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sábado, 20 de junho de 2015

Tavarede no Teatro - 2

         Em Janeiro de 1911, a Sociedade de Instrução Tavaredense, para comemoração do seu sétimo aniversário, levou a efeito um novo espectáculo. Recolhi esta notícia do jornal “A Voz da Justiça”, do dia 31 daquele mês e, embora não informe qual foi o programa apresentado, surpreendeu-me bastante na parte que vou transcrever:

“Foi um magnifico serão, fechando pela exibição d’um trabalho de José da Silva Ribeiro, a que nós damos bastante valor. É um pequeno drama e uma grande lição que oxalá aproveite aos que infelizmente preferem a frequencia na taberna e no jogo ao santuario da Escola. Pintando claramente as consequencias funestas dos que se deixam arrastar pelo vicio até à pratica dos mais horrorosos crimes, termina pela – Apoteóse à Instrução.
         Felicitamos José Ribeiro pelo exito merecido que obteve a sua produção literaria e desejamos que continue”.

         Muito frequentemente se encontram, nos diversos jornais figueirenses, ao longo dos anos, notícias dos seus correspondentes locais, chamando a atenção, e condenando mesmo, os nefastos efeitos da trilogia “taberna, jogo e alcool” que, não sendo exclusivo de Tavarede, proliferava com abundância na nossa terra. Claro que era proveitoso para os taberneiros, e havia bastantes, mas trazia graves prejuízos aos pobres trabalhadores, na sua maior parte cavadores, ainda sem qualquer nível de instrução, e que depois de árduos dias de trabalho com a enxada, procuravam, naqueles vícios, um pouco de esquecimento para a sua “negra” vida. Posso dizer que desde os primeiros números dos jornais publicados encontrei notícias destas. E, infelizmente, muitos anos depois ainda as continuei a encontrar.

         Como se verá lá mais para a frente, o teatro era, então, um meio ideal para denunciar e combater este mal. Ora, aquele retalho acima transcrito, leva-me a fazer dois comentários. Um deles é que, tendo feito dezasseis anos havia dois meses, terá sido este o primeiro trabalho de José Ribeiro como autor teatral. É, na verdade, extraordinário que, com dezasseis anos, tenha escrito uma pequena peça, para mais um drama, que mereceu tão elogiosas referências. O segundo, e sabendo nós como ao longo de toda a sua existência José Ribeiro sempre lutou em defesa dos trabalhadores e do povo da terra do limonete, leva-me a admitir que ele tenha situado a acção daquele pequeno drama, nas tabernas de Tavarede e na Escola, certamente referindo-se à escola nocturna da Sociedade de Instrução Tavaredense.

         Nada posso acrescentar sobre este assunto, mas julgo acertado incluir aqui esta breve referência, não só como simples curiosidade, mas como demonstração da precocidade talentosa do saudoso Mestre nestes trabalhos teatrais dedicados ao povo da terra do limonete, da qual tanto se orgulhava de ser filho.

         No ano seguinte, 1912, surgiu no palco tavaredense a primeira revista. Tinha o título de “Na Terra do Limonete” e foi seu autor João dos Santos, o proprietário da quinta dos Condados e do edifício do Terreiro, onde se encontrava instalada, desde o seu início, a Sociedade de Instrução Tavaredense, e que havia herdado de João José da Costa. Tal como este, também João dos Santos exerceu temporariamente as funções de ensaiador do grupo cénico. Foi autor da música o tavaredense Gentil da Silva Ribeiro, pai de José Ribeiro.

         Relativamente a esta revista, encontrei na imprensa figueirense os seguintes apontamentos. Em “A Voz da Justiça” de 9 de Abril, diz-se:

“Como dissémos, a Sociedade de Instrução realizou na sábado uma récita com a revista intitulada Na Terra do Limonete e a comédia Birras do Papá. Fazer uma revista de costumes de Tavarede, terra pequena, em que escasseia o assunto e há sobretudo o receio de melindrar as personalidades atingidas, não é tarefa muito fácil. Daremos, porém, em poucas palavras, a nossa humilde opinião: - os artistas compreenderam bem os seus papeis, imprimindo-lhes muita graça e naturalidade. A revista foi admiravelmente ensaiada por Vicente Ferreira. O cenário, obra de Jean Batout produz magnífico efeito. A música, composição de Gentil Ribeiro, tem números lindíssimos e boa execução e, já que falamos em música, não esqueceremos Eugénia Tondela e António Graça, que cantaram corretamente as canções que lhe foram destinadas. Houve aplausos em barda, especialmente na parte final (apoteose), em que D. Limonete estabelece o confronto entre o convívio deletério da taberna e a paz e a fraternidade que predomina no seio da Sociedade d’Instrução. No próximo sábado repete-se a revista”.

         No outro jornal então publicado, a “Gazeta da Figueira”, escrevia-se na sua edição de 17 do mesmo mês:

         “O elegante theatro da Sociedade d’Instrução nos dois ultimos sabbados regorgitou de pessoas da familia dos seus associados. A Superior sobressaia pela formosura das nossas gentis conterraneas vestidas luxuosamente, dando assim uma nota sympathica à festa familiar da benemerita agremiação.
         Representou-se a revista de costumes tavaredenses – Na Terra do Limonete – que foi habilmente desempenhada, tendo por isso o agrado de todos que applaudiram com enthusiasmo os amadores, especialisando Eugenia Tondella, inteligente rapariga que tem conquistado no palco innumeras sympathias; Antonio Graça e Vicente Ferreira, ensaiador e quem interpretou o papel de D. Limonete, - arrancando à plateia bastantes palmas na apotheose – excellente propaganda para instruir os filhos do povo, porque se combate os vicios que os fazem viver criminosamente nas trevas da ignorancia e se lhes aponta o caminho do bem: - a escola e a associação.
         A musica de Gentil Ribeiro é bonita e o scenario do nosso amigo Jean Batut é de magnifico effeito, trabalho que prova mais uma vez a sua habilidade de pintor.
         Ao sr. João dos Santos, auctor da revista, endereçamos os nossos applausos, desejando ardentemente que continue, com o mesmo enthusiasmo, na espinhosa mas humanitaria missão de instruir os filhos de Tavarede”.

         Ainda sobre esta revista mais um pequeno apontamento que encontrei em “A Voz da Justiça”, do dia 23 de Abril:

         “Com a repetição da revista – Na Terra do limonete – terminou no sábado a série de serões teatrais com que a Sociedade d’Instrução Tavaredense nos deliciou nos ultimos mezes.
         A sala estava repléta de espétadores que ali foram manifestar a sua gratidão aos briosos rapazes que tão proveitosamente souberam empregar as horas que lhes restavam do seu labor quotidiano.
         Surpreendeu-nos o que D. Limonete lobrigou no firmamento atravez d’um vidro fumado: além d’uma enorme multidão de ratos e musicos, em volta do sol, viu tambem o Vicente Ferreira a dançar o vira com a lua e o compadre Alegria a chorar como uma Madaléna arrependida”.

