de Vento”. Foram felizes em todas as deslocações. E se a “Raça” agradou inteiramente, como nos diz esta notícia: “Nunca tinhamos tido ocasião de apreciar este conjunto dramático, e à curiosidade natural dos que apreciam Teatro, juntava-se a de ver “como se portaria” um grupo de amadores, numa peça já nossa conhecida através do palco de maior responsabilidade do país, o do Teatro Nacional D. Maria II. Confessamos gostosamente que excedeu toda a nossa espectativa! A maneira como se apresentou, o à-vontade de todos estes actores-amadores, fazem-nos esquecer esse “amadorismo” tão vulgar, e até desculpável, em realizações desta natureza”, o agrado da récita com “Frei Luís de Sousa” não foi menor.

No jornal “República”, o dr. Vasco da Gama Fernandes, figura bem conhecida dos tavaredenses, depois de ter assistido à representação daquela peça, escreveu uma extensa reportagem sobre o teatro amador, referindo-se, muito especialmente, ao Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra e ao grupo cénico de Tavarede, e da qual recortamos: “... a arte excepcional do grupo de Tavarede, cujo “Frei Luís de Sousa” recentemente representado em Leiria, demonstra a que altura pode chegar a massa anónima do povo quando iluminada pelo talento e pela humana cultura dum José Ribeiro. ... Haverá melhor expressão de riqueza popular do que esses artistas proletários, debruçados, dia a dia, nos trabalhos duros da profissão e entregues nos longos serões à “compreensão” dos seus papéis, sem cultura, alguns analfabetos e outros sabendo ler mas ilaqueados pelas dificuldades intelectuais duma rápida assimilação? ... Mesmo que tenham à sua frente um homem invulgar como José Ribeiro, seu mestre e companheiro, como desconhecer o esforço hercúleo dessa massa erguendo-se à contemplação da beleza e sabendo-a transmitir de forma a causar inveja a alguns filiados no Sindicato profissional? ... Só quem, como nós, assistiu à representação do Frei Luís de Sousa pode avaliar da emoção, da verdade e da sinceridade, que estes proletários-artistas põem ao serviço de uma arte, que eles tanto sentem nos recessos das suas almas de eleição, embora tocados por uma simplicidade comovedora e aliciante”.

Também, e durante alguns anos, fizemos parte deste grupo. Praticamente como simples figurante. Contudo, ao lermos estas e tantas outras notícias sobre o grupo de que, como tavaredense que somos, tanto nos orgulhamos, pela elevação e divulgação que sempre fez da Cultura e do Bem, por tanta localidade do nosso País, temos, forçosamente, de sentir comoção. É por isso que, numa ou noutra destas historietas, nos temos excedido em transcrições. Mas, e agora que estamos a atingir o final dos primeiros cinquenta anos, dois terços desta nossa caminhada, entendemos que era da mais elementar justiça recordar, aos actuais, o passado glorioso da nossa colectividade. Muito em especial desta primeira parte da sua vida.

No final da representação de 'Horizonte', em Leiria

A terceira e última parte, pelo menos por agora, vai das “Bodas de Ouro” às “Bodas de Diamante”, e será muito mais resumida. O passado mais recente ainda não estará esquecido. Daremos nota dos acontecimentos mais marcantes, que servirão, pelo menos, de indicação a algum futuro interessado em aprofundar os seus conhecimentos sobre a Sociedade de Instrução e sobre Tavarede, de cuja história, indubitavelmente, esta colectividade faz parte em muitas páginas brilhantes.


Ainda foi apresentada uma outra peça, de grande categoria, antes das comemorações dos 50 anos. “Serão Homens Amanhã”, uma peça de que o crítico teatral do Diário de Lisboa escreveu: “Teatro muito agradável. Esta exposição modelar de factos e cenas, mantém-se do princípio ao fim, ainda quando a história nos dá alguns truques e imprevistos, ou mesmo inverosimilhanças. Deve repetir-se que o assunto é tão habilmente explorado que desejamos, à medida que os factos se vão desenvolvendo, que se dê, na verdade, aquilo que acontece, o que só por si é uma indicação clara e valiosa da forma como se acha tratado”.


