quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 47


Sintra, a chamada sala de visitas de Portugal, recebeu o nosso grupo cénico nos dias 2 e 3 de Setembro de 1956, que ali representaram, em benefício da Santa Casa da Misericórdia local, dois espectáculos, com as peças “Frei Luís de Sousa” e “Peraltas de Sécias”. À representação desta segunda peça assistiu a senhora D. Inês Ressano Garcia, filha do autor e a quem foi oferecido um ramo de flores. Entre outros notáveis, que assistiram a estas representações, contaram-se os actores Alves da Costa e sua esposa, Brunilde Júdice que, entusiasticamente, felicitaram o nosso grupo.


Frei Luís de Sousa - 2º. acto

Na “Tabela” do Teatro Carlos Manuel, onde se realizaram as referidas récitas, foi afixado, não se sabe por quem, um significativo soneto pondo em relevo as actuações dos nossos amadores. Está assinado, simplesmente, por um “Espectador”.
Em Novembro de 1956, por ocasião do aniversário natalício de José Ribeiro, uma comissão representativa da direcção da SIT, como o dia coincidia com um domingo, em conjunto com elementos da secção dramática e comissão de diversões, resolveu prestar-lhe uma homenagem. Recusou terminantemente. Tomaram, então, a iniciativa de “realizar um almoço de confraternização para inauguração da época de inverno, para assim os sócios terem a satisfação de encontrar junto de si, naquele dia, o Homem que, há mais de 30 anos, tão brilhantemente dirige a secção dramática”, o qual decorreu num ambiente da mais sã e fraterna amizade.
“A necessidade imperiosa da reparação do edifício da nossa sede, com a substituição de todo o telhado, por um lado, e o incentivo que temos recebido de alguns sócios, amigos e admiradores da obra cultural e beneficente da nossa colectividade, por outro, levaram esta direcção a trazer ao conhecimento, apreciação e resolução da assembleia geral, o projecto das obras de transformação da sede, projecto que foi graciosamente elaborado pelo senhor Arquitecto José Isaías Cardoso e que já se encontra aprovado pela Inspecção-Geral dos Espectáculos”.
Embora a época não fosse propícia, a direcção tomou a deliberação de tentar a realização do empreendimento. “Para a realização destas obras, temos já donativos e receitas especialmente destinadas a este fim, na importância de 31.000$00. Contamos com outros donativos e esperamos obter da Câmara Municipal e da Comissão Municipal de Turismo subsídios para o mesmo fim. E estamos também convencidos de que a actividade da secção dramática ajudará poderosamente a levar por diante o nosso objectivo, dando espectáculos nas várias localidades do concelho e noutras localidades do País aonde se tem deslocado para fins beneficentes”.
Gerou-se, então, uma verdadeira onda de solidariedade para com a SIT. A imprensa colaborou significativamente. Para não alongarmos muito, vamos só transcrever um pouco do apelo, feito por um dedicado sócio, através do “Notícias da Figueira”. “Não há ninguém, fora ou dentro do distrito de Coimbra, que ignore em que têm sido gastos os operosos e construtivos 53 anos de existência da SIT. E como tem sido repartido o seu abnegado esforço; como tem sido proveitosa – para as instituições de caridade – a sua abençoada missão de dar sem olhar a quem. Dar, em sacrifícios de toda a espécie, muito da sua acção, do seu valimento, do seu trabalho, operado religiosamente nas curtas horas de lazer dos seus dedicados amadores dramáticos e do respectivo e ilustre director, em benefício dos desprotegidos da sorte. Uma longa vida de acção cultural e humanitária – de manifesto e útil proveito para todos. Para todos, sim. Simplesmente, a SIT tem-se esquecido de si. Cuidou mais nos outros, do que em si. Saltou por cima dos sagrados preceitos de que boa caridade começa por nós próprios... De tão louvável sistema, a velhinha SIT chegou ao estado em que se encontra: Pobre. Pobre – mas asseada e limpa; vigorosa e linda. Só rica em conceitos e gratidões.

Peraltas e Sécias

A sua sede carece de benefícios e ampliações. Uma alma tão grande não pode continuar, por mais tempo, a “vegetar” numa humilde e acanhada casa adaptada à sua elevada acção. À sua graciosa missão. Precisa de meio-ambiente próprio. É digna de “viver” com mais comodidade e mais conforto. Sendo isto verdade – porque o é -, pergunto: Tornar-se-à missão difícil tentar um apelo aos amigos e admiradores da benemérita SIT, no sentido de obter uma subscrição pública, por intermédio da imprensa, da Figueira e de fora, destinada à aquisição de tijolos para as obras de que necessita a simpática e utilíssima colectividade de Tavarede?”.
O apelo foi ouvido. Não se abriram subscrições na imprensa, mas não tardaram a surgir apoiantes à intitulada “Campanha do Tijolo”. Numa outra notícia, refere-se que “a fogueira alastra. O sr. José Augusto Guedes, da Fontela, quiz ser o primeiro a oferecer materiais para as obras da colectividade. Assim, enviou hoje 2.000 tijolos dos autênticos, acompanhados de vales para 1.500 quilos de cal”.
E, diga-se já, em breve as obras se tornaram uma realidade. Foram grandes as ajudas que sócios, amigos e admiradores deram. Muito contribuíu, também, o grupo cénico, com os vários espectáculos que realizou. Mas a grande ajuda acabou por vir da benemérita Fundação Calouste Gulbenkian. O subsídio que concedeu, cerca de metade do custo das obras, tornou possível que, ao fim de tantos anos, o grande sonho se tornasse realidade. A nossa colectividade passou a dispor de uma das melhores salas de espectáculos do nosso concelho.

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