         Para abertura da época teatral de 1913, encontrámos, também em “A Voz da Justiça”, de 4 de Abril, a notícia de mais uma récita promovida pela Sociedade de Instrução Tavaredense, representando-se – Uma situação complicada (certamente uma comédia) e uma paródia de revista, intitulada “Dona Várzea”. Desta, não encontrei qualquer outra notícia.

         É pena que se não encontrem os textos destas duas revistas de João dos Santos, pois presumo a sua autoria de ambas, mas foram elas, e disso não há qualquer dúvida, as primeiras escritas sobre os usos e os costumes do povo tavaredense. Da última, encontra-se arquivada na biblioteca da colectividade, a partitura musical.

         Como se faz referência nas notícias transcritas, foi ensaiador Vicente Ferreira, também ele intérprete.

         É pouco, como se vê, mesmo muito pouco, o que se sabe sobre estes trabalhos. Mas, e ainda antes de passar à seguinte peça sobre o tema tratado, e a partir da qual já existem os textos e muito mais notícias, vou, uma vez mais, socorrer-me do livro “50 Anos ao Serviço do Povo”:

         “O primeiro programa impresso que existe no arquivo, é o da revista local em 2 actos e 6 quadros Na Terra do Limonete, representada no dia 6 de Abril de 1912. Foi escrita por João dos Santos e musicada por Gentil da Silva Ribeiro, que desde os primeiros anos da Sociedade, logo após a saída de João Proa, tomou a direcção da orquestra e ensinou música, mantendo-se naquelas funções, dedicada e desinteressadamente, até ao seu falecimento, em 25 de Julho de 1918. Por este prospecto sabemos que o grupo cénico era então constituído por: Eugénia Tondela, Felismina de Oliveira, Clementina de Oliveira, Belmira Rodrigues, Aurora de Oliveira, Guilhermina Santos, Virgínia de Oliveira, Vicente Ferreira, António Broeiro, Jaime Broeiro, José da Silva Ribeiro, António Graça, José Fernandes Serra, António Duarte Silva, João Figueiredo, José Gomes da Apolónia, João Graça e António Grilo. Faltam, porém, aqui os nomes de alguns elementos do coro, que não figuram no programa”.



sábado, 6 de junho de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete -131

         Ainda em 2007, o teatro tavaredense, através da associação do Terreiro, deslocou-se, pela segunda vez, ao estrangeiro. Foi a Espanha e  aqui fica a notícia. A Sociedade de Instrução Tavaredense está neste momento inserida num projecto concebido pela Escola da Noite a convite da Delegação Regional da Cultura do Centro e que decorre ao longo do ano de 2007.
         Estão envolvidos cinco grupos de teatro da região centro e a matéria teatral sobre a qual se debruça este projecto é constituída por oito peças em um acto de Anton Tchekov.
         Coube à SIT representar as peças ‘O pedido de casamento’ e ‘O urso’, as quais já foram apresentadas em Caceira, no âmbito das jornadas do Teatro Amador e também em Valladolid, e no Centro Cívico Bailarin Vicente Escudero.  Esta deslocação foifeitaaconvite da Delegação Regional da Cultura do Centro que mantém um intercâmbio

         Coube também à SIT encerrar o Festival de Teatro Amador de Castilla y Léon 2007. Segundo fonte da colectividade de Tavarede, ‘a actuação aconteceu perante uma sala repleta de espectadores, alguns dos quais especialistas em teatro, mas desconhecedores da nossa língua, o que foi para os amadores da SIT um enorme desafio apresentar o seu espectáculo. Contudo, fizeram-no com enorme brilhantismo, tendo, inclusivamente, sido interrompidos por uma ocasião.
         A forma entusiástica como foram aplaudidos e felicitados demonstra bem o agrado com que o nosso trabalho foi recebido’.
         O próximo dia 19 de Maio, pelas 21,30 horas, haverá de novo Tchekov na SIT, sendo talvez esta última representação em Tavarede devido a compromissos já assumidos em termos de itinerância.

         Também aqui registamos mais uma pequena nota, recolhida da reportagem escrita sobre as festas comemorativas de mais um aniversário do Clube Desportivo e Amizade do Saltadouro. ...’ trabalho e união de muita gente para discutir como fazer mais e melhor para o Saltadouro’. A colectividade tem como objectivo ‘possibilitar que as pessoas se encontrem umas às outras para além das acções que desenvolvem’. Na sessão solene de 2009, ‘... para o CDAS que estava com dificuldade na constituição das direcção. É uma satisfação trabalhar nesta colectividade pelo amor ao associativismo, sem esquecer o trabalho inexcedível da família Serra’, disse o novo presidente.
         Como obras necessárias apontou-se a necessidade de ampliação da sede. Falta um salão de ensaios, um armazém dos apetrechos do Rancho dos Cavadores do Saltadouro e uma sala de exposições que permita dar visibilidade ao rico espólio.

         E, para acabar este capítulo, é a altura de nos debruçarmos um pouco sobre o centenário do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.

         Com a simplicidade que é tradicional na longa vida do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, foram festejados, em Agosto de 2011, os primeiros cem anos desta associação. Foram comemorações simples, mas que tiveram a dignidade que o brilhante passado da colectividade merecia.
        
         Dentro do programa, que além da confraternização dos seus sócios e simpatizantes, teve diversos acontecimentos desportivos e recreativos, de que destacamos o espaço dedicado ao folclore, houve dois eventos destacados, a publicação de um livro historiando a vida da colectividade e a sessão solene do centenário.

         No decorrer dos cadernos destas memórias e histórias do associativismo na nossa terra, temos descrito, de forma sumária mas baseada em elementos concretos, a vida e a obra desenvolvida por todas as associações da freguesia, embora nos tenhamos debruçado mais pelas duas colectividades aldeãs. É um facto real e indesmentível a sua acção no desenvolvimento social, cultural e educativo que desempenharam ao serviço dos tavaredenses.

         Certamente que ainda estarão recordados daquilo que foi lembrado da vida do Grupo Musical agora centenário. Houve períodos difíceis, é certo, mas os grupistas, sempre com uma dedicação invulgar, tiveram a coragem suficiente para as ultrapassar. A actual sede da colectividade é a quarta sede da colectividade. E se a primeira era um pequeno e modesto ‘cardanho’, a actual é uma obra de que a própria vila de Tavarede se pode orgulhar.


         O seu teatro, que alcançou êxitos enormes, não só localmente mas em muitos palcos onde actuou e a sua tuna ‘a mais completa e bem organizada do concelho, foram evocações especializadas na sessão solene comemorativa, durante a qual se registaram muitas declarações de apreço pela actividade desenvolvida pelo Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, no decurso do tempo decorrido desde 17 de Agosto de 1911, data escolhida para a fundação, até à actualidade. Esta boa actividade não foi esquecida pelas autoridades locais e concelhias presentes no evento.