Ainda pretendeu o grupo cénico representar outra peça, da autoria de Ramada Curto. Não lhe foi permitido pela censura. E, então, escreveu-se ao autor: “Foi desejo do grupo cénico da SIT representar o drama “Justiça”, de que V.Exª é autor. ... recebeu-se comunicação de que esta peça “estava proibida”! A “Justiça” não pode ser vista – nem por maiores de 18 anos! Parece que a peça é verdadeira... Sem afrontar o inatacável critério oficial – a que se deve obediência indiscutível – cumprimentamos o Autor daquela e de outras obras que situam Ramada Curto entre os primeiros dramaturgos nacionais contemporâneos, posição que, se em Portugal não lhe dá honra nem proveito, é título verdadeiramente honroso em nações civilizadas”

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Emília Duarte Costa

“Proprietária da Quinta dos Condados, em Tavarede, que há poucos dias se encontrava enferma, faleceu, notícia que consternou todas as pessoas que dela tiveram conhecimento e que apreciavam as distintas qualidades da veneranda senhora”.
Nascida em Liverpool (Inglaterra), filha de Tomás José Duarte e de Francês Jones Duarte, senhora de origem inglesa, viúva desde 1893 do sr. João José da Costa, “conservou-se sempre na sua confortável vivenda dos Condados, não quebrando as suas antigas relações com as melhores famílias da Figueira e multiplicando amoravelmente os actos de generosidade a favor de instituições humanitárias e de necessitados que a ela dirigiam o seu apelo.

Aspecto actual do palacete e da quinta dos Condados

Apesar dos seus 87 anos de idade, a srª. D. Emília Duarte Costa possuía ainda toda a lucidez do seu espírito culto, qualidade que mais cativava todas as pessoas que se honravam com a sua presença”.
Foi grande benemérita para a freguesia de Tavarede, especialmente para a Igreja Matriz, à qual concedeu diversos donativos. Também foi ela que deu o terreno necessário para a realização da feira de gado suíno, aos Quatro Caminhos do Senhor da Areeira.
Em Julho de 1911 foi agraciada com a medalha de filantropia e caridade do Instituto de Socorros a Náufragos.

Caderno: Tavaredenses com História

Diamantino Mendes da Rocha

Tavaredense, nasceu no Saltadouro, filho de Tomás Mendes Rocha e de Maria Matias. Casou com Maria de Jesus Silva, tendo três filhos, Alice, Lucília e António Manuel. Morreu no dia 27 de Agosto de 1980, com 70 anos de idade.
Alfaiate de profissão, tinha “atelier” em Tavarede, primeiro na Rua Direita e depois no Largo do Terreiro.
Tocador de concertina, era um grande animador das festas populares que então se realizavam, especialmente pelos santos populares. No Terreiro, formava orquestra com Pedro Medina, bandolim, e Manuel Lindote, pífaro e viola, mais um ou dois outros elementos que tocassem ferrinhos e pandeireta, instalavam-se nas velhas escadas da casa onde viviam José Vigário e a Ti Marquitas do Pires, que aproveitava a ocasião para fazer o seu negócio de venda de freiras e pevides. Intitulavam-se, jocosamente, como “Jazz da Malveira”.

Tocando sanfona no Cortejo Etnográfico do Concelho de Figueira da Foz - 1940

Por ocasião da romaria ao S. Paio, no primeiro domingo de Julho, era ele quem animava as tardes. Sentado num velho tronco, junto à capela, tocava animadamente as velhas modas de roda e o entusiasmante vira mandado, formando-se animada roda onde as palmas compassadas comandavam a dança.

