Junho de 1955. Tavarede recebe mais uma honrosa visita. A Banda Nabantina, de Tomar, que veio abrilhantar as festas de S. João, na Figueira, deslocou-se à nossa terra para agradecer os espectáculos de benefício que o grupo tavaredense havia dado naquela cidade. “E ao som de vivas a Tomar e à terra do limonete, a Banda Nabantina, seguida de enorme cortejo, atravessou a povoação, tocando uma linda marcha. Das janelas, engalanadas com colchas, são lançadas milhares e milhares de pétalas de flores sobre os tomarenses, que recebem salvas de palmas em todas as ruas por onde passam”.
A publicação “Jornal de Actualidades”, num artigo sobre o teatro-amador português, denomina a nossa terra como “Tavarede – Aldeia-Escola de Teatro”. Depois de várias considerações, refere “A aventura maravilhosa daquela aldeia pobre, a espreitar a Figueira da Foz, é uma verdadeira gesta de amor e de dedicação. Noite caída e ceia tomada, rapazes e raparigas de Tavarede, trabalhadores dos campos e das oficinas, operários e cavadores, modistas e empregados de escritório, carpinteiros, serralheiros e pedreiros dirigem-se para o pequenino palco-escola da Sociedade de Instrução Tavaredense, uma associação cultural e recreativa fundada em 1904, que tem, desde a sua fundação, mantido um extraordinário labor. Esta associação derrama a sua benéfica e luminosa actividade numa aldeia muito pequena e esse motivo faz com que poucas famílias não tenham representação no seu grupo de amadores teatrais”. E conclue desta forma: “Mas o aspecto para nós de maior realce na actividade de José da Silva Ribeiro, está consubstanciado na sua ideia de tornar os amadores de Tavarede conscientes das personagens, dos seus sentimentos, das ideias que as determinam na época em que vivem e do ambiente em que essas mesmas personagens se movem. Tudo lhes é indicado através de pequenas palestras durante os ensaios, palestras que são esquematizadas sem ar de lição, mas que são compreendidas pelo seu heterogéneo grupo de amadores. Parece-nos que mais não será necessário escrever para que fique esclarecido porque chamámos a Tavarede, a aldeia-escola de Teatro. E para começarmos o nosso roteiro não poderíamos deixar de escolher esse admirável agregado beirão, composto de gente que trabalha arduamente todo o dia e que, à noite, procura no Teatro a sua fonte de saúde mental. Falámos de Tavarede. E isso muito nos honra!”.
A Sociedade de Instrução colaborou, em 1955, numa embaixada figueirense que foi à cidade da Guarda apresentar um espectáculo cultural. Pelo nosso grupo foi representado o terceiro acto de “Frei Luís de Sousa”, antecedido por uma explicação do entrecho do 1º e 2º actos, feita pelo director do grupo cénico.
Cena de 'Ana Maria' - 1956
Novas peças foram levadas à cena. Recordamos, somente, “Israel”, “Ana Maria” e “Peraltas e Sécias” e ainda, pouco depois, “A Conspiradora”. Antes de fazermos algumas referências ao que se passou com estas peças, referimos que, em Janeiro de 1956, o programa do espectáculo do aniversário foi bastante atractivo. Teve três partes: a primeira, constou de uma síntese da peça “Tá-Mar”, pelo Grupo de Teatro Miguel Leitão, de Leiria; a segunda, de um fragmento da peça “Entre Giestas”, pelo nosso grupo; e a terceira, foi preenchida com guitarradas, serenata e canções por estudantes do Orfeão e da Tuna Académica de Coimbra.
A peça “Ana Maria”, da autoria de Alberto de Lacerda, José Tocha e José Ribeiro, com música de Joel Mascarenhas, baseia-se em factos históricos, ocorridos em França no século 18, e tem como figuras principais “o famoso pintor Fragonard, a célebre bailarina Guimard e Ana Maria, discípula do Mestre, que depois se tornou sua mulher”. Na opinião das críticas encontradas, não foi uma peça muito conseguida. “Embora se divise através de tudo uma tentativa de trabalho sério e honesto, muito de apreciar e louvar, isso não basta para que esta “Ana Maria” consiga fazer carreira”.
“Depois do excepcional relevo dado pelo mesmo grupo (da SIT) às comemorações garrettianas, esta homenagem à memória de Marcelino Mesquita, testemunha quanto o valoroso grupo de Tavarede se empenha em reacender no espírito do numeroso e selecto público frequentador dos seus espectáculos, a chama votiva do culto das grandes figuras da dramaturgia portuguesa”.
Isto foi escrito a propósito da peça “Peraltas e Sécias”, com que a SIT comemorou o centenário do nascimento de Marcelino Mesquita. “A Voz da Figueira”, donde respigámos a nota, escreve ainda a propósito do mesmo assunto: “Demonstrado está que dos pequenos e anónimos grupos de amadores provincianos têm saído grandes figuras do nosso teatro profissional, inclusivamente notáveis encenadores, justo se tornava, como preito de gratidão a esses grupos que praticam a arte de representar por apaixonado amadorismo, lhes fosse dispensada protecção, concedendo-se-lhes carinhoso auxílio em vez de os desconhecer ou até enredar a sua acção em asfixiantes teias burocráticas”.
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