    Associativismo em Tavarede...
                 ... até quando?...



         À pergunta ‘O Associativismo na Terra do Limonete (Tavarede) até quando?’,  com a qual titulámos este nosso último capítulo destas “Memórias e Tradições”, ocorre-nos, de imediato, responder: “Até sempre!”.

         Porquê? Pela simples razão de acreditarmos sinceramente que o homem, como ser humano, racional e inteligente, já aprendeu que o isolamento, por muito cómodo que seja, não é futuro. Mas, vejamos primeiramente o que é o Associativismo. “É o sistema dos que se encontram unidos por um ideal ou objectivo comum. É o movimento que fomenta a proliferação de associações com o objectivo de atingir, solidariamente, finalidades comuns quer revertem a favor dos seus membros”.

         Transcrita esta descrição de Associativismo, debrucemo-nos então sobre o mesmo na nossa terra. Já sabemos que terá tido os seus inícios nos fins do século dezoito ou no princípio do século dezanove. Tavarede vivera, até pouco tempo antes,  num verdadeiro regime feudalista, sob o qual a família Quadros ‘reinava’ despoticamente na aldeia, aliás, também subordinada ao Cabido da Sé de Coimbra, devido à doação que lhe havia sido feita séculos atrás.

         A libertação do povo tavaredense ocorreu em 1771, com a elevação do lugar da Figueira da foz do Mondego a vila e com a transferência para lá da câmara e justiças que, havia séculos, estavam sedeadas em Tavarede. O povo, contudo, encontrava-se num verdadeiro estado de ignorância total.

Mas, apesar de abrigada dos ventos do norte pela encosta serrana, a nossa terra não escapou aos revolucionários ventos que, provindos especialmente de França, terão espalhado por todo o lado as três mágicas palavras: liberdade, igualdade e fraternidade. Porém, se esta trilogia era por todos ambicionada, qual seria a melhor maneira de a conseguir?

Como sabemos, a liberdade só tem sentido se a soubermos gozar dentro dos limites que vão até ao caso de com ela não prejudicarmos ou lesarmos o nosso próximo. A igualdade leva-nos a admitir que todos nascemos iguais e que assim deveremos morrer, pelo que os direitos e regalias devem ser iguais para todos, independentemente do seu nascimento.  E quanto  à fraternidade, as relações harmoniosas e a convivência amigável entre as pessoas e as comunidades onde estão inseridas, são a sua razão principal.

 E se a Declaração Universal dos Direitos do Homem estipula que ‘toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas’, a própria Constituição da República Portuguesa diz que ‘os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização constituir associações, desde que estas não se dediquem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei’.

Ora isto tudo é bastante claro para todos nos dias de hoje. Mas, há duzentos e tal anos, o povo vivia, na sua grande maioria, em total ignorância, sem ter quaisquer possibilidades de adquirir conhecimentos sobre a realidade da vida, uma vez que o seu analfabetismo o não permita. Daí que os trabalhadores, quase todos rurais, procurassem refúgio nas tabernas, nas suas horas vagas e habitualmente depois de comida a parca ceia. Prejudicial para ele e sua família, devido ao consumo excessivo de alcool e ao jogo desenfreado, só disso beneficiava o taberneiro.

E, segundo se sabe, eram vícios que estavam bem arreigados aos nossos antepassados. Felizmente, aquelas palavras acabaram por trazer novos procedimentos e novos costumes. Alguns mais abastados, que tinham tido a possibilidade de se educar e instruir na cidade vizinha, iniciaram uma luta verdadeiramente titânica. Primeiro em família e, depois, com amigos e vizinhos mais chegados, começaram a reunir-se e a conviver em sociedade nos seus tempos vagos.

Não bastava, no entanto, atrair os seus conterrâneos. Era preciso, além de lhes acabar com aqueles nefastos vícios, começar a dar-lhes alguma instrução e educação Escolheram o teatro como o veículo indicado. Terá sido assim que nasceu o associativismo em Tavarede. Os humildes ‘cardanhos’ proliferaram. Com os ensaios e com as representações, o povo começou a gostar de ver e aprender. Já sabemos o percurso feito. Com o teatro veio a música. Com as humildes associações, ‘que vegetavam em Tavarede como tortulhos’, veio o ensino noturno das primeiras letras. Mesmo aqueles que pouco sabiam procuravam ensinar esse pouco áqueles que nada sabiam.

O teatro cresceu muito e a música, durante muitas décadas, também teve enorme adesão. Igualmente se deu o mesmo com o folclore, com o desporto e com outras actividades sociais.

É agora que nos resta lançar a tal pergunta: até quando? Atrevemo-nos a repetir: até sempre! O associativismo está definitivamente impregnado nos tavaredenses. Embora neste momento, que julgamos transitório, o isolamento seja uma realidade, não acreditamos que o espírito de união, de convivência e, até, de solidariedade, não volte a adquirir a força e o entusiasmo de antigamente.

         Bem sabemos a enorme diferença que se verifica entra as vidas actual e antiga. Mas, voltamos a repetir, acreditamos que o presente fenómeno do isolamento e da solidão familiar seja transitório. E nas diversas vertentes do associativismo na terra do limonete. Vejamos:

Em prmeiro lugar o teatro. Mais antiga tradição em Tavarede, lembramo-nos das palavras que José Ribeiro pôs na boca da velha figura teatral na ‘histórica’ fantasia ‘Chá de Limonete’: - Sou velho, sim! Mas sou eterno! Sofro o desprezo, o esquecimento da multidão, mas guardo em mim a essência da própria vida. O teatro não morre!’

As nossas actuais associações e, felizmente, são cinco, continuam a tradição. De igual modo a música e o folclore. Já não temos a célebre tuna de Tavarede, nem os ranchos da Alegria e da Flor da Mocidade. Mas quase todas as nossas associações de cultura  popular e recreio têm escolas de música, com bastante frequência, e o folclore é uma realidade com os seus ranchos. Grupos de dança e corais igualmente existem em actividade. Será ‘carolice’ dos mais velhos? Não, é o espírito associativo que em Tavarede, na velhinha Terra do Limonete, continua e continuará sempre vivo. A mocidade actual, com ou sem a experiência dos mais velhos, não deixará acabar na nossa terra este sublime ideal: o ASSOCIATIVISMO.




As associações de cultura e recreio populares em Tavarede:




Bijou Tavaredense (acabou)


Estudantina Tavaredense (acabou)


Grupo de Instrução Tavaredense (acabou)


Sociedade de Instrução Tavaredense
15.1.1904


Grupo Musical e de Instrução Tavaredense
17.8.1911


União Instrução e Recreio Robalense (acabou)


Grupo Musical Carritense
5.8.1921


Grupo Desportivo e Amizade do Saltadouro
11.3.1979


Clube Desportivo e Recreativo da Chã

1.5.1986

domingo, 31 de maio de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete - 130

         Ainda no mesmo ano e em Novembro, respigámos este pequeno recorte de uma notícia divulgando a actividade no Grupo Musical e de Instrução. ... actualmente desenvolve diversas actividades: escola de música, biblioteca, equipa de futsal, jogos tradicionais, rancho O Limonete, bem como participações nas actividades do movimento associativo do concelho. A colectividade prepara o seu centenário e, brevemente, será anunciada uma comissão para o implementar e fazer que a data seja comemorada com a dignidade que o seu rico historial merece.