Caderno: Tavaredenses com História

Frei Álvaro Teles

Filho de Pedro Lopes de Quadros e Sousa e de sua mulher Maria Teles de Meneses, nasceu em Tavarede.
“Tomou o hábito da ilustríssima Congregação de S. Bernardo, “cuja cogula he nevada gala”, argumento fatal da sua pureza, pois esta religião sagrada é o mimo daquela luz sem sombra, lua que não tem mancha, e sol que se não eclipsa, a Santíssima Nossa Senhora.
Deu-lhe obediência a ocupação de confessor do real convento de Lorvão, onde com exemplar procedimento desempenhou, que tinha por filho do Patriarca tão santo; daqui passou a ser mestre de teologia para aquele Escurial Lusitano, o grande, real e magnífico mosteiro de Alcobaça, donde seus discípulos tinham bem que aprender, pois lhe não faltavam virtudes que imitar, ficando os que o foram por abalizados, conhecidos, tendo neles que seguir os mais grandes exemplos, que quando a doutrina aproveita, é para o mestre a maior glória, sendo padrão que a estimação levanta a quem bem devotadamente se ocupa, e eterna a dívida em que se lhe fica, porque para o agradecimento é a vida curta e para a paga não há nem pode haver fazenda, e assim com razão se podem gloriar os seus discípulos deste mestre por terem a fortuna de que eles os animasse, e sempre se avaliará grande, quando a vida lhe perdure para que em tão exemplares empregos se exercite, e tão religiosamente se ocupe, donde foi promovido a abade de Seiça, em cujo governo mostrou o seu grande talento, porque contentar a muitos nunca foi pouco, e ser em todos geral o agrado sempre foi muito.
Desta ocupação passou a Prior de Alcobaça e executando-a louvavelmente algum tempo renunciou ao cargo, para que melhor sem encargos tratasse do espírito, porque o governar sempre inquieta por algum modo, sendo infalíveis os estragos do sossego e assim é mais seguro ter em pouco o que os outros estimam e não fazer caso do porque anhelam, pois neste desprezo cobrando forças o desengano se habilita um sujeito para o melhor triunfo”.


Caderno: Tavaredenses com História

Sociedade de Instrução Tavaredense - 42

No dia 11 de Janeiro de 1952, o nosso grupo cénico foi, pela primeira vez, representar a Leiria, num espectáculo que reverteu a favor do Jardim-Escola local. Apresentou a peça “Horizonte”. O jornal “Região de Leiria” teceu elogiosa crítica a esta récita. Desde a pontualidade do começo “como é louvável hábito do grupo de Tavarede”, à representação “da peça rústica de Manuel Frederico Pressler, Horizonte, cujo desempenho foi unanimemente considerado dos mais brilhantes a que se tem assistido no nosso teatro”, o crítico comenta a peça e sua interpretação, terminando da seguinte forma, relativamente à encenação: “À passagem do touro tresmalhado, vacas, cavalos e campinos, tudo se adivinha por detrás do muro que nos encobre o primor de técnica que José Ribeiro usou para tal. A suavidade daquela madrugada da abertura do 1º acto, com a passarada e os galos a cantar, encantou-nos.
Todas as cenas estão tratadas com saber e representadas com mestria, num conjunto harmónico e sem desnível, além do que resulta da maior evidência de alguns papéis e da maior capacidade interpretativa de certos elementos, o que é notório. Sente-se que há ali mão segura ao ordenar todo aquele movimento, que atinge por vezes proporções respeitáveis, como na cena da festa do casamento, com dezenas de figuras actuando naturalmente, vibrantemente, mas sem choque, ordenadas, em resumo – bem!
Ouvimos dizer que o público de Leiria tinha acabado de receber uma “lição de teatro”! Foi, sem dúvida, uma esplêndida noite, que oxalá as nossas companhias profissionais nos pudessem repetir mais vezes do que vem acontecendo há longos anos...”.
A 5ª palestra da série sobre o “Teatro”, que Mestre José Ribeiro proferiu, teve como tema “Garrett, novo fundador do teatro português”.
Frei Luís de Sousa - 1º. acto

No “Jornal Magazine da Mulher”, no seu nº 15, vem publicada um extensa reportagem, a propósito da representação de “Chá de Limonete”, que intitulou “Uma obra que dignifica. Em Tavarede, modesta aldeia da Beira, ensina-se Teatro”. É impossível estar agora a transcrever esta reportagem. Vem publicada no “Notícias da Figueira”, de 12 de Janeiro de 1952. Mas não deixamos de recolher algumas frases que entendemos mais significativas.
“Para quem descreia da existência dum fogo sagrado, constante e generoso que lute através de todas as contingências e de todas as dificuldades por uma ideia digna e firme do verdadeiro sentido de Arte teatral, ponha os olhos e o cérebro em Tavarede, terra pobre, perdida na Beira pobre... ... Chega a pasmar como é possível manter-se uma obra duma projecção tão elevada e tão nobre num meio insuficiente, cheio de asperezas da sua condição geográfica e humana... ...Ainda há pouco no teatrinho da SIT subiu à cena uma fantasia de três actos e 24 quadros, de José da Silva Ribeiro, com