 
         Ao começar as notas referentes ao ano de 2007, vamos permitir-nos a fazer umas pequenas recordações, aliás, relacionadas com um facto ocorrido pelas comemorações de mais um aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, festejado em Janeiro daquele ano.

         Já temos referido, em qualquer outro caderno, que Tavarede, ao tempo da nossa meninice, era uma pequena aldeia de gente de trabalho mas feliz e vivendo em alegria. Eram constantes as cantigas que se ouviam. No ribeiro, ao largo da Igreja, enquanto lavavam a roupa, ou nas leiras ao redor do casario, ao mesmo tempo que sachavam suas sementeiras ou cultivavam as tão saborosas novidades, ou ainda durante a lide nas tarefas caseiras. 

  
         Dava gosto escutar as alegres cantigas que se espalhavam pelos ares. E uma coisa era verdade. Eram cantigas bonitas que, em tempos passados, faziam parte das muitas operetas representadas nas associações locais. Escritas por inspirados poetas e musicadas com sensibilidade, versavam essas cantigas a vida das nossas gentes e o seu trabalho árduo na agricultura. Bons e ditosos tempos aqueles. Há muito tempo, porém, que a aldeia emudeceu. Já não se ouvem cantigas na terra do limonete, excepto nos teatros em que, com muito entusiasmo e teimosamente, ainda se vão ouvindo e recordando.

         Esta lembrança vem a propósito de uma apresentação a que se refere a nota seguinte. A celebração do 103º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense serviu para a estreia do grupo coral que interpretou composições que fizeram parte das peças musicais que a colectividade representou desde 1905. O maestro João Silva Cascão foi o responsável por dar forma coral a composições que antigamente eram utilizadas por José da Silva Ribeiro para ‘contar’ a história local. Contudo, agora duas dezenas as vozes que as entoam, através de elementos que vão desde os 20 aos 84 anos.

         Não era a primeira vez que se formava um grupo coral na nossa terra. Certamente ainda não estarão esquecidas as referências que fizemos, quando recordámos a década dos anos vinte do século passado, em que ambas as associações locais organizaram grupos corais. Com elevado número de coralistas, que chegaram a apresentar-se na Figueirsa em espectáculos ali levados a efeito. Também, muito mais recentermernte, o Grupo Musical tomou a iniciativa de organizar o seu grupo coral. No entanto, e com pena o confessamos, não vingou.

 
Aquando das comemorações do centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense, lembrámos que o serão realizado pelo S. Martinho de 2004, terá sido o ‘embrião’ deste novo grupo coral. Porquê? Eram praticamente desconhecidas das actuais gerações, as operetas apresentadas no palco daquela colectividade nos já muito distantes anos de 1925, 1926 e 1927. E, então, foi considerado interessante promover ‘serões’ evocativos, durante os quais se resumisse os enredos das operetas, escritas expressamente para o nosso palco e baseadas na vida aldeã da terra tavaredense.

Além do texto, e porque algumas das canções destas operetas ainda eram conhecidas, devido a Mestre José Ribeiro ter usado as mesmas, noutros trabalhos seus mais recentes, com a mesma letra ou escrevendo novos versos, e, também, porque as críticas que nos deixaram diversos comentadores nos jornais da época, procurou-se fazer reviver alguns dos números que haviam causado tão belas impressões.

A amável colaboração do maestro João Gaspar da Silva Cascão, figueirense, mas com raízes bem fundas em Tavarede, o qual pacientemente, gravou as músicas escolhidas e que foram utilizadas quer nos ensaios quer no referido ‘serão’. Seguiu-se, depois, o espectáculo que comemorou a efeméride dos 20 anos da morte de José Ribeiro, no qual igualmente se reviveram diversas cantigas tão antigas e tão bonitas.

Foi, assim, que em Janeiro de 2007, durante as comemorações do 103º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, foi apresentado em público, pela primeira vez, o coral ‘Cantigas de Tavarede’, na ocasião ainda sem nome. O sucesso foi enorme, mas vejamos uma notícia sobre estas comemorações. Com o brilho que já não surpreende, a centenária e valorosa SIT festejou masis um dos seus aniversários. Este ano foi o 103º e lá vai caminhando, caminhando nos trilhos em que a colocaram e nos quais vai contribuindo para cultura da região.
O seu fiel público, e não só, não regateou aplausos em diversos momentos dos três principais eventos que integraram as comemorações. Ainda que se tenham tornado bem mais calorosos no decorrer de um deles.
No dia 20, sábado, pelas 21,45 horas, mais uma vez se evidenciou o seu cartão de visita, o seu consagrado grupo cénico, com a peça ‘Terra Fria’ de Miguel Torga, o escritor poeta transmontano cujo centenário de nascimento já Coimbra e Vila Real começaram a comemorar.
Em cena, cerca de uma dezena de amadores que se saíram a contento. Uns evidenciando o seu traquejo, outros sendo encaminhados e encaminhando-se, cheios de boa vontade, na arte querida de Tavarede.
Embora não se tenha tratado de uma peça muito exigente, os amadores tavaredenses e quem os dirige deram bem conta do recado perante uma sala cheia e atenta. No entanto, quer-nos parecer, pelo pouco que ainda ouvimos no final, que vários espectadores ficaram sem entender o que era ‘Rilhafois’ ou ‘Rilhafoles’, - local ou estabelecimento para onde o velho demente (Fernando Romeiro) – o que não nos admira e um gesto adequado daria a entender, ou o que dizia a carta que fulminou a paciente e esperançada senhora (a convincente Helena Rodrigues) que sobre o palco baqueou destemidamente, (tadinha!!) na conclusão da peça.
Na tarde de domingo, 21, as comemorações atingiram o seu ponto alto com a apresentação de um grupo coral ainda a dar os primeiros passos e por baptizar, mas que a marca de garantia que o maestro João Cascão lhe conferiu e garantirá.
‘O Grupo de Cantos de Teatro de Tavarede’ (desculpem o apadrinhamento) foi aplaudido com entusiasmo ao fazer-se ouvir em peças que, noutros tempos, foram êxitos nas diferentes revistas e operetas que tiveram o cunho de mestre José Ribeiro e outros saudosos tavaredenses. O grupo apresentou-se com cerca de trinta elementos, em trajes teatrais.
A esse agradável e animado espectáculo, que o maestro João Casção valorizou com as suas explicações, seguiu-se, já com menor assistência, a tradicional sessão solene.
A respectiva mesa foi presidida pelo vereador José Elísio, em representação do presidente da Câmara, que abriu e encerrou a sessão em que se ouviram os hinos da sociedade e do concelho.
Depois de uma informal apresentação dos novos corpos gerentes, seguiram as breves intervenções de Carlos Cardoso (convidado), Ilda Simões (responsável do grupo cénico), Azenha Gomes (representante das colectividades do concelho), e Vitor Madaleno (presidente da Junta de Freguesia de Tavarede).
Foi orador oficial o conhecido brenhense e universitário José Augusto Bernardes que dissertou, de modo breve, sobre Miguel Torga.
Talvez pelo muito que se tem dito, escrito e lido sobre o agreste mas valoroso  escritor/poeta, ficamos com dúvidas que a curta intervenção tenha correspondido às expectativas. Às nossas não correspondeu.
Pena foi, mas compreendemos as razões, que sobre aquele vulto das nossas letras, pouquíssimo se tenha falado, antes da apresentação da referida peça. Esperemos, esperançados, que na próxima representação tal se faça. 

Terminamos enviando à centenária SIT que, com 103 anos, lá vai, consciente e orgulhosamente, continuando.

         Em Março seguinte, a associação festejou mais uma efeméride, o centenário do nascimento do consagrado dramaturgo, escritor e poeta Miguel Torga. A Sociedade de Instrução Tavaredense e o Lions Clube da Figueira da Foz promoveram, recentemente, um sarau cultural que homenageou Miguel Torga, com poemas declamados por Ilda Simões e Fernando Romeiro, além de um historial acerca da vida e obra deste grande nome da literatura portuguesa.
        O espectáculo contou também com a segunda actuação do grupo ‘Cantigas de Tavarede’, que apresentou dez temas musicados que relembram parte das revistas representadas pela colectividade ao longo dos seus 103 anos de vida. Dirigidos pelo maestro João Cascão, o grupo cantou e encantou os presentes que puderam assim ‘viajar’ na história da SIT e da freguesia de Tavarede.

         A partir de então o coral ‘Cantigas de Tavarede’ tem realizado diversos espectáculos e em diversos locais. A propósito deste coral tavaredense, não podemos deixar de aqui referir um comentário, de uma pessoa conhecedora da matéria e que está inserida na imprensa figueirense. Com cerca de quatro dezenas de elementos, todos amadores, o coral da Sociedade de Instrução Tavaredense é a mais recente ‘menina dos olhos’ de Silva Cascão, sendo director musical e maestro.
         As diversas ocupações profissionais dos seus elementos tornam difíceis os ensaios participados por todos, mas não diminuem a dedicação que lhes dedicam. Os resultados têm sido positivos e muito aplaudidos. Foi o que aconteceu recentemente, quando a maestrina do ‘Academic Chois of Students Cultural Center of Universty of Nis’ grupo que esteve na Figueira da Foz para o I FigFolk Music  e actuou naquela colectividade, disse, sobre o coral da SIT que este é ‘o único deste género no Mundo’ e que foi ‘a primeira vez na vida’ que ouviu ‘cantar com o  coração’, classificando-o de ‘simplesmente fabuloso’.

         Aproveitamos para esclarecer que era nossa intenção terminar estes apontamentos com o centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense. Era injusta esta nossa pretensão. Somente sete anos nos separavam do centenário de outra colectividade tavaredense: o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.

         Embora dispuséssemos de poucos elementos, resolvemos prolongar estas recordações e memórias por mais uns anos. Esclarecemos, porém, que estas notas estão muito incompletas, mas, sinceramente o confessamos, já não nos sentimos com forças e ânimo para mais pesquisas. Que nos seja perdoada a falta, mas deixamos o apelo a alguém mais jovem e que se sinta com disposição para isso, continuar estas histórias, prosseguindo  com as notas sobre o Associativismo nas Terra do Limonete.

         Ficam, especialmente, prejudicadas as restantes associações da freguesia, recordando, por exemplo, que o Grupo Musical Carritense também já está bastante aproximado dos seus primeiros cem anos de existência.


sábado, 23 de maio de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete - 129

G.M.I.T. – Cem anos


         Cumprido o programa das festas comemorativas do centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense que, embora os nossos apontamentos tenham uma forma muito resumida, tiveram enorme brilhantismo, vamos continuar a história do associativismo na terra do  limonete, tanto mais que outro centenário se avizinhava: o do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.

         No ano de 2004, em Março e sob o título de ’25 anos ao serviço da população do Saltadouro’, um semanário figueirense publicou uma notícia sobre esta colectividade, da qual recortamos as seguintes notas. ... nos últimos oito anos sucedem-se as obras. Há dois anos fizemos as casas de banho para os camarins, a cozinha e agora concluímos o piso do salão e do palco. Faltam apenas o pano de boca e os acessórios do palco. Não podíamos fazer mais do que fizemos. As restantes obras serão feitas pela direcção a eleger no final do ano. Depois da vistoria das obras, vamos requerer o Estatuto de Utilidade Pública, disse a presidente da colectividade na sessão comemorativa do 25º aniversário...
         ... Atletismo, música, Rancho são algumas das actividades. O teatro desenvolveu-se graças aos Carolas... A escola de alfabetização de adultos, graças ao apoio da Câmara Municipal e da Comissão Social de Tavarede, 8 alunos dos 26 aos 76 anos frequentam as aulas três vezes por semana e os professores são contratados pelo município...

         No mês seguinte, um outro facto de muita relevância, foi a inauguração dos melhoramentos realizados na colectividade da Chã. Foi de festa o Dia Mundial do Teatro no Grupo Desportivo e Recreativo da Chã com a inauguração formal da sede e de uma sala museu onde a colectividade tem exposto o espólio arrecadado ao longo dos anos. Um espaço em que o nome de António Cardoso Ferreira fica perpetuado numa placa colocada como forma de lhe agradecer as milhares de horas dedicadas à colectividade.
 ... Na sede da colectividade foram investidos ao longo de 17 anos, além de muitas horas de trabalho, cerca de 250 mil euros, bem visiveis nas instalações, particularmente na nova sala de espectáculos. Paralelamente, no reaproveitamento da sala da entrada, a sala museu, foram investidos cerca de 10 mil euros, num espaço onde estão expostos trofeus, trajes, fotografias, medalhas, entre outro material.

         O Grupo Musical e de Instrução Tavaredense comemorou mais um aniversário da sua fundação e, durante a habitual sessão solene, foi demonstrada a sua actividade. ... a constituição da escola de música e do rancho O Limonete. Como projecto de trabalho, a criação de uma secção de teatro de revista, melhorar o palco, incentivar a escola de música e o recem criado rancho. Anunciou, também, a criação de uma secção destinada ao fomento do desporto. A nível de obras a prioridade é construir duas salas, uma para a biblioteca e outra para disponibilizar a internet aos jovens que frequentam a colectividade, foram algumas das palavras do presidente da direcção na sessão solene comemorativa dos 93 anos.