música de António Simões, denominada “Chá de Limonete”. Essa fantasia que é a história singela da aldeia desde a sua fundação até aos nossos dias, foi montada a preceito, com cenários e guarda-roupa inteiramente novos, num esforço gigantesco que testemunha a vontade indómita e o admirável caminho seguido pelos amadores de Tavarede. Num livro de excelente apresentação gráfica e fotográfica do acontecimento, tivemos o prazer de constatar até que ponto o amor pelas coisas teatrais está espalhado naquele rincão da Beira. E comparando com o que cá se passa, fazendo a proporção entre as centenas de Tavarede e os muitos milhares de Lisboa, fica-nos no cérebro o clarão duma Obra que dignifica, reconhecida não só pelo seu público como por diversas associações humanitárias por ela protegidas em diversas representações de beneficência. E nós, como verdadeiros amantes do verdadeiro Teatro, daqui dizemos, orgulhosos em ajudar a transmitir a sua mensagem: operários e modistas, cavadores e ceifeiras de Tavarede, homens e mulheres dessa aldeia, reduto duma Eterna Arte, obrigado!”.

Ainda no ano de 1952, o grupo cénico tavaredense promoveu uma série de espectáculos, com duas peças de Gil Vicente (Auto da Barca do Inferno e Auto da Mofina Mendes) e uma outra, em 1 acto, de Ramada Curto (Três Gerações), levando-o a várias terras do nosso concelho, nomeadamente, Alhadas, Brenha, Caceira, Quiaios, Vila Verde, Santana e Lavos. Este espectáculo era antecedido por uma palestra, pelo director do grupo cénico, focando a época, a personalidade e a obra do fundador do teatro português “sublinhada sempre com fartos aplausos. Em toda a parte fomos recebidos com provas inequívocas de apreço, lamentando a maioria não ter instalações mais cómodas para podermos visitá-los mais vezes”.
O produto líquido de cada representação reverteu integralmente a favor das colectividades em cuja sede se realizou cada espectáculo. Como as despesas com guarda-roupa e cabeleiras eram elevadas e “sendo de admitir que numa ou noutra localidade a visitar, dada a sua pequena população e a pobreza do meio, a receita não chegará para as despesas; mas nem mesmo esta circunstância impedirá a visita dos tavaredenses, pois o “déficit” que se verificar será coberto pela Sociedade de Instrução Tavaredense”.
Frei Luís de Sousa - 3º acto - Romeiro e Telmo Pais

Sociedade de Instrução Tavaredense - 41

No número de 6 de Setembro de 1950, o jornal “Notícias da Figueira” publica uma extensa entrevista a José da Silva Ribeiro, a propósito de “Chá de Limonete”. Motivado por esta entrevista, o jornal lisboeta “A Voz”, publica uma crónica sobre o Teatro de Amadores:

“Falar da decadência do Teatro português é zangarrear em sanfona velha. A falação tem sido feita, há um ror de anos a esta parte, sob todos os aspectos e a todos os propósitos. Nunca, porém, é demais bater a tecla, enquanto se não enfiar por outro caminho. Já lá dizia o bom do Rosalino: “o Mundo não se emenda, mas eu não largarei jamais o Mundo!”. O homem não era, afinal, tão desassisado como o quizeram fazer.

Chá de Limonete - São Pedro e Frei Manuel de Santa Clara

Afere por este critério um jornalista que provou o seu pulso na imprensa provinciana, espírito vivo e sensato que é um apaixonado do Teatro, tendo organizado na ridente povoação de Tavarede, a par da Figueira da Foz, um grupo teatral na Sociedade de Instrução Tavaredense, formado por figurantes buscados nas mais humildes profissões – gentes dos campos, mesteirais, etc. Este núcleo, sob a sua inteligente orientação, tem interpretado com geral aplauso não só peças do seu organizador, como de outros autores nacionais e estrangeiros. É uma obra de cultura e patriotismo exemplar a imitar para que justo é dirigir as atenções de quantos se interessam pelo Teatro Português”.