         No ano seguinte, 2005, atendendo a um convite que lhe foi feito pelo Casino figueirense, o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense foi ali apresentar um espectáculo propositadamente ensaiado para o efeito, e ao qual deu o título de Momentos de TeatroEntretanto, também o grupo de teatro da SIT actuou esta semana no salão café do Casino da Figueira no âmbito da iniciativa ‘Cine Teatro Casino’. ‘Momentos de Teatro’ – título genérico dado a este serão cultural – foi um espectáculo concebido com o intuito de dar a conhecer as várias facetas do teatro que se faz em Tavarede.
         Da comédia ao drama, passando pelo teatro musicado, reviveram-se textos representados na SIT, uns já longínquos no tempo, como ‘O Processo de Jesus’ e a ‘Terra do Limonete’ e outros mais recentes como a ‘Marcha do Centenário’ e ‘O Leque de Lady Windermere’. Depois de semanas a produzir o que de melhor se faz em teatro na região, a Sociedade de Instrução Tavaredense, que outrora mestre José da Silva Ribeiro preparou para o futuro, voltou com o seu elenco ao palco do Casino da Figueira para mostrar a arte de Talma.


         Aproveitando as festas comemorativas do 102º aniversário, a Sociedade de Instrução Tavaredense homenageou a memória do saudoso amador, ponto, director e bibliotecário José Maria Cordeiro (Zé Neto), no decorrer da tradicional sessão solene, que teve a colaboração do Orfeão Académico de Coimbra.

A Sociedade de Instrução Tavaredense comemorou no passado domingo 102 anos de existência, com a apresentação de duas peças de teatro – domínio em que a colectividade desde sempre se destacou – e uma sessão solene que teve como momentos altos, a par do espectáculo musical do Orfeão Académico de Coimbra, o descerramento do retrato de José Maria Cordeiro (Neto), antigo director, ponto, actor amador e colaborador em várias áreas, como é, aliás, apanágio da vida associativa. O presidente da SIT tem para o 103º ano de vida da colectividade mais projectos do que verbas, uma das razões para a alteração dos estatutos que brevemente será apresentada aos sócios, de forma a permitir a candidatura ao Estatuto de Utilidade Pública, que por sua vez possibilitará o acesso a subsídios do Estado. Enquanto estes e outros fundos não vêm, aponta como principais prioridades as obras na sala de espectáculos e a substituição do telhado.

         Em Março de 2006 mais uma vez a colectividade do Saltadouro esteve em festa com as comemorações de mais um aniversário. A presidente da direcção, em dia de festa, reclama para o Clube Desportivo e Amizade do Saltadouro novas e mais funcionais condições técnicas respeitantes à realização de diversas actividades. Entre elas, destaca-se a necessidade de aquisição de equipamento de luz e de som, afim de ‘dar outra dignidade às nossas actividades.
         Ao longo destes quase 30 anos de vida, a pequena barraca de madeira deu lugar a uma sede grandiosa, onde agora existe espaço para um museu etnográfico onde pontuam pedaços da história não só da colectividade, mas das próprias gentes e ofícios do Saltadouro.

         Também destacamos a festa, em Agosto daquele mesmo ano, dos 95 anos da fundação do GMIT. A passagem de mais um aniversário deixa para trás um ano difícil no Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, com alguns conflitos e desconfianças financeiras que já levaram o caso ao tribunal. Ultrapassados os momentos de celeuma ‘é altura de olhar em frente e começar a pensar no futuro’, foi dito na sessão solene.
         ... com um ano de muito trabalho na sede, a direcção apostou no alargamento do palco em mais três metros e num novo pano de boca, benefício que orçou em mais de 2.500 eutos. Mas as obras de reabilitação não acabaram por aqui, abrangendo também toda a zona do bar, que recebeu novos equipamentos e electrodomésticos, além da recuparação do bilhar de snocker, muitas pinturas. Um investimento que terá ultrapassado os dez mil euros.


E foi em Novembro de 2006, que a Sociedade de Instrução Tavaredense comemorou uma outra efeméride, os 20 anos da morte de Mestre José da Silva Ribeiro.
Com uma  romagem o cemitério, uma missa na Igreja paroquial e um espectáculo evocativo, a Sociedade de Instrução Tavaredense recordou José da Silva Ribeiro, exactamente na passagem do 20º aniversário da sua morte (13 de Setembro de 1986). Tratou-se de recordar ‘uma figura que sempre vai ficar ligada a esta casa’, segundo referiu Vitor Medina, pouco antes de terem apresentado algumas das passagens, mais significativas da vida de José da Silva Ribeiro, naquele teatro.

          O presidente da direcção da SIT acredita que ‘dificilmente haverá outro homem da cultura como ele, em Tavarede e no concelho’, focando a vida multifacetada do mestre, que depois ficaria bem presente na representação de ‘O sonho do passado, a esperança do futuro’, em que foi feita uma recolha focando-se ‘aspectos que nunca foram contados sobre a sua história no teatro da colectividade’, além de excertos de peças da sua autoria em que também representou e de outras já como encenador, entre as quais ‘a primeira e a última que ele ensaiou’.
         Apesar de não se saber com exactidão a data em que José da Silva Ribeiro entrou para a SIT (começou no ‘Teatrinho do Senhor Conde’ como amador de teatro), e em 1910 já representava na colectividade que agora o homenageou. Pouco depois já escrevia alguns textos (em 1911 a ‘Voz da Justiça’ felicita-o como autor, por fazer a apologia da ‘instrução contra os hábitos da taberna’), vindo depois a dedicar-se ao jornalismo e a dirigir ‘A Voz da Justiça’. Após o serviço militar, foi colocado como funcionário administrativo na Escola Bernardino Machado, e mais tarde, quando instado a abandonar as funções jornalísticas e recusou, acabou por perder o vínculo à função pública. Defensor da liberdade, igualdade e fraternidade, acabou por ser preso em 1933 e deportado para Angra do Heroísmo, em 1937 foi-lhe confiscado a ‘Voz da Justiça’ e em 1938 volta novamente a ser detido pela PIDE.

         Por todo este percurso e pela sua dedicação à SIT até morrer, a homenagem contou com casa completamente cheia, figurando entre os presentes, o delegado regional da Cultura Pedro Pita, que classificou José da Silva Ribeiro como ‘um homem capaz de conjugar os aspectos históricos da cultura com os aspectos vivos, mestre de teatro, que ensinou às pessoas o gosto pelo teatro, mesmo dos autores mais difíceis’. Daí que seja considerado como ‘uma referência em Tavarede, Figueira e a nível nacional’, sustentou Pedro Pita, frisando que a sua presença significava a ‘afirmação desse reconhecimento’ pelo Ministério da Cultura.



sexta-feira, 15 de maio de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete - 128


...que o TEATRO VAI À RUA.
O ponto mais marcante dos actos festivos no terceiro trimestre, foi, com toda a certeza, o sarau realizado no dia 13 de Setembro, data em que se comemorava o 18º aniversário da morte de Mestre José da Silva Ribeiro. Nesse sarau, e depois de se ter prestado homenagem ao amador José Medina, pelos seus cinquenta anos ao serviço do nosso teatro, teve lugar a apresentação do livro do Centenário “100 Anos ao Serviço do Povo... e Caminhando”. Este livro foi publicado, numa edição de luxo, graças aos subsídios concedidos pela Secretaria de Estado da Cultura, Direcção Regional da Cultura do Centro, Fundação Calouste Gulbenkian e Celbi. A imprensa referiu-se ao evento, tendo nós escolhido estes dois apontamentos.

A Sociedade de Instrução Tavaredense (SIT) procedeu ao lançamento do livro que ilustra os 100 anos de existência desta colectividade. Intitulado “100 anos – ao serviço do povo… e caminhando”, a publicação, da autoria de Vítor Medina e coordenada por José Bernardes, foi apresentada na noite de segunda feira. Para o autor e presidente da direcção da SIT “é o complemento dos dois livros que o mestre José da Silva Ribeiro lançou.
Numa edição de luxo, foram impressos mil exemplares, que serão vendidos a 25 euros.
Presente na cerimónia, Duarte Silva garantiu que o município irá adquirir parte dos livros.
Falando sobre a SIT, o presidente da Câmara diz que “foi e é a jóia da coroa no concelho da Figueira no que se refere ao teatro” e lembrou que José Ribeiro “é uma referência nacional”. (Diário as Beiras – 15.Setembro.2004) 
A Sociedade de Instrução Tavaredense viveu aquele que foi considerado um dos pontos altos das comemorações do centenário, com o lançamento do livro “100 anos – Ao serviço do povo… e caminhando”, inspirado nos livros de José da Silva Ribeiro, evocado exactamente 18 anos depois da sua morte.
“Continuamos a respirar nestas quatro paredes, o enorme amor pelo teatro”. Foi assim, que o presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense (SIT), evocando José da Silva Ribeiro, se dirigiu a todos os que quiseram partilhar daquele que foi considerado como o “ponto alto das comemorações do centenário”, uma cerimónia que chegou a estar prevista para o dia 27 de Março (Dia Mundial do Teatro) e “mais condizente com as actividades da colectividade”, mas que foi mudada para que o livro agora lançado, pudesse integrar fotos das comemorações do centenário.
Vítor Medina adiantou ainda que a figura do mestre José Ribeiro “há-de perdurar sempre, enquanto a colectividade existir” e que “grande parte do livro é um complemento”, aos livros lançados pelo mestre, aquando das bodas de ouro e diamante da colectividade.
Com recolha e texto de Vítor Medina, e coordenação do professor José Augusto Bernardes, o livro, à venda por 25 euros, está “dividido” em cinco partes, “marcos do passado”, “cem anos de teatro”, “o centenário” e “quadros históricos”, é “uma edição de luxo, com mil exemplares”, e apesar do presidente da direcção estar “consciente de que não os vamos vender todos”, garante que os apoios e patrocínios “cobrem metade”, e uma parte será guardada pela colectividade.
À cerimónia, que contou com a presença de diversas entidades da região, aliou-se o presidente da Câmara por considerar que a SIT “é a jóia da coroa da Figueira”. Sem querer “ofender e menosprezar” outras colectividades, Duarte Silva recordou que José da Silva Ribeiro “é uma referência nacional” e que a colectividade mantém a sua “tradição”, no domínio do teatro. (Diário de Coimbra – 15.Setembro.2004)

 Também não podemos deixar de aqui registar o concerto dado pelo Grupo Musical Sax Ensemble, de Coimbra, que foi realizado na Igreja Paroquial de Tavarede, o qual foi muito concorrido. E, ainda neste trimestre, teve lugar o II Encontro de Filarmónicas do Centenário, desta vez com a presença das Bandas de Quiaios, da Boa União Alhadense e de Arazede.

          O último trimestre de 2004 começou com a abertura da exposição “100 anos de vida e de teatro”, no Centro de Artes e Espectáculos, na Figueira da Foz, onde esteve patente ao público até ao dia 2 de Novembro. No ano do primeiro centenário, a SIT apresenta retalhos do seu espólio, de forma a mostrar momentos significativos da sua vida em prol do desenvolvimento cultural, assente na matriz do teatro. Os ecos deste trabalho saíram de Tavarede, estenderam-se para fora do concelho tendo mesmo chegado além-fronteiras. Repregos de cenários, maquetas, estudos de peças, mobiliário, adereços de cena, indumentária, fotografias, programas, publicações, prémios, compõem a mostra do labor daqueles que, ao longo de muitos anos, se vêm dedicando à causa da cultura e do teatro. Neste caminhar iniciado há muito tempo, construímos um passado e cimentámos o presente na senda do futuro, escreve-se no programa desta exposição.
A abertura da exposição teve a presença do Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, da Vereadora do Pelouro da Cultura, muitas outras individualidades e grande número de sócios, amadores e colaboradores da Sociedade de Instrução Tavaredense.
A exposição recebeu a visita do Primeiro Ministro do Governo Português, Dr. Pedro Santana Lopes, da Ministra da Cultura, Drª Teresa Caeiro, da Delegada da Cultura da Região Centro, Drª Celeste Amaro, do Vice Governador Civil do Distrito de Coimbra, Engº Ricardo Alves, etc.
De acordo com o catálogo emitido para esta Exposição, estiveram expostos, nas quatro salas cedidas, 161 objectos, entre cenários, guarda-roupa e adereços.

         O dia de S. Martinho, o padroeiro da nossa freguesia, foi comemorado com um sarau, no pavilhão desportivo, no qual foram evocadas as primeiras operetas e fantasias com acção na nossa terra. Não podemos deixar de referir, que foi este sarau o embrião do qual viria a nascer, meses mais tarde, o Grupo Coral Cantigas de Tavarede. No final do serão, oferecida pela colectividades a todos os presentes, houve uma castanhada.
 Também em Novembro se realizou um encontro das colectividades da freguesia.     

E durante o mês de Dezembro, e até ao final das comemorações, teve lugar “A luz do Natal”, com recriações em ‘Luz negra’.
          E depois de uma festa de Natal, oferecida às crianças da freguesia, efectuou-se uma ‘Passagem do Ano do Centenário’.


         Os últimos eventos das comemorações tiveram inusitado brilho. A 5 de Janeiro de 2005, a SIT recebeu, na sua sala de espectáculos, a Orquestra Silver Strings, de S. Petersburgo, Rússia, que apresentou um concerto verdadeiramente extraordinário e inédito na nossa região. Uma casa completamente cheia, com uma assistência que se mostrou encantada com este serão.         
          No domingo seguinte, mais uma vez o pavilhão desportivo da colectividade foi pequeno, tantas foram as pessoas que já não conseguiram obter entrada. Teve ali lugar o ‘Almoço de Gala’, que teve uma animação invulgar que foi dada pelo Grupo de Cordas e Cantares de Coimbra.
         Sábado, dia 15 de Janeiro, o grupo cénico levou à cena, em primeira representação, a peça O leque de Lady Windermere, de Oscar Wilde, cujo sucesso foi enorme e que se repetiu diversas vezes, embora já fora do âmbito das comemorações. 