Em pleno êxito, a fantasia “Chá de Limonete” foi retirada, temporariamente, de cena, para dar lugar a mais um outro extraordinário espectáculo. No dia 24 de Novembro de 1951, é apresentada, na sede, a imortal obra-prima do teatro português “Frei Luís de Sousa”. Do trabalho que deu a sua montagem, copiamos este apontamento do relatório desse ano:

“Vós que assististes cómoda, ou incomodamente instalados na plateia à representação do “Frei Luís de Sousa”, não podeis avaliar, e pena é que assim seja, porque se o pudesseis fazer isso significaria interesse pela vossa Sociedade e estimular-nos-ia a vossa presença amiga, não podeis avaliar, como se ia dizendo, a soma de sacrifícios, de desânimos, de estudo, de energia e trabalho enfim, despendidos na montagem desta peça inolvidável. Todos os amadores colaboraram com o seu saber e com a sua melhor boa vontade. Mas é, sem dúvida, e desnecessário seria dizê-lo porque todos vós o sabeis bem, ao dinamismo, à cultura, aos profundos conhecimentos das coisas de teatro, à superior inteligência do director cénico, que se fica devendo mais este triunfo da nossa Sociedade, delirantemente aplaudido por quantos assistiram ao Frei Luís de Sousa.

Quem, como nós, acompanhou a evolução do que se apresentava como um sonho pelo muito que tinha de arrojado, até à admirável realidade que todos presenciastes, tem por força de admirar e avaliar o enorme trabalho levado a efeito pelo nosso director cénico. A quantidade assombrosa de correspondência trocada para recolha de elementos necessários; a probidade com que a peça foi montada e posta em cena, levando o seu escrúpulo até à observância dos mais ínfimos pormenores, causando a admiração dos próprios profissionais de teatro; o dispêndio de importâncias do seu próprio bolso para correspondência, etc., e, sobretudo, o trabalho gigantesco e exaustivo, duma persistência única, realizado como encenador, impõem-no à nossa admiração e gratidão.

Não, nem todas as associações podem representar Frei Luís de Sousa. E nenhuma, por certo, o levaria à cena com o rigor e êxito com que nós o fizemos. Para isso seria necessário que pudessem contar com um elemento tão precioso como esse Homem que todos nos orgulhamos de ter por consócio e conterrâneo. Para o senhor José da Silva Ribeiro vai todo o nosso agradecimento de directores pelos seus ensinamentos, pelos seus preciosos conselhos e pela maneira generosa como sempre colaborou connosco; e as nossas homenagens de homens que muito querem à sua terra, pelo seu grande talento”.

A colectividade, nesse ano, fez uma edição, em livro, da peça “Chá de Limonete”, com o propósito de angariar fundos para os seus cofres e com destino às obras de ampliação e transformação da sede. Foi um êxito, encontrando-se, há já muitos anos, totalmente esgotado.

Chá de Limonete - Lamentos da Vila de Tavarede

Num dos capítulos seguintes contaremos alguma coisa mais sobre “Frei Luís de Sousa”. Como havíamos referido, no primeiro espectáculo de “Chá de Limonete”, o artista Rogério Reynaud sofreu grave acidente. E em Maio de 1951, com uma festa promovida pelas associações do concelho, como regozijo pelo seu restabelecimento, é-lhe prestada uma homenagem no Teatro Parque-Cine, que teve a participação do Grupo Coral da Figueira, da Associação Naval (ginástica), do Grupo Caras Direitas (dois quadros de revista), da Filarmónica Figueirense (entreacto Na Volta do Mar), e do nosso grupo cénico, que representou o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente.

Ainda nesse ano, o director cénico efectuou a sua 4ª palestra sobre Teatro, com o título “As trilogias dramáticas”, com o sumário: “A trilogia ligada de Ésquilo – Oréstia”; “A trilogia das Barcas, de Gil Vicente”; “A trilogia de O’Neill – Electra e os Fantasmas”; e “Imortalidade do Teatro”. Respigamos este breve comentário: “e, embora nos desvaneça o facto da maior parte da assistência ser de indivíduos de fora, o que prova o interesse que aos estranhos merecem estas realizações, desgosta-nos sobremaneira o quase desinteresse manifestado pela maioria dos nossos consócios e conterrâneos, pelos assuntos que interessam à sua cultura”.