         Finalmente, e no domingo 16, encerraram-se as festividades. Depois de uma actuação pelo Coro de Câmara do Orfeão de Valadares, teve lugar a sessão solene, a qualfoi presidida pela secretária de Estado da Administração Pública, doutora Maria do Rosário Cardoso Águas, neta do saudoso alhadense Anselmo Cardoso Júnior, que foi um grande colaborador do nosso grupo dramático, autor de muitas músicas cantadas em diversas fantasias. Assistiu a esta sessão, a Filarmónica de Lares que, em homenagem à ilustre presidente, tocou a ‘Canção do Limonete’, composição musical de seu avô, cuja letra, da autoria de Mestre José da Silva Ribeiro, foi cantada, em coro, por toda a assistência presente.


         E foi em ambiente verdadeiramente festivo que, com este acto solene, se encerraram as comemorações do primeiro centenário da Sociedade de Instrução Tavaredemse.



sábado, 9 de maio de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete - 127

O que eles e elas disseram:
“Considero que o teatro é a forma de arte que mais nos interpela e nos confronta com os nossos valores. Quero deixar aqui a palavra “memória”, evocativa de todas as pessoas que tanto nos deram e nos enriqueceram ao longo de cem anos, com dedicação e esforço”. Ana Pires
“Abordar a história da SIT é recordar Mestre José Ribeiro autor do Hino do Limonete e Anselmo Cardoso, meu pai, que o musicou”. Carlos Cardoso
“Esta casa vive de muito trabalho, dedicação à cultura e ao teatro. A presença do secretário de Estado da Cultura é o mais forte incentivo para continuar”. José Paz
“Sublinho o apoio de Rosário Águas e de Teresa Machado, sempre disponíveis para nos ajudar. O que nos une nesta casa é o palco das emoções para além da razão”. Ana Maria Caetano
“Falei aqui há 50 anos com Cristina Torres e Lontro Mariano. Hoje, na comemoração do centenário, quero expressar a minha satisfação por estar aqui a agradecer o trabalho realizado ao longo de cem anos. Esta casa foi uma escola de educação, instrução, cultura, convívio, teatro, onde os conceitos de liberdade, solidariedade e cidadania estiveram sempre presentes. A obra iniciada há cem anos terá continuadores em vós”. Maria Teresa Coimbra
“Tavarede não era o que é, se esta casa não existisse. Por isso, Tavarede não entrou na onda da descaracterização, mantendo a sua identidade própria. A SIT e José Ribeiro foram, ao longo de cem anos, o emblema cultural da Figueira da Foz. O futuro há-de ser sempre o que quisermos fazer, se não quisermos atraiçoar a memória do passado”. José Bernardes
“A grande referência desta colectividade é o teatro, uma das vertentes de cultura, que nos leva a todos, a estar gratos à SIT. Que estas comemorações dêem frutos e sementes que germinem na mente e no coração dos mais jovens”. Daniel Santos
“É bom sentir uma casa viva, cheia, com cem anos de história e sempre apostada em construir um caminho de futuro”. Ricardo Alves, representante do Governo Civil
“Lembro-me o que há mais de 50 anos ouvi de José Ribeiro: A SIT estará sempre presente se a Câmara Municipal necessitar da nossa presença. Esta casa é uma escola. Bem hajam pelo trabalho desenvolvido”. Muñoz de Oliveira

Nas semanas seguintes, outros espectáculos se realizaram, nomeadamente com a repetição da Marcha do Centenário e com colaborações diversas, entre as quais um sarau pelo Coral David de Sousa, da Figueira. E no dia 17 de Fevereiro, foi evocada a memória da amadora Violinda Medina e Silva, que, nesse dia, festejaria também o seu centenário, se ainda fosse viva.
E o primeiro trimestre terminou no Dia Mundial do Teatro. Nesse dia, a Sociedade foi homenageada pelo Lions Clube da Figueira, que ofereceu uma placa comemorativa, a qual se encontra colocada no átrio da entrada principal da associação. Aproveitando a data, também foi prestada homenagem à memória do saudoso amador e encenador João de Oliveira Júnior, sendo o seu retrato descerrado. O serão terminou com a representação da peça Sopinha de Mel, pelo Clube de Teatro Drª. Cristina Torres.



O segundo trimestre teve, no seu início, o reviver de uma velha tradição, havia muito caída no esquecimento. A ‘Festa da Pinhata’, que teve a colaboração da orquestra ‘Melodias de Sempre’, de Brenha, decorreu durante um dos costumados almoços mensais, tendo obtido enorme sucesso.
E depois de diversos saraus, dos quais podemos destacar os concertos com o Padre Borga e o do Grupo de Instrumentos de Sopro de Coimbra, efectuou-se o I Encontro de Filarmónicas do Centenário, em que estiveram presentes as Bandas Gualdim Pais, de Tomar, de Santana e dos Carvalhais de Lavos, que actuaram no pavilhão desportivo, que se encontrava repleto de assistentes.
Em Junho, houve novamente ‘Teatro de Rua’. Desta vez foram apresentados, em diversos locais da aldeia, alguns quadros do espectáculo ‘Marcha do Centenário’.

ANTES DE SAIR PARA A RUA...
Porque o Teatro é um divertimento, tem uma função cultural e educativa e porque o espectáculo se dirige ao público, assim estes meios e fins conduzem-nos à escolha de determinado processo de comunicação que é o contacto directo com as pessoas e com os lugares onde se desenrolam as acções.
Vamos assim  adoptar um  processo bem diferente do que é usado habitualmente, nestes cem anos em que se faz teatro, porque os intérpretes vão mais do que nunca tomar consciência das respectivas personagens, dos sentimentos que lhes vai na alma, das ideias que as determinam, da época em que vivem, dos ambientes em que se movem.
Os quadros que vamos representar, são de fundo histórico caracteristicamente local – bem da terra do limonete, constituída sobre factos e com figuras da história de Tavarede, com as tradições locais, os costumes locais e o ambiente local.
Ficará este trabalho como testemunho da nossa dedicação à terra humilde onde nascemos, temos vivido e de que muito gostamos, como hino ao trabalho e também como afirmação da simpatia que votamos e da solidariedade que nos liga a todos os homens e mulheres da nossa aldeia.
José Ribeiro, dizia que estes quadros eram dos tais feitos apenas para serem vistos sobre as tábuas do palco.
Fomos  pôr a água ao lume para fazer este chá nas ruas da  terra do limonete.
Mais uma vez contamos com a ajuda do mestre...
Como José Ribeiro escreveu:
"É tempo de bater as três pancadas.
Pano acima..."
E nós continuamos:
...que o TEATRO VAI À RUA